DE BRASÍLIA
O ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) da Presidência, general-de-Exército José Elito Carvalho Siqueira, negou ontem, por meio da Secretaria de Imprensa do Palácio do Planalto, ter lutado contra a Guerrilha do Araguaia, ocorrida na primeira metade dos anos 70.
Reportagem de ontem da Folha informou que Elito graduou-se na mesma época e na mesma brigada de paraquedistas que participou do combate à guerrilha, que foi de 1971 a 1975.
"O general informou categoricamente que não participou, e que, caso contrário, não teria problemas em confirmar sua participação", informou a secretaria.
Em nota, o GSI disse que "não é verdadeira" a afirmação de que o general "atuou na brigada de paraquedistas entre 1970 e 1973". O documento afirmou que ele "trabalhou na brigada a partir de 1976, no Rio".
A pedido da Folha, a secretaria consultou novamente o general e, depois, disse que ele teve um curso de dois meses na brigada de paraquedistas em 1971. Antes, ele já havia estudado na mesma brigada por um mês em 69.
Na reportagem de ontem, um colega de Elito indicava que o general não havia atuado no conflito dos anos 70.
O general foi procurado pela reportagem desde a segunda-feira, mas preferiu não conceder entrevista.
Sua assessoria disse que não conseguiria responder por conta da agenda dele.
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São Paulo, sexta-feira, 07 de janeiro de 2011
Ministro foi de brigada que lutou no Araguaia
RUBENS VALENTE
DE BRASÍLIA
O general de Exército José Elito Carvalho Siqueira, 64, novo ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), graduou-se na mesma época e na mesma brigada de paraquedistas que combateu a Guerrilha do Araguaia (1972-1975).
Nomeado para o primeiro escalão de um governo que se diz disposto a construir narrativa oficial sobre as mortes e desaparecimentos na ditadura, Elito assumiu o cargo na segunda-feira se posicionando contra a criação da Comissão da Verdade e dizendo que os desaparecidos são um "fato histórico" do qual "nós não temos que nos envergonhar ou vangloriar".
A declaração deu origem a um pedido de explicações da presidente e ex-guerrilheira Dilma Rousseff e criou mal-estar no governo. Dilma aceitou a alegação de que ele teria sido mal interpretado.
Procurado pela Folha, Elito não esclareceu se atuou ou não no combate à guerrilha.
O currículo de Elito divulgado pelo GSI omite a data da passagem do oficial pela brigada que combateu no Araguaia. Diz apenas que, após se tornar oficial, em 1969, foi "classificado no Regimento Escola de Infantaria, sediado no Rio" e cita os cursos "básico de paraquedista, ações de comandos, mestre de salto, forças especiais e salto livre", sem precisar onde ele atuou.
Livros sobre a Guerrilha do Araguaia descrevem que até 330 paraquedistas da unidade, contemporâneos de Elito, atuaram no conflito, que resultou na morte de 59 guerrilheiros do PC do B, de 16 soldados do Exército e de dez moradores da região, segundo o jornalista Elio Gaspari.
Elito entrou no Exército aos 17 anos, como cadete, 15 dias após o golpe de 1964.
A Folha apurou que Elito atuou na Brigada de Infantaria Paraquedista da Vila Militar do Rio entre 1970 e 1973, quando virou instrutor da Academia Militar das Agulhas Negras. A informação foi confirmada por três oficiais: um general da ativa (que pediu anonimato), um general e um coronel da reserva.
Ao mesmo tempo, Elito graduou-se no curso de Forças Especiais, tropa de elite do Exército treinada em técnicas de contraterrorismo e ações contra guerrilha. O período de Elito nos paraquedistas coincide com boa parte da participação da brigada no Araguaia -de 1971 a 1975.
Um colega de turma de Elito confirmou que o general atuou com os paraquedistas ao tempo em que houve o combate à guerrilha, mas disse que ele não integrou as equipes levadas ao Araguaia.
O coronel da reserva Lício Augusto Ribeiro Maciel, que combateu por mais de um ano no Araguaia, elogia Elito, mas acredita que o general não lutou no Araguaia.
O oficial da reserva Sebastião Rodrigues de Moura, o "major Curió", disse não se recordar do nome de Elito, mas observou que havia uma separação de comandos entre o Serviço Nacional de Informações, no qual ele estava lotado, e os paraquedistas.
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