quinta-feira, 13 de abril de 2017

Sob tortura






Brasil 247, 11/04/14




Sob tortura


Por Leandro Fortes




Pendurado, há dois anos, no pau-de-arara de delações premiadas do juiz Moro, Marcelo Odebrecht produziu a fantástica entrega, em cash, de 13 milhões de reais a Lula. Não o julgo por isso.

Ele virou um espectro dentro da cadeia, de onde sabe que não irá sair se não participar do bizarro mutirão organizado por Moro para prender - e inviabilizar eleitoralmente - o ex-presidente petista.

É um homem inteligente e bem formado. Deve ter reparado que, ao forçarem o número 13 na cifra dos milhões, seus algozes estariam sendo pateticamente previsíveis, embora devam ter se achado brilhantes, lá na região agrícola.

Mas, fazer o quê? O preço da liberdade é, muitas vezes, um mergulho asfixiante no ridículo.



http://www.brasil247.com/pt/colunistas/geral/290323/Dela%C3%A7%C3%B5es-premiadas-ou-suspeitas.htm




Brasil 247, 13/04/14




Delações premiadas ou suspeitas



Por Frei Betto



Passei pela prisão duas vezes (1964 e 1969-73). Fui submetido a inúmeros interrogatórios. O objetivo dos algozes era obter delações. Sem prêmios, exceto livrar-se de mais torturas físicas.

Sob o governo Médici se prometeu liberdade imediata ao preso político que, na TV, arrependesse de suas atividades e louvasse o “milagre brasileiro” do regime militar. Em São Paulo, apenas meia dúzia aceitou a proposta.

As delações aceitas pelos juízes Moro e Fachin merecem ser acolhidas com cautela. Para empresários e altos funcionários públicos, habituados a salários astronômicos e vida nababesca, estar preso é uma tortura. E sabem que o comprimento da língua pode reduzir a extensão da pena. Por isso delatam.

Nenhuma delação pode ser aceita como fato consumado, como ocorria no stalinismo. É preciso apresentar provas de que os delatados de fato transgrediram a lei. Mandaram a ética e os escrúpulos às favas.

Em plena Semana Santa, a lista de Fachin não merece ser encarada como a multiplicação dos Judas brasileiros, a serem sumariamente condenados e malhados. O Direito deve prevalecer sobre as nossas divergências, antipatias e ressentimentos em relação aos políticos citados.

Vale frisar que visceralmente corrupta é a institucionalidade política brasileira, na qual o eleitor vota e o poder econômico elege. A nação espera, há décadas, a profunda reforma que torne a nossa democracia verdadeiramente representativa e participativa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário