quinta-feira, 19 de abril de 2012

Juros: a lição que fica

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Quinta-Feira, 19 de Abril de 2012
 

Juros: a lição que fica

Por Saul Leblon


A rendição dos bancos ao novo ciclo de queda dos juros marca um divisor na forma de se fazer política econômica no país. Quebrou-se um lacre político. Rompeu-se uma parede hegemônica ardilosamente defendida durante décadas com argumentos supostamente técnicos. Em uma semana, o que era uma impossibilidade esférica, condicionada ao atendimento de uma soberba lista de 20 'contrapartidas' comunicada a Brasília com deselegância pelo presidente do sindicato dos bancos (Febraban) , Murilo Portugal, reverteu-se em adesão maciça ao corte das taxas.
Como se deu a transmutação da inflexibilidade em cordura? O governo e os partidos progressistas não devem temer a resposta que os fatos comunicam. Ela pode ser resumida numa constatação: o Estado brasileiro deixou de ser, exclusivamente, um agente passivo da ganância e mero coadjuvante das 'forças de mercado' e de seus impulsos gananciosos.

É apenas o começo de uma travessia tateada desde o segundo mandato de Lula e que ganharia importante margem de manobra ideológica no colapso da ordem neoliberal, em 2008. Neste braço-de-ferro dos juros, superou-se a fronteira da ação meramente defensiva para se testar um movimento coordenado, e bem sucedido, de cerco e corte dos spreads bancários. Em 15 dias o governo arregimentou os bancos estatais para um corte exemplar nos juros de até 50% em algumas linhas. Ato contínuo, traduziu-se esse movimento em vantagens para milhões de pessoas oferecendo-se aos correntistas da banca privada a oportunidade de trocar de banco e de dívida, em condições vantajosas. A Presidenta da República e o ministro da Fazenda fecharam o cerco contra o bunker argentário com um discurso ineditamente político, incisivo e inteligível à maioria da população.
'Fundamentos técnicos' alegados para a persistência da usura foram esfarelados em praça pública.

O dispositivo midiático conservador ainda tentou desqualificar a ofensiva classificada como 'voluntarismo estatal'. Rapidamente a exposição pública dos lucros astronômicos da banca privada - e o contraponto exercido pelos bancos estatais - acendeu a luz amarelo nos centros de decisão das grandes instituições que concentram 80% dos depósitos e quase tanto dos financiamentos. A queda de braço era para valer; o governo não iria recuar.

A execração pública ganhava dimensão política na mídia alternativa e dela transbordaria fatalmente para a opinião pública. Na 4ª feira veio o golpe de misericórdia: o Banco Central cortou outros 0,75% na taxa básica de juros, o que baratearia ainda mais o custo de captação gerando ganhos adicionais ao já abusivos spreads bancários. A defesa da usura tornou-se insustentável. A revoada baixista selou a
eficácia da ação política do Estado na reordenação de um estratégico setor da economia.

Bancos funcionam como o coração da economia capitalista. São por assim dizer a infraestrutura básica do sistema garantindo o provimento do crédito e do financiamento indispensáveis ao conjunto da economia. Trata-se de um serviço público exercido por agentes privados cada vez mais cartelizados, diga-se, já que seis bancões dominam 80% do mercado, mas orientados pelo lucro privado.

O governo parece ter descoberto que essa alavanca poderosa não pode mais ser deixada à sua própria lógica. Porém, mais que isso: pode constatar que o Estado brasileiro, embora desidratado pelo ciclo neoliberal, ainda tem poder político e instrumental para enquadrar e coordenar os interesses mais poderosos do país. A maior lição dessa descoberta é que ela
vale também para equacionar outras esferas e desafios.O saldo é inestimável. Não deve ser esquecido.


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Tombini e Mantega


UOL,
18/04/2012 - 20h08

BC reduz juros para 9%; país deixa de ter taxa real mais alta do mundo

 

Do UOL, em São Paulo

O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, decidiu nesta quarta-feira (18) cortar a taxa básica de juros (a Selic) em 0,75 ponto percentual, indo de 9,75% para 9% ao ano. A decisão foi unânime entre os integrantes do Copom.

O Brasil deixou de ter a maior taxa de juros reais do mundo, ficando com 3,4%, segundo levantamento feito pelo analista internacional da Apregoa.com – Cruzeiro do Sul, Jason Vieira, em colaboração com o analista de mercado da Weisul Agrícola, Thiago Davino. A Rússia agora é a campeã dos juros reais, com 4,2%.  Os juros reais descontam a inflação projetada para os próximos 12 meses.
Os 9% ao ano representam a menor taxa do governo Dilma Rousseff. É também a Selic mais baixa em mais de dois anos, desde março de 2010, quando estava em 8,75% ao ano.
Este foi o sexto corte seguido na taxa. A série de reduções começou em agosto do ano passado, quando os juros caíram de 12,5% para 12%.
Na nota divulgada pelo Copom, o órgão avalia que a inflação está sob controle. "O Copom considera que, neste momento, permanecem limitados os riscos para a trajetória da inflação. O Comitê nota ainda que, até agora, dada a fragilidade da economia global, a contribuição do setor externo tem sido desinflacionária. Diante disso, dando seguimento ao processo de ajuste das condições monetárias, o Copom decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa Selic para 9% ao ano, sem viés."

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