domingo, 27 de março de 2016

ABRAMES (Academia Brasileira de Médicos Escritores) e sua maior relíquia





ABRAMES (Academia Brasileira de Médicos Escritores) e sua maior relíquia


Por Fernando Moura Peixoto



“Medicina antes de mais nada é conhecimento humano. E este está tanto nos livros de patologia e clínica médica como nos da obra de Proust, Flaubert, Balzac, Rabelais, poetas de hoje, de ontem, nos modernos como nos antigos.” 

PEDRO NAVA (1903 – 1984)



O Brasil é o único país do mundo a ter uma Academia de Médicos Escritores. O resgate da memória de como tudo isso teve início, o esforço de abnegados intelectuais do ramo da Medicina para constituírem o seu silogeu literário, em trabalho dedicado a meu pai, Dr. Perilo Galvão Peixoto, nascido em 8 de novembro de 1913 em Salvador, na Bahia, e falecido em 16 de março de 2002, no Rio de Janeiro, onde residia desde 1937.

 Perilo Galvão Peixoto (1913-2002) 
Posse na Abrames 26.maio.1989

Médico, jornalista, radialista, musicólogo e literato, ele primeiro ocupou a cadeira número 3 (membro fundador) da ABRAMES, Academia Brasileira de Médicos Escritores, e manteve guardada uma fita de videocassete com o registro da instalação solene da entidade, na noite de 26 de maio de 1989, realizada no Palácio da Cultura Gustavo Capanema, no Castelo, Centro do Rio.


Em 2000, dois anos antes de sua morte, entregou-me a fita de vídeo – produzida na época pela AZEVÍDEO –, incumbindo-me de mostrá-la aos pósteros. Em 2008, em contato epistolar com o ilustre médico paulista Dr. Helio Begliomini (1955 -), escritor e literato, membro titular-fundador da cadeira número 33 da Academia, informei-lhe a existência do importante documento. Ele demonstrou interesse em vê-lo, já que todos ignoravam existir uma transcrição da efeméride.


Como a AZEVÍDEO não possuísse mais a primitiva gravação, encomendei a recuperação e digitalização do velho filme a outro profissional do ramo, Marcos Gabriel Esteves, que o remasterizou em DVD – com imperfeições provocadas pelo desgaste do original. Enviei-o ao Dr. Helio Begliomini, residente em São Paulo, que o transformou, em 2009, em A MAIOR RELÍQUIA DA ABRAMES”, mostrando a cerimônia completa de instalação do sodalício. E editou ainda, em 2010, o livro denominado “IMORTAIS DA ABRAMES” (que pode ser acessado resumidamente em www.abrames.com.br ).


É interessante ressaltar o longo caminho percorrido, em grande espaço de tempo, passando por diferentes mãos, para que esta memorável resgatabilidade dos albores da Academia Brasileira de Médicos Escritores chegasse até nós. Como bem lembrou o Dr. Helio Begliomini, tão importante quanto seria termos um filme da sessão inaugurativa da Academia Brasileira de Letras, ABL, em 20 de julho de 1897, com imagens de Machado de Assis (1839 – 1908) e seus confrades confabulando numa sala do museu Pedagogium, na Rua do Passeio, no Rio de Janeiro.

A acadêmica Juçara Regina Viégas Valverde (1948 -), gaúcha de Cruz Alta, segunda ocupante da cadeira número 6 e atual vice-presidente, define o objetivo da agremiação: “A ABRAMES (...) atua no cenário cultural brasileiro difundindo suas teses, ideias, mensagens e sentimentos para o mundo da língua portuguesa. (...) Se a Medicina contribui para curar doenças, a literatura e a poesia ajudam a curar a alma, e há muitas almas a serem cuidadas. Se não podemos curá-las, que suas dores, ao menos, sejam aliviadas por meio de nossos escritos”.

A Academia Brasileira de Médicos Escritores foi propositadamente fundada em 17 de novembro de 1987. Seu patrono, o médico, escritor, jornalista e professor carioca Manuel Antônio de Almeida – autor do romance “Memórias de um Sargento de Milícias– nasceu justamente nesta data em 1831. A efeméride aconteceu no anfiteatro Miguel Couto do Hospital Geral da Santa Casa de Misericórdia, no Centro, Rio de Janeiro.

 Manuel Antônio de Almeida
Patrono

O Dr. HELIO BEGLIOMINI, em sua notável obra ‘IMORTAIS DA ABRAMES’, “que demandou quatro anos de intensas, diuturnas e obsessivas pesquisas”, e que foi publicada em 2010 pela ‘Expressão e Arte Editora’, SP, explicita a Academia Brasileira de Médicos Escritores:

“A Academia Brasileira de Médicos Escritores (Abrames) é o único silogeu literário formado exclusivamente por médicos que se conhece no mundo!

Idealizada por Mateus Vasconcelos, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (Sobrames), foi fundada por Marco Aurélio Caldas Barbosa no anfiteatro Miguel Couto do Hospital Geral da Santa Casa de Misericórdia, na cidade do Rio de Janeiro, propositadamente, no dia 17 de novembro de 1987 – dia e mês de nascimento de seu patrono – Manuel Antônio de Almeida (1831-1861) – médico, jornalista, cronista, romancista, crítico literário e também patrono da cadeira nº 28 da Academia Brasileira de Letras.

“A instalação do sodalício ocorreu na memorável noite de 26 de maio de 1989, em sessão de gala, no Palácio da Cultura Gustavo Capanema, igualmente na cidade do Rio de Janeiro.”

 Distintivo da lapela

A Abrames compõe-se de cinquenta cadeiras, onde predomina o princípio da vitaliciedade modificado, admitindo, desde o seu primeiro Estatuto, em 1987, a condição de membro emérito, quando, sob certas circunstâncias, ocorre a vacância da cadeira sem que o titular perca a sua condição de acadêmico.”

 Medalhas

“Os patronímicos das cinquenta cadeiras da Abrames foram ilustres médicos escritores brasileiros, sendo que 23 deles pertenceram à vetusta Academia Nacional de Medicina; 16 tiveram seus nomes ligados à glamorosa Academia Brasileira de Letras; e, outros, vínculos com igualmente notáveis entidades, tais como Academia Brasiliense de Letras, Academia Carioca de Letras, Academia Caxambuense de Letras, Academia Cearense de Letras, Academia Cristã de Letras, Academia de Medicina de Buenos Aires, Academia de Medicina de Nova Iorque, Academia de Medicina de Paris, Academia de Medicina de São Paulo, Academia das Ciências de Lisboa, Academia Fluminense de Letras, Academia Fluminense de Medicina, Academia Paulista de Letras, Academia Luso-Brasileira de Letras, Academia Mato-Grossense de Letras, Academia Mineira de Letras, Academia Petropolitana de Letras, Academia Pontifícia das Ciências, dentre diversas outras. Há uma só patronesse, Francisca Praguer Fróes, patronímica da cadeira no 24.” 

 Bandeira original
                                                                                                                    
Membros Fundadores

            “Dos 50 membros fundadores da Abrames, 11 (22%) não puderam estar presentes na solenidade de inauguração do sodalício, em 26 de maio de 1989, no Palácio da Cultura Gustavo Capanema (nomes sublinhados). Salienta-se que André Petrarca de Mesquita (cadeira nº 4) ainda não fazia parte da lista, sendo o único membro fundador que tomou posse posteriormente, em 28 de novembro de 1990.”

“Um está sempre no escuro, só no último derradeiro é que clareiam a sala. Digo: o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia."         

GUIMARÃES ROSA (1908 – 1967), palavras de Riobaldo, ‘o jagunço-filósofo’, em ‘Grande Sertão: Veredas’.


Fernando Moura Peixoto (ABI 0952-C)

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