Brasil 247, 11/04/14
Sob tortura
Por Leandro Fortes
Pendurado, há dois anos, no pau-de-arara de delações premiadas do juiz Moro, Marcelo Odebrecht produziu a fantástica entrega, em cash, de 13 milhões de reais a Lula. Não o julgo por isso.
Ele virou um espectro dentro da cadeia, de onde sabe que não irá sair se não participar do bizarro mutirão organizado por Moro para prender - e inviabilizar eleitoralmente - o ex-presidente petista.
É um homem inteligente e bem formado. Deve ter reparado que, ao forçarem o número 13 na cifra dos milhões, seus algozes estariam sendo pateticamente previsíveis, embora devam ter se achado brilhantes, lá na região agrícola.
Mas, fazer o quê? O preço da liberdade é, muitas vezes, um mergulho asfixiante no ridículo.
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Brasil 247, 13/04/14
Delações premiadas ou suspeitas
Por Frei Betto
Sob o governo Médici se prometeu liberdade imediata ao preso político que, na TV, arrependesse de suas atividades e louvasse o “milagre brasileiro” do regime militar. Em São Paulo, apenas meia dúzia aceitou a proposta.
As delações aceitas pelos juízes Moro e Fachin merecem ser acolhidas com cautela. Para empresários e altos funcionários públicos, habituados a salários astronômicos e vida nababesca, estar preso é uma tortura. E sabem que o comprimento da língua pode reduzir a extensão da pena. Por isso delatam.
Nenhuma delação pode ser aceita como fato consumado, como ocorria no stalinismo. É preciso apresentar provas de que os delatados de fato transgrediram a lei. Mandaram a ética e os escrúpulos às favas.
Em plena Semana Santa, a lista de Fachin não merece ser encarada como a multiplicação dos Judas brasileiros, a serem sumariamente condenados e malhados. O Direito deve prevalecer sobre as nossas divergências, antipatias e ressentimentos em relação aos políticos citados.
Vale frisar que visceralmente corrupta é a institucionalidade política brasileira, na qual o eleitor vota e o poder econômico elege. A nação espera, há décadas, a profunda reforma que torne a nossa democracia verdadeiramente representativa e participativa.
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