Se
virando na crise (Informalidade)
Por
Fernando Moura Peixoto
“A única coisa que se tem neste mundo é
aquilo que se pode vender.”
Arthur Miller (1915 – 2005), ‘A Morte do
Caixeiro Viajante’, 1949.
Emoldurando a trilha sonora, ‘Sentimento Cariosa’ (1995), ‘Inaugurando’
(1993) e ‘Na
sombra da caramboleira’ (1972), belos choros da família Carrilho. Álvaro (flauta e flautim), Maurício (violão de sete cordas) e
o grande Altamiro Carrilho (1924 – 2012) (flauta e flauta em sol) são
acompanhados por Joel Nascimento (bandolim), João Lyra (violão), Luciana Rabello (cavaquinho),
Pedro Amorim (violão
tenor e pandeiro), e Agenor (pandeiro).
Substantivo utilizado atualmente nos dois gêneros, ‘camelô’ advém do árabe ‘khamlat’ - nome dado
aos rústicos tecidos vendidos em feiras livres, aos berros -, pelo francês ‘camelot’. O
verbo ‘cameloter’
significa negociar artigos de pouco valor, bugigangas, quinquilharias na via
pública em local de movimento intenso, apregoando-os de modo peculiar.
Quando desaparecem profissões ou funções do mercado
de trabalho, em consequência da automação das linhas produtivas, com o fito de
cortar gastos e se reduzir estoques, surge o ‘desemprego estrutural’.
O ‘desemprego conjuntural’ (ou
cíclico) provém da variação dos ciclos da vida econômica, decorrente da
alternância entre períodos de expansão (ou ‘boom’) e períodos de recessão da
economia, havendo uma tendência de variações sazonais (ou cíclicas) que
apresentam durações diversas.
Já o ‘desemprego friccional’ (ou normal)
acontece em tempos relativamente curtos, durante os quais o trabalhador
aproveita para fazer cursos de aperfeiçoamento ou reciclar-se, em tempo de
obter recolocação com a nova qualificação profissional, numa pausa estratégica
– uma fase sabática.
O ano de 2016 foi um dos piores para a rede
varejista no país. Estima-se que em 2018 cerca de 15 milhões de pessoas poderão
estar sem emprego no Brasil. O Papa João Paulo II
(1920 – 2005) disse que “o desemprego do
homem deve ser tratado como tragédia e não como estatística econômica”.
Formado em
Ciências Sociais, pós-graduado em Sociologia e mestre em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Londrina, UEL,
no Paraná, o professor Thiago Leibante Silva afirma que “o trabalho informal é
um fenômeno social que se encontra em praticamente todo o mundo capitalista. No
entanto, assume dimensões de maior proporção nos chamados países de capitalismo
periférico como o Brasil (...)”.
“O trabalho informal que antes era sinônimo
de atraso, subdesenvolvimento e periferia, aparece cada vez mais como sinônimo
de ‘modernidade e futuro’.”
“E mais que isso. A informalidade é vista
como solução ao desemprego, e advogada não só pela burguesia, mas também por
setores da esquerda, que defendem que algumas dessas formas de trabalho são
exteriores ao capital, constituindo-se em uma espécie de Economia Solidária ou
Economia dos Setores Populares.”
Reticentes a princípio, muitos vendedores acabaram
se deixando fotografar com prazer e se tornaram amigos. À exceção do paraibano Rubens,
um camelô baixinho que comercializa reloginhos de pulso e óculos baratos em
duas banquinhas na esquina das ruas Voluntários da Pátria e São João Batista,
em Botafogo.
Depois de ter visto na rede o vídeo, cismou de me hostilizar
toda vez que passo por ele. São os percalços do ofício de quem se propõe a
documentar a aglomeração humana em que vive e não é compreendido, por desconfiança,
ou mesmo, ignorância.
Além da tristeza de assistirmos a músicos de talento
tocando na rua para garantir o pão de cada dia – o ‘extra de vários’ no caso
dos violinistas –, outra curiosidade é o menino que encerra o trabalho. Em
busca de uns trocados, debruçado na calçada, o jovem desenha helicópteros com
canetas hidrográficas coloridas em folhas brancas de cartolina. São helicópteros da Polícia Militar em voo,
certamente a realidade que vivencia na sua comunidade. Nesses momentos,
sentimo-nos todos ‘amarildos’.
“Existe maior número de compradores loucos do
que de loucos vendedores.”
Antoine Loisel (1536 – 1617)
(Fotos do autor)
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