ABRAMES (Academia Brasileira de
Médicos Escritores) e sua maior relíquia
Por Fernando Moura Peixoto
“Medicina antes de mais nada é conhecimento humano. E este está tanto nos
livros de patologia e clínica médica como nos da obra de Proust, Flaubert,
Balzac, Rabelais, poetas de hoje, de ontem, nos modernos como nos antigos.”
PEDRO NAVA (1903 –
1984)
O Brasil
é o único país do mundo a ter uma Academia de
Médicos Escritores. O resgate da memória de como tudo isso teve
início, o esforço de abnegados intelectuais do ramo da Medicina para
constituírem o seu silogeu literário, em trabalho dedicado a meu pai, Dr. Perilo Galvão Peixoto, nascido
em 8 de novembro de 1913 em Salvador, na Bahia, e falecido em 16 de março de
2002, no Rio de Janeiro, onde residia desde 1937.
Perilo Galvão Peixoto (1913-2002)
Posse na Abrames 26.maio.1989
Médico, jornalista, radialista,
musicólogo e literato,
ele primeiro ocupou a cadeira número 3 (membro
fundador) da ABRAMES, Academia Brasileira de Médicos Escritores, e manteve
guardada uma fita de videocassete com o registro da instalação solene da entidade, na noite de 26 de maio de 1989, realizada no Palácio da Cultura Gustavo Capanema,
no Castelo, Centro do Rio.
Em 2000, dois
anos antes de sua morte, entregou-me a fita de vídeo – produzida na época pela AZEVÍDEO
–, incumbindo-me de mostrá-la aos pósteros. Em 2008, em contato epistolar com o
ilustre médico paulista Dr. Helio Begliomini (1955
-), escritor e literato, membro titular-fundador da cadeira número 33 da Academia, informei-lhe a existência do
importante documento. Ele demonstrou interesse em vê-lo, já que todos ignoravam
existir uma transcrição da efeméride.
Como a AZEVÍDEO
não possuísse mais a primitiva gravação, encomendei a recuperação e digitalização
do velho filme a outro profissional do ramo, Marcos Gabriel Esteves, que o remasterizou em DVD – com imperfeições
provocadas pelo desgaste do original. Enviei-o ao Dr. Helio Begliomini,
residente em São Paulo, que o transformou, em 2009, em “A MAIOR RELÍQUIA DA ABRAMES”,
mostrando a cerimônia completa de instalação do sodalício. E editou ainda, em
2010, o livro denominado “IMORTAIS DA ABRAMES” (que pode ser acessado
resumidamente em www.abrames.com.br ).
É
interessante ressaltar o longo caminho percorrido, em grande espaço de tempo, passando
por diferentes mãos, para que esta memorável resgatabilidade dos albores da Academia Brasileira de Médicos Escritores
chegasse até nós. Como bem lembrou o Dr. Helio Begliomini, tão importante
quanto seria termos um filme da sessão inaugurativa da Academia Brasileira de Letras, ABL,
em 20 de julho de 1897, com imagens de Machado
de Assis (1839 – 1908) e seus confrades confabulando numa sala do museu Pedagogium, na Rua do Passeio, no Rio
de Janeiro.
A acadêmica Juçara Regina
Viégas Valverde (1948 -), gaúcha de Cruz Alta, segunda ocupante da
cadeira número 6 e atual vice-presidente, define o objetivo da agremiação: “A ABRAMES (...) atua no cenário cultural
brasileiro difundindo suas teses, ideias, mensagens e sentimentos para o mundo
da língua portuguesa. (...) Se a Medicina contribui
para curar doenças, a literatura e a poesia ajudam a curar a alma, e há muitas
almas a serem cuidadas. Se não podemos curá-las, que suas dores, ao
menos, sejam aliviadas por meio de nossos escritos”.
A Academia Brasileira de Médicos
Escritores foi propositadamente fundada em 17 de
novembro de 1987. Seu patrono, o médico, escritor,
jornalista e professor carioca Manuel Antônio de
Almeida – autor do romance “Memórias de um
Sargento de Milícias” – nasceu justamente nesta data em 1831. A
efeméride aconteceu no anfiteatro Miguel
Couto do Hospital Geral da Santa Casa de Misericórdia, no Centro, Rio de
Janeiro.
Manuel Antônio de Almeida
Patrono
O Dr. HELIO BEGLIOMINI, em sua notável obra ‘IMORTAIS
DA ABRAMES’, “que demandou
quatro anos de intensas, diuturnas e obsessivas pesquisas”, e que foi publicada
em 2010 pela ‘Expressão e Arte Editora’, SP, explicita a Academia
Brasileira de Médicos Escritores:
“A Academia Brasileira de Médicos
Escritores (Abrames) é o único silogeu literário
formado exclusivamente por médicos que se conhece no mundo!”
“Idealizada
por Mateus Vasconcelos, ex-presidente da
Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (Sobrames), foi fundada por Marco Aurélio Caldas Barbosa no anfiteatro Miguel
Couto do Hospital Geral da Santa Casa de Misericórdia, na cidade do Rio de
Janeiro, propositadamente, no dia 17 de novembro de
1987 – dia e mês de nascimento de seu patrono – Manuel
Antônio de Almeida (1831-1861) – médico, jornalista, cronista,
romancista, crítico literário e também patrono da cadeira nº 28 da Academia
Brasileira de Letras.”
“A
instalação do sodalício ocorreu na memorável noite de 26 de maio de 1989, em
sessão de gala, no Palácio da Cultura Gustavo Capanema, igualmente na cidade do
Rio de Janeiro.”
Distintivo da lapela
“A
Abrames compõe-se de cinquenta cadeiras, onde predomina o princípio da
vitaliciedade modificado, admitindo, desde o seu primeiro Estatuto, em 1987, a
condição de membro emérito, quando, sob certas circunstâncias, ocorre a
vacância da cadeira sem que o titular perca a sua condição de acadêmico.”
Medalhas
“Os
patronímicos das cinquenta cadeiras da Abrames foram ilustres médicos
escritores brasileiros, sendo que 23 deles pertenceram à vetusta Academia
Nacional de Medicina; 16 tiveram seus nomes ligados à glamorosa Academia
Brasileira de Letras; e, outros, vínculos com igualmente notáveis entidades,
tais como Academia Brasiliense de Letras, Academia Carioca de Letras, Academia
Caxambuense de Letras, Academia Cearense de Letras, Academia Cristã de Letras,
Academia de Medicina de Buenos Aires, Academia de Medicina de Nova Iorque,
Academia de Medicina de Paris, Academia de Medicina de São Paulo, Academia das
Ciências de Lisboa, Academia Fluminense de Letras, Academia Fluminense de
Medicina, Academia Paulista de Letras, Academia Luso-Brasileira de Letras,
Academia Mato-Grossense de Letras, Academia Mineira de Letras, Academia
Petropolitana de Letras, Academia Pontifícia das Ciências, dentre diversas outras.
Há uma só patronesse, Francisca Praguer Fróes, patronímica da cadeira no 24.”
Bandeira original
“Membros
Fundadores”
“Dos 50 membros fundadores da
Abrames, 11 (22%) não puderam estar presentes na solenidade de inauguração do
sodalício, em 26 de maio de 1989, no Palácio da Cultura Gustavo Capanema (nomes
sublinhados). Salienta-se que André Petrarca de Mesquita (cadeira nº 4) ainda
não fazia parte da lista, sendo o único membro fundador que tomou posse
posteriormente, em 28 de novembro de 1990.”
“Um está sempre no escuro, só no último derradeiro é que clareiam a sala.
Digo: o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é
no meio da travessia."
GUIMARÃES ROSA (1908 – 1967), palavras de Riobaldo, ‘o jagunço-filósofo’,
em ‘Grande Sertão: Veredas’.
Fernando Moura Peixoto (ABI 0952-C)
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