10 de junho de 2012
Fidel ludibriou CIA por décadas com rede de agentes duplos, relata livro
ROBERTO SIMON - O Estado de S.Paulo
No jogo de gato e rato que a CIA e
Fidel Castro travaram por décadas, junho de 1987 é um marco à parte. Foi
nesse mês que um cubano de quarenta e poucos anos bateu à porta da
embaixada americana em Viena. Ele era Florentino Aspillaga, condecorado
por Fidel como "o espião do ano", e as informações que estava por
revelar fariam a CIA entender pela primeira vez como fora magistralmente ludibriada durante décadas.
Desde os anos
60, uma rede de cerca de 40 agentes duplos alimentava a inteligência
americana com informações escolhidas a dedo pelo próprio Fidel,
contou Aspillaga. Mais: os olhos do comandante haviam conseguido se
infiltrar em vários prédios de Washington, incluindo o Pentágono -
talvez até a CIA.
Esse
longo fracasso da agência de inteligência mais poderosa do mundo diante
de um grupo de jovens barbados sem experiência na arte da espionagem é
relatado no livro Castro's Secrets: The CIA and Cuba's Intelligence
Machine (Os segredos de Castro: a CIA e a máquina de inteligência de
Cuba), recém-lançado nos EUA. O autor da obra é Brian
Latell, que por mais de 30 anos trabalhou no setor de assuntos cubanos
da CIA e, nos anos 90, chefiou a seção de América Latina do Conselho
Nacional de Inteligência, ligado à Casa Branca.
O livro vem causando debate nos EUA,
principalmente por defender que Fidel sabia do atentado contra o
presidente John F. Kennedy.
"Os EUA subestimaram por
décadas a capacidade de Havana, acreditando que os cubanos eram uns
amadores, ineptos. Para a CIA, Cuba era um país no meio do Caribe e de
uma revolução caótica, sem condições de montar uma agência de
inteligência de primeiro nível. Erraram feio: os cubanos viraram mestres da espionagem", disse Latell ao Estado.
Em sua pesquisa, ele entrevistou
vários ex-espiões cubanos e americanos, e consultou milhares de
documentos secretos. Sua principal fonte é o próprio Aspillaga, até hoje
o maior agente cubano a desertar para os EUA. Homem-forte de Fidel na
Nicarágua durante a revolução sandinista, ele entregou em 1987 à CIA a
lista de agentes duplos e infiltrados. Hoje, vive com uma nova
identidade nos EUA. Mesmo assim, foi alvo de duas tentativas de
assassinato.
Iscas
Latell afirma que, por trás de todos
os movimentos do Diretório-Geral de Inteligência (DGI), como é conhecida
a agência de espionagem cubana, estava "o maior mestre da espionagem na
história moderna: Fidel". Era o comandante que, pessoalmente, cuidava
das operações da agência cubana - algo que a CIA e o FBI nem sequer
imaginavam até 1987.
Com um
empurrãozinho da KGB, os jovens cubanos criaram a DGI - seu primeiro
líder, Manuel Piñeiro, o "Barba Roja", tinha 28 anos à época. Em pouco,
tempo passaram a olhar para os soviéticos como burocratas ineficientes,
diz Latell. "Ficaram melhores que os professores."
Fidel colocava "iscas" para a
CIA em Cuba e ao redor do mundo. As fontes eram então recrutadas pelos
americanos, que recebiam informações cuidadosamente selecionadas por
Fidel.
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