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19. Abril 2011
O dólar tem seus dias contados
Por Samuel Jaberg, swissinfo.ch
Myret Zaki
A moeda americana se transformou na maior bolha especulativa da História e está condenada a uma forte queda. Os ataques contra o euro são apenas uma cortina de fumaça para esconder a falência da economia americana, defende a jornalista suíça Myret Zaki em seu último livro.
"A queda do dólar se prepara. É inevitável. O principal risco no mundo
atualmente é uma crise da dívida pública americana. A maior economia
mundial não passa de uma grande ilusão. Para produzir 14 trilhões de
renda nacional (PIB), os Estados Unidos geraram uma dívida de mais de 50
trilhões que custa 4 trilhões de juros por ano."
O tom está dado. Ao longo das 223 páginas de seu novo livro, a jornalista Myret Zaki faz uma acusação impiedosa contra o dólar e a economia americana, que considera "tecnicamente falida".
A jornalista se tornou, nos últimos anos, uma das mais famosas escritoras de economia da Suíça. Em seus últimos livros, ela aborda a situação desastrosa do banco suíço UBS nos Estados Unidos e a guerra comercial no mercado da evasão fiscal. Na entrevista a seguir, Myret Zaki defende a tese de que o ataque contra o euro é para desviar a atenção sobre a gravidade do caso americano.
O tom está dado. Ao longo das 223 páginas de seu novo livro, a jornalista Myret Zaki faz uma acusação impiedosa contra o dólar e a economia americana, que considera "tecnicamente falida".
A jornalista se tornou, nos últimos anos, uma das mais famosas escritoras de economia da Suíça. Em seus últimos livros, ela aborda a situação desastrosa do banco suíço UBS nos Estados Unidos e a guerra comercial no mercado da evasão fiscal. Na entrevista a seguir, Myret Zaki defende a tese de que o ataque contra o euro é para desviar a atenção sobre a gravidade do caso americano.
swissinfo.ch: A Senhora diz que o crash da dívida americana e o fim
do dólar como lastro internacional será o grande acontecimento do século
XXI. Não seria um catastrofismo meio exagerado?
Myrette Zaki: Eu entendo que isso possa parecer alarmista, já que os
sinais de uma crise tão violenta ainda não são tangíveis. No entanto,
estou me baseando em critérios altamente racionais e factuais. Há cada
vez mais autores americanos estimando que a deriva da política monetária
dos Estados Unidos conduzirá inevitavelmente a tal cenário. É
simplesmente impossível que aconteça o contrário.
MZ: É verdade. Existe uma espécie de conspiração do silêncio, pois há
muitos interesses em jogo ligados ao dólar. A gigantesca indústria de asset management (investimento) e dos hedge funds
(fundos especulativos) está baseada no dólar. Há também interesses
políticos óbvios. Se o dólar não mantiver seu estatuto de moeda lastro,
as agências de notações tirariam rapidamente a nota máxima da dívida
americana. A partir daí começaria um ciclo vicioso que revelaria a
realidade da economia americana. Estão tentando manter as aparências a
todo custo, mesmo se o verniz não corresponde mais à realidade.
swissinfo.ch: Não é a primeira vez que se anuncia o fim do dólar. O que mudou em 2011? MZ: O fim do dólar é realmente anunciado desde os anos 70. Mas nunca tivemos tantos fatores reunidos para se prever o pior como agora. O montante da dívida dos EUA atingiu um recorde absoluto, o dólar nunca esteve tão baixo em relação ao franco suíço e as emissões de novas dívidas americanas são compradas principalmente pelo próprio banco central dos EUA.
Há também críticas sem precedentes de outros
bancos centrais, que criam uma frente hostil à política monetária
americana. O Japão, que é credor dos Estados Unidos em um trilhão de
dólares, poderia reivindicar uma parte desta liquidez para sua
reconstrução. E o regime dos petrodólares não é mais garantido pela
Arábia Saudita.
MZ: Todo mundo tem interesse que os Estados Unidos continuem se
mantendo e a mentira deve continuar por um tempo. Mas, não
indefinidamente. Ninguém poderá salvar os americanos em última
instância. São eles quem terão que arcar com o custo da falência. Um
período muito longo de austeridade se anuncia. Ele já começou. Quarenta e
cinco milhões de americanos perderam suas casas, 20% da população
sairam do circuito econômico e não consomem mais, sem contar que um
terço dos estados dos EUA estão praticamente falidos. Ninguém mais
investe capital no país. Tudo depende exclusivamente da dívida.
MZ: Todos nós amamos os Estados Unidos e preferimos ver o mundo
cor-de-rosa. No entanto, após o fim da Guerra Fria e da criação do euro
em 1999, uma guerra econômica foi declarada. A oferta de uma dívida
pública sólida em uma moeda forte iria provavelmente diminuir a demanda
pela dívida dos EUA. Mas os Estados Unidos não podem deixar de se
endividar. Essa dívida lhes permitiu financiar as guerras no Iraque e no
Afeganistão e garantir a sua hegemonia. Eles têm uma necessidade vital
dela.
Em 2008, o euro era uma moeda levada muito a sério pela OPEP, os fundos soberanos e os bancos centrais. Ela estava prestes a destronar o dólar. E isso os EUA queriam impedir a todo custo. O mundo precisa de um lugar seguro para depositar seus excedentes, e a Europa está sendo totalmente impedida de aparecer como sendo esse lugar. É precisamente por isso que os fundos especulativos têm atacado a dívida soberana de alguns países europeus.
Em 2008, o euro era uma moeda levada muito a sério pela OPEP, os fundos soberanos e os bancos centrais. Ela estava prestes a destronar o dólar. E isso os EUA queriam impedir a todo custo. O mundo precisa de um lugar seguro para depositar seus excedentes, e a Europa está sendo totalmente impedida de aparecer como sendo esse lugar. É precisamente por isso que os fundos especulativos têm atacado a dívida soberana de alguns países europeus.
MZ: A Europa é hoje a maior potência econômica e tem uma moeda de
referência sólida. Ao contrário dos Estados Unidos, é um bloco em
expansão. Na Ásia, o yuan passará a ser a moeda de referência. A China é
a melhor aliada na Europa. Ela tem interesse em apoiar um euro forte
para diversificar seus investimentos. Por outro lado, ela precisa de um
aliado como a Europa na OMC e no G20 para evitar de ter que reavaliar
sua moeda em breve. Hoje, a Europa e a China atuam como duas forças
gravitacionais que atraem em suas órbitas os antigos aliados dos Estados
Unidos: o Japão e a Inglaterra.
MZ: Seu papel de valor refúgio ainda vai crescer. No caso de uma crise
da dívida soberana dos EUA, haverá uma grande procura pelo franco
suíço. O franco suíço tem quase o mesmo status que o ouro e não está
pronto a cair face ao dólar. Em uma revisão do sistema monetário, a
Suíça terá que escolher um lado. Porque eu não estou convencida de que o
franco suíço possa continuar existindo sozinho, o seu papel como valor
refúgio é muito prejudicial para a economia suíça.
Adaptação: Fernando Hirschy
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