Livro: 'A História do Embaixador Morgenthau'

São Paulo, sábado, 29 de janeiro de 2011

Relato do embaixador Morgenthau é relevante para entender o mundo atual

RICARDO BONALUME NETO
DE SÃO PAULO

Sim, é um livro fascinante. Pode parecer exótico, esotérico e exagerado publicar no Brasil do século 21 um livro com as memórias de um embaixador americano na Turquia no começo do século 20.
Mas, ao contrário, seria difícil achar um livro mais relevante para entender a história relativamente recente e a dolorosamente atual de alguns pontos quentes do planeta -e não se trata do aquecimento global. Ainda há conflito no pedaço.
E um dos motivos é o genocídio feito pelos turcos muçulmanos contra seus cidadãos armênios cristãos.
Mataram algo como 1,5 milhão de armênios, o primeiro grande genocídio do século 20. Depois foram os 6 milhões de judeus pelos alemães e os centenas de milhares de tutsis africanos pelos seis vizinhos hutus.
Henry Morgenthau (1856 -1946), americano, judeu, era embaixador dos EUA no Império Otomano (ou no que restava dele).
Depois de uma época áurea, em que tomaram Constantinopla (1453), os turcos iniciaram sua decadência.
Os "jovens turcos", militares revolucionários, reverteram a tendência no começo do século 20.
Mesmo assim, o império perdeu territórios na Europa para renascentes países cristãos como Grécia, Sérvia e Bulgária.
Surgem os alemães na cena. Interessados na Turquia como um aliado para se contrapor à aliança franco-russa.
O cáiser Guilherme 2º manda enviados especiais ao Império Otomano. O objetivo é óbvio: tornar a Turquia aliada na vindoura guerra, a 1ª Guerra Mundial.

WIKILEAKS
Um dos charmes do livro de Morgenthau é a descrição detalhada de diálogos com autoridades locais e com outros diplomatas (espécie de WikiLeaks "avant la lettre").
"Entrarei para a história como o homem que demonstrou a vulnerabilidade da Inglaterra e da sua frota. Demonstrarei que sua marinha não é invencível", disse a Morgenthau o líder otomano Ismail Enver Efendi.
Ele estava meio certo. De fato, os aliados erraram bonito no ataque à península de Dardanelos. Podiam ter vencido, mas amarelaram.
Morgenthau exagera quando fala das teorias (obviamente "conspiratórias") dos alemães para "conquistar o mundo". Não foi bem esse o começo da guerra. Mas o livro é clássico apesar desses exageros.

A HISTÓRIA DO EMBAIXADOR MORGENTHAU

AUTOR Henry Morgenthau
EDITORA Paz e Terra
TRADUÇÃO Marcello Lino
QUANTO R$ 40 (324 págs.)
AVALIAÇÃO ótimo