segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Egito: Euforia, banho de sangue e caos

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O grande líder árabe Gamal Abdel Nasser (1918-1970)

Anwar Sadat, quando tornou-se presidente do Egito ao suceder o grande líder árabe Nasser,  traiu as causas árabe e palestina, fazendo em separado a paz com Israel e submetendo o  Egito totalmente aos interesses sionistas e norte-americanos na região. 

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O traidor Anwar Sadat (1918-1981)


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Nasser sabia como tratar os sionistas e os EUA

Mubarak, sucessor de Sadat, manteve-se subserviente a esta política pró EUA e Israel. Nestes seus últimos instantes como ditador, está agora cuidando de onde se estabelecer tranquilamente para o restante de sua infame existência com a fortuna que roubou do povo Egípcio. Como fazem todos estes ditadores que servem aos EUA e as outras potências. 



                


Jornal do Brasil, 31/01/11 às 7h52

Israel pede aos EUA e países europeus que apoiem Mubarak

Agência AFP

JERUSALÉM - Em uma mensagem secreta, Israel solicitou aos Estados Unidos e a vários países europeus que apoiem a estabilidade do regime egípcio de Hosni Mubarak, indicou nesta segunda-feira o jornal israelense Haaretz. "O interesse do Ocidente e do conjunto do Oriente Médio é manter a estabilidade do regime no Egito", afirma a nota, enviada na semana passada, de acordo com o Haaretz.
"Por isso, é preciso frear as críticas públicas ao presidente Hosni Mubarak", acrescenta o texto da mensagem, que a rádio militar israelense interpretou como uma crítica aos Estados Unidos e à Europa, que não apoiam mais Mubarak.
Procurado pela AFP, um porta-voz do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu negou-se a confirmar ou desmentir as informações. Até o momento, os dirigentes israelenses adotaram uma atitude discreta em relação à situação no Egito.
Netanyahu, que ordenou a seus ministros que se abstenham de tecer comentários sobre a revolta popular no país vizinho, declarou no domingo que Israel gostaria de preservar "a estabilidade e a segurança regional".

                      Marco Longari/AFP
Tanque do Exército passa em frente às pirâmides; polícia volta às ruas da capital Cairo
Tanque do Exército em frente às pirâmides


Segunda-Feira, 31 de Janeiro de 2011
Euforia, banho de sangue e caos

Robert Fisk - Página/12

Os tanques egípcios, os manifestantes sentados sobre eles, as bandeiras, as 40 mil pessoas que choravam e alentavam os soldados na Praça da Liberdade, enquanto rezavam ao redor deles os irmãos da Irmandade Muçulmana, sentados entre os passageiros dos tanques. Seria o caso de comparar isso com a liberação de Bucareste? Sentado sobre um dos tanques de fabricação dos EUA, só podia recordar aquelas cenas cinematográficas maravilhosas sobre a liberação de Paris. Uns dois metros dali, a polícia de segurança de Hosni Mubarak, com seus uniformes pretos ainda disparava contra os manifestantes que estavam próximos do Ministério do Interior. Era uma celebração de uma vitória selvagem e histórica: os mesmos tanques de Mubarak estavam liberando a capital de sua própria ditadura. 

Na pantomima do mundo de Mubarak – e de Barack Obama e de Hillary Clinton, em Washington -, o homem que ainda se autoproclama presidente do Egito realizou a eleição mais absurda de um vice-presidente para acalmar a fúria dos manifestantes. O eleito foi Omar Suleiman, chefe dos negociadores egípcios com Israel e um antigo agente da inteligência, um homem de 75 anos, com vários anos de visitas a Tel Aviv e a Jerusalém, assim como com vários infartos que os provam. Como este funcionário enfrentará a raiva e o desejo de libertação de 80 milhões de egípcios fica a cargo da imaginação. Quando contei aos que estavam ao meu redor no tanque sobre a designação de Suleiman, começaram a rir. 

As tropas, em roupas esgarçadas, rindo e até aplaudindo, não manifestaram qualquer intenção de borrar a grafitagem que a multidão tinha pintado nos tanques: “Fora Mubarak” e “Teu regime está acabado, Mubarak”, aparecia em cada um dos tanques que percorriam as ruas do Cairo. Em um dos tanques que davam a volta ao redor da Praça da Liberdade estava um dos Irmãos Muçulmanos, Mohamed Beltagi. Mais cedo tinha passado perto um comboio de veículos blindados que estavam a postos próximo ao subúrbio de Garden City, enquanto as pessoas abriam o caminho entre as máquinas e levavam laranjas aos soldados, aplaudindo-os como patriotas egípcios.

Mais do que a tresloucada eleição do vice-presidente de Mubarak e do que a designação de um convescote num governo sem poder, as ruas do Cairo demonstraram que os líderes dos EUA e da União Europeia (UE) não entenderam nada. Acabou-se. Os débeis intentos de Mubarak, ao declarar que se deve terminar com a violência, quando sua própria segurança policial foi responsável, nos últimos cinco dias pelos atos mais cruéis, incendiou ainda mais a fúria daqueles que passaram 30 anos sob uma ditadura sanguinária. Prova disso são as suspeitas de que muitos dos saques estão sendo levados a cabo por policiais civis, assim como o assassinato de 11 homens numa área rural há 24 horas, para destruir a integridade dos manifestantesque estão tentando tirar Mubarak do poder. 

destruição de um número importante de centros de comunicações por parte dos homens com rostos tapados, que devem ter sido coordenados de alguma maneira, também levantou o alerta e veio a ideia de que os responsáveis seriam os agentes da civil que tinham golpeado os manifestantes.Mas os incêndios de delegacias de polícia no Cairo, em Alexandria e Suez, assim como em outras cidades foram obra dos policiais civis. Quase à meia noite de sexta para sábado, multidões de homens jovens atiçaram fogo ao longo da auto estrada de Alexandria.

Infinitamente mais terrível foi o vandalismo no Museu Nacional do Egito. Depois de a polícia abandonar o lugar, os saqueadores arrombaram a porta do edifício pintado de vermelho e destruíram estátuas faraônicas de quatro mil anos, múmias egípcias e impressionantes botes de madeira originariamente talhados para acompanhar os reis em suas tumbas. Mais uma vez, deve-se dizer, circularam rumores de que a polícia tinha causado esses atos de vandalismo antes de ter abandonado o museu na sexta à noite. Tudo parece recordar o que se passou no museu de Bagdá em 2003. O saque não foi tão grave como o do Iraque, mas o desastre arqueológico é pior. Os manifestantes se reuniram à noite, em círculo, na Praça da Liberdade, para rezar.

E também houve promessas de vingança. Uma equipe da cadeia de televisão Al Jazeera encontrou um depósito com 23 cadáveres em Alexandria, aparentemente assassinados pela polícia. Muitos tinham seus rostos horrorosamente mutilados. Outros onze mortos foram descobertos num depósito no CairoAs famílias, que se congregaram ao redor de seus restos ensanguentados, prometiam represálias contra os policiais. 
O Cairo agora oscila da euforia à mais sombria cólera em questão de minutos. Ontem pela manhã cruzei a ponte do rio Nilo para ver as ruínas do quartel do partido de Mubarak. Em frente, seguia de pé um pôster que promovia as bondades do oficialista Partido Nacional Democrata (PND), as promessas que Mubarak, não pôde cumprir em 30 anos. “Tudo o que queremos é a saída de Mubarak, novas eleições e nossa liberdade, e honra”, disse-me um psiquiatra de 30 anos.

A denúncia de Mubarak de que essas manifestações seriam parte de um “plano sinistro” é o núcleo de seu pedido de reconhecimento internacional. De fato, a resposta de Obama foi uma cópia exata de todas as mentiras que Mubarak está usando durante três décadas, para defender seu regime. O problema é o de sempre: as linhas do poder e as da moralidade não se unem quando os presidentes estadunidenses tem de tratar com o Oriente Médio. A liderança moral dos Estados Unidos desaparece quando se trata de confrontar os mundos israelense e árabe. E o exército egípcio é parte dessa equação. Recebe 1,3 bilhões de dólares de ajuda estadunidense. O comandante dessas forças armadas e amigo pessoal de Mubarak, o general Mohamed Tantawi estava em Washington, no momento em que a polícia tratava de reprimir com violência os manifestantes. O final pode ser claro. A tragédia ainda não terminou.

Tradução: Katarina Peixoto
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São Paulo, segunda-feira, 31 de janeiro de 2011 


Al Jazeera e a revolução

NELSON DE SÁ

Sexta, ao se evidenciar o domínio da Al Jazeera na cobertura do Egito, o "New York Times" lançou um ataque ao canal árabe, que é "agressivo e militante" contra "alinhados ocidentais". Dia seguinte, admitiu que "espectadores ávidos em toda a região _e no mundo_ assistem aos protestos na Al Jazeera".
Ontem, o canal foi "banido", como destacaram os sites ocidentais. Não deu certo, a Al Jazeera espalhou seus acessos de satélite e web -e "não foi detida pelo freio egípcio". Mostrou ao vivo a pressão dos jatos na praça Tahrir, o esforço do regime para emplacar novo general e, por fim, a ascensão de ElBaradei como líder da oposição, com apoio da Irmandade Islâmica.
Nos EUA como no Brasil, as principais operadoras de TV paga não permitem acesso à Al Jazeera.

                      Lefteris Pitarakis/AP
Moradores passam por delegacia incendiada no Cairo; oposição não quer diálogo com regime de Mubarak
Delegacia incendiada no Cairo
São Paulo, segunda-feira, 31 de janeiro de 2011 

Revolta árabe relativiza força de grupos islâmicos 

CLAUDIA ANTUNES 
DO RIO 

As revoltas populares nos países árabes, iniciadas com protestos de jovens e desempregados, mostram que há na região outras forças além dos grupos de orientação islâmica -fantasma invocado com frequência para manter regimes ditatoriais. "Esses grupos [político-religiosos] estão cientes de que o movimento não foi liderado por eles. A maioria dos que protestam não o faz em nome do islã", afirma Rami Khouri, americano de origem palestina que é um dos mais respeitados analistas do Oriente Médio.
Para ele, os manifestantes que estão nas ruas de Tunísia, Egito e outros países somam insatisfações múltiplas, do custo de vida à repressão política, mas não têm um programa político. "Quando houver eleições livres é que teremos a chance de ver quais são as preferências das pessoas", diz Khouri, que alerta ser cedo para prever se o movimento levará à instalação de sistemas democráticos. Ele falou à Folha por telefone, de sua casa em Beirute, onde dirige o Instituto de Política Pública e Assuntos Internacionais da Universidade Americana.
  
Folha - Diz-se que, sobretudo na Tunísia e no Egito, os protestos são organizados por jovens, com pouca participação de outros grupos. O sr. tem a mesma avaliação?
Rami Khouri -
 Há alguns grupos organizados, como sindicatos, mas começou com jovens desempregados e outros setores aderiram.

Os protestos refletem as insatisfações da maioria da população com esses regimes?
Sim. Há muitas insatisfações, e é isso que faz esse movimento crescer, mesmo quando ele brota espontaneamente. Elas incluem o custo de vida, a falta de empregos, os salários baixos, o abuso de poder, o enriquecimento dos que estão no poder e de suas famílias, a corrupção, a falta de liberdade, de dignidade, de direitos humanos. Há queixas diferentes que, juntas, ganham força. E isso motiva as pessoas a se rebelarem.

O sr. incluiria os protestos no Iêmen nesse quadro?
Em geral, sim. São países diferentes, claro, mas no Iêmen há pobreza, desemprego, e o regime de Ali Abdullah Saleh dura mais de 30 anos. As pessoas estão cansadas. Há uma série de insatisfações comuns à região.

O sr. tem alguma previsão sobre o que ocorrerá no Egito?
É difícil prever. Mas o que está claro é que, uma vez que há milhares de pessoas nas ruas desafiando a polícia, isso significa que elas não temem mais o aparato de segurança do regime.
No entanto, elas não têm necessariamente um programa político a implementar.

Isso é um desafio quando se pensa em como esses movimentos podem levar a uma democratização real, não?
Não sabemos como essa força será canalizada e transformada em um novo sistema de governo. Esperamos que seja democrático e transparente.
O que acontecerá depende também das Forças Armadas, dos serviços de segurança, de atores estrangeiros, da vontade das pessoas, de se os atuais regimes decidirão ou não fazer tudo para se manter. Não está claro se no Egito e no Iêmen haverá mudança.

A participação de grupos e partidos de orientação islamista, como a Irmandade Muçulmana egípcia, foi lateral no início dos protestos. Como analisa isso?
Esses grupos estão satisfeitos pelo fato de que o regime tenha sido derrubado na Tunísia, mas também cientes de que não lideraram o movimento que levou a isso.
Isso indica que há outras forças na sociedade que podem fazer o que os islâmicos não foram capazes de fazer.
Em algum nível, esses movimentos desacreditaram as forças político-religiosas, ou pelo menos reduziram seu tamanho presumido. A maioria das pessoas que protesta não o faz em nome do islã.
A ideia de que os grupos islâmicos são muito fortes pode ser relativizada?
É possível que sim, no sentido de que não foram impulsionadores das mudanças. Os islamistas fazem outras coisas que lhes dão credibilidade, como fornecer serviços básicos, desafiar Israel, reforçar o sentido de dignidade e identidade da população.
Mas, quando se tratou de derrubar o governo, como na Tunísia, não estavam na liderança. Isso cria outra força na sociedade, o que é positivo.

Forças de esquerda estão presentes nestes países?
Há movimentos esquerdistas, mas não muito fortes. Quando houver eleições livres, haverá um amplo espectro na disputa, forças tribais, islâmicas, nacionalistas árabes, progressistas, esquerdistas, capitalistas. E teremos chance de ver qual é a preferência das pessoas.

No Egito, o partido de Hosni Mubarak [Nacional Democrático], que oficialmente venceu eleições legislativas em 2010, tem uma base real?
Tem uma base muito limitada, pessoas beneficiadas com empregos e privilégios pelo fato de estarem no partido. Mas acho que é uma base muito estreita, como a de todos os regimes autocráticos. Se o partido deixa o poder, a base tende a desaparecer.

O [o ex-diretor da AIEA] Mohamed El Baradei, que voltou ao Egito na quinta, tem algum papel a desempenhar?
Ele deverá encontrar um papel, poderia até se tornar o presidente. Algumas pessoas gostam dele porque é um homem inteligente e decente, mas outras acham que ele ficou muito tempo longe e consideram a volta oportunista. Há avaliações discrepantes.

Os EUA arquivaram o projeto de "espalhar a democracia" no Oriente Médio quando o Hamas venceu as eleições de 2006. O que esperar dos governos ocidentais agora?
Eles foram apanhados de surpresa e sua atitude até agora foi discreta, dizendo que os governos não deveriam recorrer à violência e que as pessoas tinham o direito de se manifestar.
A maioria dos governos ocidentais deu uma prova de bancarrota moral e política sempre que se tratou de lidar com os direitos dos cidadãos árabes comuns.
Ou apoiavam os regimes ditatoriais ou apoiavam os democratas da boca para fora. A maioria teme a democratização da região.

Quais razões?
Teme-se que grupos islamistas se tornem populares, que os árabes livres sejam críticos dos EUA, que Estados árabes democráticos sejam mais duros com Israel ou negociem mais seriamente.

O sr. mencionou os sindicatos, que nos últimos anos organizaram algumas greves. Eles tiveram papel especial?
Há sindicatos bem organizados tanto no Egito quanto na Tunísia e alguns pediam mudanças há algum tempo.

O sr. vê relação entre o que ocorre nesses países e a eleição no Líbano de um premiê apoiado pelo xiita Hizbollah?
Não. Na Tunísia e no Egito há uma revolta popular. No Líbano há um jogo de poder, com atores locais e internacionais.

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