sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Não chore por Wall Street



Paul Krugman

Não chore por Wall Street

Paul Krugman
O presidente Barack Obama foi a Manhattan na quinta feira e, em seu discurso, pediu insistentemente a uma plateia vinda principalmente de Wall Street que apoiasse a reforma financeira. “Acredito”, declarou ele, “que no fim estas reformas beneficiarão não apenas o país, mas também o setor financeiro”.
Bem, seria melhor se ele não tivesse dito nada do tipo. O fato é que Obama deveria se esforçar para fazer aquilo que é certo para o país – e ponto final. Se os banqueiros saírem prejudicados neste processo, tudo bem.
Mais do que isso, prejudicar os banqueiros deveria ser um dos propósitos da reforma. Um número cada vez maior de analistas sugere que o crescimento excessivo da indústria financeira está prejudicando a economia como um todo. A redução das dimensões dessa indústria supercrescida não vai agradar Wall Street, mas o que é ruim para Wall Street pode ser bom para o país.
As propostas de reforma em debate – as quais eu apoio – podem acabar beneficiando a indústria financeira, além do restante de nós. Mas isso se deve ao fato de abordarem apenas parte do problema: tornariam as finanças mais seguras, mas talvez não sejam suficientes para encolher o setor financeiro.
O que há de errado nas finanças? Para começar, a indústria financeira moderna produz lucros gigantescos e contracheques gordos, mas são poucos seus benefícios concretos. Lembram-se do filme Wall Street – Poder e Cobiça, de 1987, no qual o personagem Gordon Gekko declara que a ganância é boa? De acordo com os critérios contemporâneos, Gekko seria considerado mesquinho.
Nos anos imediatamente anteriores à crise de 2008, a indústria financeira correspondia a um terço do produto doméstico total – proporção duas vezes maior do que a de duas décadas antes.
A justificativa que nos foi oferecida para tais lucros estava na ideia de que a indústria estaria beneficiando a economia. Ela canalizava o capital para usos produtivos; diluía o risco; fortalecia a estabilidade financeira. Nada disso se mostrou verdadeiro. O capital não foi canalizado para os inovadores responsáveis pela criação de empregos, e sim para uma insustentável bolha imobiliária; em vez de diluído, o risco foi concentrado; e, quando a bolha imobiliária estourou, o supostamente estável sistema financeiro implodiu, e tivemos como efeito colateral o pior declínio econômico global desde a Grande Depressão.
Mas por que os banqueiros ganharam tanto dinheiro? Minha interpretação, refletindo os esforços dos economistas financeiros para compreender a catástrofe, é que a coisa toda envolveu principalmente apostas com o dinheiro alheio.
E quanto aos tão alardeados benefícios da inovação financeira? Concordo com os economistas Andrei Shleifer e Robert Vishny, que num estudo recente dizem que a inovação se restringiu à criação de uma ilusão de segurança, proporcionando aos investidores “falsos substitutos” para ativos antiquados, como os depósitos bancários. No fim, a ilusão caiu por terra – e o resultado foi uma desastrosa crise financeira.
E o mais estranho é que, depois de serem duramente atingidos na sequência imediata da crise, os lucros da indústria financeira já voltaram às alturas. Parece muito provável que a indústria logo volte a jogar os mesmos jogos que nos deixaram nesta situação.
E o que deve ser feito? Como já disse, apoio as propostas de reforma do governo Obama e seus aliados. Entre outras coisas, seria uma vergonha testemunhar o sucesso da campanha antirreforma dos líderes republicanos – marcada por desonestidade e hipocrisia.
Mas essas reformas deveriam ser apenas o primeiro passo. Precisamos reduzir as dimensões da indústria financeira. E isso não é dito apenas pelos críticos de fora (não que haja algum problema com os críticos de fora da indústria, que se mostraram muito mais corretos do que os supostamente sábios membros da indústria; como Alan Greenspan, por exemplo).
Uma proposta intrigante está prestes a ser revelada pelo mais improvável dos participantes: o Fundo Monetário Internacional. Num estudo preparado para uma reunião deste fim de semana, o fundo pede a criação de um Imposto sobre Atividade Financeira, que incidiria sobre a remuneração e os lucros da indústria financeira. O Fundo diz que um imposto desse tipo poderia “desencorajar riscos excessivos”. Poderia também levar a uma “tendência de redução nas proporções do setor financeiro”, coisa que o fundo considera positiva.
Na verdade, a proposta do FMI é relativamente amena. Ainda assim, se der sinais de que pode se tornar realidade, Wall Street protestará. Mas o fato é que já devotamos muito de nossa riqueza e talento a um setor que projetava e vendia complexas maquinações financeiras, que apresentam a desagradável tendência de arrasar a economia. Para acabar com essa situação, teremos de prejudicar a indústria financeira. E daí?
TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL
(Artigo publicado no New York Times no dia 23/04/2010)
-------


Mais um excelente artigo do Prêmio Nobel de Economia, Paul Krugman.
Como bem registrado por alguns protagonistas do último documentário de Michael Moore, "o capitalismo é uma obscenidade". É um sistema sócio-econômico, antes de tudo, predatório. Precisa e deve ser substituido antes que, "um ou outro - esse capitalismo ou a civilização - sucumba." 
 
 
Folha de São Paulo, 20/04/2010
 
Meliantes de mocassim PAUL KRUGMAN
DO "NEW YORK TIMES"

Em outubro do ano passado, vi um cartum de Mike Peters no qual um professor pede ao aluno que crie uma frase usando o termo "saque", do verbo "saquear". O aluno responde: "Goldman Sachs".
E, de fato, na semana passada a SEC (Securities and Exchange Commission), órgão que fiscaliza e regulamenta o mercado de valores mobiliários, acusou os executivos adeptos dos mocassins Gucci que comandam o Goldman Sachs de envolvimento em atividades que na prática representam pilhagem de colarinho branco.
Estou empregando o termo "pilhagem" no sentido definido pelos economistas George Akerlof e Paul Romer em um estudo de 1993 intitulado "Pilhagem: O Submundo Econômico das Falências com Fim Lucrativo". O estudo, escrito nos anos que se seguiram à crise das instituições de crédito imobiliário dos anos Reagan, argumentava que muitos dos prejuízos naquela crise eram resultado de fraude deliberada.
Será que o mesmo se aplica à atual crise financeira?
A maior parte das discussões sobre o papel que a fraude pode ter exercido na crise se concentrou em duas formas de trapaça: empréstimos predatórios e representação indevida de riscos. Fica evidente que alguns devedores foram iludidos e convencidos a aceitar empréstimos dispendiosos e complexos que não compreendiam plenamente. E, em termos gerais, as instituições de empréstimo que operavam com crédito imobiliário de risco não mantinham em suas carteiras os empréstimos realizados. Em lugar disso, elas os revendiam a investidores, em alguns casos certamente sabendo que o potencial de futuros prejuízos era superior ao percebido pelas pessoas que estavam adquirindo aqueles empréstimos (ou títulos lastreados por eles).

Outra fraude
O que estamos vendo agora são acusações de outra forma de fraude.
Sabemos já há algum tempo que o Goldman Sachs e outras instituições comercializaram títulos lastreados por hipotecas enquanto ao mesmo tempo tentavam realizar lucros por meio de apostas na queda do valor desses títulos. Essa prática, no entanto, embora possivelmente repreensível, não era ilegal. Agora, porém, a SEC está acusando o Goldman Sachs de criar e comercializar títulos deliberadamente concebidos para resultar em inadimplência, de modo que um cliente importante ganhasse dinheiro com isso. E a isso eu chamo pilhagem.
O Goldman não é a única companhia financeira acusada desse tipo de prática
. De acordo com o site ProPublica, que ganhou o prêmio Pulitzer deste ano por jornalismo investigativo, diversos bancos ajudaram a comercializar investimentos criados para fracassar, em benefício do fundo de hedge Magnetar, que estava apostando no fracasso.
Assim, que papel a fraude exerceu na crise financeira? Nem os empréstimos predatórios e nem a venda de hipotecas sob falsos pretextos causaram a crise. Mas certamente a agravaram, tanto ao ajudar a inchar a bolha da habitação quanto ao criar um conjunto de ativos que inevitavelmente se converteriam em lixo tóxico assim que a bolha estourasse.
Quanto à suposta criação de investimentos concebidos para fracassar, eles podem ter agravado os prejuízos dos bancos que ficaram na ponta perdedora dessas transações, aprofundando a crise bancária que fez do estouro da bolha da habitação uma catástrofe que devastou toda a economia.


Moral das acusações
A principal moral a extrair das acusações contra o Goldman Sachs envolve a necessidade urgente de mudar Wall Street. Quem ouve os lobistas de Wall Street e os políticos republicanos com quem eles estão mancomunados imagina que tudo vai ficar bem desde que o governo federal prometa não realizar novos resgates. Mas isso está completamente errado.
Pois o fato é que boa parte do setor financeiro se tornou uma arapuca -um jogo no qual um punhado de pessoas recebe salários monumentais para iludir e explorar consumidores e investidores. E, se não impedirmos de vez essas práticas, a arapuca continuará.
Professor de Princeton e colunista do New York Times desde 1999, Krugman venceu o prêmio Nobel de economia em 2008
Tradução de PAULO MIGLIACCI
----------

Não nos esqueçamos que o "Mané" que está assinando o artigo abaixo é Prêmio Nobel de Economia.
Aos ingênuos que, apesar de todas as sandices cometidas pelo mercado quando deixado lépido, solto e fagueiro, permanecem acreditando nas análises das Miriams Leitoas e Sadenberghs das Globos da vida e, consequentemente, defendendo a desregulamentação da economia, por gentileza, tentem entender estas lições abaixo.
As eleições estão chegando e, se o candidato careca representante do mercado e do neoliberalismo ganhar, a gente vai... Sifu!

Jornal do Brasil, 15/04/2010

Geórgia (EUA) é o berço dos bancos falidos


Paul Krugman
Enquanto buscamos formas de impedir futuras crises financeiras, muitas perguntas devem ser feitas. Esta talvez você não tenha ouvido: qual é o problema da Geórgia?
Não tenho certeza se as pessoas sabem que a Geórgia foi o maior Estado em número de falências bancárias, com 37 dos 206 bancos apropriados pelo Federal Deposit Insurance Corp (Fdic) desde o início de 2008. As falências bancárias são um sintoma de problemas mais profundos: pode-se argumentar que nenhum Estado sofreu tanto com a falta de disciplina dos bancos. 
Para se ter uma ideia do caso particular da Geórgia, é preciso compreender que a bolha imobiliária foi um assunto geograficamente desigual. Basicamente, os preços subiram fortemente apenas onde as restrições de zoneamento e outros fatores limitavam a construção de novas casas. No resto do país –o que chamei certa vez de Regiões Planas- o zoneamento permissivo e as terras abundantes facilitaram a oferta de novas casas, uma situação que impediu os grandes aumentos de preço e portanto evitou uma bolha mais séria.
A maior parte da dor de cabeça pós-bolha se concentra nos Estados em que os preços dos imóveis foram aos céus, depois caíram de volta à Terra, deixando muitos proprietários com um patrimônio negativo –casas que valiam menos que suas hipotecas. Não foi por acidente que a Flórida, Nevada e Arizona foram os principais Estados com patrimônio negativo e calote de hipotecas; os preços mais do que dobraram em Miami, Las Vegas e Phoenix e depois apresentaram algumas das maiores quedas.
Contudo, nem todas as Regiões Planas se saíram bem. Em particular, há um forte contraste entre os dois maiores Estados de planícies, o Texas- que evitou o pior, e a Geórgia, que não. 
Esse contraste pode ser explicado pela geografia das maiores cidades dos dois Estados. Como Dallas e Houston, Atlanta é uma metrópole ampla, com poucos limites à sua expansão. E como outras cidades nas planícies, Atlanta nunca vivenciou um grande aumento nos preços dos imóveis.
Ainda assim, o Texas conseguiu evitar maior estresse em seu mercado imobiliário ou em seu sistema bancário, enquanto a Geórgia está sofrendo com um severo trauma pós-bolha. A quantidade de hipotecas inadimplentes é mais alta na Geórgia do que na Califórnia; a porcentagem de proprietários de imóveis com patrimônio negativo está bem acima da média nacional. E a Geórgia é a primeira em bancos falidos.
Então, qual é o problema da Geórgia? Como eu disse, os bancos fizeram loucuras, uma cena que lembrou muito os excessos de poupança e empréstimos dos anos 80. Os altos executivos dos bancos expandiram os empréstimos agressivamente –e se recompensaram generosamente- e passaram a depender pesadamente do “dinheiro quente” de investidores externos, em vez de seus próprios correntistas.
Foi divertido enquanto durou. Aí a música parou.
Por que o mesmo não aconteceu no Texas? A resposta mais provável, surpreendentemente, é que o Texas tinha fortes regulamentos de proteção ao consumidor. Em particular, a lei texana tornava difícil para os proprietários de imóveis tratarem suas casas como uma forma de obter dinheiro aumentando suas hipotecas. A Geórgia não tinha proteções similares (e o governo Bush impediu os esforços do Estado de restringir os empréstimos podres diretamente). E a Geórgia sofreu.
O que é chocante sobre o contraste entre o Texas e o desastre da Geórgia é que não parece ter nada a ver com as questões que dominaram os debates sobre a reforma bancária. Por exemplo, muitos observadores culparam os complexos derivativos financeiros pela crise. Mas os bancos da Geórgia se destruíram com os velhos empréstimos podres.
E apesar de toda a preocupação com bancos grandes demais para falir, a Geórgia sofreu com uma proliferação de pequenos bancos. De fato, os piores culpados pela corrida de empréstimos foram os relativamente pequenos e novos, que atraíram clientes atendendo comunidades específicas. Assim, o Georgian Bank, fundado em 2001, serviu à elite do Estado, que era entretida no iate e no jato do diretor executivo. Enquanto isso, o Integrity Bank, fundado em 2000, fez uso de seu modelo de negócios “baseado na fé” –apareceu inclusive em um artigo da revista Time em 2005 um artigo chamado “Rezando por lucros”. Os dois faliram.
Então, qual é a moral da história? Do meu ponto de vista, é uma advertência contra aqueles que buscam uma solução única, que acreditam em uma fórmula mágica, que atacar apenas uma coisa –em particular, forçando grandes bancos a se tornarem menores- resolverá nossos problemas. O caso da Geórgia mostra que o mau comportamento de muitos bancos pode fazer tanto dano quanto o mau comportamento de alguns gigantes financeiros. 
E o contraste entre o Texas e a Geórgia sugere que a proteção ao consumidor é um elemento essencial da reforma. Certamente, devemos limitar o poder dos grandes bancos. Mas se não protegermos também os consumidores dos financiamentos predatórios, há suficientes pequenos agentes –bancários ou não, responsáveis por muitos dos piores abusos dos empréstimos podres- que vão entrar e preencher o vácuo.

Paul Krugman

Professor de Princeton e colunista do New York Times desde 1999, Krugman venceu o prêmio Nobel de economia em 2008
----------

Ou seja, tudo aquilo que pregaram no passado como certezas absolutas...Esqueçam!
Estão mais perdidos que baratas entupidas de DDT. Já mandaram a ortodoxia para a... Lá mesmo!
 
Seria cômico se não fosse trágico!

 
Folha de São Paulo, 14/04/2010
 
FMI recomenda restrição a capital externo FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL

O FMI (Fundo Monetário Internacional) recomendou aos países que se tornaram alvo de fortes ingressos de dólares, como o Brasil, que considerem adotar medidas para restringir essa entrada de capitais.
A defesa aberta do Fundo a esse tipo de medida é inédita, contraria a opinião de muitos economistas ortodoxos
e foi feita na apresentação de parte do "Relatório sobre a Estabilidade Financeira Global".
Para o FMI, o ingresso "excessivo" de dólares em alguns países pode gerar "bolhas" nos preços de alguns ativos (como ações e imóveis) e apreciar além da conta a moeda local, afetando os exportadores.
O diagnóstico é que a enxurrada de dinheiro público e dos BCs direcionada aos mercados do mundo desenvolvido a partir da crise de 2008 "vaza" com força para os emergentes, potencializando distorções.
Nos países avançados, além de os BCs terem elevado muito a oferta de dinheiro no mercado, a taxa de juro por eles praticada é hoje em muitos casos negativa (menor que a inflação).
O investidor que tem acesso a esse dinheiro barato dos BCs procura alternativas de ganhos fora de seus países. Nos EUA, pode captar dólares a custo perto de zero e receber remuneração próxima a 8% ao ano em um país como o Brasil.
"O grande risco é ocorrer uma reversão abrupta desses fluxos de capital especulativos", diz Effie Psalida, uma das autoras do relatório do Fundo.
Normalmente, o controle de capital é uma medida que onera a entrada de dólares em um país com impostos ou que impõe um prazo mínimo para que o dinheiro fique aplicado, reduzindo o risco de saídas violentas de capital estrangeiro.
Outra sugestão do FMI para tentar neutralizar o efeito de ingresso exagerado de dólares é acumular reservas. O expediente vem sendo adotado pelo BC brasileiro, mas ainda assim o dólar tem se desvalorizado.
As Bolsas dos mercados emergentes, em especial a do Brasil, têm subido nos últimos meses impulsionadas por essa entrada de dólares.
A contrapartida é que a cotação da moeda continua pressionada para baixo por conta dessa oferta de dólares, o que reduz o ganho dos exportadores.
Com a inflação em alta nas últimas semanas, a expectativa é que o BC brasileiro comece a aumentar a taxa de juros para conter a atividade econômica.
Isso deve estimular ainda mais investidores internacionais a investir em papéis do Tesouro brasileiro (que oferecem remuneração maior que a dos títulos norte-americanos).
A especialista em economia internacional Alessandra Ribeiro, da Tendências, discorda da sugestão do Fundo. "A maior parte dos dólares que entra no Brasil hoje é de investimentos produtivos ou para financiamento de empresas. São capitais de longo prazo", diz.
Para Sidnei Nehme, diretor-executivo da corretora de câmbio NGO, a recomendação do FMI pode conter uma "espécie de armadilha".
"Parece haver um interesse dos países desenvolvidos [que controlam na prática o FMI] em querer segurar esse capital em seus próprios mercados.
"

----------

O moral e o legal nunca puderam ser classificados como irmãos siameses no sistema capitalista. Quando falamos de neoliberalismo aí é que nenhum grau de parentesco existe mesmo.
Quando a bomba de mais esta amoralidade legal estourar, sabem quem vai pagar a conta? É claro! Como sempre!
 


'Wall Street Journal': bancos americanos mascararam riscos
Jornal do Brasil

DA REDAÇÃO - Reportagem mostra que 18 instituições atenuaram dívida em cerca de 42%
Nos últimos cinco semestres, grandes bancos americanos têm mascarado seus níveis de risco, reduzindo temporariamente suas dívidas pouco antes de torná-las públicas, afirma reportagem do Wall Street Journal publicada sexta-feira, com dados do Federal Reserve (Fed, banco central americano).
“Um grupo de 18 bancos – que inclui Goldman Sachs Group Inc., Morgan Stanley, J.P. Morgan Chase & Co., Bank of America Corp. e Citigroup Inc.– atenuou os níveis da dívida usados em comercialização de títulos reduzindo esses níveis em uma média de 42% no fim de cada um dos cinco períodos trimestrais, mostram os dados. Os bancos, que divulgam publicamente os dados da dívida a cada trimestre, depois aumentavam os níveis de débito no meio de trimestres sucessivos”, diz a reportagem.
Segundo o diário, empréstimos excessivos de bancos foram uma das grandes causas da crise, levando às catastróficas ocorridas aos bancos em 2008 em firmas incluindo Bear Stearns Cos. e Lehman Brothers. “Desde então, os bancos se tornaram mais sensíveis em relação a mostrar altos níveis de dívida e risco, preocupados com a possibilidade de suas ações e classificações de crédito pagarem o pato.”
A matéria destaca que a prática, apesar de legal, pode dar aos investidores uma impressão distorcida do nível de risco que as firmas financeiras estão tomando na vasta maioria das vezes.
O Wall Street Journal diz que, apesar de alguns bancos confirmarem, em off, que reduzem temporariamente seus empréstimos no fim de um trimestre, representantes do Goldman, Morgan Stanley, J.P. Morgan e Citigroup se recusaram a comentar sobre os dados do Fed de Nova York. Alguns dizem que os níveis de empréstimo podem flutuar durante o trimestre.
“Os esforços para administrar o tamanho de nosso balanço de pagamentos são apropriados e nossas políticas estão consistentes com todas as exigências legais e contabilidades aplicáveis” disse um porta-voz do Bank of America na reportagem.
De acordo com o diário, uma autoridade no Conselho Administrativo do Federal Reserve destacou que o Fed monitora continuamente os níveis de ativos em grandes bancos, mas as atividades reunidas pelo Fed de Nova York fazem parte do campo de ação da Securities and Exchange Commission (SEC, comissão de valores mobiliários americana), que regula firmas de corretagem. O Fed de Nova York se recusou a comentar.
“Os dados destacam os níveis de financiamento de curto prazo no mercado de recompra. Instituições financeiras usam dinheiro de empréstimos para comprar títulos, então os usam como caução para outros empréstimos.”

----------

Se até este megaespeculador, considerado um gênio no que diz respeito a ganhar dinheiro fácil, não tem mais confiança no livre mercado e na desregulamentação, como classificar quem ainda acredita nas lorotas do neoliberalismo?
 

 
Folha de São Paulo, 08/04/2010
 
A ambição de George Soros
KENNETH MAXWELL NESTA SEMANA , o "Times", de Londres, reportou que George Soros vai criar um instituto de economia na Universidade de Oxford. Será, aparentemente, o primeiro de vários que ele pretende bancar em universidades da Europa e dos EUA por meio do Instituto para o Novo Pensamento Econômico, que criou no ano passado em Nova York.
O objetivo é criar um espaço alternativo para os economistas que não seja dominado pelos defensores do livre mercado e da desregulamentação, aos quais Soros atribui responsabilidade parcial pela crise econômica mundial
. O novo instituto será anunciado em uma conferência inaugural no King's College, em Cambridge, que reunirá importantes pensadores econômicos, entre os quais laureados com o Nobel da disciplina, como Joseph Stiglitz, da Universidade Columbia.
Soros, nascido na Hungria em 1930, emigrou para o Reino Unido em 1947. Estudou na London School of Economics, onde se tornou discípulo do filósofo Karl Popper, autor de "A Sociedade Aberta e seus Inimigos". Depois de se transferir para Nova York, em 1956, começou a trabalhar como operador em Wall Street. Não demorou a compreender, no entanto, que estava, na melhor das hipóteses, repetindo as ideias de Popper. Por isso passou a se dedicar à gestão de fundos, atividade na qual se saiu excepcionalmente bem.
Soros se tornou conhecido como "o homem que quebrou o Banco da Inglaterra". Em 1992, ele supostamente lucrou US$ 1 bilhão durante a crise cambial que levou o Reino Unido a abandonar o mecanismo europeu de taxas de câmbio, a um custo estimado de 3,4 milhões.
Soros fez uma aposta de US$ 10 milhões e ganhou. Neste ano, constava da lista da revista "Forbes" como a 35ª pessoa mais rica do mundo, com patrimônio líquido de US$ 14 bilhões. Em comparação, Eike Batista, o homem mais rico do Brasil, tem patrimônio líquido de US$ 27 bilhões, de acordo com a "Forbes".
Desde 2000, tornou-se conhecido, acima de tudo, como um dos mais ativos e politicamente aventurosos entre os filantropos mundiais, ainda que seu apoio a movimentos dissidentes e sua defesa dos direitos humanos na Europa Oriental datem dos anos 80. Doou somas consideráveis a uma campanha (malsucedida) para derrotar George W. Bush em 2004.
Soros acredita que a economia não seja uma ciência propelida por mercados racionais, mas, sim, que ações, títulos e moedas dependam muito mais das emoções dos seres humanos que os compram e vendem. A principal ambição de seus novos institutos será a de oferecer ferramentas conceituais mais amplas e efetivas para explicar a atividade econômica.


KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna. Tradução de PAULO MIGLIACCI

Nenhum comentário:

Postar um comentário