sexta-feira, 22 de junho de 2012

EUA, rapidamente, oficializam golpe de Estado ao reconhecer queda de Lugo

O novo método de golpe de estado em curso na AL. Primeiro em Honduras, agora no Paraguai.
E, como sempre, os EUA tratam de reconhecer os golpistas rapidamente para legitimá-los.
 
 
 

 

EUA, rapidamente, oficializam golpe de Estado ao reconhecer queda de Lugo

 

22/6/2012 22:39, Por Redação, com agências internacionais - de Washington e Assunção   


Paraguai Manifestantes protestam na praça principal da capital do Paraguai: EUA pedem calma

O departamento de Estado dos EUA reconheceu, na noite desta sexta-feira, o impeachment do presidente paraguaio Fernando Lugo e conferiu aparência legal ao golpe de Estado em curso naquele país. Em nota oficial, o governo norte-americano de Barack Obama diz que “reconhece o voto do senado paraguaio pelo impeachment do presidente Lugo” e “pede para que todos os paraguaios ajam pacificamente, com calma e responsabilidade, dentro do espírito dos princípios democráticos” da nação.
Antes, o porta-voz para América Latina do departamento de Estado norte-americano, William Ostick, afirmava que os Estados Unidos desejavam alcançar um “escrupuloso” respeito no processo contra o presidente do Paraguai, Fernando Lugo.
Segundo a agência francesa de notícias AFP, Washington acompanha de perto a crise no Paraguai e sua embaixada em Assunção observa a situação muito atentamente. “Com base nos compromissos com a democracia no continente, é importante que as instituições do governo sirvam aos interesses do povo paraguaio”, destacou Ostick.
“Para tal, é criticamente importante que estas instituições ajam de maneira transparente e que os princípios do devido processo e dos direitos do acusado sejam escrupulosamente respeitados”, completou, em nota, o porta-voz americano.

Golpe de Estado no Paraguai é afronta aos países democráticos da América Latina

 

22/6/2012 21:50, Por Gilberto de Souza - do Rio de Janeiro 



Lugo A polícia protegeu a elite, no Congresso, durante golpe de Estado no Paraguai


Em menos de 30 horas, o Parlamento paraguaio conseguiu derrubar o presidente da República, Fernando Lugo, e empossar o vice-presidente, Frederico Franco, principal opositor ao mandatário deposto. Nenhum ministro da Suprema Corte se pronunciou acerca do golpe de Estado em curso. Nenhum setor militar se rebelou contra o retrocesso democrático. Pela expressão de surpresa do líder impedido, nenhum informe dos setores de inteligência daquele país o informaram que 99% do Congresso o estavam prestes a lhe puxar o tapete.
A desestabilização de Lugo, iniciada desde a eleição dele mas intensificada há uma semana, por um massacre de sem-terra nos rincões do país, perto da fronteira com o Brasil, não serviu de alerta ao presidente para mobilizar a sociedade organizada e as instituições. Sequer comentou com aliados de primeira hora como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, amigo pessoal, da situação tensa em que vivia. Lugo, ao que tudo indica, foi tragado em um bem engendrado plano para afastá-lo, aproveitando-se de uma posição aparentemente isolada, distante das bases que sustentaram sua vitória nas urnas.
Um país dividido entre dois partidos, ambos de direita, mostra à América Latina o quanto é frágil a democracia no continente. A reação popular dos paraguaios, de espanto, primeiramente, não pode ser avaliada ainda, mas deixa para os próximos dias um suspense no ar, que torna irrespirável a atmosfera de frustração e incredulidade que ora inunda o país vizinho. A aparente tranquilidade do inquilino, despejado do Palacio de los López por interesses aos quais não respondeu, durante seus quase três anos por lá, deve-se ao adestramento nas décadas de serviços prestados à Igreja Católica, de onde saiu como bispo. Apesar do olhar fixo no horizonte, porém, apontou em seu discurso que as forças do narcotráfico e do grande capital foram os principais algozes do seu fracasso. Fracasso ao qual parece ter respondido muito prontamente. Sem luta. Sem resistência.
Lugo, de saúde tão frágil quanto a sua capacidade de levantar os movimentos sociais em defesa das conquistas democráticas, diz que sai pela porta principal dos corações paraguaios. Mas sai. Não cogitou, sequer um minuto, mobilizar a nação para assegurar uma trincheira que não apenas ele representava, mas às forças populares submetidas a mais de seis décadas de abusos por parte da elite. A mesma elite, branca e rica, que festeja aos abraços, nos acordes do hino nacional, protegida pela polícia que a defende e mantém a salvo da fúria popular, concentrada a poucos metros dali, na Plaza de Armas.
Um golpe de Estado assim, às claras, não pode ficar sem resposta dos países que respeitam a vontade legítima das urnas e sabem que a ameaça ora concretizada naquele pequeno país sul-americano pesa sobre os governos eleitos democraticamente. Exige uma resposta dura. Eficaz. É evidente que os Estados Unidos estarão na primeira fila de cumprimentos à nova administração, ao lado de seus asseclas. As tais ‘forças ocultas’, que andam soltas ao Sul do Equador, conseguiram cravar a baioneta – disfarçada de maioria parlamentar – em uma nação estratégica para seus interesses na região. Mas precisam saber que não será fácil mantê-la. Têm que aprender, de uma vez por todas, a se curvar diante a soberania dos eleitores, e não à vontade dos dólares e do latifúndio.
A União das Nações Sul Americanos (Unasul) terá que dizer, agora, ao que veio. A que se propõe. Se a um clube de ótimos convescotes ou a organização dos países dispostos a enfrentar os desmandos da minoria vendida aos interesses inconfessáveis do imperialismo.
Ou repudia o golpe, ou vira geléia.

Gilberto de Souza é editor-chefe do Correio do Brasil.

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