As
meninas rosa do Rio
Por
Fernando Moura Peixoto
“‘A rose is a rose is a rose’.
Assim Gertrude Stein [1874 – 1946] demonstrou
o indefinível que vive e fenece numa rosa, imagem do eterno feminino, forma
feita de perfumes, de matizes evanescentes e ondulantes recortes.”
“Procure-se definir a
rosa, da ordem das rosáceas, com prenome e sobrenome, como tudo o que Lineu catalogou. Procure-se
defini-la segundo o seu formato, a sua cor, o seu perfume agressivo ou
encoberto. Acabaremos sempre na definição da Stein: ‘uma rosa é uma rosa é uma
rosa’. Como na declinação que nunca aprendi (rosa, rosae), desencadeiam-se sensações, mundos de experiência despregam-se de um
fundo comum e pardacento, quando a palavra evoca a infinita variedade e a graça
fugacíssima dessa síntese prodigiosa de beleza e mistério: uma rosa.”
Carlos Lacerda (1914 – 1977), in ‘Uma rosa é uma rosa é
uma rosa’, Record, Rio de
Janeiro, 1965.
Em meio a tanta
violência que assola o país – e o mundo –, nem tudo está perdido. Parece ainda haver
esperança, a se depreender da atitude de jovens dos movimentos Chazit e Hashomer que mensalmente empunham cartazes otimistas, percorrendo ruas do bairro de
Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro, na árdua – nem tanto – tarefa de
conseguir dos passantes um momento de atenção e reflexão – “Para viver tem que plantar o bem”, “Amar é saber se sentir
infinito num universo tão bonito, é saber sonhar”.
Sorridentes, bem
humoradas, as graciosas mocinhas literalmente param o trânsito nos semáforos
levando seu recado de boa convivência aos motoristas, como nesses flagrantes
feitos na Rua Voluntários da Pátria, esquina de Rua Sorocaba, num fim de semana
– “Pare, reflita, sorria”, “Mais amor, por favor”, “Deixa eu dizer
que te amo? Deixa eu gostar de você?”
Alegremente distribuem
rosas vermelhas, palavras de carinho e mensagens positivas, no melhor estilo
dos movimentos hippies da década de 1970 no Brasil. Ou à maneira do ‘Profeta Gentileza’ – o paulista José Datrino (1917 – 1996) –, que, nos anos 1980/1990, pregava
a paz e o amor, perambulando pela cidade, longa barba e túnica branca, com o
slogan “Gentileza Gera Gentileza”. “Sou maluco para te amar e louco para te salvar”, retrucava aos que o chamavam de doido na rua.
Gentileza que a
artista plástica Helen Maria assimilou, pendurando nas árvores de Botafogo
pequenas plaquetas de madeira, coloridas e adornadas de florinhas, com as palavras-chave
para um bem viver: “Amor, Felicidade, Gratidão, Liberdade, Generosidade, Paciência, Alegria”. E sintetizando em um cartaz a filosofia maior da vida: “A simplicidade é assinatura da maturidade”.
“Uma rosa é uma rosa. Nós é que temos de nos
definir em relação a ela.”
Carlos Lacerda (1914 – 1977)
(Fotos do autor)
As meninas-rosas não são o único sinal de esperança. Encontrar um artigo - entre tantos que focalizam podridão na política, insegurança, etc. - que fale sobre a bela atitude delas, também é ;)
ResponderExcluirObrigado, Jussara. O seu comentário me envaidece e muito.
ResponderExcluirA iniciativa de Helen Maria - uma senhorinha que reside na Rua Paulo Barreto - já está sendo copiada por outros moradores. São muitas as plaquetas coloridas, com dizeres pregando amor e paz, colocadas nas árvores de Botafogo.
Forte abraço.