São Paulo, sábado, 04 de dezembro de 2010
Especialista dialoga com revolucionários franceses
LUÍS EBLAK
DE SÃO PAULO
Quando se deu a queda da Bastilha -um dos episódios inaugurais da Revolução Francesa, em 1789-, não havia em Paris nem uma dezena de republicanos. A afirmação, atribuída ao revolucionário Camille Desmoulins (1760-1794), pode ter servido de inspiração para Newton Bignotto escrever "As Aventuras da Virtude".
Professor de filosofia da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), ele mostra na nova obra que havia na França do século 18 uma linguagem republicana antes do embate entre revolucionários e monarquia.
Sabe-se que a França continuou monárquica mesmo após o início da Revolução. A (curta) fase republicana só veio em 1792. Bignotto quer destacar que, antes, desde ao menos os escritos de Montesquieu (1689-1755), havia um "léxico republicano" no país.
Essa linguagem tem um "significado pleno" que "só ficou claro no curso dos acontecimentos [da Revolução] que apontaram para a implementação de um regime republicano".
Aí entra a virtude, explica Bignotto, "valor atribuído [numa república] à igualdade, à liberdade e ao direito de participar da vida pública".
A "aventura da virtude" percorre as ideias de vários autores, como Montesquieu, Voltaire (1694-1778) e Jean-Jacques Rousseau (1712-78).
O melhor do trabalho é o diálogo com os revolucionários -por meio da leitura aguçada de panfletos, discursos etc.-, especialmente sobre Saint-Just (1767-94) e Robespierre (1758-94).
O primeiro defendia que a França tinha, entre 1792 e 1795, a oportunidade de fundar "algo novo", a República, cujo marco seria a execução do rei Luís 16 -uma de suas frases célebres: "Não se pode reinar inocentemente".
Bignotto nega, porém, que o republicanismo tenha sido estratégia dos revolucionários de ataque à monarquia.
Talvez o livro seja também uma resposta à crítica liberal de que republicanismo é apenas um "estado ideal retórico" que "não existe em lugar nenhum". Para o professor da UFMG, não é. Ao menos no republicanismo francês.
Estudioso dos temas liberdade e republicanismo, Bignotto é um respeitado intérprete da obra de Nicolau Maquiavel (1469-1527), sobre quem publicou "Maquiavel Republicano" (Loyola, 1991).
Nesta obra, talvez só um pesar: ela não é para principiantes. Sobretudo quando se fala de Rousseau. Uma pena para o público leigo.
AS AVENTURAS DA VIRTUDE: AS IDEIAS REPUBLICANAS NA FRANÇA DO SÉCULO XVIII
AUTOR Newton Bignotto
EDITORA Companhia das Letras
QUANTO R$ 53 (400 págs.)
AVALIAÇÃO bom
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