segunda-feira, 12 de junho de 2017

"Processo absurdo": decisão do TSE é destaque na mídia europeia





DW, 12/06/13



"Processo absurdo": decisão do TSE é destaque na mídia europeia



Imprensa diz que, ao absolver chapa Dilma-Temer em julgamento à la "Divina Comédia", juízes preferem se isolar da realidade e "não ver o que é óbvio". Presidente ainda tem outros desafios pela frente, destacam jornais.


Süddeutsche Zeitung, Alemanha – "Divina comédia"

No ponto mais absurdo de um processo absurdo, o juiz Napoleão Nunes Maia comparou o presidente brasileiro, Michel Temer, a Jesus – e si próprio, a Pôncio Pilatos. Este homem "sábio, mas fraco" deixou que um inocente fosse pregado na cruz "porque a multidão assim o queria", disse Nunes Maia em sua declaração, com a qual justificou seu voto pela absolvição de Temer. Jesus, Pôncio Pilatos e Napoleão – não é de se admirar que a maioria dos observadores desse processo do TSE o tenham interpretado apenas como mais um ato de um interminável teatro político.

A multidão, ou exprimindo mais educadamente, o povo brasileiro realmente não teria nada contra caso Temer fosse realmente retirado do cargo. Seus números nas pesquisas se estabilizaram no subsolo desde que ele substituiu, em 2016, a presidente eleita Dilma Rousseff em um golpe parlamentar disfarçado de impeachment.
[…]
Críticos dizem que o processo correu segundo o princípio do avestruz. O tribunal não quis ver o que é óbvio, preferindo enterrar a cabeça na areia. Na mídia brasileira, se fala em um jogo de cartas marcadas. O presidente do TSE, Gilmar Mendes, descreve-se publicamente como um amigo de Temer; Nunes Maia está, ele mesmo, comprometido por delações; e os outros dois juízes que votaram a favor da absolvição do presidente foram nomeados pelo réu há poucas semanas.


Financial Times, Reino Unido – Perdão para Temer, mas desafios permanecem

A decisão do tribunal, conhecido como TSE, fechou um processo de longa duração, que começou antes do impeachment, baseado na alegação de que a campanha de Dilma Rousseff nas eleições de 2014 usou financiamento ilegal […] O tribunal de sete membros decidiu por 4 a 3 que não havia provas suficientes para condenar a chapa Rousseff-Temer.
[…]
Mas Temer ainda enfrenta uma investigação criminal potencialmente devastadora e – analistas alertam – uma batalha para manter sua coalizão de governo unida e o impulso de um ambicioso programa de reforma destinado a ajudar a resgatar a maior economia da América Latina da sua pior recessão da história.


Le Monde, França – Presidente brasileiro evita, por pouco, a destituição

Considerado politicamente morto, o presidente brasileiro, Michel Temer, garantiu a sobrevivência nesta sexta-feira, 9 de junho. Após quatro dias de debates marcados por ofensas educadas, os juízes do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), de Brasília, decidiram por uma estreita maioria (quatro contra três) não cassar o mandato do chefe de Estado, o que provocou a amargura de parte do país.
[…]
A votação no TSE ocorreu num contexto perturbado pela revelação, em meados de maio, de conversas embaraçosas entre Temer e Joesley Batista, um riquíssimo empresário e corruptor notório de Brasília. O conteúdo da conversa, gravada sem o conhecimento do presidente, levou à abertura de uma investigação no Supremo Tribunal por "obstrução da justiça", "participação em organização criminosa" e "corrupção passiva".

Fingindo serenidade, o TSE se isolou dessa atualidade. Preocupados com a ética, mas perturbados pela responsabilidade de mergulhar o país em um buraco negro político, os juízes, febris – um deles evocou Pôncio Pilatos ao decidir crucificar Jesus – optaram pelo status quo, dando fim ao entusiasmo midiático-judicial das últimas semanas. O Brasil está marcado pela instabilidade.


El País, Espanha – Temer vence seu primeiro grande obstáculo ao evitar destituição no TSE

O juiz relator do processo, Herman Benjamin, exortou seus colegas a destituir Temer. Mas a companhia não era a indicada. O presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Gilmar Mendes, nunca escondeu sua amizade com o presidente. Há outros três juízes que foram nomeados por ele. Juntos, os quatro estiveram interrompendo e questionando Benjamin quase desde o momento em que este começou a relatar o processo, na terça-feira.
[…]
A denúncia por financiamento ilegal nasceu de quem pouco depois se tornou seu parceiro, o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), que, como confessou em privado, só queria incomodar o Partido dos Trabalhadores. O que ninguém poderia prever, então, era que Dilma seria destituída do cargo por impeachment – e o Partido dos Trabalhadores com ela – e que Temer assumiria o poder e seu PMDB com ele. Tampouco que o governo resultante assumiria as reformas de austeridade tanto ansiadas pelo PSDB. Hoje, essas reformas estão paralisadas ​​pela crise causada pelo suposto suborno e financiamento ilegal do PMDB e de suas campanhas. Agora, no entanto, Michel Temer seguirá adiante, tendo se salvado de um obstáculo a mais no caminho lento e pesado até seu próximo julgamento.

Nenhum comentário:

Postar um comentário