DCM, 08/06/17
A deselegância misógina de Carmen Lúcia
Por Nathalí Macedo
Disse, em relação à suposta revolta popular contra o judiciário brasileiro, que está “igual a mulher que apanha”.
“Quando
a pessoa pega o chicote pra bater no cachorro, ela sai correndo”, falou,
arriscando uma piada infeliz ao se referir ao que talvez chame de iminente
surra do povo brasileiro no Poder Judiciário.
Acho que as mulheres vítimas de violência doméstica não riram da piada. Tampouco ela fez sentido, porque não corresponde à realidade.
Onde está a descrença popular no Poder Judiciário, a não ser por parte de uma pequena parcela intelectualzóide do povo brasileiro?
Ou o delírio é meu ou desconfio que só a ministra veja essa descrença geral. De minha parte, continuo vendo gente, pelo contrário, vestindo a camisa – literalmente, por vezes – do apartidário Sérgio Moro, por exemplo.
“Foi só uma piada infeliz”, diriam alguns.
Piadas infelizes não são tipificadas como crimes, mas pesam muito mais no currículo da presidenta do Supremo Tribunal Federal do que no currículo de um Zé Qualquer (não digo que isso é justo, mas é assim que é).
“Que deselegante”, diria Sandra Annenberg, se não trabalhasse na Globo.
A infelicidade da piada, no caso, é uma questão de etiqueta pessoal (e profissional, salvo engano). E, como pano de fundo – como não poderia deixar de ser – uma questão de insensibilidade com as mulheres que realmente apanham.
Os dados de violência doméstica são alarmantes no Brasil, e se a presidenta não os conhece, data venia, deveria conhecer.
Ter uma mulher na presidência do Supremo Tribunal Federal não resolve nada se essa mulher faz piadas misóginas e, principalmente, não toma medidas enérgicas em relação a questões importantes para as mulheres, como aborto e violência obstétrica.
A tentativa de bom humor é quase um alento – a ministra Carmen Lúcia precisa, sobretudo, rejuvenescer, só não sabe como. Carisma não enche barriga, e pseudo carisma menos ainda.
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