terça-feira, 17 de janeiro de 2012

'Occupy Wall Street' comemora 4 meses de luta

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Occupy Wall Street protesta em frente ao Congresso dos EUA para marcar quatro meses de luta

 

17/1/2012 13:03,  Por Redação, com agências internacionais - de Washington

Wall Street Manifestante do movimento Occupy Wall Street grita palavras de ordem dentro do Capitólio, em Washington

O movimento Occupy Wall Street comemorou, nesta terça-feira, quatro meses de protestos e lutas, apesar de ter sido removido da praça no coração financeiro de Nova York, e segue disposto a intensificar suas ações com a proximidade das eleições de novembro. Para marcar a data, o grupo planeja uma grande concentração em frente à sede do Congresso, para acompanhar o reinício dos trabalhos da Câmara de Representantes depois do habitual recesso de fim de ano.
Os ativistas prevêem que esta seja uma grande manifestação, a fim de recobrar a atenção da opinião pública e reinjetar forças nos integrantes do movimento.
“Será uma demonstração pacífica contra o sistema político corrupto, enfocada em impulsionar o sucesso do movimento, orientando o debate político nos fatos reais que importam às pessoas”, indicou a página de internet OccupyYourCongress.info.
“Não daremos muitos detalhes com respeito às atividades. Já contamos com as permissões necessárias. Não sabemos ainda quanta gente chegará a Washington, mas esperamos que sejam milhares”, explicou Kasey, uma ativista que preferiu ocultar seu sobrenome.
“O ato resultará em uma prova a mais da vigência e coesão dos pacifistas estadunidenses quando os principais meios de comunicação especulam em relação à sobrevivência das manifestações iniciadas o passado 17 de setembro”, comentou o jornal californiano La Opinión.
“Os representantes voltam nesta terça-feira ao Capitólio para recomeçar as sessões de trabalho durante um ano eleitoral, no qual existem poucas expectativas para o avanço de qualquer ação legislativa importante”, comentou ontem o diário The Washington Post. Ao mesmo tempo, os legisladores são recebidos por índices de desaprovação recorde, segundo indica uma nova pesquisa.
De 84% dos estadunidenses que criticam o trabalho do Congresso, quase dois terços disseram que o “desaprova firmemente”, destacou a pesquisa conjunta do jornal e a corrente televisiva ABC News. “Tal tendência consolida um nível sem precedentes de desgosto público, a menos de 10 meses das eleições presidenciais e legislativas de novembro”, destacou o jornal.
Durante os últimos meses, a população foi testemunha das disputas em ambas as câmaras congressionais que ameaçaram inclusive com um fechamento das dependências federais, devido à falta de consenso para determinar os orçamentos destes 12 meses, bem como o tema da redução de impostos.
“Com o reinício das atividades do Senado na semana próxima, o Congresso está a ponto de retomar uma série de pequenas discórdias com respeito ao pedido do presidente Barack Obama de estender ao ano inteiro a isenção de encargos para a classe trabalhadora”, indicou o Times.
A maioria republicana na Câmara baixa apoiou a ampliação do recorte de impostos só por dois meses, mas condicionou seu apoio a uma cláusula que outorga à Casa Branca um prazo até 21 de fevereiro para que decida a construção do controverso oleoduto Keystone XL, do Canadá até o Golfo do México.
Analistas preveem que a anunciada negativa do governante em se pronunciar sobre o tema antes das eleições presidenciais resultará em um novo ponto de confronto entre democratas e republicanos no Congresso.
Aniversário e eleições
“Já se passaram quatro meses e seguimos aqui, embora queiram nos tirar. Mas, os objetivos que perseguimos nos mantêm unidos e com forças para seguir combatendo”, afirmou nesta segunda-feira à Agência Efe Mark Bray, um dos porta-vozes do movimento Occupy Wall Street.
Desde o último mês de setembro, 2 mil protagonistas desta particular queda-de-braço contra os “excessos” das grandes corporações já passaram pelas prisões depois de confrontos com a Polícia, os quais foram marcados pela tomada da ponte do Brooklyn (em outubro) e pela desocupação do acampamento de Zuccotti (em novembro).
Quatro meses depois, as denúncias contra as desigualdades nos EUA continuam. Segundo um recente relatório do Pew Reseach Center, dois terços dos norte-americanos acreditam que a brecha entre ricos e pobres na atualidade é maior que nunca.
Enquanto houver 1% tirando proveito e abusando do sistema, aqui estaremos os 99% para elaborar uma resposta”, afirmou Bray, que ressaltou que estão seguindo a maquinaria eleitoral com receio e muita cautela.
Apesar de não apoiarem nenhum candidato, já que os manifestantes querem estar à margem do que consideram a “farsa eleitoral”, muitos manifestantes reconhecem que acabarão votando em Barack Obama somente para impedir que um republicano retorne à Casa Branca.
“Nós não apoiamos nenhum político porque achamos que há outros caminhos para obter as mudanças ue buscamos”, assegura Jason Amadi, outro dos organizadores do movimento Occupy Wall Street, que dverte que as reivindicações dos manifestantes serão focadas no debate público.
Neste arranque das primárias republicanas, os manifestantes devem acompanhar de perto quem será o candidato que disputará as eleições com Obama. Após ter expandido sua presença para as principais idades do país, agora os ativistas esperam seguir chamando atenção com diferentes protestos.
Algumas dessas ações possuem intenção de manter acesa a chama da “primavera árabe” e “ocupar” novos espaços, embora não descartem uma possível volta para a Praça Zuccotti, que já amanheceu sem cercas policiais na última semana.
Sobre o futuro do movimento, as respostas são difusas, porém, possuem um denominador comum: a luta vai continuar. ”Nós vivemos aqui e agora”, assegura Bray, enquanto Amadi diz que o importante não é que acontecerá com Occupy Wall Street, mas com o destino da humanidade.
Transformados em “Personagem do Ano” pela revista Time, os manifestantes do Occupy Wall Street resistiram ao inverno e atualmente seguem atentos à agenda pública. Segundo Bray, o Occupy Wall Street seguirá ativo.
Com agências




http://www.viomundo.com.br/politica/quando-os-presidentes-falam-muito-mas-nao-mandam-nada.html

Presidentes que não presidem
 
Por Serge Hailimi
Do Le Monde Diplomatique, edição em inglês

Encontros de cúpula europeus vem e vão e a Casa Branca e o Congresso dos Estados Unidos se bicam eternamente, sem resultado.
“Os mercados” sabem muito bem disso, eles vêem os representantes eleitos do povo norte-americano correndo em círculos, como galinhas sem cabeça, à mercê de forças que ajudaram a criar mas agora não conseguem controlar.
Ainda assim, em breve haverá eleições presidenciais nos Estados Unidos, França, Rússia e em outros lugares. A mídia está focada nisso, criando uma sensação surreal de desconexão entre palavras e ações.
As pessoas comuns podem não esperar que os candidatos façam muita coisa, ou nada, mas pelo menos conhecem os currículos dos candidatos, seus defeitos, seus amigos, sócios e redes de contato. A atenção está voltada para Barack Obama e Newt Gingrich, Nicolas Sarkozy e François Hollande, ao invés de para os fundos hedge e as instituições de crédito.
Mas para que servem os candidatos? Sarkozy, cuja política monetária reflete os interesses do BNP Paribas (1), acusou o primeiro ministro britânico, David Cameron, de tentar transformar o Reino Unidos em “uma zona off-shore no coração da Europa”.
O ministro das finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble, atacou raivosamente “a ganância sem limites, a busca de lucros cada vez maiores nos mercados financeiros, que é a grande culpada pelas crises econômica e bancária que enfrentamos desde 2008, uma crise que afeta países inteiros”. Isso não o impediu de expor nações europeias, arruinadas e sem um centavo, a essa “ganância sem limites”.
Como presidente do Bundesbank, Jens Weidmann, explicou a essas nações: “Seria fatal remover completamente os efeitos disciplinadores das taxas de juros crescentes. Quando o crédito se torna caro demais para os estados, o apelo à contração de novos empréstimos despenca”.
Se os países mais endividados não conseguirem mais controlar o “impulso” de emprestar, ou se a recessão impedir o retorno ao equilíbrio financeiro, ou se os “lucros cada vez maiores” dos credores finalmente estrangularem os paises devedores, então a União Européia ajudará, através da imposição de uma multa contra eles…
Os bancos privados continuarão a receber todo o crédito que pedirem, a um custo baixo ou quase de graça. Então, eles poderão emprestar aos estados endividados, com um belo lucro.
O futuro confortável preparado para o capital não o livra de receber abusos verbais.
Esse, agora, é o paradoxo que marca o período pré-eleitoral. No mês passado, Obama alertou seus concidadãos para as ameaças à mobilidade social e à  democracia: “A desigualdade distorce nossa democracia. Dá mais voz aos poucos que podem arcar com os altos custos dos lobistas… Os americanos mais ricos estão pagando os impostos mais baixos do último meio século… Alguns bilionários pagam uma alíquota de apenas 1%. One per cent!”.
Ele também insisitiu que “o livre mercado nunca foi uma licença para tomar o que se quer de quem você quer” e disse que considera essencial “reconstruir a classe média”.
Ninguém acredita que Obama alcançará  este objetivo, ou que reduzirá o poder que o dinheiro tem sobre o sistema político, ou que imporá uma reforma progressiva do imposto de renda. Ele não fez nada disso nos últimos três anos e não disse como pretende fazer agora, se for reeleito.
Nesse ponto, Obama personifica exatamente o que o sistema passou a ser:  uma jangada vagando no oceano, com um capitão demovido gritando ordens enquanto o furacão vai se formando. Se este ano eleitoral não produzir a vontade política e os meios necessários para retomar o poder das mãos das finanças, todas as eleições futuras serão inúteis.

Tradução do francês para o inglês de Barbara Wilson
Tradução para o português de Heloisa Villela

(1) Michel Pébereau, que acaba de deixar o cargo de chairman do BNP Paribas, se sentou em conselhos de governo para discutir assistência pública ao setor bancário e as propostas de Paris para a dívida soberana, que favoreceram o banco dele. O BNP Paribas foi um grande comprador de dívida soberana da Grécia e da Itália. Ver “Michel Pébereau, le banquier dans le coulisses de l’Elysée”, Le Monde, Paris, 2 December 2011

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