domingo, 11 de junho de 2017

Se virando na crise (Informalidade)





Se virando na crise (Informalidade)


Por Fernando Moura Peixoto



A única coisa que se tem neste mundo é aquilo que se pode vender.”
 
Arthur Miller (1915 – 2005), ‘A Morte do Caixeiro Viajante’, 1949.




Emoldurando a trilha sonora, ‘Sentimento Cariosa’ (1995), ‘Inaugurando’ (1993) e ‘Na sombra da caramboleira’ (1972), belos choros da família Carrilho. Álvaro (flauta e flautim), Maurício (violão de sete cordas) e o grande Altamiro Carrilho (1924 – 2012) (flauta e flauta em sol) são acompanhados por Joel Nascimento (bandolim), João Lyra (violão), Luciana Rabello (cavaquinho), Pedro Amorim (violão tenor e pandeiro), e Agenor (pandeiro).

Substantivo utilizado atualmente nos dois gêneros, camelô advém do árabe khamlat - nome dado aos rústicos tecidos vendidos em feiras livres, aos berros -, pelo francês ‘camelot. O verbo cameloter significa negociar artigos de pouco valor, bugigangas, quinquilharias na via pública em local de movimento intenso, apregoando-os de modo peculiar.

Quando desaparecem profissões ou funções do mercado de trabalho, em consequência da automação das linhas produtivas, com o fito de cortar gastos e se reduzir estoques, surge o ‘desemprego estrutural’.

O ‘desemprego conjuntural’ (ou cíclico) provém da variação dos ciclos da vida econômica, decorrente da alternância entre períodos de expansão (ou ‘boom’) e períodos de recessão da economia, havendo uma tendência de variações sazonais (ou cíclicas) que apresentam durações diversas.

Já o ‘desemprego friccional’ (ou normal) acontece em tempos relativamente curtos, durante os quais o trabalhador aproveita para fazer cursos de aperfeiçoamento ou reciclar-se, em tempo de obter recolocação com a nova qualificação profissional, numa pausa estratégica – uma fase sabática.

O ano de 2016 foi um dos piores para a rede varejista no país. Estima-se que em 2018 cerca de 15 milhões de pessoas poderão estar sem emprego no Brasil. O Papa João Paulo II (1920 – 2005) disse que “o desemprego do homem deve ser tratado como tragédia e não como estatística econômica”.

Formado em Ciências Sociais, pós-graduado em Sociologia e mestre em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Londrina, UEL, no Paraná, o professor Thiago Leibante Silva afirma que “o trabalho informal é um fenômeno social que se encontra em praticamente todo o mundo capitalista. No entanto, assume dimensões de maior proporção nos chamados países de capitalismo periférico como o Brasil (...)”.

“O trabalho informal que antes era sinônimo de atraso, subdesenvolvimento e periferia, aparece cada vez mais como sinônimo de ‘modernidade e futuro’.”

“E mais que isso. A informalidade é vista como solução ao desemprego, e advogada não só pela burguesia, mas também por setores da esquerda, que defendem que algumas dessas formas de trabalho são exteriores ao capital, constituindo-se em uma espécie de Economia Solidária ou Economia dos Setores Populares.”

Reticentes a princípio, muitos vendedores acabaram se deixando fotografar com prazer e se tornaram amigos. À exceção do paraibano Rubens, um camelô baixinho que comercializa reloginhos de pulso e óculos baratos em duas banquinhas na esquina das ruas Voluntários da Pátria e São João Batista, em Botafogo. 

Depois de ter visto na rede o vídeo, cismou de me hostilizar toda vez que passo por ele. São os percalços do ofício de quem se propõe a documentar a aglomeração humana em que vive e não é compreendido, por desconfiança, ou mesmo, ignorância.


Além da tristeza de assistirmos a músicos de talento tocando na rua para garantir o pão de cada dia – o ‘extra de vários’ no caso dos violinistas –, outra curiosidade é o menino que encerra o trabalho. Em busca de uns trocados, debruçado na calçada, o jovem desenha helicópteros com canetas hidrográficas coloridas em folhas brancas de cartolina. São helicópteros da Polícia Militar em voo, certamente a realidade que vivencia na sua comunidade. Nesses momentos, sentimo-nos todos ‘amarildos’.

“Existe maior número de compradores loucos do que de loucos vendedores.” 

Antoine Loisel (1536 – 1617)


(Fotos do autor)

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