CartaCapital, Ed. 701
Os três equívocos da “grande imprensa”
Por Marcos Coimbra
A cobertura de nossa “grande imprensa” da atualidade política gira em torno de três equívocos. Por isso, mais confunde que esclarece.
Os três decorrem da implicância com que olha o
governo Dilma Rousseff, o PT e seus dirigentes. A mesma que tinha em
relação a Lula quando era presidente.
Há,
nessa mídia, quem ache bonito – e até heróico – ser contra o governo. E
quem o hostilize apenas por simpatizar com outros partidos. Imagina-se
uma espécie de cruzada para combater o “lulopetismo”, o inimigo que inventaram. Alguns até sinceramente acreditam que têm a missão de erradicá-lo.
Não é estranho que exista em jornais, revistas,
emissoras de televisão e rádio, e nos portais de internet, quem pense
assim, pois o mundo está cheio deles. E seria improvável que os
empresários que os controlam fossem procurar funcionários entre quem
discorda de suas ideias.
Até aí, nada demais. Jornalismo ideológico continua a ser jornalismo. Desde que bem-feito e enquanto preserve a capacidade de compreender o que acontece e informar o público. O problema da “grande imprensa” é que suas antipatias costumam levá-la a equívocos. Como os três de agora.
Vejamos:
O Desespero de Lula
Pode haver suposição mais sem sentido do que a de que Lula esteja “desesperado” com o julgamento do mensalão?
Ele venceu as três últimas eleições presidenciais, tendo tido na última uma vitória extraordinária. Só ele se proporia um desafio do tamanho de eleger Dilma Rousseff.
Hoje, em qualquer pesquisa sobre a eleição de 2014, atinge mais de 70% das intenções de voto, independentemente dos adversários.
Seu
governo é considerado o melhor que o Brasil já teve por quase três
quartos do eleitorado, em todos os quesitos: economia, atuação social,
política externa, ecologia etc. (sem excluir o combate à corrupção).
O mensalão já aconteceu e foi antes que galvanizasse a imagem que possui. Lula tem, portanto, esse conceito depois de passar pelo escândalo. O
ex-presidente não tem nenhuma razão para se importar pessoalmente com o
julgamento do mensalão. Muito menos para estar “desesperado”.
O que ele parece estar é preocupado com alguns
companheiros, pois sabe que existe o risco de que sejam punidos,
especialmente se o Supremo Tribunal Federal for pressionado a
condená-los. Solidarizar-se com eles – e fazer o possível para evitar injustiças – não revela qualquer “desespero”.
A Batalha Paulista
Não haverá um “enfrentamento decisivo” na eleição para prefeito de São Paulo. Nada vai mudar, a não ser se a gestão local, se José Serra, ou Fernando Haddad, ou Gabriel Chalita sair vitorioso.
Como a “grande imprensa” está convencida de que José Serra vai ganhar – o que pode ser tudo, menos certo -, a eleição está sendo transformada em um “teste” para Lula, o PT e o governo Dilma. Ou seja, quem “nacionaliza”a disputa é a mídia. Apenas porque acha que Haddad vai perder. Se Serra vencer, o PSDB não aumenta as chances de derrotar Dilma (ou Lula) em 2014.
Caso contrário, terá sua merecida aposentadoria. O melhor que os
tucanos podem tirar da eleição paulista é a confirmação da candidatura
de Aécio Neves.
Quanto ao PT e ao PMDB, vencendo ou perdendo, saem renovados. No médio e no longo prazo, ganham. Por enquanto, a mídia está feliz. Cada pesquisa em que Haddad se sai mal é motivo de júbilo, às vezes escancarado. Quando subir, veremos o que vai dizer.
É a Economia, Estúpido
Sempre que pode, essa mídia repete reverentemente a trivialidade que consagrou James Carville, o marqueteiro que cuidou da campanha à reeleição de Bill Clinton.
Lá, naquele momento, foi uma frase boa.
Aqui, não passa de um mantra
usado para desmerecer o apoio popular que Lula teve e Dilma tem. Com
ela, pretende-se dizer que “a economia é tudo”. Que, em outras palavras,
a população, especialmente os pobres, pensa com o bolso. Que gosta de
Lula e Dilma por estar de barriga cheia.
Com base nesse equívoco, torce para que a “crise internacional”ponha tudo a perder. Mas se engana. É só porque não compreende o País que acha que a economia é a origem, única ou mais importante, da popularidade dos governos petistas.
Nos últimos meses, a avaliação de Dilma tem
subido, apesar de aumentarem as preocupações com a inflação, o emprego e
o consumo. E nada indica que cairá se atravessarmos dificuldade no
futuro próximo.
Lula não está desesperado com o julgamento do
mensalão. Se Serra for prefeito de São Paulo, nada vai mudar na eleição
de 2014. As pessoas gostam de Dilma por muitas e variadas razões, o que
permite imaginar que continuarão a admirá-la mesmo se tiverem de adiar a
compra de uma televisão.
Pode ser chato para quem não simpatiza com o PT, mas é assim que as coisas são.
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