Submarinos alemães com capacidade nuclear, vendidos a Israel, complicam a vida de Merkel
3/6/2012 16:00, Por Redação, com agências internacionais - de Berlim e Jerusalém
Os submarinos que a Alemanha fornece a Israel desde a década de 1990 estão equipados para transportar e disparar mísseis nucleares. A denúncia, publicada na edição deste domingo da revista semanal de maior circulação naquele país, a Der Spiegel, uma vez comprovada por setores independentes da Organização das Nações Unidas (ONU), tem tudo para minar de vez o desgastado governo conservador da chanceler Angela Merkel, que há anos nega a capacidade nuclear dos submarinos comercializados com o governo de direita do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Israel tem sido um dos principais opositores do programa nuclear iraniano, pacífico segundo as autoridades de Teerã.
A notícia cita uma pesada investigação sobre a “Operação Samson”, entre alemães e o Estado judeu. Em Jerusalém, o diário israelita Haaretz comenta que, “se a informação obtida por Der Spiegel for efetivamente correta, ela poderia causar um considerável embaraço à chanceler alemã Angela Merkel e ao seu governo, que têm repetidamente negado que sejam nucleares os submarinos fornecidos a Israel”.
Sem parecer preocupado com as consequências indesejadas que a revelação pode trazer a Angela Merkel, o ministro israelita da Defesa, Ebhud Barak, declarou à Der Spiegel:
– Os alemães podem orgulhar-se de ter assegurado a existência do Estado de Israel durante vários anos.
Os três primeiros submarinos alemães da classe Dolphin entregues a Israel foram-no na década de 1990, custeados pelo Estado alemão praticamente durante toda a construção. Peritos internacionais consideravam-nos, antes ainda das atuais revelações, capazes de transportar ogivas nucleares. Um quarto submarino da mesma classe foi entregue há um mês e deverá estar operacional a partir do próximo ano. Outros dois têm contratos assinados e serão entregues escalonadamente até 2017. Merkel teria condicionado a fabricação do armamento à suspensão das construções irregulares em território palestino, além da instalação de um sistema de tratamento de águas residuais na Faixa de Gaza, financiada com capital alemão.
Até agora, o governo de Netanyahu ignorou as duas exigências alemãs, fato que não impediu Berlim de assinar os contratos, subsidiar a fundo perdido um terço (135 milhões de euros) do preço dos submarinos e de abrir créditos a Israel para o restante até 2015.
Os submarinos desta classe podem permanecer submersos durante muito tempo e navegar longamente sem necessidade de reabastecerem os seus tanques de combustível. Eles podem operar visíveis ou invisíveis e têm um alcance de tiro até aos 1,5 mil quilômetros. Foram concebidos especialmente para operações no Mediterrâneo.
Segundo o chefe de redação de Der Spiegel, Georg Mascolo, “uma investigação de vários meses prova que os submarinos fornecidos pela Alemanha à Marinha israelita fazem uso de equipamento para transportar armas nucleares”. Mascolo acrescenta que “funcionários alemães admitem-no agora, desde que sabem o uso que Israel faz das armas alemãs”. Dois responsáveis políticos, o antigo secretário de Estado da Defesa Lothar Rühl e o ex-chefe do comité de planeamento Hans Rühle, assumiram em entrevistas à Der Spiegel que sempre suspeitaram que Israel iria equipar os submarinos com armas nucleares.
O programa nuclear israelita, nunca comentado por autoridades de Tel Aviv, é contudo conhecido dos alemães desde 1961, tendo sido objeto de negociações entre os dois governos em 1977, com o chanceler Helmut Schmidt de um lado e o então chefe da diplomacia israelita, Mosche Dayan, do outro.
Segundo o historiador militar israelita Martin van Creveld, o essencial da tecnologia que tornou Israel uma potência nuclear foi-lhe fornecido pelo Estado francês. Na Guerra de Yom Kippur, em 1973, Israel teria, segundo hipótese levantadas por van Creveld mas não sustentada em documentos, ameaçado a Síria com um ataque nuclear. Essa seria, segundo o historiador, a única explicação plausível para o exército sírio ter retirado os seus blindados num momento em que tinha praticamente ganha a batalha pela recuperação dos Montes Golan.
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