segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Sobre a China

São Paulo, segunda-feira, 01 de novembro de 2010


Energia solar está sob controle dos chineses
Por TODD WOODY 

FREMONT, Califórnia - O Vale do Silício sonhou em reinventar a tecnologia de transformação da energia solar usada para fazer painéis solares, através do corte radical dos custos de produção.
Mas, conforme as companhias fundadas por veteranos da alta tecnologia finalmente iniciaram a produção em larga escala, eles estão descobrindo que essa indústria já passou por transformação. Industriais chineses, fortemente subsidiados pelo seu próprio governo e apoiados em uma economia de alta escala, têm contribuído para a queda do preço dos painéis solares convencionais e controlado uma generosa fatia do mercado mais rápido do que o previsto.
Os construtores de painéis solares chineses agora produzem para 40% do mercado californiano, o maior dos Estados Unidos nesse tipo de energia, e para a maior parte do mercado europeu, de acordo com a Bloomberg New Energy Finance, uma empresa de pesquisa.
"Nós crescemos todos os anos", disse Fang Peng, executivo-chefe da JA Solar, em Xangai. "No fim do ano, vamos ter 1.8 gigawatts de capacidade e cresceremos de 4.000 empregados no começo deste ano para mais de 11 mil.
Em comparação, a Silicon Valley´s Solyndra espera ter uma capacidade de produção total de 300 megawatts no final de 2011
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"O mercado solar mudou muito, o suficiente para fazer você chorar", disse Joseph Laia, executivo-chefe da MiaSolé.
Os desafios vêm apesar do extenso apoio público e privado. Solyndra, uma das maiores empresas do setor, obteve mais de US$ 1 bilhão de investidores. O governo federal forneceu um empréstimo de US$ 535 milhões para a nova fábrica de painéis solares da empresa. Mas, enquanto tal estrutura da Solyndra está em construção, a competição dos chineses ajudou a derrubar o preço dos módulos solares em 40%. Solyndra aumentou seus esforços de marketing para vender a imagem de que seus painéis, apesar de mais caros, têm custo-benefício maior, já que considera as taxas de instalação no preço.
"Isso coloca mais pressão para derrubar os custos de produção", disse Bem Bierman, vice-presidente de operação e engenharia da Solyndra.
O crescimento rápido dos chineses está fazendo com que investidores tenham receio de começar novos negócios na área.
No terceiro trimestre de 2010, o investimento em companhias solares despencou para US$ 144 milhões, bem distante dos US$ 451 milhões do mesmo trimestre do ano anterior, de acordo com o Grupo Cleantech, uma empresa de pesquisas de San Francisco.
Companhias que fazem células fotoelétricas usando elementos como cobre, índio, gálio e seleneto, ou CIGS, estão sendo particularmente prejudicadas.
Ao contrário das células solares convencionais, feitas de silício, células CIGS podem ser depositadas em vidro ou materiais flexíveis. A promessa das novas células solares era que podiam ser mais baratas. Mas produzir células CIGS em larga escala é um desafio.
Enquanto companhias trabalham nesse problema, preços do silício caem, e as companhias chinesas rapidamente expandem a produção de painéis solares convencionais.
Arnos Harris, executivo-chefe da Energy Recurrent, empresa que desenvolve energia solar em San Francisco, disse que assinou um acordo de fornecimento com a Yingli Green Energy, que recebe subsídios do governo chinês, porque a companhia oferece preços baixos, produtos de qualidade e possibilidade de financiamento.
A competição chinesa fez com que algumas companhias do Vale do Silício perseguissem novas estratégias para sobreviver.
A Innovalight desenvolveu uma nova ideia, algo que chama de "tinta de silício", que aumenta a eficiência da célula solar. Os executivos da Innovalight decidiram que, em vez de competir com os chineses, poderiam negociar a patente com eles e evitar o investimento de centenas de milhões de dólares para construir fábricas.
"Como você luta contra subsídios enormes, juros baixos em empréstimos, mão de obra barata e um governo que objetiva tornar você o primeiro colocado em tecnologia solar?", disse Conrad Burke, chefe da Innovalight, se referindo, é claro, ao governo chinês. Até mesmo Lyndon Rive, executivo-chefe da SolarCity, outra empresa do Vale do Silício, confirmou que sua companhia vai instalar um número considerável de painéis solares para a gigante do varejo Wal-Mart -quase todos eles feitos na China.
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São Paulo, sexta-feira, 29 de outubro de 2010

China cria o maior supercomputador ASHLEY VANCE
DO "NEW YORK TIMES"

Um centro de pesquisa científica da China construiu o supercomputador mais rápido do mundo, superando os EUA como responsável pela máquina mais rápida da computação, e transformando o país em superpotência da tecnologia. O computador, conhecido como Tianhe-1A, é 1,4 vez mais poderoso que a mais rápido máquina atual, de um laboratório no Tennessee, disse Jack Dongarra, cientista da computação da Universidade do Tennessee.

Funcionários do centro de pesquisa chinês, a Universidade Nacional de Tecnologia da Defesa, devem revelar o desempenho do computador na quinta-feira, em uma conferência em Pequim.

A corrida para construir o mais rápido dos supercomputadores se tornou fonte de orgulho nacional, já que essas máquinas são valorizadas por sua capacidade de resolver problemas cruciais para os interesses nacionais, em áreas como Defesa, energia, finanças e ciência.

A tecnologia de supercomputação também encontrou espaço nos negócios mais convencionais. A Procter & Gamble, por exemplo, chega a usar supercomputadores para garantir que as batatas Pringle's sejam embaladas sem quebrarem. Além disso, os centros de pesquisa dotados de grandes supercomputadores costumam atrair os principais talentos científicos.

Ao longo dos dez últimos anos, os chineses vêm subindo lentamente no ranking de supercomputadores. O Tianhe-1A representa bilhões de dólares em investimento e desenvolvimento científico, enquanto a China evoluía para a posição de superpotência mundial de tecnologia.

"O que assusta é que o domínio dos EUA na computação de alto desempenho está em risco", disse Wu-chun Feng, professor da Universidade Estadual da Virgínia. Os supercomputadores atuais são construídos pela combinação de milhares de pequenos servidores, e com o uso de software que faz deles uma entidade unificada. Nesse sentido, qualquer organização com dinheiro e conhecimento suficientes poderia adquirir componentes convencionais e criar uma máquina rápida.

O sistema chinês segue esse modelo, com o uso de milhares de chips produzidos pelas empresas americanas Nvidia e Intel. Mas o molho secreto do sistema está na tecnologia chinesa de interconexão para a transferência ultraveloz de dados entre os computadores, disse Dongarra. Os EUA durante décadas desenvolveram a maioria das tecnologias básicas usadas nos imensos supercomputadores, e construíram as maiores e mais rápidas máquinas do mundo. Algumas simulam efeitos de bombas nucleares, e outras ajudam na previsão do tempo e em pesquisas de energia.

Na conferência da quinta-feira, os pesquisadores chineses devem discutir como estão usando o novo sistema para pesquisas em campos como a astrofísica e a modelagem biomolecular. O Tianhe-1A, que está no centro de supercomputação, em Tianjin, pode executar operações matemáticas cerca de 29 milhões de vezes mais rápidas do que um supercomputador de 1976. Em termos precisos, faz 2,5 quatrilhões de operações matemáticas por segundo.

Dongarra disse que um antigo projeto chinês para produzir chips tão poderosos como os da Intel e outros fabricantes ainda está em curso. Steven Wallach, projetista de computadores, não dá importância à liderança no ranking de computadores. Para ele, laboratórios ajustam sistemas para um bom desempenho nos testes padronizados de potência, o que não significa que se sairá bem em trabalhos especializados. Nos EUA há planos para máquinas muito mais velozes, com componentes exclusivos. Mas ainda vai levar anos para que elas estejam prontas, e a China agora reina. "Querem demonstrar que são o número um no mundo, não importa em que campo", disse Wallach. "Não posso culpá-los por isso."


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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São Paulo, sábado, 02 de outubro de 2010

Estatal chinesa paga US$ 7,1 bilhões por fatia de 40% da Repsol no Brasil PEDRO SOARES
DO RIO

Disposta a assegurar o suprimento de petróleo no longo prazo para a China, a petroleira estatal Sinopec anunciou ontem a compra, por US$ 7,1 bilhões, de 40% das operações brasileiras da espanhola Repsol, uma das principais parceiras da Petrobras nos campos do pré-sal.
É o maior investimento chinês na América Latina.
O negócio foi fechado por meio de aumento de capital na filial brasileira, a Repsol Brasil. Todos os recursos serão investidos no desenvolvimento das descobertas de óleo e gás no país.
Com a transação, a matriz espanhola ficará com 60% da companhia.
Entre os principais negócios da Repsol no Brasil, está a participação de 25% nos campos de Guará e Carioca, no pré-sal da bacia de Santos. Juntos, contam com reservas preliminares de até 6 bilhões de barris -ao todo, o país tem 14 bilhões de reservas provadas.
Nesses campos, a Repsol está associada à Petrobras (45%) e à British Gas.
A Repsol buscava desde novembro de 2009 um sócio capitalizado para bancar o pesado investimento nas descobertas do pré-sal.
Por seu turno, a Sinopec busca investimentos ao redor do mundo para atender à acelerada demanda por petróleo na China, e assim sustentar o crescimento econômico daquele país.
"O negócio da Sinopec não é ganhar dinheiro. O que ela quer é garantia de fornecimento de petróleo no longo prazo", disse David Zylbersztajn, ex-diretor-geral da ANP.
Para o advogado Ricardo Assef, do Machado, Meyer, Sendacz e Opice, que assessorou a Sinopec na operação, dois fatores influenciaram a decisão chinesa: diversificar seus investimentos após a crise global e garantia de acesso a commodities.
À Folha Alejandro Roig, diretor de comunicação e relações externas da Repsol, disse que os recursos aportados pela Sinopec são mais do que suficientes para os investimentos da companhia e serão usados também para desenvolver novos projetos.
Como alternativa para levantar recursos, a Repsol estudava lançar ações na Bovespa e reforçar seu capital em até 40%. Com o negócio, a ideia foi postergada.
O acordo entre as duas empresas prevê, porém, que elas possam entrar em futuros leilões de concessão de áreas de exploração de petróleo da ANP e comprar ativos em separado -possibilitando mais compras da Sinopec.
Avanço chinês sobre o setor deve continuar FABIANO MAISONNAVE
DE PEQUIM
O acordo da Sinopec para adquirir 40% da Repsol Brasil é o maior passo das petroleiras estatais chinesas no país. E tudo indica que não será o último.
O negócio de US$ 7,1 bilhões é de longe o mais vultoso investimento chinês no Brasil. Antes, o recorde pertencia a outra estatal petroleira: a Sinochem pagou US$ 3,07 bilhões por 40% do campo Peregrino (bacia de Campos) e agora é sócia da norueguesa Statoil.
Até o fim deste ano, a própria Sinopec pode superar o recorde de ontem. Junto com outra estatal chinesa (a Cnooc), a petroleira está interessada em comprar até 30% de sete blocos na bacia de Campos pertencentes à OGX, de Eike Batista.
A OGX estima que o negócio, previsto para ser fechado até dezembro, chegue a até US$ 14 bilhões. Além das chinesas, há cinco multinacionais interessadas nos blocos da empresa de Eike.
A recente aproximação de Eike com a China sugere que a Sinopec e a Cnooc levam vantagem sobre as concorrentes. Em dezembro, ele vendeu 21,52% da mineradora MMX à estatal chinesa Wisco por US$ 400 milhões.
Outro importante acordo no campo de petróleo é o empréstimo de US$ 10 bilhões contraído pela Petrobras no Banco de Desenvolvimento da China, assinado em 2009.
O pagamento está sendo feito com petróleo. São 200 mil barris por dia entregues à Sinopec -aproximadamente 10% da produção da estatal brasileira- a partir deste ano até 2019.
Em abril, a Petrobras e a Sinopec assinaram ainda um acordo que dá preferência à chinesa na venda de parte de dois lotes na bacia do Pará-Maranhão, no norte do país.
O apetite chinês por petróleo é crescente. Em 1993, o país passou de exportador a importador de petróleo e hoje produz pouco menos da metade do que consome (8,2 milhões de barris diários no ano passado) .
O gigante asiático é o segundo maior consumidor do mundo, atrás apenas dos EUA, e o terceiro maior importador, de novo atrás dos EUA e também do Japão. Seus principais fornecedores são Arábia Saudita, Irã, Angola e Rússia.
A expansão das petroleiras chinesas no exterior é considerada uma política de segurança nacional do governo, preocupado em ter fornecedores confiáveis de longo prazo.
MAIS INVESTIMENTOS CHINESES RECENTES

  Wisco investe US$ 5 bilhões no porto de Açu (RJ). Em dezembro do ano passado, pagou US$ 400 milhões por fatia da MMX
  Sinochem comprou, por US$ 3,1 bilhões, 40% de campo da bacia de Campos
  State Grid pagou US$ 177 bilhões por sete elétricas
  China Mineral pagou US$ 1,2 bilhão pela Itaminas
  Grupo Honbridge Holdings pagou US$ 390 milhões por mina da Votorantim
  Cherry disse que investirá US$ 700 milhões em sua primeira fábrica no Brasil

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Resumindo: Desenvolvimento econômico-social sólido = Estado muito bem presente na economia.

São Paulo, segunda-feira, 06 de setembro de 2010

Estratégia chinesa favorece companhias estatais
Por MICHAEL WINES

PEQUIM - Depois de décadas cedendo terreno para empresários privados, as companhias estatais da China estão novamente em marcha. Conforme o governo chinês enriqueceu, bombeou dinheiro público para companhias que, no seu entender, vão aperfeiçoar a base industrial e empregar mais trabalhadores. Os beneficiários são interesses de propriedade estatal que, para muitos analistas, diminuiriam gradualmente na concorrência com o setor privado.
Hoje, analistas se perguntam se a China, que se diz socialista mas muitas vezes é considerada capitalista no Ocidente, na verdade busca reforçar o controle do governo em setores da economia. A distinção pode ser mais importante do que já foi. A China superou o Japão este ano, tornando-se a segunda maior economia do mundo, e seu modelo de desenvolvimento dirigido pelo Estado é muito atraente para os países pobres.
Os líderes chineses, outrora ávidos para aprender com os EUA, durante a crise financeira reafirmaram sua fé na abordagem mais estatal da gestão econômica, em que o capitalismo privado tem apenas um papel secundário.
"As vantagens do sistema socialista", disse o primeiro-ministro Wen Jiabao em um discurso em março, "nos permitem tomar decisões eficientemente, organizar eficazmente e concentrar recursos para realizar grandes empreendimentos".
Wen e o presidente Hu Jintao são considerados menos sintonizados com interesses de investidores estrangeiros e do próprio setor privado chinês do que a geração anterior de líderes que iniciaram as reformas econômicas. Eles preferem salientar a influência e o alcance econômico das empresas estatais no topo da hierarquia.
"A China sempre teve uma importante política industrial. Mas durante alguns anos pareceu evitar uma política ativa e intervencionista em favor de uma abordagem mais relaxada", disse Victor Shih, cientista político da Universidade Northwestern, em Illinois (EUA).
Shih, entre outros, acredita que as reformas da década de 1980, que deslancharam o setor privado chinês, e as de 1990, que desmantelaram grandes partes do setor estatal, estão sendo parcialmente revertidas.
"O problema é que as reformas dos primeiros 20 anos, a partir de 1978, na verdade não tocaram no poder do governo", disse Yao Yang, professor da Universidade de Pequim que chefia o Centro para Pesquisa Econômica da China. "Depois que as outras reformas terminaram, você realmente vê que o governo está se expandindo, porque não há controle e balanço de seu poder."
Outros afirmam que as autoridades sempre pretenderam criar um setor estatal vibrante que predominaria sobre o privado em indústrias importantes, mesmo enquanto vendiam ou fechavam empresas estatais deficitárias que tiravam capital do orçamento do governo e do sistema bancário.
O alarme recente sobre o papel expansivo do Estado, disse Arthur Kroeber, da Dragonomics, firma de previsão econômica em Pequim, é principalmente "a percepção alcançando a realidade".
Mas os céticos acreditam que as distorções e o desperdício, em parte devido à interferência do governo, vão fazer cair os índices de crescimento bem antes de 2020. A China, como o Japão uma geração atrás, tem confiança demais em uma estratégia econômica de cima para baixo, eles dizem.
Os céticos notam também a crescente influência política e financeira dos gigantes estatais da China -129 conglomerados que respondem ao governo central e milhares de menores, dirigidos por Províncias e cidades.
Embora não exista um colapso público, a maioria dos especialistas diz que o grosso do pacote de estímulos de 4 trilhões de renminbi (US$ 588 bilhões) que a China bombeou para novas estradas, ferrovias e outros grandes projetos foi para companhias estatais. Algumas delas usaram o dinheiro para reforçar o predomínio em seus mercados ou para entrar em novos.
"Em 2009, houve uma enorme expansão do papel do governo no setor corporativo", disse Huang Yasheng, analista do capitalismo no estilo chinês no Instituto de Tecnologia de Massachusetts. "Eles estão produzindo iogurte. Eles estão nos imóveis."
Em nível local, os governos montaram até 8 mil companhias de investimentos estatais em 2009 para canalizar os dólares do governo para empresas e empreendimentos industriais, disse Huang. Basta um exemplo: uma fabricante de carros privada chinesa, a Zhejiang Geely Holding Group, fez um acordo em março para comprar da Ford a Volvo sueca. Grande parte do preço de aquisição de US$ 1,5 bilhão não veio dos modestos lucros da Geely, mas de governos locais no nordeste da China e na área de Xangai.
A Geely desde então retribuiu, anunciando que vai construir sua sede da Volvo e uma montadora em um distrito industrial de Xangai.
Os motivos do maior envolvimento do Estado nos negócios variam. O controle estatal dos suprimentos energéticos é crucial para o crescimento chinês, e assumir a mineração de carvão em Shanxi vai aumentar a produção, garantir combustível para algumas empresas públicas estatais e dar a Pequim um novo poder para controlar os preços do carvão.
Cai diz acreditar que seu país precisa de indústrias dirigidas pelo governo para competir globalmente e administrar o desenvolvimento interno do país.
O sucesso da China fala bem de sua estratégia de cima para baixo, dizem outros economistas. A Coreia do Sul e o Japão construíram suas economias com forte ajuda estatal.

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O Estado de São Paulo, 22/08/2010

22 de agosto de 2010 | 0h 00

''É preciso restringir o investimento chinês no Brasil''

Marcelo Rehder e David Friedlander - O Estado de S.Paulo
O empresário Benjamin Steinbruch, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), defende restrições à onda de compra de terras e reservas minerais brasileiras por empresas da China. Dono da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), diz que, como os chineses já são os maiores compradores de minério de ferro do mundo, se também dominarem a produção, "poderão tirar os outros do jogo". Para o empresário, os asiáticos fazem concorrência desleal, porque possuem apoio maciço do governo de seu país. "É o Estado, não é iniciativa privada."
Steinbruch tem interesse direto no tema, já que mineração é uma das prioridades da CSN, que tem planos ambiciosos para o setor. Mas suas críticas têm o peso da instituição que o coloca hoje como uma das principais lideranças do empresariado nacional. Nesta entrevista, ele também fala dos planos para a CSN e da experiência de presidir a Fiesp, cargo que assumiu com a licença do titular Paulo Skaf para concorrer ao governo de São Paulo.
Além de inundar o mercado com seus produtos, a China está comprando muitos ativos no Brasil. Isso incomoda os empresários?
A China investiu muito em títulos do Tesouro americano e agora busca desesperadamente trocar parte desses papéis por ativos. Começou pela África, onde comprou tudo que podia e agora está comprando na América Latina, inclusive no Brasil. O capital chinês de médio e longo prazos para investimento é muito bem-vindo. Mas é preciso cuidar de setores estratégicos.
Quais seriam esses setores?
Por exemplo, a China comprar reservas de minério no Brasil, sendo ela o principal cliente do País, precisa ser considerado de forma diferente. A China é uma força no mundo. A partir do momento que ela tenha o domínio sobre a matéria-prima, sendo a maior consumidora de minério, ela pode tirar os outros do jogo. Dependendo do preço de transferência que adote, quebra com todo mundo. Setores estratégicos têm de ter algum controle do governo. É preciso dizer aquilo que pode e aquilo que não pode ser comprado por capital estrangeiro.
O sr. está falando em restringir a compra de terras ou minas?
Eu restringiria. Se for uma coisa da iniciativa privada, é um direito indiscutível. (Discordo veementemente. Por que "uma coisa da iniciativa privada é um direito indiscutível"? Sempre que houver um interesse social, o direito privado deve a ele ser subordinado. (Ivan)) Mas, a partir do momento que atrás de quem compra está o Estado, é uma coisa de governo contra governo. Não vejo com bons olhos nenhum país vindo aqui comprar ativos no Brasil.
O sr. não está exagerando?
Vou contar um fato que me causou surpresa. No projeto da ferrovia Transnordestina tentamos comprar terras para induzir o desenvolvimento de plantio de grãos na região. Para nossa surpresa, encontramos grandes propriedades sendo tocadas por chineses. Eles já produzem grãos no interior do Piauí e de Pernambuco, coisa que nós, idealizadores do projeto, não sabíamos.
O sr. acha que os principais candidatos à Presidência aceitariam fazer esse tipo de intervenção?
Qualquer presidente tem de ter essa preocupação, porque é uma questão de soberania nacional. Independentemente de partido, estilo ou filosofia, é algo que tem de ser analisado e resolvido de maneira muito rápida, porque depois que comprarem não adianta fazer mais nada.
O sr. tem defendido o BNDES, mas a atuação do banco não está concentrada em poucas empresas?
Existe concentração porque não temos empresas globalizadas. É preciso fortalecer as empresas brasileiras para termos uma presença lá fora.
No caso dos frigoríficos, que é foco de críticas, o banco deu muito dinheiro para os grandes, enquanto os pequenos e médios se queixam de falta de acesso...
Não sei se é o que está acontecendo. Mas se a pequena e a média não estão sendo apoiadas, acho que está errado. Agora, essa posição do BNDES de fortalecer empresas brasileiras exportadoras de carne nos países importadores faz todo sentido estratégico. O nosso desafio é virar uma potência. Para isso, temos de fazer o que os outros países fizeram e deu certo. Não precisa melhorar, basta copiar. (Copiar,mas, sempre que possível, tratar de melhorar)

O sr. quis internacionalizar a CSN. Tentou comprar a siderúrgica anglo-holandesa Corus e a cimenteira portuguesa Cimpor, mas não deu. Vai continuar tentando?
Temos de continuar, um dia vai dar certo. Mas é preciso ser racional. Se fosse pagar o que não vale, a gente teria levado. Sempre tive muita vontade de comprar a Corus. Fui até onde deu. Não deu para levar, o que posso fazer? Na Cimpor foi a mesma coisa. A gente vai continuar tentando.
Está olhando outros negócios?
Estou. Basicamente aquilo que completa o que a gente faz: aço, cimento e mineração. É claro que, se aparecer alguma coisa muito boa, vamos estudar.
Onde está procurando?
Num primeiro momento, nos Estados Unidos e na Europa.
O sr. vai mesmo desmembrar os ativos da CSN e abrir o capital das empresas resultantes?
A CSN, como as grandes empresas brasileiras, precisa se tornar um conglomerado mundial. A ideia é que a CSN tenha os seus cinco negócios abertos em bolsas: mineração, siderurgia, cimento, infraestrutura e logística, e energia. É claro que é um negócio trabalhoso desmembrar uma empresa grande e transformar em cinco.
Quando isso vai acontecer?
A gente vai fazer uma de cada vez. O que está mais maduro é a mineração, mesmo porque nós temos uma outra empresa de mineração em parceria com japoneses, coreanos e chineses, que é a Namisa. Temos 60% e eles, 40%. A ideia é juntar Namisa com Casa de Pedra e abrir o capital. É um projeto de 110 milhões de toneladas de minério de ferro, uma quantidade muito significativa.
O sr. já tinha anunciado isso para o primeiro semestre. Não deu certo?
A gente está trabalhando bastante nisso. A Namisa tem vários sócios, até conseguir convergir para fazer a unificação dos negócios demora mesmo. Está demorando mais do que a gente previa. Mas todos estão de acordo que vale a pena. Acho que sai agora no segundo semestre.
Por que o sr. foi contra a filiação da Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA, uma sociedade entre a Vale e a alemã ThyssenKrupp) ao Instituto Aço Brasil? Anos atrás, fomos sócios da Thyssen Krupp num projeto aqui, mas houve divergências, compramos a parte deles e ficou por aí. Quando a Thyssen veio para o Brasil com a CSA, agora, tirou 200 pessoas da CSN de uma só vez. E tirou só da CSN. Eu fui no Instituto Brasileiro de Aço e coloquei a discussão. Disse na mesa: "Eu posso tirar 200 pessoas da Gerdau, posso tirar 200 pessoas da Usiminas, desde que pague mais."
Qual o problema, então?
Numa mesa em que nós sentamos para discutir estratégia, sermos amigos, não faz sentido um ficar agredindo o outro. Então, o instituto decidiu que a CSA só seria aceita quando começasse a produzir aço no País. Só que ela tentou entrar antes e outros membros quiseram aceitar. Daí eu falei: "Não foi isso o combinado lá atrás. Então, a gente sai e a CSA entra". Como pediram para ficar, a CSN se licenciou do instituto. Não fizemos isso por nós, mas por todos os brasileiros. Não pense que se formos para os Estados Unidos a gente chega lá fazendo estripulia no mercado deles. Não pode.

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Superar a dos EUA é questão de tempo.


UOL, 15/08/2010

China supera Japão e é a segunda maior economia mundial A economia japonesa se desacelerou no segundo trimestre e perdeu para a China o posto de segunda maior do mundo -- ao menos no período de abril a junho.
O PIB japonês cresceu 0,1% em relação aos três primeiros meses do ano, quando se expandiu em 1,1%, com a valorização do iene em relação ao dólar prejudicando o setor exportador e o consumo interno perdendo força.
O resultado é que o PIB japonês no segundo trimestre ficou em US$ 1,29 trilhão, ante US$ 1,34 trilhão dos rivais chineses, segundo cálculos do "Wall Street Journal".
Os dados de abril a junho (que ainda estão sujeitos a revisão) indicam que irá se confirmar a previsão do banco central chinês de que o país passará já neste ano o Japão como a segunda maior economia global.
Não que o dado possa ser considerado realmente surpreendente. O Japão passou todos os anos 1990 e a atual década com baixo crescimento (nesse período, só teve uma expansão anual maior que 3%), enquanto a China acumulou taxas de avanço de mais de um dígito -- até se tornar o principal motor da retomada global.
O próprio FMI prevê que a China irá passar neste ano o Japão como a segunda maior economia mundial, atrás apenas da dos EUA.
No ano passado, a distância entre os dois países era de US$ 150 bilhões (algo como o PIB anual do Chile). E a vantagem chinesa neste ano será de US$ 92 bilhões, prevê o Fundo, que calcula que o país terá um PIB de US$ 5,4 trilhões --o dos EUA chegará a US$ 14,8 trilhões.
Ainda que a distância do PIB per capita dos dois países seja enorme (o japonês, de US$ 40 mil, é quase dez vezes maior que o chinês), a vantagem de Pequim é um marco -- ainda mais levando em conta a rivalidade histórica entre as duas nações -- e algo impensável há 20 anos.
No fim da década de 1980, quando parecia que o Japão iria se tornar a maior economia do mundo, o PIB chinês representava menos de 7% do tamanho do japonês. Desde então, os chineses passaram Reino Unido, França e, em 2007, Alemanha.
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Folha de São Paulo, 31/07/2010

BC chinês diz que país é 2ª maior economia mundial
GUILHERME CHAMMAS
DE SÃO PAULO

A China anunciou ontem que superou o Japão e assumiu o posto de segunda maior economia do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. As declarações foram feitas por Yi Gang, vice-presidente do Banco Central da China, em entrevista à revista "China Reform".
Entretanto, Gang não explicou como chegou a essa conclusão, já que os resultados do PIB (Produto Interno Bruto) do Japão só serão divulgados em agosto. Em 2009, o PIB da China era de US$ 4,9 trilhões, 3% menor do que o do Japão (US$ 5,1 trilhões) e um terço menor do que o dos EUA.
O PIB chinês cresceu 11,1% nos primeiros seis meses de 2010 quando comparado com o mesmo período do ano passado, chegando a US$ 2,55 trilhões. "Com a expansão da base econômica, o crescimento vai se desacelerar gradualmente", diz Gang.
No dia 14, o governo chinês já anunciara que o crescimento da economia se desacelerou para 10,3% no segundo trimestre deste ano, pouco abaixo do previsto pelos analistas.
A expansão do país vem registrando uma média anual de mais de 9,5% desde 1978, quando adotou reformas econômicas. Para muitos, a ultrapassagem do Japão já era mais que prevista.

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Estamos agora exportando ferro e importando trilhos... Foi para isto que privatizaram a Vale e nossas siderúrgicas?
Cadê os resultados em produtos de valor agregado para a nação?
Vamos lá, gente! "Viva" o modelo neoliberal! "Viva" a privataria dos governos FHC!
Quem não tinha idéia do que seja um crime de lesa-pátria, estas privatizações são um bom exemplo perpetrado por esta súcia entreguista!
 
 
Folha de São Paulo, 04/07/2010
 
China constrói mais 2.000 km de metrô até 2015 RAUL JUSTE LORES
A China está construindo 2.000 quilômetros de metrô ao mesmo tempo, em 25 cidades diferentes. Dos 1.000 km atuais, chegará a 3.000 km em 2015. O custo da expansão é de US$ 146 bilhões.
O metrô de Xangai, inaugurado em 1995, já é o maior do mundo, com 420 km de extensão (Londres conta com 408 km). O transporte coletivo virou prioridade nacional pela poluição e pelos crescentes congestionamentos nas metrópoles chinesas, até recentemente transitadas apenas por bicicleta.
A terceira maior cidade do país, Guangzhou (com 14 milhões de habitantes), inaugurou 80 km de metrô desde 2006 e tem mais 130 km para inaugurar até o fim do ano.
Para ter uma ideia do feito chinês, São Paulo construiu apenas 66 km nas últimas quatro décadas; o metrô do Rio, iniciado em 1979, tem apenas 47 km.
Há modelos variados: concursos internacionais para estimular parcerias entre empresas estrangeiras e estatais; participação e financiamento de empresas de Hong Kong; e disputa entre empreiteiras locais, com pesadas multas contra atrasos.
O quilômetro da rede em Pequim e Xangai custa entre 450 milhões e 500 milhões de yuans (de R$ 112,5 milhões a R$ 125 milhões).
"Temos uma orientação para que 70% do vagão seja feito na China, das poltronas à iluminação", disse à Folha Shi Zhongheng, 81, engenheiro-chefe da estatal Corporação de metrôs da China.
A China começa a exportar essa indústria. Os trilhos da linha 4 paulistana são de fabricação chinesa (com ferro brasileiro exportado à China). O Rio vai importar trens da potência asiática.
Na maioria dos casos, as empresas vencedoras dos concursos públicos têm o direito de explorar o metrô por cem anos depois de construí-lo. Elas são responsáveis por desapropriar e despejar moradores nas áreas em que serão abertos os poços de escavação ou de ventilação.
"O metrô é levado aonde há densa concentração residencial para ser utilizado pelo máximo possível de pessoas, antes que elas decidam comprar carros", diz o engenheiro Shi. "Cada novo distrito empresarial só é aprovado se tiver metrô por perto."
Nas três maiores cidades chinesas, as estações já são anunciadas em inglês, mandarim e nos idiomas locais (xangainês e cantonês).
Há telões com a tecnologia LED para anúncios nos vagões e funcionários ensinando o chinês a fazer fila.
O metrô é bem subsidiado na China e ganhou um empurrão com o pacote de estímulo da economia, lançado em 2008. A passagem em Pequim e Guangzhou custa dois yuans, ou R$ 0,50.
LONGO PRAZOO engenheiro Shi Zhongheng, 81, chefe da estatal Corporação Metrôs da China, personifica o planejamento a longo prazo.
Shi foi enviado por Mao Tsé-tung em 1963 para conhecer como funcionavam os sistemas mais avançados de metrô no mundo. Ficou encantado com o que viu em Tóquio e Paris.
Hoje, ele chefia o comitê de especialistas que coordena os metrôs em oito cidades. "Começamos o metrô de Pequim em 1965, mas só engrenou nos anos 90.", diz.
Agora, ele diz que é hora de inovar. No metrô de Chongqing, maior região metropolitana do país (com 31 milhões de habitantes), os trens correm por um trilho em vez dos dois habituais.
No Brasil, entre 1968 e 1982, a ditadura militar construiu apenas 30 km da rede do metrô paulistano
. Atualmente, o quilômetro do metrô paulistano é 60% mais caro que o pequinês.
(RJL)
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Folha de São Paulo, 21/06/2010
 
Mão de obra começa a se rebelar na China Por DAVID BARBOZA e HIROKO TABUCHI

XANGAI - O poder de barganha que o exército de mão de obra barata da China está adquirindo com a ajuda de greves, suicídios e pressão do governo está mudando a dinâmica empresarial do país.
Salários mais altos e melhores condições de trabalho poderão levar algumas empresas a considerar transferir a produção para outros lugares, enquanto tornam a China um mercado mais atraente para seus produtos
.
"Companhias que buscavam na China apenas custos menores precisam mudar de rumo", disse Tomoo Marukawa, especialista em economia chinesa na Universidade de Tóquio.
Após anos concentrado em atrair investimento estrangeiro, o governo chinês está apoiando esforços para melhorar as condições dos trabalhadores e aumentar os salários.
Analistas dizem que Pequim silenciosamente aceita a necessidade de modificar seu modelo industrial de baixo custo, esperando estimular o consumo interno, reduzir a enorme disparidade de renda entre ricos e pobres e evitar tumultos sociais por causa dos preços crescentes dos alimentos e da moradia.
Ma Jun, economista de Hong Kong, disse que muitas cidades e Províncias chinesas logo aumentarão seus salários mínimos entre 10% e 20%. Trabalhadores fabris no sul da China hoje ganham cerca de US$ 0,75 por hora.
"O aumento mais rápido que o esperado do custo da mão de obra tornou-se um imperativo político", disse Ma em um relatório.
Analistas dizem que a pressão salarial também vem da disseminação do sucesso econômico no país e da falta de mão de obra nas cidades costeiras, enquanto o índice de nascimentos em declínio reduz o número de jovens que entram na força de trabalho.
Em consequência, dizem economistas, a mão de obra chinesa torna-se cada vez mais ousada.
No ano passado, os trabalhadores fizeram greves periódicas no sul da China -algumas supostamente envolvendo empresas globais. Embora esses atos tenham sido resolvidos pacificamente, as greves recentes nas fábricas da Honda atraíram atenção considerável do público.
A companhia japonesa ofereceu aos trabalhadores aumentos de 24% a 32%, elevando o salário médio mensal para cerca de US$ 300. Mas, poucos dias depois, foi novamente alvo da inquietação trabalhista.
Uma nova passeata, em uma fábrica de escapamentos na cidade de Foshan, obrigou a Honda a parar o trabalho em 1 de suas 4 montadoras na China. Pelo menos dois fornecedores de peças também foram afetados.
Outro grande empregador na China que enfrenta questões trabalhistas, a Foxconn Technology -uma enorme fabricante de produtos eletrônicos que também anunciou aumentos salariais recentemente- disse que está reconsiderando a maneira como dirige suas operações, por causa das críticas a suas práticas no local de trabalho.
A Foxconn, que teve nove suicídios entre trabalhadores em seus enormes campi na metrópole meridional de Shenzhen, disse que poderá entregar a administração de alguns dormitórios de funcionários para governos locais na China.
"Como a Foxconn é uma empresa comercial que opera como sociedade, somos responsáveis por quase tudo sobre nossos trabalhadores, incluindo emprego, alimentação, dormitório e até relacionamentos pessoais", disse Arthur Huang, porta-voz da Foxconn. "Isso é demais para uma única empresa."
Depois dos suicídios, sociólogos pediram o fim do "modelo de desenvolvimento que sacrifica a dignidade humana".
A Foxconn, subsidiária da Hon Hai Precision Industry, de Taiwan, que fabrica equipamentos para empresas como Apple, Dell e Hewlett-Packard, disse que pretendia duplicar os salários de muitos de seus 800 mil trabalhadores na China para cerca de US$ 300 por mês.
A companhia disse que transferirá os custos aos clientes.
Muitas empresas globais -incluindo Daimler-Benz, Ford, Coca-Cola e PepsiCo- têm operações na China que poderiam ser vulneráveis à inquietação trabalhista.
Para as principais exportadoras do Japão, as greves na Honda serviram para deixar claro que as rendas e as expectativas dos chineses aumentam junto com o rápido crescimento do país, enquanto a situação econômica do Japão vacila, e os dois países sofrem um realinhamento que vai modificar a interação de suas economias.
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Folha  de São Paulo,  20/06/2010
 
Chinês "aperta cinto" em visita ao Brasil
Fábio Rossi

Comitiva de empresários e políticos chineses visita o porto do Açu, do empresário Eike Batista, em São João da Barra (RJ)

JULIO WIZIACK
DE SÃO PAULO

O vice-presidente mundial da fabricante chinesa de automóveis Chery, Zhou Biren, 53, só viaja ao Brasil de classe econômica, hospeda-se em hotel três estrelas e faz suas refeições em restaurantes fora dos guias gastronômicos.
É com esse estilo "cinto apertado" que ele negocia a instalação de uma fábrica no país. Três cidades estão na disputa. A receita da companhia é gastar o mínimo para repassar a "economia" de custo aos preços.
Diferentemente dos executivos americanos e europeus, que dispõem de benefícios como passagens aéreas em primeira classe e hotel cinco estrelas, os chineses gastam com parcimônia. Só não economizam na hora de investir.
Neste ano, eles já investiram US$ 12 bilhões no Brasil e há pelo menos US$ 45 bilhões em linhas de financiamento disponíveis na China para novos negócios.
Para atender os chineses em suas particularidades, hotéis nas grandes capitais já começam a se adaptar. Incluem, por exemplo, garrafa térmica nos quartos e até fogões para que os executivos preparem suas refeições.
Não é somente uma questão de economia. Devido à diferença de fuso horário, eles trabalham no Brasil durante o dia, fazem compras, voltam ao hotel, preparam suas refeições e continuam na ativa aproveitando o início do expediente na China. Por isso, preferem flats.
No almoço, trocam o restaurante por quilo pela comida chinesa após o terceiro dia de permanência. Em São Paulo, procuram restaurantes na Liberdade. No Rio, o preferido é o Chinese Palace, na orla de Copacabana.

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O Globo, 21/05/2010
 
Estatal chinesa Sinochem compra fatia de 40% em campo de petróleo no Brasil por US$ 3 bi
Menos de uma semana depois de um investimento de US$ 3,097 bilhões na compra do controle de sete empresas de energia no Brasil, a China deu mais um passo em sua estratégia de ampliar seus negócios no país. A estatal chinesa Sinochem adquiriu, por US$ 3,07 bilhões, uma fatia de 40% num campo marítimo de petróleo da Statoil no Brasil, segundo comunicado publicado no site da empresa norueguesa.
"A transação confirma a alta qualidade do campo de Peregrino, refletindo o valor adicionado da Statoil durante o desenvolvimento do campo", afirmou o diretor-executivo da Statoil, Helge Lund, no documento.
A Statoil vai manter participação majoritária de 60% no campo de Peregrino, localizado na bacia de Campos, com início de produção previsto para 2011.
No comunicado, a Statoil destaca que o Brasil continua sendo uma área fundamental para a estratégia internacional da companhia. A empresa se mantém comprometida com o desenvolvimento de Peregrino e está disposta a "explorar mais oportunidades de crescimento na região".
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Folha de São Paulo, 18/05/2010
 
Superpotência mira outros setores no país DA REPORTAGEM LOCAL
Embora estejam interessados em recursos minerais que sirvam de insumos para sustentar seu crescimento, a China quer mais do Brasil.
Os chineses já estão negociando acordos nos setores farmacêutico, alimentício e de produção de bens duráveis de consumo, como automóveis e eletroeletrônicos.
É o que afirma Alessandro Teixeira, presidente da ApexBrasil, agência de estímulo aos investimentos estrangeiros no Brasil. Segundo ele, esses acordos estão sendo fechados.
"Primeiro eles queriam testar o mercado brasileiro vendendo seus importados", diz Teixeira. "Em alguns setores ainda será dessa forma. Mas há outros em que eles querem montar fábrica."
Isso aconteceu, por exemplo, com os veículos. Chery e Lifan são duas das montadoras que planejam ter linhas de produção no país.
Ainda segundo Teixeira, gigantes chinesas de eletroeletrônicos também querem ter fábricas no Brasil.
No ramo de informática, há um projeto de parceria com o Brasil para competir com a Índia pelo mercado de TI (Tecnologia da Informação), principalmente no desenvolvimento de softwares (programas).
No setor alimentício, os chineses já estão adquirindo grandes propriedades rurais associados a brasileiros para garantir o fornecimento de alimentos à China.
Na área farmacêutica, os chineses estão mais cautelosos. A Folha apurou que eles estudam as possibilidades oferecidas no país para uma possível aquisição no segmento de genéricos. Nos EUA, eles já ganharam 10% desse mercado.

A rapidez com que os chineses avançam no Brasil se explica, em parte, pela fórmula que atrela investimentos e linhas de crédito em troca de incrementos nas transações comerciais.No Brasil, bancos chineses liberaram US$ 10 bilhões em financiamentos à Petrobras, que, em troca, ficou comprometida a aumentar o fornecimento de petróleo à China por mais oito anos. Para a Oi, foi liberado US$ 1,3 bilhão e a operadora passou a adquirir mais equipamentos de telecomunicações da Huawei.
Essa é a primeira forma de entrada dos chineses em um país. Mas, quando existe interesse estratégico, eles oferecem investimentos diretos. É o caso do Brasil, onde têm parceria com a Petrobras, da Venezuela e do Equador, onde eles querem construir uma usina hidrelétrica. (JULIO WIZIACK)

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Os norte-americanos fazendo guerras mundo à fora e estes caras só comprando.....

Folha de São Paulo, 18/05/2010
 
China compra empresas de energia no Brasil por R$ 3 bi FABIANO MAISONNAVE
DE PEQUIM

A gigante elétrica chinesa State Grid anunciou anteontem um acordo para a compra de sete concessionárias de energia no Brasil, atualmente sob o controle das espanholas Cobra, Elecnor e Isolux.
Se ratificado pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), o negócio será o maior investimento do país asiático já feito no Brasil.
A compra, de R$ 3,097 bilhões, envolve a aquisição de todas as ações das seguintes empresas transmissoras de energia, segundo comunicado da empresa: Ribeirão Preto, Serra Paracatu, Poços de Caldas, Itumbiara e Serra da Mesa.
A estatal chinesa de energia elétrica deve ter ainda 75% da Expansión Transmissão de Energia Elétrica e da Expansión Itumbiara Marimbondo. Em ambos os casos, a espanhola Abengoa, que tem os demais 25%, tem um prazo de 60 dias para contestar o acordo.
Até agora, o maior investimento chinês no país é a compra da mineradora da Itaminas por US$ 1,2 bilhão, em março, adquirida pela ECE, também estatal.
Caso aprovada pela Aneel, a transação marcará também a entrada da State Grid no Brasil. Maior empresa de transmissão de energia do mundo, a estatal é responsável pelo abastecimento de 88% do território chinês, o país mais populoso do mundo, com pouco mais de 1,3 bilhão de pessoas.
O interesse da State Grid e de outras estatais chinesas no Brasil marca uma nova onda de investimentos asiáticos no país, iniciada no final do ano passado, em que as cifras deixaram a casa dos milhões para passar à dos bilhões.
O projeto mais ambicioso são as negociações entre a EBX, do empresário Eike Batista, e a Wisco, gigante estatal da mineração, para construir o Complexo Siderúrgico de Açu. O investimento, estimado em cerca de US$ 5 bilhões, teria 70% de participação chinesa.
As negociações ocorrem depois da compra, no final do ano passado, de 21,52% da MMX, de Batista, pela Wisco, um negócio de US$ 400 milhões.
As estatais chinesas também estão demonstrando interesse pelo petróleo, que, como o minério de ferro, é considerado fundamental para que o país asiático mantenha o seu ritmo de crescimento.

Bacia de Campos
Na semana passada, o jornal americano "Wall Street Journal" revelou que duas petroleiras estatais chinesas, a Cnooc (a maior produtora de petróleo "offshore" da China) e a Sinochem, fizeram duas propostas separadas para a compra de 40% do campo Peregrino, na bacia de Campos, hoje pertencente à norueguesa Statoil.
Ainda de acordo com a publicação, o resultado da venda deve sair em breve. Procuradas pela reportagem da Folha desde a semana passada, nenhuma das empresas se manifestou sobre o assunto.
Até o início do ano, os investimentos pesados chineses só ficavam na promessa. A situação começou a mudar no primeiro trimestre de 2010, quando a China ficou em 5º lugar, atrás de EUA, Bermudas, Países Baixos e França.
O maior investimento do trimestre foi entre a Wisco e o grupo de Eike Batista.
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Voltaire, 10/05/2010
 
O caminho de Washington para a ruína
EUA – China: Provocar o credor e abraçar o "santo"

por James Petras*

A administração Obama tem intensificado tensões com a China através de uma série de medidas que só podem ser caracterizadas como grandes provocações destinadas a minar as relações entre os dois países. Estas provocações incluem apoio político a movimentos separatistas, tais como o monge teocrático financiado pelos EUA que lidera os secessionistas tibetanos e os secessionistas uigures baseados em Washington, assim como através dos US$6,4 mil milhões de vendas de armas avançadas a Formosa, um protectorado virtual da US Navy.
O presidente Obama encontrou-se publicamente e apoiou estes grupos separatistas e secessionistas, jactando-se da recusa de Washington em reconhecer as fronteiras existentes da China. Isto é parte da estratégia estado-unidense de encorajar a ruptura física de países independentes, as quais são encaradas como "obstáculos" para o seu programa de construção do império militar global.
Além de continuar e escalar as políticas hostis do seu antecessor, a administração Obama tem explorado várias outras questões a fim de mobilizar a opinião pública americana e de aliados além-mar em respaldo da sua postura de confrontação. Primeiro, a administração Obama afirma que a divisa da China (o Renminbi) está artificialmente subavaliada a fim de dar uma vantagem injusta às exportações chinesas, portanto enfraquecendo as exportações manufactureiras dos EUA a um custo de "milhões de empregos americanos". Em segundo lugar, a administração afirma que, depois de os EUA terem aberto o seu mercado manufactureiro interno para firmas chinesas, os chineses deveriam reciprocamente fazer o mesmo e abrir os seus sectores financeiros aos bancos de investimento da Wall Street.
Em retaliação às crescentes exportações chinesas, Washington elevou as tarifas protectoras sobre tubos de aço e pneus para automóveis, e emitiu ameaças do Congresso de novas medidas proteccionistas.
Os EUA têm insistido em que outros países apoiem a sua política agressiva em relação ao Irão, incluindo imposições ao comércio, ao investimento e sanções financeiras, apoiando a provocatória acumulação naval estado-unidense nos Golfo Pérsico e apoiando também as ameaças belicosas de Israel de bombardear Teerão. Em contraste, a China rejeita sanções económicas, preferindo negociações, enquanto aumenta o seu comércio e investimentos em sectores estratégicos da economia iraniana. Nos Conselho de Segurança das Nações Unidas, os EUA têm exercido pressão diplomáticas e dos mass media para forçar a China a votar por uma proposta de autoria sionistas de sanções de grande alcance contra o Irão. Obama recusa-se a aceitar a rejeição da China da política orientada pela óptica militar de mudança de regime, bem como a busca chinesa de comércio livre com o Irão.
A definição selectiva da administração estado-unidense do que é "auto-determinação" inclui dar apoio a movimentos regionais secessionistas étnico-religiosos na China, enquanto, ao mesmo tempo, invade e ocupa estados independentes, como o Iraque e Afeganistão, ordenando ataques de mísseis a outros estados, como o Paquistão e a Somália, estabelecendo mais de 700 bases militares por todo o mundo com jurisdição extra-territorial e empenhando-se em assassínios dos seus opositores no exterior através da CIA e de Forças Especiais.
Em contraste, a China não está em guerra e opõe-se a invasões militares de estados soberanos. A China não tem bases militares além-mar e está ameaçada pela política dos EUA de cercar as suas fronteiras com bases americanas em estados clientes na Ásia Nordeste, Sudeste e Central.
Enquanto forças de ocupação militar dos EUA violam brutalmente direitos humanos de milhões de cidadãos em países ocupados ou alvos, e ameaçam os direitos civis de americanos críticos com regras arbitrárias, julgamentos secretos e a suspensão do habeas corpus, o regime Obama critica duramente a China pelo seus processos a activistas da oposição.
O regime Obama imiscuiu-se dentro de um conflito entre uma corporação privada estado-unidense, a Google, e hackers chineses, os quais alega serem patrocinados pelo estado, transformando a questão numa grande luta pela "liberdade de expressão" ao nível de relações de estado para estado. Apesar da presença em expansão de montes de companhias de tecnologias da informação de propriedade americana na China, o regime Obama levantou a questão da "censura à internet" ao nível de uma confrontação ideológica importante.
As alterações climáticas são outra fonte de agravamento da tensão entre os estados. Na cimeira de Copenhaga, em Dezembro de 2009, Obama rejeitou qualquer acordo forma sobre a redução de emissões de carbono enquanto desviava crítica e culpava a China e outros países em desenvolvimento, os quais haviam acordado objectivos informas significativos sobre reduções de CO2.
De todos estes pontos contenciosos, o mais sério é o apoio financeiro, diplomático e político de Washington a grupos secessionistas étnicos na China, a ameaçar a segurança e integridade territorial do estado chinês. Esta questão transcendental redespertou memórias penosas de imperialistas anteriores a retalharem a China, suas ricas cidades portuárias e território, e forçou as autoridades chinesas a considerarem medidas retaliatórias.

Políticas imperiais: a que preço?

As provocações políticas e diplomáticas do regime Obama contra a China na busca do seu império militar custam um preço muito alto real e potencial. Não podemos assumir que a China permanecerá como um estóico saco de pancada para os EUA, absorvendo ameaças potenciais, pressões económicas e insultos diplomáticos gratuitos sem tomar contra-medidas, especialmente na esfera económica.

O papel crucial da china como credor dos EUA

A postura provocativa e militarista de Obama em relação à China põe em perigo grandes interesses económicos privados e públicos dos EUA, incluindo o financiamento da China à florescente dívida estado-unidense.
A China é o maior dos investidores do mundo em títulos dos EUA. Segundo um estudo pormenorizado do Congressional Research Service (CRS) (30/Julho/2009), a China possui um vasto montante de dívidas a longo prazo do Tesouro, a agência dos EUA da dívida, dívida corporativa dos EUA, acções e dívida da curto prazo dos EUA estimadas em mais de US$1,2 trilhão. O investimento da China em títulos do Tesouro dos EUA foi utilizado para ajudar a financiar a (medíocre) "recuperação" económica. Se o regime Obama persistir nas suas provocações, a China pode decidir descarregar uma grande parte dos seus haveres em títulos dos EUA, induzindo outros investidores estrangeiros a venderem também os seus haveres (CRS op cit.). Isto levaria a uma drástica depreciação do dólar e forçaria Washington a elevar taxas de juro, as quais poderia conduzir os EUA a uma mais profunda recessão/depressão. Economistas, os quais afirmam que os interesses económicos chineses sofreriam com uma tal liquidação, ignoram o facto de que para Pequim a soberania nacional é mais importante do que perdas económicas a curto prazo, especialmente tendo em vista o apoio estado-unidense a movimentos secessionistas. Além disso, os chineses têm altas taxas de poupança, enormes reservas estrangeiras e mercados cada vez mais diversificados assim como fornecedores de commodities essenciais. A China está numa posição melhor para absorver o "choque" de um declínio nas relações económicas com os EUA resultante da belicosidade americana do que a economia norte-americana infestada de dívida, com poupança negativa e de orientação militar.

Investimentos directos estrangeiros

Entre as 400 maiores corporações multinacionais dos EUA listadas na Forbes, quase todas têm investimentos lucrativos na China, os quais estão a crescer. A posição cada vez mais confrontacional do regime Obama em relação à China coloca estes investimentos em risco.
Os investimentos estrangeiros dos EUA na China excedem muito os investimentos desta nos EUA, segundo um relatório publicado pelo Centro de Estudos Asiático-Americanos da UCLA. Em 2006, o investimento directo estrangeiro (IDE) da China nos EUA era de US$600 milhões, ao passo que os investimentos dos EUA na China eram de US$22,2 mil milhões. O relatório chega a declarar "...as queixas de muitas homens de negócio e políticos americanos de que a China pode investir com relativa facilidade em companhias dos EUA enquanto a China ainda restringe duramente o acesso a mercados e companhias chinesas parece não ser confirmado pelos números". O governo americano, de facto, bloqueou vários investimentos em grande escala de companhias chinesas, incluindo a compra por muitos milhares de milhões de dólares de uma companhia petrolífera (UNOCAL), de uma companhia de aparelho eléctricos (Maytag) e de uma companhia de computadores (3Com Corp). Os investimentos chineses nos EUA não são sempre lucrativos. O Fundo de Riqueza Soberana (um fundo de investimento dirigido pelo governo chinês) perdeu em menos de um ano mais de 50% do seu investimento de US$8 mil milhões de dólares nos grupos financeiros Blackstone Group e Morgn Stanley.
O regime de Obama queixa-se acerca do tratamento "restritivo" de companhias americanas em aberto desafio à realidade económica. Os ataques são parte de uma estratégia política de propaganda anti-chinesa para aumentar o antagonismo do público americano contra a China e mobilizar apoio interno para qualquer confrontação militar. Mesmo quando companhias dos EUA arrecadam lucros um milhar de vezes maiores do que os investimentos chineses nos EUA, e as principais casas de investimentos trapaceiam investidores chineses em milhares de milhões, a Casa Branca grita delito!
A muito difamada política da China de restringir takeovers financeiros por firmas da Wall Street foi uma das razões de o colapso especulativo dos EUA não haver tido impacto na sua economia. E ainda assim Washington continua a atacar Pequim acerca da questão da "abertura dos mercados financeiros chineses à Wall Street".

Comércio EUA-China

O regime Obama levantou reiteradamente a questão da divisa "subavaliada" da China, ignorando convenientemente o facto de que as importações da China provenientes dos EUA estão a crescer mais depressa do que as suas exportações para os EUA. Além disso, o facto de a exportações dos EUA para a China incluírem um conjunto variado de sector manufactureiros e serem competitivos à actual taxa de câmbio sugere que o vasto défice comercial dos EUA com a China tem menos a ver com a política cambial chinesa e mais a ver com políticas de investimento públicas e privadas e com as capacidades relativas das forças produtivas de cada economia. Em grande medida, a maioria das exportações da China para os EUA são o resultado de decisões corporativas de multinacionais de produzir e subcontratar na China. Por outras palavras, o défice comercial com a China está relacionado directamente com a estratégia de investimento global das corporações estado-unidenses, as quais, por sua vez, floresceram depois de o governo dos EUA ter liberalizado regras e desregulamentado a conduta dessas corporações. Políticas de investimento liberais sob o governo dos EUA, e não "regras comerciais injustas" dos chineses, são a causa principal do défice comercial.
A postura raivosa adoptada pelo regime Obama em relação à divisa "subavaliada" da China é uma trama política para desviar a atenção das suas desastrosas políticas económicas liberais e o seu apoio para a conduta de investimento de grandes corporações dos EUA.
O défice comercial anual dos EUA com a China cresceu quase quatro vezes entre 1999 e 2008, de US$68,7 mil milhões para US$266,3 mil milhões. O crescimento do défice comercial coincide com a mudança maciça do investimento estado-unidense da manufactura para a especulação financeira, imobiliária e em actividades de seguros. Por outras palavras, os EUA re-direccionaram suas estratégias de investimento da produção de mercadorias utilizáveis e de qualidade para o consumo interno e exportação em favor da importação de bens manufacturados do exterior com um maior lucro para as corporações. O enfraquecimento da capacidade produtiva dos EUA – suas forças produtivas – reflectiu-se na sua posição competitiva declinante e no aprofundamento dos seus desequilíbrios comerciais. Dadas as estreitas relações entre a Casa Branca e a Wall Street, os decisores políticos procuram culpar responsáveis monetários chineses por uma divisa subavaliada, ao invés de encarar a bolha da economia estimulada pelas políticas do Federal Reserve e geradas pelas casas de investimento da Wall Street, cujos executivos avançam na ocupação de postos económicos chave no governo dos EUA e que proporcionam substanciais financiamentos para campanhas eleitorais.
Naqueles sectores económicos em que o investimento dos EUA levou a eficiência acrescida, como a agricultura, os EUA tem competido com êxito. A China é o principal comprador da soja e do algodão americano – o que representa mais da metade das vendas mundiais da primeira e um terço da última conforme a U.S. International Trade Commission e o Departamento do Comércio dos EUA.

Comércio, crédito, investimento versus militarismo e especulação

As relações económicas da China com os EUA têm sido extraordinariamente lucrativas e favoráveis para os grandes capitalistas estado-unidenses e o governo americano. Ao comprar títulos do US Treasury com juros baixos, a China tem financiado o comércio e os défices orçamentais dos EUA, os quais são o resultado de gastos militares exorbitantes, múltiplas guerras e ocupações imperiais e investimentos especulativos não produtivos. As multinacionais dos EUA têm obtido altas taxas de lucro com os seus investimentos na China, lucros muito além do que teriam ganho nos EUA e muitas vezes maiores do que umas poucas firmas chinesas ganham no clima mais restritivo dos EUA. Importantes sectores económicos dos EUA na indústria aero-espacial, agronegócio, instalações portuárias, transportes e retalhistas comerciais gigantes e importadores dependem e lucram com o comércio com a China. Os especuladores estado-unidenses têm sido capazes de arrecadar lucros enormes com os Fundos Soberanos Chineses ao bombearem e descarregarem acções especulativas dos EUA.
Como a dinâmica de crescimento da China e a taxa de procura do consumidor continuam a correr à frente da dos EUA, as exportações americanas para a China ultrapassam as suas importações da China.
O crescente antagonismo político e as precipitadas acções diplomáticas contra a China tomadas pela Casa Branca e o Congresso servem para minar os interesses económicos básicos de um vasto feixe de empresas capitalistas dos EUA bem como a credibilidade da economia estado-unidense. O que é ainda mais impressionante é o facto de que muitas das acusações apontadas contra Pequim, incluindo o seu "tratamento injusto" de investidores e a alegada "economia fechada" – aplicam-se com maior força a Washington.

O paradoxo do ganho económico e da hostilidade política

A chave para o entendimento deste paradoxo de ganho económico e hostilidade política jaz nas estruturas económicas e nas estratégias globais fundamentalmente diferentes dos dois países. A economia dos EUA tem sido conduzida pelas suas classes capitalistas financeiras e especulativas, as quais por sua vez exercem influência política decisiva sobre a política económica do estado. Ao mesmo tempo, a classe capitalista comercial está mais sintonizada com a importação de bens manufacturados, ao invés de investimento a longo prazo em investigação e desenvolvimento no sector manufactureiro americano. Nem o capital comercial nem o financeiro tem um interesse em estimular exportações estado-unidenses e em investir nas forças produtivas do país. A concepção e execução da estratégia global dos EUA é controlada pelos militaristas civis e pelos ideólogos imperiais (especialmente os sionistas) no governo e os seus contrapartes em sector do alto comando militar.
Em contraste com a busca chinesa do poder global orientada pelo mercado, o imperialismo estado-unidense é construído em torno da conquistas militar e da apropriação de riqueza económica. A influência desproporcionada exercida pelos militaristas civis no governo dos EUA resultou numa série de guerras no estrangeiro, as quais deformaram severamente a economia do país e levaram a uma definição militar dos objectivos globais estado-unidenses. Confrontada com as crescentes relações económicas e influência da China na Ásia, África, América Latina e Médio Oriente e a oposição de Pequim às políticas imperiais de orientação militar dos EUA contra o Irão, Washington escalou suas provocações políticas, pressões diplomáticas e interferência nos assuntos internos chineses. Como estas pressões externas aumentam, a opinião pública chinesa torna-se mais nacionalista, o que por sua vez serve de base para acusações de "xenofobia" e "chauvinismo" por parte dos mass media dos EUA. A natureza irracional da recente propaganda anti-China promovida pelos mass media é mais evidente nas estridentes advertências de uma ameaça militar chinesa à segurança asiática, especialmente quando os EUA continuam a expandir a sua cadeia de bases militares que cercam a China desde a Coreia do Sul, Japão, Filipinas, Austrália, Afeganistão e Ásia Central. A China não tem nem bases militares no estrangeiro nem frotas navais junto às costas de qualquer território dos EUA ou de aliados seus.
Quanto maior a confiança dos EUA na força militar, em sanções económicas brutais e em bloqueios totais para derrubar regimes e estender a sua rede de regimes clientes, maior a sua hostilidade em relação à China, a qual está a expandir os seus laços económicos com "adversários" dos EUA, tais como o Irão, Venezuela, Nicarágua, etc.
Os EUA enfraqueceram gravemente as suas forças produtivas no processo de financiar uma máquina militar global. A China, por outro lado, tem procurado tornar-se uma potência mundial na base do desenvolvimento a longo prazo e em grande escala das suas forças produtivas, mesmo com a oposição dos EUA. Em todas as ocasiões Washington perdeu enorme oportunidades para a economia dos EUA decorrentes do crescimento dinâmico da China, de mercados florescentes e da expansão económica além-mar, em favor de pequenas provocações.

Conclusão

Em última análise o que temos é um conflito entre dois sistemas político-económicos diametralmente opostos. Por um lado, um império dos Estados Unidos de orientação militar, o qual centra-se em conquistar o Iraque, o Afeganistão e o Irão, apoia as ambições de um Israel militarista, procura estados clientes marginais na América Latina e militariza o Paquistão, a Colômbia e o México. Pelo outro lado, a China aprofunda seus laços económicos com países asiáticos dinâmicos, aumenta suas ligações petrolíferas com a Arábia Saudita, Irão, os Estados do Golfo, a Venezuela, Rússia e Angola, desloca os EUA como principal parceiro comercial do Brasil, Argentina, Peru e Chile; e aumenta suas ligações de comércio e investimento com a África do Sul em minerais e projectos relacionados de infraestrutura. O contraste é gritante.
A expansão económica global da China é confrontada pelo cerco militar dos EUA, provocações diplomáticas e uma campanha de propaganda anti-chinesa maciça concebida para desviar a atenção pública dos EUA dos desequilíbrios extremos na sua economia interna. Ao invés de olhar para dentro a fim de entender porque os EUA estão a declinar, o regime Obama encoraja o público a culpar as políticas comerciais supostamente incorrectas da China, suas políticas de investimento "restritivas", sua taxa de câmbio manipulada e a sua resposta dura a movimentos secessionistas financiados pelos EUA.
No final das contas os EUA não resolverão os seus défices orçamentais e os seus desequilíbrios comerciais, para não mencionar suas infindáveis guerras imperiais, através do recurso a auto-descritos dirigentes divinais, como o Dalai Lama, e a provocar uma potência económica dinâmica tal como a China. Nem tão pouco pode Washington escapar aos seus profundos desequilíbrios económicos satisfazendo especuladores da Wall Street e ignorando o declínio das forças produtivas da América. Aviões sem piloto, escaladas militares e exércitos fantoches substitutos empenhados em guerra infindáveis não são contra-peso a escalada de investimentos, desenvolvimento de mercados fortes e joint ventures que ligam a China às economias emergentes dinâmicas do mundo.

James Petras
Sociólogo da Universidade de Binghamton, em Nova York
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O Estadão Online, 08/05/2010
 
Empresas chinesas vão aos EUA em busca de custo baixo Sílvio Guedes Crespo
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Capa da Fortune desta semana
“Yes, you read that right” – “sim, você leu corretamente”, diz a reportagem de capa da revista Fortune desta semana.
Muitas empresas chinesas decidiram seguir o caminho inverso ao que vem sendo traçado nos últimos anos, em que as grandes companhias norte-americanas transferiram seus investimentos para a China, cortando empregos nos Estados Unidos e abrindo vagas no país asiático.
Atualmente, 33 instâncias do poder público norte-americano, entre Estados, municípios e distritos, enviam representantes à China para oferecer incentivos às empresas do país asiático, segundo a revista.
De outro lado, Pequim quer internacionalizar suas companhias e oferece financiamento de até 30% dos investimentos iniciais no exterior.
Com essa combinação, as companhias chinesas já investiram US$ 5 bilhões nos EUA em 2009, de acordo com dados da consultoria Rhodium Group, levantados a pedido da Fortune. A mão-de-obra continua sendo muito mais cara nos EUA, mas outros custos são menores e acabam viabilizando a entrada de determinadas empresas.
A chinesa Yuncheng Gravure Cylinder, por exemplo, escolheu o Estado da Carolina do Sul, para instalar sua fábrica. Nos EUA, ela conseguiu um terreno por US$ 350 mil, um quarto do preço encontrado na região fabril de Xangai. Em consumo de energia elétrica, a mesma empresa gastaria 14 yuans por kilowatt-hora na China; na Carolina do Sul, paga o equivalente a 4 yuans, segundo a reportagem.
A China ainda investe relativamente pouco nos EUA (o Japão, por exemplo, aportou US$ 148 bilhões no país ocidental em 1991), mas os US$ 5 bilhões de 2009 representam um salto em relação à média de recursos que o país vinha colocando em Washington, em torno de US$ 500 milhões anuais.
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O Estado de São Paulo, 27/03/2010
 
China ultrapassou EUA como maior investidor em energia limpa em 2009

A China ultrapassou os Estados Unidos em 2009 se tornando o maior investidor em tecnologia de energias renováveis, segundo um relatório divulgado nos Estados Unidos.
Os pesquisadores do instituto americano Pew calculam que a China investiu US$ 34 bilhões (cerca de R$ 62 bi) em energia limpa no ano passado, quase o dobro do investimento realizado nos Estados Unidos.
O Brasil ficou em quinto lugar na lista entre os países do G20, tendo investido aproximadamente R$ 13,2 bilhões, atrás da China, EUA, Grã-Bretanha e Espanha.
O crescimento mais espetacular ocorreu na Coreia do Sul, onde a capacidade instalada cresceu 250% nos últimos cinco anos.
Globalmente, o investimento mais do que dobrou nos últimos cinco anos, afirma o Pew, que concluiu que a recente crise econômica provocou apenas uma pequena queda nesses investimentos.
"Mesmo em meio a uma recessão global, o mercado de energia limpa passou por um crescimento impressionante", afirma Phyllis Cuttino, diretora da campanha sobre mudanças climáticas da instituição.
"Os países estão disputando a liderança", disse ela.
"Eles sabem que o investimento em energia limpa pode renovar suas bases manufatureiras e criar oportunidades de exportação, empregos e negócios."
Os Estados Unidos ainda mantêm uma pequena liderança na capacidade total instalada, mas se a tendência continuar em 2010, a China deverá ultrapassar o país ainda neste ano.
Diversificando
A meta do governo chinês de ter 30GW de capacidade de energia renovável instalados até 2020 está para ser cumprida em breve com o uso apenas de energia eólica (do vento), e novas metas já estão sendo estabelecidas.
"O governo tomou a decisão estratégica de que diversificar suas fontes de energia deveria ser uma prioridade nacional", comentou Steve Sawyer, secretário-geral do Conselho Global de Energia Eólica (GWEC, na sigla em inglês), que não participou da análise do Pew.
"Ela é agora líder na fabricação de células fotovoltaicas (de energia solar), e são fabricadas mais turbinas eólicas na China do que em qualquer outro país."
A energia eólica foi o setor dominante na maioria dos países que realizaram altos investimentos em energias renováveis, com exceção da Espanha, Alemanha e Itália, onde a energia solar foi a campeã de investimentos.
Já os investimentos nos Estados Unidos caíram em 40% de 2008 para 2009.
O investimento da Espanha também caiu, por causa da recessão, depois de vários anos de rápido crescimento, motivado pelo desejo de diminuir as emissões dos gases causadores do efeito estufa para atingir as metas estabelecidas no Protocolo de Kyoto.

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