Vossos belos bumbuns
Por
Fernando Moura Peixoto
“De que adianta mente ótima e bunda caída?”
Luciana Gimenez (1969 -)
Além dos mestres Camargo, Drummond e Freyre,
abrilhanta o vídeo a música de Johnny Mandel (1925 -) e Paul Francis Webster (1907 – 1984), ‘The Shadow Of Your Smile’,
a trilha sonora perfeita para tão delicado tema. O arranjo latinizado é de Humberto Ramirez,
na interpretação de Dave Valentin (flauta), Milton Sesenton (piano e teclados),
Junior Irizarry (baixo), Pepe Jimenez (bateria),
Paoli Mejias (congas) e Freddie Miranda, Jr. (percussão).
Os bumbuns foram clicados aleatoriamente entre 2012
e 2014.
Depois de insistentes sugestões de amigos, e amigas
também – já que estamos em tempos de versatilidade e relatividade –, apresento
um abundante trabalho sobre anônimos bumbuns femininos, belos, graciosos,
tímidos, petulantes, sensuais, no seu ir e vir constante nas ruas da zona sul
do Rio de Janeiro. Além do mais, trata-se de tendência muito em voga na web.
Peripatéticos e eloquentes – falam por si mesmo –, comprimidos
em calças jeans, collants e minissaias de calipígias deslumbrantes, e também em shortinhos apertados, rasgados,
desbotados, deliciosamente dobradinhos ou desfiados nas bainhas, zíperes
atrevidamente semidescerrados, o avesso dos bolsos à mostra sobrando sobre as
coxas, eles constituem a tão decantada ‘preferência nacional’ – quiçá
universal.
Aliás, o jornalista Amaury Jr. (1950 -), paulista de Catanduva e
pioneiro do colunismo social eletrônico no país -, disse certa vez que “bumbum
é uma palavra engravatada para bunda”.
Escritor, poeta e
pesquisador, José Camargo (s/d)
ressaltou que são os africanos os responsáveis pelo conceito moderno da
palavra ‘bunda’ como sinonímia das
nádegas. E rendeu homenagem à propriamente dita em belos versos.
“Veja a Bunda que passa / Toda faceira cheia de graça / É ela
desfilando na Praça / Mostrando a Beleza da raça / Olhando por trás com
admiração”
“Às vezes parece um ‘coração’/ Com uma divisa da parte à mostra /
Bem dividida com leve depressão / Juntadas e em partes iguais / Igual dois
continentes horizontais”
“Deitadas na areia lembram Sereias / Não estão a dourar ou queimar
/ Pois a sua falta de cor / Já é um honor e louvor / Uma obra ‘prima’ do
Criador.”
Considerado o maior etimologista brasileiro, filólogo,
linguista e arquiteto, autor de inúmeras obras de referência sobre o idioma
pátrio, o professor Antônio Geraldo
da Cunha (1924 – 1999), no Dicionário
Etimológico Nova Fronteira da Língua
Portuguesa, 1ª edição, 1982, definiu o vocábulo ‘bunda’: “substantivo
feminino, ‘as nádegas e o ânus’, 1871. Do quimbundo ‘m,una.” Mas abundam na rede algumas curiosas origens.
Dos glúteos o nosso poeta maior Carlos Drummond de Andrade (1902 –
1987) - cronista e contista, mineiro de Itabira -, tratou muito bem em seu poema ‘A Bunda, Que Engraçada’, de meados dos anos
1970, publicado postumamente em 1992 no livro ‘O Amor Natural’ - em que deixa transparecer uma sensualidade/sexualidade
à flor da pele:
“A bunda, que engraçada. / Está sempre sorrindo, nunca é trágica.”
“Não lhe importa o que vai / pela frente do corpo. A bunda
basta-se. / Existe algo mais? Talvez os seios. / Ora – murmura a bunda – esses
garotos / ainda lhes falta muito que estudar.”
“A bunda são duas luas gêmeas / em rotundo meneio. Anda por si / na
cadência mimosa, no milagre / de ser duas em uma, plenamente.”
“A bunda se diverte / por conta própria. E ama. / Na cama agita-se.
Montanhas / avolumam-se, descem. Ondas batendo / numa praia infinita.”
“Lá vai sorrindo a bunda. Vai feliz / na carícia de ser e balançar.
/ Esferas harmoniosas sobre o caos.”
“A bunda é a bunda, / redunda.”
Sociólogo, antropólogo, historiador e polemista, Gilberto Freyre (1900
– 1987) - pernambucano do Recife,
autor de ‘Casa-Grande
& Senzala’ (1933) -, também se aprofundou no assunto em ‘Bunda - Paixão Nacional’,
um estudo erudito de 26 páginas, estampado em resumo na revista Playboy nº 113, de dezembro de 1984, sob o
título ‘Uma
Paixão Nacional’:
“A grande número de mulheres brasileiras, a
miscigenação pode-se sugerir ter dado ritmos de andar e, portanto, de flexões
de nádegas, susceptíveis de ser considerados afrodisíacos. Atente-se nesses
ritmos, em cariocas miscigenadas, em confronto com as beldades argentinas que o
observador tenha acabado de admirar. Os ritmos de andar da miscigenada brasileira
chegam a ser musicais, na sua dependência de bundas moderadamente ondulantes.”
“(…) A
miscigenação brasileira tornou-se tão vasta, que as bundas de mulheres do
Brasil constituem, talvez, a mais variada expressão antropológica de uma moderna
variedade de formas e nádegas, com as protuberantes é possível que avantajando-se às menos
ostensivas.”
“O homem
brasileiro médio não pode deixar de ser sensível à imensidade de provocações
que o rodeiam.
Não tanto ao vivo, como por meio de anúncios de revistas ilustradas, que se vêm
esmerando na utilização de reproduções coloridas de bundas nuas, como atrativos
para uma diversidade de artigos à venda.”
“Há, no Brasil de hoje, uma enorme
comercialização da imagem da bunda de mulher em anúncios atraentes. Estéticos
uns, alguns lúbricos. Também se vem fazendo esse uso na televisão. E, sonoramente,
em músicas apologéticas da beleza da bunda de mulher. O sexo da mulher vem,
através dessa comercialização da bunda em anúncios, quase perdendo, em
publicidade apologética, para esse nada insignificante rival, no Brasil”.
“Já estou na idade de olhar as garotas de longe. E o pior é que você
vai ficando velho e as moças mais bonitas.”
Tom Jobim (1927 – 1994)
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