segunda-feira, 30 de abril de 2012

Vaticano teria recebido mais de R$ 1 milhão para enterrar mafioso em basílica

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O Globo.com, 30/04/12


Vaticano teria recebido mais de R$ 1 milhão para enterrar mafioso em basílica

 

Michael Day, do Independent


MILÃO — O Vaticano enfrenta uma grande controvérsia sobre o enterro de um notório chefe mafioso ocorrido 22 anos atrás, com novas informações de que a Igreja teria aceitado um bilhão de liras (mais de R$ 1,245 milhão), a antiga moeda italiana, como pagamento de uma viúva para permitir o enterro de seu marido em uma basílica, ao lado de antigos papas.

Uma fonte da Santa Sé contou à agência de notícias italiana Ansa que “apesar da relutância inicial”, o então vigário-geral de Roma, o cardeal Ugo Poletti, “face a um montante tão conspícuo, deu sua benção para o controverso sepultamento de Enrico De Pedis, chefe do grupo mafioso Banda de Magliana, da capital italiana. O dinheiro teria sido usado em missões e na restauração da Basílica de São Apolinário, onde De Pedis foi colocado, ao lado de papas e cardeais, após seu assassinato em 1990.

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As informações, que não foram comentadas pelo Vaticano, podem explicar como um notório criminoso foi enterrado em um local considerado sagrado. Na semana passada, para combater as crescentes críticas e ajudar a resolver o mistério que perdura sobre o assassinato há 20 anos, as autoridades do Vaticano decidiram retirar os restos mortais de De Pedis de sua cripta especial.
A pressão aumentou no início deste mês, quando o procurador Giancarlo Capaldo afirmou que os altos funcionários do Vaticano sabiam muito mais do que revelavam sobre as ligações do chefe da Magliana com a Santa Sé e sobre o suposto sequestro e assassinato de Emanuela Orlandi, filha de 15 anos de um funcionário do Vaticano, em 1983.


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Há pessoas que ainda estão vivas, e ainda estão dentro do Vaticano, que sabem a verdade — afirmou Capaldo.
Alguns acreditam que o pai de Emanuela tinha provas ligando o Banco do Vaticano, Istituto per le Opere di Religione, ao crime organizado, e que ela foi pega para mantê-lo em silêncio. A teoria é de que De Pedis, que foi morto a tiros em 1990, organizou o sequestro.
Nas últimas duas décadas, houve especulações de que os restos mortais de Emanuela foram postos junto ao túmulo do criminoso. Pietro Orlandi, irmão da adolescente, integra o grupo dos que pedem para que o túmulo seja aberto.
O Vaticano — que enfrenta fortes críticas após uma série de escândalos — negou as acusações e deu a entender que os investigadores poderão testemunhar a reabertura da cripta, em uma tentativa de aplacar os rumores.
— Parece que nada foi escondido e não há segredos do Vaticano a serem revelados — afirmou Federico Lombardin, porta-voz do Vaticano.
Aparentemente, Enrico De Pedis será transferido para um destino menos badalado. O local deve ser decidido em um encontro. Mesmo que os restos mortais de Emanuela não sejam encontrados no túmulo, o mistério que ronda seu desaparecimento permanecerá.
Outras teorias sobre o destino de Emanuela também existem. Uma, mais palatável para o Vaticano, sugere que membros da Magliana a entregaram a extremistas turcos, que queriam usá-la como objeto de barganha para conseguir libertar Mehmet ALi Agca, o atirador turco que tentou matar o Papa João Paulo II em 1981.
Mas outras pessoas acusam Paul Marcinkus, o ex-chefe do Banco Vaticano que caiu em desgraça e que esteve envolvido com a falência do Banco Ambrosiano, o maior banco privado da Itália, em 1982.
Pouco depois de o escândalo vir à tona, o presidente do Banco Ambrosiano, Roberto Calvi, foi encontrado enforcado embaixo da ponte Blackfriars, em Londres.

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