Folha.com, 02/04/17
Temer e Meirelles estão perdidos
Por Janio de Freitas
Nem a
complacência interessada com que o poder econômico e a imprensa/TV tratam
Michel Temer – conduta que serve proteção para um lado e ilusão para o outro –
consegue escapar desta realidade deprimente: Temer e Henrique Meirelles estão
aturdidos, perdidos no emaranhado de suas afirmações e logo recuos, incapazes
tanto de fazer quanto de simplesmente compreender.
E a
verdade daí decorrente é que, em dez meses, a situação do Brasil só se agravou,
arrastando nesse despenhadeiro todos os não dotados de recursos fartos. Sob o
domínio da incompetência e da perplexidade, o Brasil sufoca.
Em um só
dia, o já estigmatizado 31 de março, as páginas iniciais nos sites dos
principais jornais e do UOL davam, com diferentes níveis de exibição, estas
informações: "Corte orçamentário atinge transporte, habitação e
defesa". O governo superestimou as receitas, prática que dizia repelir,
daí resultando um rombo de R$ 58,2 bilhões nas suas contas. Como remendo, já em
março Meirelles achou necessário o corte de mais de R$ 42 bilhões nos
investimentos do governo. Só as obras do PAC perderão mais de R$ 10 bilhões. Os
investimentos do governo são, historicamente, o que ativa a economia. Logo, o
corte é contrário à recuperação econômica.
Outra:
"Contas públicas têm pior resultado para fevereiro em 16 anos", ou
desde que começado esse registro em 2001. A despesa do governo no menor mês foi
R$ 23,5 bilhões maior do que a receita.
Mais:
"PIB recua 3,6% em 2016". É o país empobrecendo. Meirelles propalou,
nos primeiros meses do governo Temer, que antes do fim do ano (2016) a
recuperação econômica já estaria em curso. Com o correspondente resultado no PIB.
As previsões vieram caindo em voz baixa. E o resultado real é o desastre
noticiado.
Ainda:
"Governo Temer é aprovado por 10%" (pesquisa CNI/Ibope, que em
dezembro indicava 13%). Aquele número reflete o tamanho da legitimidade com que
Michel Temer se põe a agravar as distorções da Previdência. E reduzir ainda
mais o valor do trabalho, com a terceirização indiscriminada.
Para
encurtar, por desnecessidade de mais: "Brasil tem 13,5 milhões sem emprego
e a economia continua em retração". Esses milhões são o cálculo do IBGE
para os que procuraram emprego. Incluídos os que desistiram de procurá-lo ou
não chegaram a fazê-lo, há estimativas que vão a 20 milhões. Se "a
economia continua em retração", a probabilidade de desemprego é crescente.
E suas consequências, idem.
É o
Brasil de Michel Temer em poucas linhas. O governante dos recuos empurrando o
país para a calamidade.
Em tal
situação, disseminar notícias precipitadas de êxitos governamentais é mais do
que fantasiar incertezas. O governo não se entende com a economia e não é
verdade que se entenda com o Congresso, a menos que sucessivos recuos não sejam
apenas falta de entendimento, de avaliação e competência. E de moralidade,
com tantos símbolos da corrupção revigorados nos cargos ministeriais e
palacianos recebidos de Michel Temer.
Na
história brasileira, não há nada semelhante a esse governo que perde, em sua
média, um figurão por mês, levado por acusação de improbidade (em um caso, por
tê-la encontrado dentro do palácio presidencial).
Devastado
pelos bandoleiros dos subornos, negociatas, desfalques, e estelionatos com nome
de "sobras de campanha", este país agora está sofre a ameaça de ser
destroçado por um governo de ineptos, protegido em troca de alguns retrocessos
de legislação.
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