sábado, 9 de junho de 2012

Espanha: o palanque da esquerda grega

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Espanha: o palanque da esquerda grega


Por Saul Leblon


Se a banca está com trombose e o dinheiro não circula o capitalismo gangrena. Isso não é estático: os problemas se agravam. Chega-se ao ponto em os bancos não são mais capazes nem mesmo de se autofinanciar.

O desastre espanhol mostra que uma parte da banca do euro já atingiu essa fase da doença. Bancos micados com carteiras imobiliárias em processo de depreciação, ou abarrotados de títulos de governos asfixiados na própria corda ortodoxa - que se privam de receita fiscal para reerguer a economia - não conseguem honrar seus compromissos. Seus balanços desenham uma cruz mortal: os ativos se desvalorizam; os passivos não; o custo de captação sobe na proporção da desconfiança que inspiram nos mercados. Nos últimos nove meses mais de 200 bilhões de euros fugiram da Espanha; desse total, 66 bilhões evadiram-se em março. Foi a continuidade dessa hemorragia que impôs uma transfusão de 100 bilhões de euros neste sábado para salvar o sistema bancário espanhol.

A desconfiança é uma doença que não se cura com ataduras. Ao contrário dos neoliberais ingênuos, os mercados desde 2008 só enxergam um garantidor de última instância a quem confiar a sua riqueza: o Estado. Por isso preferem migrar da Espanha que paga juro de 6% ao ano para os títulos dos EUA, que oferecem retorno negativo: 1,4% ao ano para uma inflaçao da ordem de 2%. A estrutura do euro desfibrou os Estados nacionais como a direita brasileira gostaria de ter feito aqui se Lula e o PT não tivessem atrapalhado desde 2002. Mas a UE não deu às economias associadas a contrapartida de uma união fiscal e bancária que propiciasse aos depósitos, em qualquer agência européia, a mesma garantia de cobertura de uma autoridade comum.

A direita espanhola, assim como a grega, a portuguesa etc, imaginou compensar essa deficiência oferecendo a carne viva dos seus trabalhadores aos mercados. Tentou comprar confiança com recessão e escalpos trabalhistas. A receita levou a uma espiral descedente:empresas não contratam, o Estado não arrecada nem investe, os trabalhadores não recebem e não compram. O desemprego espanhol atinge 1/4 da população economicamente ativa; é superior a 50% entre a juventude. A direita espanhola fez tudo o que a ortodoxia manda. E deu errado.

O socorro deste sábado é a confissão tácita de que o modelo esgotou. Como convencer os gregos a sancioná-lo nas urnas do próximo domingo?

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