sexta-feira, 28 de abril de 2017

A greve geral e o monstro midiático

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O Escrevinhador, 28/04/17 
 


A greve geral e o monstro midiático


Por Rodrigo Vianna



Logo pela manhã, cruzei a região de Pinheiros e Perdizes, na zona oeste de São Paulo, e tive o primeiro impacto: a cidade estava vazia, parecia manhã de domingo. Com um agravante: não vi sequer um ônibus circulando num trajeto de cerca de oito quilômetros.

Pelas redes sociais, saltavam imagens idênticas Brasil afora: ruas vazias, terminais de ônibus desertos. Esse era o mundo real. Mas do rádio do carro brotava a voz do collorido comentarista Claudio Humberto, que apresentava outra realidade: “o país segue vida normal”, dizia o ex porta-voz de Collor, hoje travestido de jornalista temerário. Vida normal?

Da tela das tevês, também brotava o divórcio com a realidade. Relatos de colegas jornalistas eram de que as chefias, nas redações, tinham uma cartilha definida: proibido usar a expressão greve geral; obrigatório mostrar imagens de pequenos grupos de manifestantes nas ruas vazias (pra dar a ideia de “manifestação de poucos”); valorizar cenas de confrontos/brigas, acrescidas da informação de que a greve foi organizada “pelos sindicatos” (ia ser organizada por quem? pelo Silvio Santos?); e destacar sempre o drama dos trabalhadores “prejudicados” pela greve.

O dia 28 de abril deixou claro que se pratica no Brasil um jornalismo de guerra. E o alvo não é apenas a esquerda partidária, não é apenas Lula, mas todo tipo de manifestação coletiva que ouse desafiar o projeto de desmonte dos direitos sociais sob comando de Temer/PSDB. Mais triste: o alvo é a verdade; mente-se descaradamente.

A mídia tradicional, azeitada por anúncios federais, tentou construir a narrativa de uma greve de poucos. E antes que algum incauto embarque nesse discurso, explique-se: greve não é comício! Objetivo de greve não é encher as ruas, mas esvaziar locais de trabalho, e barrar a produção. É a luta mais básica no capitalismo: quem produz recusa-se a produzir.

Por isso, a insistência de certos canais de TV em mostrar ruas vazias era além de tudo obtusa. As cenas do vazio, em plena sexta-feira, indicavam a vitória, e não o fracasso da greve.

Às 14 horas, fui ao centro de São Paulo. Metrô Anhangabaú fechado, viaduto do Chá vazio. Calçadão da Barão de Itapetininga às moscas. De cada 10 lojas, uma estava aberta.

Acontece que, até 2018, teremos uma imensa travessia. Só chegaremos lá se conseguirmos a tarefa gigantesca de enfrentar esse monstro midiático. E hoje, na cobertura mentirosa sobre a greve, o monstro mostrou que não está para brincadeira.

Não nos iludamos: a partir de amanha, 30% do país saberão (pela internet ou pela vivência nas ruas) que a greve foi gigante. Outros 30% seguirão a dizer que foi algo de petistas baderneiros.

E o terço final? Sob influência da mídia verticalizada, permanecerá no meio do caminho, desconfiado, perdido, sob um bombardeio propositalmente confuso? Pressionará parlamentares contra as reformas? Ou será dominado pelo discurso de que a greve não foi tão grande e que as reformas são necessárias? A simples dúvida é o que basta para que Temer, mesmo impopular, siga no trabalho de desmonte de direitos. A narrativa de que a greve “não fez assim tanto estrago nas bases” será repetido pela mídia a soldo do Palácio, para ganhar votos decisivos nas chamadas reformas.

Portanto, a batalha do dia 28 prossegue. É preciso manter fogo alto e conquistar corações e mentes, mostrando o divórcio entre mídia e realidade. Nas Diretas, em 84, a Globo perdeu ao apostar no divórcio. Mas em 89, com Collor, a Globo ganhou ao praticar terrorismo eleitoral.

Hoje, o monstro midiático está mais forte do que há cinco anos, pois que mais unificado, e menos aberto para contraditório e dissidência. Essa é a força dele, mas é também sua fraqueza. Quanto mais se divorciar da realidade, maior a chance de que o monstro possa ser abatido e derrotado junto com o governo Temer.

Mas será uma tarefa gigantesca travar esse combate, ao mesmo tempo em que a principal liderança do campo popular se encontra sob ataque e sob ameaça de prisão e interdição.

Trata-se da mesma luta, dividia em duas: resistir ao desmonte social, e garantir que o campo popular tenha candidato em eleições razoavelmente livres.

Nessa luta, o adversário principal a ser batido é o mesmo: o monstro midiático da mentira.

                       Sandra Annenberg ao noticiar a greve na manhã de 28 (6a. feira)...
Sua maquiadora, visivelmente, havia aderido.







Blog do Rovai, 28/04/17



Globo e Record fecham acordo para definir Greve Geral


Por Renato Rovai



Durante o dia o blogue recebeu relatos de diversos jornalistas que atuam na mídia tradicional de que há uma ordem explícita nas redações para se criar um vocabulário comum na cobertura jornalística sobre a greve geral. 

Na redação da TV Globo São Paulo, por exemplo, um editor teria se dirigido aos berros a um repórter que usou a palavra “greve geral” numa das entradas. Dizendo que o termo estaria proibido.

A greve de hoje deve ser tratada como “protesto de sindicalistas que provocaram “tumulto e baderna”, segundo um relato de um desses jornalistas.


Na Record a ordem foi a mesma. Nenhum repórter está autorizado a usar o termo greve geral, mas “ação de grupos isolados”. E o foca das coberturas também deve ser o de baderna. Falar da previdência ou dizer que houve protestos pedindo Fora Temer também foram temas proibidos na emissora.

Rádios como a Jovem Pan e a Bandeirantes ficaram durante todo o dia repetindo essa mesma narrativa.

Jornalistas mais experientes com quem o blogue conversou têm certeza que houve um acordo dos grupos de comunicação com o governo Temer. Que não se trata de algo isolado ou muito menos de uma iniciativa espontânea.

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