O Sputinik ("Companheiro de viagem", em russo)
São Paulo, quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
Editoriais
Saudade do Sputnik
Em meio a pressões políticas, discurso de Obama relembra corrida espacial e conclama EUA a recuperar liderança tecnológica no século 21
No dia 4 de outubro de 1957, a União Soviética colocou em órbita o satélite Sputnik 1. No auge da Guerra Fria, o lançamento daquela esfera de metal de pouco mais de 80 quilos instilou em milhões de norte-americanos o medo de que seu país tivesse ficado para trás, sobrepujado pelo grande rival. A proeza dos soviéticos disparou uma corrida espacial entre as duas superpotências que propiciaria avanços tecnológicos sem precedentes.
Mais de meio século depois, o presidente dos EUA, Barack Obama, rememorou anteontem, em seu discurso sobre o Estado da União, aqueles acontecimentos, com o intuito de situar seu país no cenário do mundo atual.
"Há meio século, quando os soviéticos nos derrotaram no espaço com o lançamento de um satélite chamado Sputnik, não tínhamos ideia de como iríamos vencê-los", disse. "Mas, após investir em melhor pesquisa e educação, não apenas ultrapassamos os soviéticos como desencadeamos uma onda de inovação que criou novas indústrias e milhões de empregos", prosseguiu. "Este é o momento Sputnik da nossa geração. O que está em jogo é se novos empregos e indústrias se enraizarão neste país ou em outro lugar."
A fala de Obama reverbera a crença no excepcionalismo dos EUA e reflete o temor de que a dianteira inconteste do país esteja em risco. "Nossa infraestrutura era a melhor, mas nossa liderança escapou." Não à toa, citou o mais amplo acesso à internet na Coreia do Sul, as melhores estradas e ferrovias da Europa e os trens rápidos e aeroportos da China.
O discurso propôs metas ambiciosas: internet banda larga para 98% da população em cinco anos, trens de alta velocidade para 80% dos americanos em 25 anos, e 85% de energia limpa até 2035.
O grande desafio do presidente é superar as divisões internas do país, cujos sinais estão nas urnas e nas ruas - há três meses os democratas perderam a Câmara e viram sua maioria encolher no Senado; há três semanas, uma congressista, correligionária do presidente, foi gravemente ferida num atentado em Tucson, no Arizona.
O apelo à união nacional perpassou o discurso de terça-feira à noite, mas a realidade é que, com a eleição de 2012 como pano de fundo, é pouco provável que os republicanos abram mão de seu legítimo papel de oposição.
O entendimento de Obama acerca da função e do tamanho do Estado choca-se frontalmente com o de seus opositores. O presidente propõe mais gastos em educação, inovação e infraestrutura, enquanto os adversários defendem cortes radicais para conter a escalada do deficit dos EUA. O rombo orçamentário do governo federal, que deverá atingir US$ 1,5 trilhão neste ano, fechou 2010 em 9% do PIB, o patamar mais alto desde o final da Segunda Guerra.
"Cortar o deficit reduzindo investimentos em inovação e educação", disse Obama numa sugestiva metáfora, "é como amenizar o peso de um avião sobrecarregado retirando o seu motor".
Em novembro do ano que vem, o presidente que galvanizou os norte-americanos e despertou simpatias internacionais com promessas de mudanças vai enfrentar as urnas mais uma vez. O encanto, sob efeito da crise, se quebrou, mas a recuperação da economia, se trouxer um recuo significativo do desemprego (ainda acima dos 9%), poderá revigorar as pretensões do líder democrata - e dar amparo ao seu discurso de relançamento dos EUA no século 21.
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É isto aí, Dilma!
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