segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Não seria melhor voltar a escravatura?

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http://www.conversaafiada.com.br/economia/2012/01/16/abaixo-o-salario-minimo-enfim-uma-bandeira-tucana/

 

Abaixo o salário mínimo !  Enfim, uma bandeira tucana

Publicado em 16/01/2012

Saiu na Folha, pág, A12, importantíssima entrevista de Persio Arida, um dos arquitetos da Privataria Tucana.

Arida ajudou a criar o Plano Real, e, depois, trabalhou no Governo Cerra/FHC, quando se deu a maior roubalheira numa privatização latino americana.

Arida estabelece na entrevista uma ligação que está por demonstrar-se (se não for apenas uma frase de efeito): o Brasil foi o último país a acabar com a escravidão e, pelo mesmo motivo, o último a acabar com a hiper-inflação.

Porque, segundo ele, há um pacto “anti-liberal entre elites e Governo”, em que os “os mais prejudicados são os pobres”.

É uma tese confortável que pode ser exposta numa Assembléia de acionistas do Banco BTG Pactual – onde trabalha hoje – ou num conclave da Opus Dei.

E ter o mesmo efeito. Nulo.

É uma pena, porque Arida é um economista brilhante e deveria deixar esse terreno à disposição do Grande Guru FHC, mestre em generalidade com pretensão a descoberta da pólvora.

Arida se recusa a tratar do livro Privataria Tucana, que descreve uma de suas grandes obras; da Operação Satiagraha e Daniel Dantas, seu sócio.

É uma pena. Seu testemunho poderia ser esclarecedor, nos três itens.

Porém, Arida dá importante contribuição ao pensamento (oposicionista) contemporâneo, já que ele é, queira ou não, um dos pontos de luz que iluminam os tucanos.

Arida é contra o salário mínimo. Jenial !

Já imaginou, amigo navegante, o Padim Pade Cerra, num comício na Daslu a pregar contra o salário mínimo ? Será consagrador !

O salário mínimo “é desastroso … tem um efeito prejudicial sobre os custos do trabalho …” ! – disse ele na entrevista. Jenial !

O salário mínimo prejudica o salário !

Isso lembra o que José Silveira, um lendário secretário do Jornal do Brasil, atribuia ao Dr Roberto Marinho.

Que mandou publicar no Globo um editorial no dia da promulgação do 13º salário: o trabalhador brasileiro saberá rejeitar essa demagogia !

Breve, Arida e o PSDB ficarão contra o salário mínimo – e o 13º salário ! Uns jenios !



Em tempo: ainda sobre a nocividade do salário mínimo, o Conversa Afiada reproduz o implacável Tijolaço do Fernando Brito:

Não seria melhor voltar a escravatura?


A Folha publica hoje matéria sobre o acréscimo de renda provocado pelo aumento do salário mínimo, mostrando que a classe C – mais do que as D e E – é a grande beneficiária dos R$ 63,98 bilhões que serão injetados na economia, ficando com R$ 48 bilhões, contra R$ 12,5 bi apropriados pelas classes D/E.

Corretamente, o diretor do Datapopular explica que o vínculo formal de remuneração da classe C faz este impacto ser mais diretamente absorvido na renda, embora não se mencione que esta diferença, na verdade, é apenas metade do que parece ser, pois a classe C tem hoje quase o dobro do número de integrantes do grupo D/E.

Mas a Folha, claro, não pode deixar de ouvir “o outro lado”. Ou seja, aqueles que sempre arranjam uma “boa razão” para que não se eleve o valor do trabalho do nosso povão. E o escalado é o economista José Márcio Camargo, integrante do núcleo do grupo que migrou de um vago esquerdismo para formar o “bunker” do pensamento neoliberal da PUC do Rio de Janeiro.

Não é preciso comentar, basta transcrever:

“O economista José Márcio Camargo, da Opus Investimentos, é crítico desse incremento econômico (o do aumento do salário-mínino).

“Esse dinheiro tem que sair de algum lugar. As empresas vão ter que deixar de comprar, de investir, para arcar com esses custos adicionais.”

O resultado, diz, é que a renda total -e o consumo-não deverá aumentar tanto quanto se prevê com o aumento do salário.

“Com um lucro menor, as empresas poderão gerar menos empregos”, afirma.

Estamos, atenção, no século 21 e ainda há quem deite doutrina para afirmar que salário-mínimo – e ainda um dos menores do mundo – é empecilho para o emprego e o progresso econômico.

Quem sabe se com a escravatura iríamos ter mais progresso que tivemos com a sólida – embora ainda modesta – elevação dos salários? Afinal, pobre está ficando muito caro, não é?

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