Jornal GGN, 10/06/17
Por Danilo Thomaz
O perfil da presidente do Supremo Tribunal Federal – STF, Carmen Lúcia, publicado na revista Piauí de junho, é a primeira peça relevante acerca da personagem que ocupa a cadeira mais alta do nosso egrégio tribunal. Com discrição, a reportagem revela, a cada parágrafo, um pouco menos de Carmen Lúcia. Revelando por contraponto o vazio de sua figura - que muito lembra outra especialista em platitudes, Marina Silva.
Como sempre acontece, Carmen Lúcia descreveu um Brasil que só existe em sua fala. Disse que as instituições estão funcionando, apesar de dois presidentes – uma legítima (Dilma), um ilegítimo (Temer) – terem áudios vazados, num claro atentado à ordem institucional (para ficar em apenas dois exemplos). Afirmou que a crise política é difícil, mas talvez não seja um problema grave, apesar da iminência da queda de outro presidente no período de um ano, afinal, "viver é difícil" e "algumas vezes, é mais difícil". Mesmo que fosse grave, não há nada que ela possa fazer: "a crise é política e tem de ser resolvida politicamente. Eu sou juíza e ponto." Assim, peremptória, sem ser contestada. Como também em relação às questões problemáticas do STF – como o excesso de pedidos de vistas e liminares sem julgamento: "É claro que há um excesso de processos e um número reduzido de juízes para tanta demanda. (...) imprescindível que se resolva isso." Como? Se ela sabe, não disse.
Atitudes que nada têm a ver com o cargo de presidente do Supremo – como receber 55 crianças órfãs no STF – foram ignoradas. Bem como suas incongruências: dois dias depois de confraternizar com crianças pobres e órfãs como uma primeira-dama dos anos 1950, Carmen Lúcia encontrou-se com Meireles e defendeu a PEC 55, a proposta de controle de gastos mais draconiana da história, que prejudicará essas mesmas crianças.
O perfil cita o encontro da ministra com empresários – os verdadeiros interessados nas reformas de Temer e na segurança jurídica das mesmas – que a consideram "discreta". Claro que não o suficiente para deixar de emitir opiniões fora dos autos, tirar fotos com criancinhas, soltar frases de efeito ("Cala a boca já morreu") e ser a primeira entrevistada do Conversa com Bial, na maior emissora do TV do país. Entre as frases impactantes que disse, pode-se destacar: "Eu continuo acreditando no Brasil."
Pelo visto há (mais uma) Marina Silva para 2018. Mas não importa. "O país vai sempre sobreviver."
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