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25 de janeiro de 2011
Foto: Divulgação
O documentário Lixo Extraordinário, sobre o trabalho do artista plástico brasileiro Vik Muniz com os catadores de lixo do Jardim Gramacho, em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, foi indicado para concorrer ao Oscar de melhor documentário. Dirigido por Lucy Walker, Karen Harley e João Jardim, o filme tem nome internacional de Waste Land.
Os outros filmes indicados na categoria são Exit through the Gift Shop, do artista de rua Banksy, Gasland, Inside Job, este sobre a crise financeira de 2008 e 2009, e Restrepo.----------
A história de um crime de 20 trilhões de dólares
Como causar uma quebradeira de 20 trilhões de dólares, por meio de uma farra de negócios especulativos, e cobrar a conta de milhões de pobres mortais que não participaram da festa? O documentário Inside Job (“Trabalho interno”, em português) responde essa pergunta mostrando o comportamento criminoso de agentes políticos e econômicos que conduziu à crise econômica mundial de 2008. Essa conduta criminosa provocou a perda do emprego e da moradia para milhões de pessoas.
Dirigido por Charles Ferguson (mesmo diretor de No End in Sight) e narrado por Matt Damon, o documentário conta um pouco da história que Wall Street e seus agentes pelo mundo querem que seja esquecida o mais rápido possível. Para repeti-la, provavelmente.
O documentário resultou de uma extensa pesquisa e de uma série de entrevistas com políticos e jornalistas, revelando relações corrosivas e promíscuas entre autoridades, agentes reguladores e a Academia.
Em No End in Sight, Ferguson faz uma análise sobre o governo de George W, Bush e sua conduta em relação à Guerra do Iraque e a ocupação do país, questionando as mentiras utilizadas pelas autoridades norte-americanas para sustentar a ocupação. Agora, em Inside Job, mais uma vez o diretor expõe uma teia de mentiras e condutas criminosas que prejudicaram seriamente (e seguem prejudicando) a vida de milhões de pessoas. Agende-se: a estreia do documentário no Brasil está prevista para o dia 18 de fevereiro.
“Se você não ficar revoltado ao final do filme, você não estava prestando atenção” – diz uma das frases promocionais do documentário. Uma revolta necessária, pois, neste exato momento, muitos dos agentes causadores da crise (do roubo, seria melhor dizer) voltaram a dar “conselhos” para governos e sociedades. Algumas das mais novas vítimas são gregos, irlandeses, espanhóis, portugueses e outros povos europeus que estão sendo “convidados” a “aceitar a ajuda do FMI”.
Os arautos das privatizações e da desregulamentação seguem soltos como se nada tivesse ocorrido. Inside Job mostra as entranhas deste mundo de cobiça, cinismo e mentira. São estes criminosos, no frigir dos ovos, que seguem dando as cartas no planeta. Preparem o estômago, abram os olhos e ouvidos e não deixem de ver esse filme.
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Folha de São Paulo, 11/07/2010
ANDREA MURTA
DE WASHINGTON
Há duas faces da estratégia da contrainsurgência, escolhida pelo presidente dos EUA, Barack Obama, para lutar a guerra no Afeganistão.
Uma é a da discussão sobre como combater, conquistar o apoio dos afegãos e reconstruir o país. Outra bem diferente é a dos garotos de 18 anos treinados para matar que, de repente, têm que agir como diplomatas.
Essa segunda faceta é mostrada com crueza no documentário "Restrepo", que entrou em cartaz na última sexta, em Washington.
O filme é o resultado da imersão entre maio de 2007 e julho de 2008 do jornalista americano Sebastian Junger e do fotógrafo britânico Tim Hetherington num grupo de soldados no vale do Korengal, perto da fronteira paquistanesa, por muito tempo considerado o lugar mais perigoso do Afeganistão.
Apesar de editado para ser apolítico, "Restrepo" contribui para o crescente questionamento da estratégia. A contrainsurgência exige muitos soldados não só para derrotar o inimigo mas para viver entre a população e reconstruir o governo, esforço que pode levar décadas.
As câmeras exibem com tom de futilidade reuniões organizadas pelos jovens soldados com líderes tribais.
Em uma cena, um idoso afegão gira nas mãos uma caixinha de suco dada pelos soldados sem saber onde enfiar o canudinho, em óbvio constrangimento. A distância aumenta quando ele diz: "Querem matar o inimigo, OK, mas estão matando gente daqui que não tem nada a ver com os insurgentes".
Os soldados não podem fazer mais do que pedir desculpas e voltar a uma base nas montanhas, onde sofrem até 14 ataques por dia.Em outro momento, os militares se animam ao serem procurados por três líderes locais. "É a primeira vez que isso acontece." Mas os afegãos não querem discutir a guerra. Querem indenização após os americanos matarem uma vaca que se prendera no arame farpado, dias antes.
"O que vimos é uma contrainsurgência barata", disse Hetherington após uma pré-exibição do filme, na última quarta. "Respeito os rapazes, mas estamos pedindo a eles que ajam como políticos, enquanto são treinados para lutar e matar."
REVISÃO
Segundo Hetherington, os militares não se queixam do (pouco) resultado das tentativas de aproximação. Expressam frustração, sim, pela contenção de fogo para evitar a morte de civis, outra prática da estratégia.
Esse ponto passa atualmente por revisão. A orientação atual é limitar os ataques aéreos e com morteiros contra casas, a não ser em casos de risco iminente. Os soldados são forçados a analisar o movimento das construções por 48 horas para verificar que não há civis, antes de ataques. E dizem que isso os coloca em perigo.
"Restrepo" é ainda um retrato da vulnerabilidade dos soldados. Os diretores testemunharam com uma proximidade rara batalhas sangrentas e seus efeitos nos jovens americanos, que choram como crianças ao ver o melhor amigo ser morto.
O nome do documentário é oriundo disso: Restrepo é o nome do pequeno posto de combate no vale onde se desenrola a ação, homenagem a um membro morto em combate. O posto foi fechado em abril, após mais de 450 combates e quase 50 mortes.
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