domingo, 11 de junho de 2017

As meninas-rosa do Rio




As meninas rosa do Rio


Por Fernando Moura Peixoto



“‘A rose is a rose is a rose’. Assim Gertrude Stein [1874 – 1946] demonstrou o indefinível que vive e fenece numa rosa, imagem do eterno feminino, forma feita de perfumes, de matizes evanescentes e ondulantes recortes.” 


“Procure-se definir a rosa, da ordem das rosáceas, com prenome e sobrenome, como tudo o que Lineu catalogou. Procure-se defini-la segundo o seu formato, a sua cor, o seu perfume agressivo ou encoberto. Acabaremos sempre na definição da Stein: ‘uma rosa é uma rosa é uma rosa’. Como na declinação que nunca aprendi (rosa, rosae), desencadeiam-se sensações, mundos de experiência despregam-se de um fundo comum e pardacento, quando a palavra evoca a infinita variedade e a graça fugacíssima dessa síntese prodigiosa de beleza e mistério: uma rosa.”

Carlos Lacerda (1914 – 1977), in ‘Uma rosa é uma rosa é uma rosa, Record, Rio de Janeiro, 1965.


Em meio a tanta violência que assola o país – e o mundo –, nem tudo está perdido. Parece ainda haver esperança, a se depreender da atitude de jovens dos movimentos Chazit e Hashomer que mensalmente empunham cartazes otimistas, percorrendo ruas do bairro de Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro, na árdua – nem tanto – tarefa de conseguir dos passantes um momento de atenção e reflexão – “Para viver tem que plantar o bem”, “Amar é saber se sentir infinito num universo tão bonito, é saber sonhar”.

Sorridentes, bem humoradas, as graciosas mocinhas literalmente param o trânsito nos semáforos levando seu recado de boa convivência aos motoristas, como nesses flagrantes feitos na Rua Voluntários da Pátria, esquina de Rua Sorocaba, num fim de semana “Pare, reflita, sorria”, “Mais amor, por favor”, “Deixa eu dizer que te amo? Deixa eu gostar de você?” 

Alegremente distribuem rosas vermelhas, palavras de carinho e mensagens positivas, no melhor estilo dos movimentos hippies da década de 1970 no Brasil. Ou à maneira do ‘Profeta Gentileza’ – o paulista José Datrino (1917 – 1996) –, que, nos anos 1980/1990, pregava a paz e o amor, perambulando pela cidade, longa barba e túnica branca, com o slogan Gentileza Gera Gentileza.Sou maluco para te amar e louco para te salvar, retrucava aos que o chamavam de doido na rua.


Gentileza que a artista plástica Helen Maria assimilou, pendurando nas árvores de Botafogo pequenas plaquetas de madeira, coloridas e adornadas de florinhas, com as palavras-chave para um bem viver: Amor, Felicidade, Gratidão, Liberdade, Generosidade, Paciência, Alegria”. E sintetizando em um cartaz a filosofia maior da vida: A simplicidade é assinatura da maturidade”. 




Uma rosa é uma rosa. Nós é que temos de nos definir em relação a ela.”

Carlos Lacerda (1914 – 1977)


(Fotos do autor)

2 comentários:

  1. As meninas-rosas não são o único sinal de esperança. Encontrar um artigo - entre tantos que focalizam podridão na política, insegurança, etc. - que fale sobre a bela atitude delas, também é ;)

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  2. Obrigado, Jussara. O seu comentário me envaidece e muito.
    A iniciativa de Helen Maria - uma senhorinha que reside na Rua Paulo Barreto - já está sendo copiada por outros moradores. São muitas as plaquetas coloridas, com dizeres pregando amor e paz, colocadas nas árvores de Botafogo.
    Forte abraço.

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