CartaCapital, 20/02/17
Editorial
Racha intestino
Por Mino Carta
Uma pesquisa CNT-MDA informa que o candidato Luiz Inácio Lula da Silva ganha as eleições presidenciais de 2018 com maioria relativa no primeiro turno e absoluta no segundo. Não há tucanos ou peemedebistas entre seus adversários mais cotados. No rol figuram Jair Bolsonaro, como fruto do discurso do ódio, e Marina Silva, a resultar da ilusão. Os números são trágicos para os golpistas no poder.
Pergunto aos meus intrigados botões que efeito haverá de ter a pesquisa sobre o comportamento da República de Curitiba em relação ao destino de Lula. No mês passado, dois graúdos delegados divergiam. Um dizia ter-se esgotado o timing para a prisão do ex-presidente, o outro não concordava. Em que medida a pesquisa divulgada na quarta-feira 15 atiça os propósitos de Sergio Moro e da sua turba de promotores milenaristas?
Matutam os botões, a partir da consideração de que um racha se define progressiva e impetuosamente entre as forças golpistas, e o pomo da discórdia é a própria Lava Jato. Cada vez mais escancarada a postura de cada facção. Um único objetivo ainda as une: alijar Lula da corrida presidencial. Mas é possível admitir, ao cabo destes anos todos de tormento, que o único objetivo da operação curitibana seja impedir o ex-presidente de voltar a sê-lo nos braços do povo?
Tudo é possível no Brasil do golpe, murmuram soturnamente os botões, e eu me pego a anuir, forçado pelas evidências. Contudo... Contudo, engato outra pergunta: que dirá o Brasil diante da violência cometida contra seu único grande líder? Como afirma Raduan Nassar, ao receber o Prêmio Camões, “vivemos tempos sombrios, muito sombrios”. Até quando o povo brasileiro aguentará tanta privação, tanta humilhação, tanta prepotência?
Cabem dúvidas quanto à aposta na cordialidade popular, entendida como resignação. A marcha inexorável da recessão trabalha contra os senhores. A comparação entre os tempos do governo Lula e os dias de hoje também, enquanto grassa o conflito nas hostes golpistas. O quadro é sombrio, está claro, passível, porém, de revelar um país que a casa-grande não imagina.
Embora pessimista na inteligência, como recomenda Antonio Gramsci, e escassamente inclinado à esperança, conforme aconselha Spinoza, dias esperançosos vivi durante a ditadura, na crença de que, ao terminar o estado de exceção, o Brasil encontraria o caminho da liberdade e da igualdade. Com a chamada redemocratização, precipitei na desilusão. E se um raio de sol subitamente penetrasse a selva obscura?
Algo, de todo modo, me espicaça neste exato instante: diante da fratura a se alargar dentro das forças golpistas, em um país privado pela força e pela insensatez das suas instituições, que comportamento tomará a mídia nativa? Contra ou a favor da messiânica operação curitibana?
Perplexos, os botões intensificam a reflexão. Concordam, porém, com a importância do quesito, determinante na visão do futuro imediato. O apoio midiático à Lava Jato foi maciço e constante, em benefício dos vazamentos seletivos. Em momento algum a propaganda do pseudojornalismo deixou de projetar a Lava Jato como a imbatível ponta de lança do combate à corrupção.
Nada contra esta sacrossanta batalha, desde que, ao contrário da operação em curso, não poupe quem quer que seja. Desde que não atue politicamente na tentativa de destruir um partido e seu líder. Desde que não cometa irregularidades imperdoáveis e ofenda gravemente a própria lei que pretende aplicar.
A maior afronta cometida pela Lava Jato foi ignorada pela mídia nativa, bem como todas as demais. Refiro-me à interpretação errada, em clamorosa má-fé, do conceito da delação premiada, inaugurada na Itália na operação antimáfia e confirmada por Mani Pulite. Entenda-se a diferença. Uma coisa é a delação do preso por culpa provada e sentenciada, destinada a abrandar-lhe a pena, outra é prender sem prova para forçar a delação. Escárnio cometido em nome da felicidade geral da nação ignorante.
Não sei, e tampouco sabem os meus botões, que fará a mídia agora, enquanto se define o racha intestino. Confesso que, na expectativa, ganho bastante diversão.
http://m.jb.com.br/opiniao/noticias/2017/02/25/uniao-nacional-ou-desintegracao-nacional/
Jornal do Brasil, 25/02/17
Editorial
União nacional ou desintegração nacional
Jornal do Brasil
Neste momento de grave crise, o país precisa se unir para atender às suas principais necessidades com homens que possam ser identificados como grandes patriotas. O país vive hoje a desintegração pela anomia dos poderes, pelo desrespeito entre os poderes e pelo desrespeito ao servidor - que por consequência não pode ser leal a governantes que hoje respondem a processos por terem provocado a miséria com corrupção e violação das leis.
O país não pode assistir a seus maiores estados da federação não cumprirem com o dever mínimo, desrespeitando seu funcionário na relação básica entre patrão e trabalhador, que é o salário. Muito menos com aquele que já deu toda a sua vida para o estado e hoje, no ocaso da vida, precisando de seus humildes salários, não recebe.
O Congresso não pode se colocar no mesmo nível de representantes indignos que o povo, num momento de infelicidade, elegeu. E estes representantes são muitos, ou até a maioria no Congresso.
O poder de polícia não pode ser desrespeitado por um povo que precisa dele, mas também não pode ter nesse segmento homens que não possam exigir que a lei seja cumprida, quando desrespeitam os princípios mínimos da dignidade de um servidor.
O governo federal não dever ter no sistema financeiro sua única preocupação. Sua obrigação maior deve ser com o trabalhador, e que haja emprego. Não adianta fazer política de juros, reduzir a inflação com a fome, a miséria, e usando a camuflagem de que o país vai bem, enquanto o povo se convulsiona. No mínimo, o que se poder dizer é que os banqueiros vão bem, mas até seus empregados vão mal, porque também são trabalhadores. Nesse país que só se preocupa com sistema financeiro, é o trabalhador que vai mal, sem emprego e sem suas reivindicações atendidas.
Não existe na literatura da economia do mundo qualquer coisa que possa parecer com o que está acontecendo com o Brasil: além da fome, de um dos maiores níveis de corrupção do mundo, da falta de segurança pública, da falta de saúde pública - até a febre amarela, dizimada há mais de cem anos, voltou - e com o desemprego, no qual um em cada quatro brasileiros está sem trabalho. Desses desempregados, 80% estão 18 e 25 anos. De 0 a 25 anos, são mais 100 milhões de brasileiros nas classes C e D. O que se espera do futuro desse país?
O que esperam os intelectuais, os empresários, as autoridades, os formadores de opinião desse país, que ainda não compraram casas em Lisboa, Londres e Miami? Estão prontos para comprar e assistir, na Europa ou nos Estados Unidos, à desintegração do Brasil?
A empresa responsável por 65% do PIB brasileiro está sendo destruída. O capital entra para especular no mercado financeiro, e não para promover o desenvolvimento. E esses senhores atuam como guarda-costas do capital estrangeiro - usamos o nome "guarda-costas" para não usar o verdadeiro nome, que seria um adjetivo pejorativo.
Difundem, publicam, dão entrevistas afirmando que o país vai bem. O exemplo mais claro do que o país está passando é o Espírito Santo. Alvíssaras ao rei governante, que fez o reajuste fiscal, que acertou as contas do estado, mas que também mostrou ao mundo que lá naquele estado começava a revolução social. Não eram ladrões comuns os que arrombavam lojas. Eram também representantes de segmentos da sociedade desesperados com o desemprego e a fome. Ali não se via o sucesso da economia do governo do Espírito Santo, e sim o que pode acontecer com o país quando o sistema financeiro vai bem e o povo morre de fome.
O Espírito Santo mostrou para o mundo um clipping do que pode acontecer com o país.
Alguns desses economistas banqueiros pode dizer ao país como nós vamos crescer oferecendo emprego nos próximos anos? Se algum deles tiver essa certeza, que diga qual ou quais segmentos vão crescer, e como podem crescer na situação em que nos encontramos.
A indústria paulista e a do resto do país que precisa exportar aguenta um câmbio que, no passado, nos levou a pedir ao FMI US$ 40 bilhões, no fim de um governo, para não quebrar?
O que esperam as autoridades dos meses de abril e maio, com as delações da Lava Jato e com a tranquilidade com que se desenrola este processo - parecendo proposital com sua lentidão para que o esgarçamento seja diário? Como o país poderá aguentar tanto esgarçamento?
Um assessor do presidente da República se autodenomina "mula", e ao fazer isso diz que foi "mula" para o que hoje ocupa a chefia da Casa Civil. Ainda não se viu o ministro da Justiça ou a AGU processar este "mula". Ou as denúncias são verdadeiras? Se são, o chefe da Casa Civil não pode se ausentar por causa de uma cirurgia. Tem que se demitir porque, com certeza, será preso.
Se tudo é mentira de José Yunes, poque esta "mula" ainda não foi processada?
O povo não pode assistir a tudo isso como se fosse uma marchinha de carnaval...
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