terça-feira, 5 de junho de 2012

A conexão goiana

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Terça-Feira, 05 de Junho de 2012

Depoimento de empresário à CPMI complica situação de Perillo


Najla Passos






Brasília - O depoimento do empresário Walter Paulo Santiago, nesta terça (5), à CPMI do Cachoeira, aumentou ainda mais as suspeitas de envolvimento do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), com o esquema criminoso de Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Santiago confirmou que comprou do governador a casa em que contraventor foi preso, no dia 29/2, pela Polícia Federal (PF). Entretanto, afirmou que pagou à Perillo R$ 1,4 mil em dinheiro vivo. O governador havia dito anteriormente que recebeu o pagamento em três cheques. Os cheques pertencem a um sobrinho de Cachoeira.
Segundo o empresário, proprietário da Faculdade Padrão, ele fechou a compra da casa de Perillo, situada no condomínio de luxo Alphaville Ipê, em Goiânia (GO), em 13 de julho de 2011. O imóvel, entretanto, não foi registrado em seu nome nem no das suas empresas, e sim no da Mestra Administração e Participações.

A Mestra possui capital declarado de R$ 20 mil e está registrada em nome do engenheiro Écio Antônio Ribeiro, cuja declaração de Imposto de Renda de 2011 acusa rendimentos anuais de R$ 17.265. Também foi sócia da empresa a diretora da Faculdade padrão, Sejana Martins, que compareceu à CPMI, mas permaneceu em silêncio.

Para justificar o registro do imóvel em nome da Mestra, Santiago disse que ocupa na empresa, desde 2006, o cargo de administrador. Segundo ele, o trabalho é voluntário, já que não recebe salário por desempenhá-lo. Seu nome, porém só aparece no Conselho Administrativo da Mestra em documento de dezembro de 2010, registrado em cartório apenas no dia 21 de maio passado, quando o escândalo da casa de Perillo já havia estourado.

Ele não soube explicar porque o registro da venda da casa não foi feito em Goiânia, onde está localizado o imóvel, e residem vendedor e comprador, mas sim no município de Trindade, a 18 Km da capital. O senador José Pimentel (PT-CE), autor do requerimento que solicitou a convocação do empresário, questionou se não seria porque o cartório de Trindade pertence a um reconhecido apoiador do PSDB, o mesmo partido do governador de Goiás. Santiago disse desconhecer os motivos.

Ele também não esclareceu porque comprou uma casa de valor tão alto, não ocupou o imóvel e sequer se preocupou em saber que a família de Cachoeira continuava morando lá até a prisão do contraventor, sete meses depois. “Agora já recuperei o imóvel. Troquei as fechaduras”, comentou.

O depoimento de hoje complicou muito a situação do governador. O empresário pagou em dinheiro e Perillo afirma que recebeu em cheque. Ou ele vendeu a casa pelo dobro do valor que valia, ou recebeu por algum outro serviço”, afirmou à Carta Maior o deputado Cândido Vacarezza (PT-SP).

O relator da CPMI, Odair Cunha, também ressaltou as contradições suscitadas pelo depoimento. “Isso reforça a tese de que os sigilos do governador goiano têm que ser quebrados”, disse.

Precipitação estratégica?
Apesar dos novos indícios do envolvimento do governador de Goiás com Cachoeira, a bancada petista acredita que seu depoimento, marcado para a próxima terça (12), é precipitado. “Nós aprovamos a convocação do governador, mas foi o presidente da CPMI, senador Vital do Rego (PMDB-PB) que definiu a data. O ideal é que esse depoimento só acontecesse só em agosto, após a quebra dos sigilos do governador”, avalia Vacarezza.

O deputado Dr. Rosinha (PT-PR) concorda. Segundo ele, após a análise dos sigilos do governador os parlamentares terão muitos outros elementos para inquiri-lo. “Já existem fortes indícios do envolvimento do governador e de parte do seu staff com o esquema do Cachoeira. Mas a análise dos documentos nos permitirá conhecer a profundidade deste envolvimento”, justificou.

O senador vital do Rego está licenciado da CPMI por problemas de saúde. No último sábado, foi submetido a um cateterismo.

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A conexão goiana

Mauro Santayana


Os meses a vir pedem aos homens públicos responsáveis, de todos os partidos, a combinação da firmeza com a paciência, a fim de conduzir a campanha e o pleito municipal deste ano. A oposição, instigada pelo julgamento do processo conhecido como mensalão, se encontra açulada por alguns de seus líderes menos sensatos. O presidente Lula, acossado pelos inimigos e em convalescença de um tratamento penoso, não se tem contido diante dos ataques que recebe e fez algumas declarações apressadas, como ocorreu em recente programa de televisão. Na Comissão Parlamentar de Inquérito sobre os negócios de Carlos Cachoeira, parlamentares perdem a compostura, e usam de linguagem chula e repulsiva, provocados pelo soberbo silêncio dos depoentes, entre eles o Senador Demóstenes Torres.

Os diálogos ásperos são normais nas casas parlamentares, desde que elas existem. Os registros do Senado Romano mostram como os debates já se valiam, naquele tempo, da ironia e do insulto – que deviam soar mais ferinos no latim republicano. A Câmara dos Comuns, a partir do confronto com os Stuarts, na primeira metade do século 17, reproduzia a linguagem vulgar dos pubs e das margens do Tamisa. No século seguinte, principalmente durante o reinado de George III, os insultos faziam parte habitual dos debates na Câmara dos plebeus. Entre os lordes, é claro, a coisa era outra: estavam todos de acordo contra o povo.

Em uma comissão parlamentar de inquérito, os ânimos são mais acesos. Mas conviria, tendo em vista a conjuntura política e econômica mundial, que os membros do comitê investigatório se contivessem em sua linguagem, na mesma medida em que se empenhassem, seriamente, na busca da verdade. O momento pede a coesão nacional, mas ela não pode ser construída na tolerância com o crime.

Estamos diante de uma oportunidade singular, a de separar o que é público do que é privado na sociedade brasileira. Ainda que não consigamos tudo, alguma coisa que se consiga irá contribuir para a evolução positiva da democracia republicana em nosso país.

O Sr. Gilmar Mendes continua arrostando a paciência nacional. A ligeireza com que acusa e com que retifica suas versões demonstra que o Ministro não está segurando as rédeas do raciocínio – e, em seu caso, não existe a atenuante de um agressivo tratamento de saúde.

Ainda agora ele mesmo revela que interferiu na autonomia do poder executivo, ao solicitar do Ministro da Fazenda que proiba a Caixa Econômica de anunciar em blogs independentes na internet. Como tive a oportunidade de escrever, em minha coluna no JB – reproduzida pelos blogs que ele quer silenciar – o ministro Gilmar Mendes não é uma instituição, não é o STF. E sua visita ao Ministro da Fazenda, com esse objetivo, é, sim, intromissão em outro poder e pode ser vista como intimidação. Todos os grandes veículos de comunicação do país recebem anúncios – e em valor e volume muito maiores do que a totalidade dos blogs – e exercem forte oposição ao governo. Tanto é assim que a presidente da Associação Nacional dos Jornais, Judith Brito, disse que a imprensa – os jornais que ela representa – desempenha o papel de um partido de oposição que, em seu juízo, não existe no Brasil.

Gilmar Mendes está demonstrando dificuldade em entender a realidade, em aceitar o jogo democrático que exige, como fundamento maior, a liberdade de expressão, que se concretiza na pluralidade da informação e de opinião. É claro que essa dificuldade, se não for logo vencida, dará suspeição às decisões que ele tomar como juiz do STF.
Mauro Santayana é colunista político do Jornal do Brasil, diário de que foi correspondente na Europa (1968 a 1973). Foi redator-secretário da Ultima Hora (1959), e trabalhou nos principais jornais brasileiros, entre eles, a Folha de S. Paulo (1976-82), de que foi colunista político e correspondente na Península Ibérica e na África do Norte.

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