domingo, 7 de novembro de 2010

Privatização: Ponderações a considerar

Carta de um petroleiro ao jornalista Fritz Utzeri
É raro tomarmos conhecimento "dessas coisas"...


Prezado jornalista Fritz Utzeri. Sempre lúcido e oportuno em suas observações, creio que tenha desconsiderado um fato importante na sua análise sobre a serventia da Petrobras enquanto empresa estatal.

Quando diz "não me parece que ela, com autossuficiência ou não, melhore a minha vida", quero lembrá-lo que foi por decisão do presidente Eduardo Dutra que a Petrobras não repassou para o preço dos combustíveis toda a alta e flutuação de preço do petróleo internacional, mais no início do governo Lula. Apesar das pressões dos acionistas e da mídia "especializada", José Eduardo Dutra argumentou que o aumento dos preços redundaria em aumento do custo Brasil, e consequentemente na taxa de juros para captação de recursos financeiros no exterior, blá, blá, blá...

O fato é que não tivemos nenhum ônus por conta das crises externas. Você imaginaria o mesmo cenário se o governo fosse tucano, ou a empresa já totalmente entregue ao controle internacional?

Esclareço ainda, na condição de empregado, que somente por sermos concursados, e assim termos alguma garantia de emprego, que podemos nos dedicar com mais liberdade às atividades de cidadania, como exerci na AEPET. Tenho amigos em empresas estatais que, ao privatizadas, demitiram todos os empregados ativistas. E para os ativistas a Petrobras está longe de ser "uma teteia para quem nela trabalha". Exceto para os sindicalistas ligados ao PT, aos que se mantiveram íntegros ao compromisso que a Petrobras foi criada para dar suporte à economia do Brasil as perseguições prosseguiram, senão na demissão, certamente no assédio moral.

As consequências das privatizações das empresas estatais vão muito além da questão do fluxo de capital, lucros, eficiências. A questão da privatização das telefônicas, a mais emblemática para os privatistas, passa por uma argumentação que, como engenheiro, considero absolutamente estúpida: o que fez a mudança das ofertas de linhas e serviço é a terceira revolução industrial, ora em andamento, pela inserção da microeletrônica nos processos produtivos e nos produtos, e nunca uma mudança de gestão empresarial. Os tucanos usaram este efeito, expansão da oferta do serviço, para justificar uma privatização que custou, nas primeiras tacadas, mais de 30 mil postos de trabalho diretos, e depois, todo um aviltamento das remunerações dos trabalhadores do setor.

E ao contrário do que privatistas queiram imaginar, não foram os nó-cegos que perderam empregos, mas sempre os não-apaniguados, porque o sistema social desta colônia sempre foi, e ainda é, do velho beija-mão.

Admirador de seu conhecimento e no intuito de lhe ter dado novos argumentos para sua reflexão, deixo meus cumprimentos.
José Netto

Cartas ao Magu
Montblaat, 365 19/10/2001

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