Terça-Feira, 17 de Janeiro de 2012
A equação dos dias que correm
Por Saul Leblon
Para ortodoxia a questão central hoje não é evitar o contágio da recessão mundial, mas, sim, a reprodução no país da crise fiscal européia vista, equivocadamente, como origem do colapso do euro. Para isso, cobra do governo Dilma o corte de 'despesas' que assegure a meta 'cheia' do superávit fiscal previsto para 2012: um deslocamento de R$ 140 bi em receitas para nutrir a pança gorda dos rentistas da dívida pública; outros R$ 100 bi de juros seriam capitalizados, elevando o saldo devedor que já passa de R$ 1,8 trilhão e perfazendo uma esterilização de mais de 5,5% do PIB. Recapitulemos: exceto a Grécia e um ou outro país periférico, a situação fiscal das maiores economias do euro não representava qualquer perigo até explodir o colapso financeiro de 2008.
Estados e receitas foram então postos a socorrer bancos e corporações privadas, precipitando uma bola de neve de endividamento, suspeição, contração do crédito e insolvência. A cartilha ortodoxa não se deu por satisfeita. Liderada pelo pé de ferro de Merkel e Cia, a troika do euro pisa nos dedos de quem se agarra no barranco recessivo esmagando qualquer ação fiscal contracíclica, até reduzir povos e nações a uma montanha desordenada de ruínas no fundo do abismo.
As escolhas do governo Dilma para 2012 não podem perder de vista esse cenário, sua origem e a fraudulenta versão vendida pelos interesses rentistas que dele se beneficiam, aqui e alhures. Deslocar R$ 140 bi ao pagamento de juros implicará cortar - entre outras coisas - a já desproporcional fatia reservada ao investimento público (cerca de R$ 47 bi) e, possivelmente, impor perdas a orçamentos, como os da saúde e educação, que já se beneficiam de fatias equivalentes do PIB inferiores à reservada aos rentistas.
Em tempo: ademais do desastre orçamentário, a opção pela receita ortodoxa (arrocho com juros altos) cimenta uma lógica macroeconômica que distorce o câmbio, valoriza o real, incentiva importações e corrói cadeias industriais, definhando vendas internas e externas. Em 2011, a indústria paulista não criou, em termos líquidos, nenhuma nova vaga de trabalho. Ao contrário, eliminou 50 mil postos.
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