DCM, 02/04/17
Enfim, Andrea, a mão forte de Aécio, deixa de ser invisível
Por Joaquim de Carvalho, jornalista
Mais do que indícios, há testemunhos e até
documentos que apontam Andrea Neves como operadora ou eminência parda do
senador e ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves.
Já no primeiro governo de Aécio, entre 2003 e 2007,
era Andrea quem decidia onde
e quanto gastar das verbas de publicidade estatal.
Formalmente, a função dela era cuidar da obra
social, mas o empresário Marco Aurélio Carone conta que, logo no início da gestão
de Aécio, Andrea o procurou para negociar a compra do título do jornal Diário
de Minas, o mais antigo do Estado.
Foi, segundo ele, um tipo de retribuição pelos
serviços prestados durante a campanha, em que Carone foi candidato a governador
pelo pequeno PSDC e atuou como muro de contenção de Aécio, para protegê-lo dos
ataques de Newton Cardoso.
Andrea negociou a compra, mas a fatura foi paga,
segundo Carone, com cheques do sindicato da construção civil do Estado e por
fornecedores da CEMIG, a empresa de energia de Minas Gerais.
Carone vendeu o jornal, mas continuou na mídia. Com
o dinheiro da venda, manteve o Novo Jornal, um site de notícias que se
transformou, sob a batuta do experiente e premiado jornalista Geraldo Elísio,
no único veículo de comunicação independente do Estado.
Independência que vai custar a Carone nove meses de
prisão e a Geraldo Elísio, a humilhação de ter a casa vasculhada por policiais
civis.
O diretor de jornalismo da Globo, Marco Nascimento,
em entrevista para o documentário 'Liberdade, essa palavra', de Marcelo Baêta,
revelou que perdeu o cargo logo no início do governo de Aécio, depois que
Andrea pediu sua cabeça à direção da emissora.
Segundo ele, Andrea estava descontente com uma
reportagem que mostrava o flagrante do consumo de crack perto de uma delegacia
de polícia.
“Andrea me disse: Marco, esta matéria veio num
momento ruim para o governo do Estado”, disse, na entrevista para o
documentário.
“A partir do momento em que eu tenho o flagrante, se
vai ser bom para o governo ou não, eu não tenho nada com isso”, acrescentou
Marco Nascimento.
O jornalista lembrou que obrigação jornalística era
ouvir o governo do Estado, e isso foi feito, mas o que Andrea queria era evitar
a veiculação de reportagens como aquele do consumo de drogas no Estado.
Outros quatro jornalistas de Minas Gerais, de outros
veículos de comunicação, também perderam o emprego nos primeiros meses do
governo de Aécio, por publicações interpretadas como negativas para ele.
Andrea é citada como a mão forte por trás das
demissões.
A blindagem de Aécio feita a partir da pressão
exercida por Andrea ultrapassou as fronteiras de Minas.
Em 2007, a Polícia Federal esteve no apartamento de
um casal de doleiros no Rio de Janeiro e apreendeu documentos de contas abertas
no exterior, entre os quais uma fundação em nome da mãe e da irmã de Aécio.
A conta não estava declarada no Brasil, mas o
Ministério Público Federal inocentou a família Neves, com uma interpretação
elástica da lei, a de que transferências inferiores a 100 mil dólares não
precisavam ser declaradas ao Banco Central (leia
mais aqui).
A notícia da existência de uma conta em nome de uma
fundação da mãe e da irmã de Aécio no principado de Liechtenstein – com Aécio
sendo o beneficiário — só veio à torna muitos anos depois, no calor da disputa
entre o PSDB e PT.
Na Operação Lava Jato, Andrea foi citada no
depoimento de delação do doleiro Alberto Yousseff, em outubro de 2014.
O doleiro Alberto Youssef afirmou que o esquema de
Aécio ficou com 4 milhões referentes à propina paga pela construtora Camargo
Correa como contrapartida a um contrato para construção de barragem.
Questionado sobre quem do PSDB teria ficado com o
dinheiro, Alberto Youssef afirmou: “Que diz ter tomado conhecimento,
entretanto, de que quem teria influência junto à diretoria de Furnas seria o
então deputado federal Aécio Neves, o qual receberia recursos por meio da
irmã.”
O Ministério Público Federal tomou novo depoimento
de Youssef quatro meses depois.
Na ocasião, Youssef confirmou que ouviu tanto de seu
cliente na época, o deputado José Janene, quanto de um dos pagadores de
propina, Airton Daré, dono da empresa Bauruense, que a irmã de Aécio recolhia
parte do dinheiro desviado de Furnas – ele cita valores: entre 100 mil e 120
mil dólares por mês, o equivalente hoje a R$ 455 mil.
Andrea nem sequer foi chamada para depor, embora, no
segundo depoimento, Youssef tenha sugerido um caminho para investigar o esquema
do PSDB em Furnas: ouvir a diretoria administrativa da Bauruense, que cuidava
dos contratos com Furnas.
Isso não foi feito, e agora o nome de Andrea aparece
novamente, em outra delação, a do ex-diretor da Odebrecht, como um painel de
neon piscando no alto do Pão de Açúcar.
O que vai acontecer?
Se considerado o retrospecto, não se deve esperar
nada do Ministério Público ou mesmo do Judiciário.
Já no campo político, a consequência é evidente: com
Andrea na arena, apagam-se as luzes de Aécio e se ilumina o caminho de João
Dória.
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