Segunda Opinião, 17/03/16
Da Lava jato à ilegalidade
Por Wanderley Guilherme dos Santos
A Lava-Jato começou como investigação de um cartel de empreiteiras
associadas para fins criminosos a altos burocratas e políticos e converteu-se,
primeiro, em intimidação latente a qualquer prática política e, por fim, óbvia
determinação de inutilizar a vida civil e política do ex-presidente Lula da
Silva. Obteve sucesso em construir uma coalizão tácita incluindo os meios de
comunicação, os partidos de oposição e carimbados personagens, prontos a aceitar
e defender qualquer tipo de ilegalidade que procuradores e policiais federais
cometessem tendo em vista o objetivo final de prender o ex-presidente da
República e retirar Dilma Rousseff da presidência. A origem da ilegalidade
encontra-se nas sucessivas declarações do candidato presidencial derrotado,
senador Aécio Neves, rejeitando a legitimidade da vitória da presidente Dilma
Rousseff, e liderando seu partido, o PSDB, em permanente sabotagem da
governança do País. Notório corrupto conforme delações na Lava-Jato, todavia
inexplicavelmente protegido pelas autoridades responsáveis, promoveu
publicamente teses subversivas da ordem legal com declarações levianas e sem
lastro probatório. A ele juntaram-se diversos segmentos oposicionistas,
ultrapassando a linha da tolerância democrática e aderindo à caudal sabotadora,
substituindo a linguagem parlamentar e civilizada por insultos e ofensas
impeditivas de qualquer debate produtivo.
Gradativamente a Lava-Jato transformou-se em disfarçada usina de
chantagem política, com poder de arbítrio suficiente para traduzir um
telefonema ou memorando escrito entre políticos com coloquiais do tipo “então,
não esquece aquele negócio” ou “ficamos combinados assim”, em explosivas
evidências de que acordos de extrema indecência haviam sido assim concluídos.
Sem um segundo de cautela, toda a imprensa e os demais participantes da
coalizão de justiceiros santificavam o abuso de autoridade, com pautas de
jornalismo e análises ad hoc de inédita vulgaridade profissional. Sacando sobre
os inegáveis resultados positivos que alcançara, a força-tarefa e seu corifeu
construíram um roteiro de ações de claro cálculo político, com declarações, ora
atrevidas, ora contrárias aos fatos, e já dispostos a truculências, sem temor
de críticas públicas, silêncio obtido em parte pela cumplicidade da oposição
tresloucada, em parte como resultado de chantagem subliminar e latente.
A malograda tentativa de prisão do ex-presidente Lula, em 4 de março, deu
lugar a um interrogatório de fancaria no aeroporto de Congonhas, entre todos os
lugares, em que as perguntas eram absolutamente não só banais, como já
respondidas diversas vezes pelo interrogado, sobre pedalinhos, tríplex em nome
da OAS, mas que os justiceiros dizem que é de Lula, orçamento do Instituto Lula,
quando o relevante é a porcentagem dos tais recursos ilícitos dos doadores que
foram destinados a outras instituições e pessoas. Se há um desvio de dez
milhões de dólares e um milhão foram destinados a B, ele corresponde a dez por
cento dos recursos ilícitos e o interesse primário devia consistir em verificar
o destino dos 90% restantes. Se o milhão dado a B corresponde até a 100% de seu
orçamento é fato subordinado ao destino dos demais 9 milhões. Pois a obsessão
dos investigadores sequer menciona o problema. Ademais, o delegado inquisidor
lançou em várias oportunidades uma casca de banana, com melíflua gentileza,
lembrando a Lula que ele podia deixar de responder, se desejasse, pois não era
obrigado. Ora, a manchete única, no dia seguinte, seria: LULA EMUDECE
PARA NÃO SE INCRIMINAR. Para isso serviria a farsa do interrogatório em um
aeroporto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário