sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

O ‘golpe dos corruptos’, o neoliberalismo no Brasil e o mito do 'investidor estrangeiro'






Brasil Debate, 20/02/17




O ‘golpe dos corruptos’ e o neoliberalismo no Brasil




Por Marco Aurélio Cabral Pinto




As velhas oligarquias nacionais que tomaram o poder do PT esbarraram na ameaça de um golpe dentro do golpe, organizado pelos prepostos dos banqueiros, mas recuperaram fôlego, o que altera o tabuleiro para 2018.

Cumpre-se lembrar que brasileiros foram aqueles que aqui se estabeleceram com o objetivo de ordenar a exportação do pau-brasil. Havia ferreiros, marceneiros, açougueiros, assim como brasileiros, aos quais cabia o fornecimento da valiosa madeira. Eram então poucos, mas, a eles, progressivamente, se incorporaram índios Tupi-Guarani, que enxergaram nos portugueses poderosos aliados contra adversários de etnias diversas, conhecidas como Jê.

Portanto, na origem do Brasil se encontra a inserção como elemento subordinado na hierarquia poder-dinheiro internacional. Aos dominadores externos importou, ao longo de toda a formação histórica, que as elites aliadas locais promovessem a ordem social para boa organização da produção.

Este estado de coisas durou até a crise de 1929. O colapso verificado em muitas nas economias de mercados colocou em xeque a “vocação agrícola” brasileira e permitiu, aos mesmos interesses escravagistas paulistas, o “milagre” da industrialização. Entre 1930 e 1980 o Brasil esteve entre os países que mais cresceram economicamente no mundo. Em grande parte este salto foi propelido por políticas que favoreceram a industrialização e a construção civil pesada.

A partir dos anos 1980, contudo, a amplitude da oscilação de poder nos EUA tornou-se progressivamente maior. Interesses financeiros ocuparam o núcleo de poder fazendário entre 1980 e 2000 e entre 2008 e 2016. Já os interesses da indústria (do petróleo) tomaram-no de volta de maneira mais ou menos tempestiva. Assim o foi em 2000, quando houve severas acusações de fraude eleitoral, e em 2016, com a vitória de Mr. Trump.

Com isso, nos últimos 35 anos, não apenas a estratégia norte-americana tem oscilado entre polos divergentes, mas igualmente a estabilidade do sistema-mundo tem sido empurrada para domínios perigosos.

Ao menos desde os anos 1980, o Brasil tem espelhado sincronismo político com os dominadores externos. O restabelecimento da democracia no início dessa década no Brasil conservou no poder amplo grupo oligárquico com interesses sobre porções do território. Prefeitos e governadores passaram a ser eleitos novamente com a bênção dessas oligarquias da terra.

Apenas a partir de meados dos 1990 é que se tornou possível, para os interesses hegemônicos nos EUA, imposição de agenda neoliberal sincronizada com outros países subdesenvolvidos. O “período da globalização” foi atrasado e atenuado no Brasil devido a leniente interferência da oligarquia do PMDB. Desde 1930 as oligarquias brasileiras perceberam vantagens na associação com interesses promotores de emprego e renda no ambiente interno. A razão é a maior facilidade de eleição por “obras realizadas” ou por “bem-estar social”. Já os interesses financeiros introduzem inevitavelmente insatisfação social por defenderem agenda neoliberal, por meio da qual apenas uma minoria próspera é premiada.

De 2003 até 2015 prevaleceram no Brasil novamente os interesses industriais e de construção civil. A Petrobras tornou-se parte do seleto grupo de petroleiras internacionais. O primeiro campo leiloado no pré-sal recebeu o nome de Libra que, na astrologia, significa harmonia nas relações internacionais.

G. W. Bush e Lula tiveram em comum a referência aos gastos públicos como motor do emprego e da renda, com entorpecimento da agenda neoliberal. Já a diferença entre G. W. Bush e D. Trump é que o segundo enfrenta diretamente os interesses financeiros ao explicitar as ligações com a mídia corporativa.

No Brasil, em 2015, o “Golpe dos Corruptos” aproximou a oligarquia brasileira novamente dos interesses financeiros com objetivo de ocupar interinamente a presidência até 2018. Com instrumentos de espionagem da NSA na Polícia Federal, mais de um juiz-político e a luxuosa ajuda da mídia, não foi difícil levar as preconceituosas camadas médias urbanas a apoiarem o golpe.

O que o PMDB não esperava é que os prepostos políticos dos banqueiros se organizassem para golpe dentro do golpe. Uma vez removida a presidente eleita, o objetivo de São Paulo passou a ser eliminar a velha oligarquia fisiológica da sólida posição histórica que ocupa dentro da federação.

A morte de magistrado do Supremo Tribunal Federal parece mostrar que isso não será possível. Aparentemente, a oligarquia brasileira ganhou tempo para negociar, junto aos interesses financeiros, saídas que preservem o ordenamento social e a continuidade da produção e do consumo no país. Estas saídas passam pela completa subordinação dos governadores de Estado, deputados e senadores à agenda de privatização e de ajuste fiscal.

A reviravolta na política norte-americana, contudo, parece vir ao encontro dos interesses industriais até 2015 representados pelo PT. A velha indústria automotiva, que D. Trump elegeu como prioritária (questão do México), teve em Lula afinidade e apoio aqui no Brasil. Aliás, Lula tem trajetória política iniciada no poderoso setor automotivo. Da mesma maneira, a ênfase na construção civil pesada atribuída nos EUA de D. Trump favorecerá inexoravelmente as construtoras brasileiras como interlocutores com interesses convergentes.

Em síntese, o nome que vier a substituir M. Temer deve preparar as eleições de 2018 em ambiente que induz a formação de novo pacto político entre a esquerda do PT e a velha oligarquia federalista brasileira.


*Professor da Escola de Engenharia da Universidade Federal Fluminense, mestre em administração de empresas pelo COPPEAD/UFRJ, doutor em economia pelo IE/UFRJ. Engenheiro no BNDES e Conselheiro na central sindical CNTU.








FSP, 23/02/17



Governo aposta em pilares errados para o crescimento



Por Laura Carvalho




O governo anunciou na semana passada um pacote de medidas que atrairia um total de R$ 371,2 bilhões de investimentos privados nos próximos dez anos. 

Segundo Marcos Ferrari, do Ministério do Planejamento, "a ideia é destravar investimentos sem que a União gaste um centavo". 

O pacote chegou a ser chamado por Ferrari de "o quarto pilar para a retomada" do crescimento -os três primeiros sendo a contenção da inflação, o controle de gastos e a reforma da Previdência. Na era da pós-verdade, a política de juros altos e cortes de investimentos públicos, que vem levando à escalada do desemprego, ao aprofundamento da recessão e à deterioração do quadro fiscal desde 2015, é encarada, veja você, como motor de retomada. 

Soma-se a isso uma nova aposta em concessões e incentivos diversos ao capital privado. Essa vem sendo, de fato, a estratégia escolhida desde o início da desaceleração econômica, em 2011: o abandono do investimento público como pilar de crescimento e a insistência nos incentivos a um setor privado altamente endividado. 

Essa estratégia, que conflita com uma capacidade ociosa cada vez maior da indústria, não foi capaz de dinamizar a economia. 

A ideia de que o investimento das empresas pode funcionar como motor de retomada em meio à recessão e ao alto endividamento vem sendo questionada em diversos países. 

Os vários estudos econométricos que examinam a relação de causalidade entre os diversos componentes do PIB parecem sugerir que os investimentos das empresas respondem aos componentes autônomos do gasto, quais sejam, os que dependem pouco do próprio nível de atividade econômica –exportações, investimentos residenciais e investimentos públicos, por exemplo. 

Em outras palavras, firmas que operam com capacidade ociosa não encontram razões para ampliar sua capacidade além da existente. Uma retomada dos investimentos tem de ser antecedida por um aumento das vendas, que por sua vez depende de algum fator autônomo de injeção de demanda. 

É sobretudo por essa razão que desonerações fiscais e subsídios diversos aos lucros dos empresários não foram capazes de elevar investimentos privados desde a implementação da Agenda Fiesp pela presidente Dilma. Ao contrário, serviram como políticas de transferência de renda para os mais ricos e contribuíram para deteriorar as contas públicas. 

O governo Temer vai na mesma direção. Agora tenta também atrair mais capital estrangeiro, facilitando a venda de terras e limitando as exigências de conteúdo local na exploração do pré-sal. Mesmo que haja interesse, o resultado final pode não ser tão favorável para a economia. 

No pacote agora anunciado, as únicas ações que vão no sentido – correto – de estimular componentes autônomos da demanda apenas reforçam o velho caráter concentrador de renda do Estado brasileiro

É o caso dos estímulos ao investimento residencial, via aumento na faixa máxima do programa Minha Casa, Minha Vida para R$ 9.000 e autorização do uso do FGTS para compra de imóveis de até R$ 1,5 milhão. 

As projeções indicam que vamos parar de cavar o fundo do poço em 2017. Isso não quer dizer, ao contrário do que sugere o discurso otimista proferido por Henrique Meirelles, que sairemos dele no ritmo sonhado pelos 12 milhões de desempregados que sofrem país afora. 

Para isso, além de medidas mais imediatas com impacto na demanda, como é o caso do acesso às contas inativas do FGTS, seriam necessários autênticos pilares, como investimentos públicos em infraestrutura física e social, reforma tributária progressiva e política industrial estratégica.


*Professora do Departamento de Economia da FEA-USP com doutorado na New School for Social Research (NYC).








Jornal GGN, 24/02/17




O mito do 'investidor estrangeiro'



Por André Araújo




Alan Greenspan, o "maestro" do Federal Reserve System por 18 anos, passava horas na banheira lendo estatísticas da economia real: geladeiras, yougurt, pneus, caminhões, pão de hamburguer, todos dados da vida das pessoas lhe interessam. Tinha especial fixação por telhados, quantos telhados  foram vendidos na semana (nos EUA a construção se faz por conjuntos e não por peças). Era por estes indicadores que Greenspan tirava o pulso da economia que importava. Greenspan, que está com 90 anos, proporcionou o maior período contínuo de prosperidade dos EUA no pós-guerra, embora lhe atribuam culpa da crise de 2008, decorrência exatamente do excesso de confiança nessa prosperidade longa demais.

No Brasil, no oceano de ignorância sobre economia que domina a grande mídia, os únicos indicadores valorizados são os de câmbio e bolsa. Os comentaristas da Globonews são os mais rasos, para eles a economia se resume em câmbio e bolsa e, nesta última, o que interessa é o mítico "investidor estrangeiro". O padrão se repete em outras mídias, como a Jovem Pan, onde sua comentarista só conhece câmbio e bolsa, a economia se resume nisso. Na Globonews o comentarista  Donny di Nuccio, a qualquer observação sobre economia, replica "Ah, mas a bolsa subiu". Pronto, esta é para eles TODA a economia.  Na FOLHA de 19 de fevereiro de 2017, pag.A 23, um artigo "Mercado especula melhor nota do Brasil" mostra  esse viés de considerar o mercado financeiro como único indicador da economia brasileira.

No passado longínquo do início da mídia econômica no Brasil, com o jornal Observador Econômico e Financeiro, a revista BANAS, os temas eram a produção de café, de cana, de aço, de cimento, de tijolos, de telhas, cacau, de sisal, de construção de rodovias, usinas, aeroportos, havia comentaristas especializados em agropecuária, como Mario Mazzei Guimarães, comentava-se com detalhes e atenção a produção de carne e de leite, de tubos de ferro e de concreto para saneamento, de tecidos de algodão, de farinha de trigo. Economia é isso e o Brasil só crescerá quando esses fatores voltarem a ser o centro da economia como foram nos anos, em que o Brasil cresceu e se tornou a 5ª economia do mundo, saindo de um País essencialmente agrícola para um país industrial no pós-guerra.

A partir do Plano Real e com o domínio dos "economistas de mercado" sobre a política econômica, fixou-se que a única coisa que faz andar a economia é a bolsa e, nesta, o "investidor estrangeiro", se ele não aparecer  afunda a economia, se ele trouxer dinheiro para cá, está tudo indo bem na economia.  Esse mítico "investidor " é o único que os "economistas de mercado" conhecem, os fundos de investimento estrangeiros tipo BlackRock, Fidelity, Templeton que operam no Brasil via parceiros daqui e com isso garantem empregos para alguns desses "economistas de mercado",  eles são as únicas fontes de informação da mídia conservadora, que é quase toda a imprensa, rádio e tv.

Ao usar exclusivamente essa régua, os comentaristas esquecem da enorme "economia real" do País, onde está o crescimento, o emprego, a produção e o dinamismo do processo que faz as famílias sobreviverem e ter perspectivas de futuro para seus filhos.

Ao comentar câmbio e bolsa, os comentaristas da mídia oficialista tampouco aprofundam a informação. O dólar está caindo quando devia subir? Por que? Onde está a análise? Nunca vi nesses comentaristas qualquer menção ao centro do problema do câmbio, a política cambial do Banco Central, que é a de intervenção "suja" (não declarada) e que em 2016 foi o motivo central para a derrubada do dólar, a um custo estratosférico, só no primeiro semestre de 2016 os swaps cambiais deram perda de R$ 207 bilhões ao Banco Central, mais que todo o déficit do orçamento federal que os "economistas de mercado" consideram o maior problema do Brasil. Sobre esse custo monumental nunca ouvi um mísero comentário dos jornalistas de economia da grande mídia, em primeiro lugar porque não correlacionam cotação do dólar com política cambial e, em segundo, se conhecem o "background" não convém comentar porque isso seria uma crítica ao Banco Central, que eles respeitam como o Vaticano da moeda, infalível e inatingível.

Não comentam, ou só falam marginalmente, do "carry trade", dinheiro emprestado nos EUA a 2% ao ano e aplicado aqui em títulos do Tesouro a 13%, além do lucro do diferencial de juros. Desde que começou a gestão da atual equipe econômica, esse tipo de especuladores levou para casa também o lucro cambial fantástico, dólar que entra a 3,60 e volta a 3,10 graças à generosidade do Banco Central, mas quem e porque comanda este espetaculo? Aguardam-se análises dos comentaristas da grande imprensa. Muita coisa que circula no mercado por alguma razão a imprensa não reporta e são fatos importantes da economia.

Além da atuação catastrófica do Banco Central para empurrar o dólar para baixo visando "trazer a inflação para o centro da meta" há outro personagem que os comentaristas da Globonews veneram: o "investidor estrangeiro". Quem é ele?

O "investidor estrangeiro" é o mesmo personagem mítico que na Itália devastada pela miséria no imediato pós-guerra via no "turista americano". Nos escombros de Nápoles, um "turista americano" era visto como salvador do almoço do dia. A mesma cafonice impera na fala dos comentaristas ignorantes de hoje. Vêm no "investidor estrangeiro" a salvação do Brasil sem realmente saber que é esse Mandrake que é tão reverenciado como fiel da balança da nossa estagnada economia.

O "investidor estrangeiro" de hoje, adorado pela Globonews, é um fundo especulativo da pior espécie que entra e sai da bolsa e das apostas em juros e índices, é o mais destrutivo tipo, o mais deletério, o mais inútil dos personagens em uma economia em desintegração de seus reais fatores de crescimento, o investimento privado nacional das pequenas e médias empresas que anseiam por crescer e que tem hoje tais limitações que muitas definham e morrem, para essas o BNDES abre linhas de crédito que só uma carta de fiança do Banco Rothschild pode atender em termos de garantia, higidez de balanço e certidões fiscais.

Tampouco chama a atenção a falta do fundamental investimento público, primeira vítima do ajuste fiscal" à outrance" e cuja falta é uma das causas da recessão.

Fundos abutres e especulativos cujo modelo universal é o padrão Soros (Quantum Fund) são hoje o arroz com feijão da bolsa brasileira, é para eles que se pratica toda política cambial, não é para o exportador de soja, de frango e de carne bovina, o alvo a agradar é o fundo especulativo de Nova York, fundos esses que produziram 49 bilionários na lista da revista FORBES, que vivem exclusivamente de especulação e o Brasil é um dos seus territórios preferidos porque garante saída livre sem questionamentos, o capital entra e sai como um turista do Carnaval carioca. Uma porta rotatória que gira sem parar.

Quando entra o "investidor estrangeiro" fundo especulativo, soltam rojões, mas quando sai "boca fechada", não é noticia. O mercado de câmbio no Brasil é inteiramente livre, entra e sai como e quando quiser, o investimento financeiro pode sair no mesmo dia em que seus donos decidem, bastam cliques de botão de computador. Já o investimento produtivo, em fábricas, não pode sair rápido e fácil, é preciso vender os ativos, fazer caixa para depois remeter, isso leva meses ou anos. Então o investimento produtivo é sólido, é o que interessa ao País, por isso a separação conceitual entre o financeiro e o produtivo é fundamental, nada disso é sequer de leve noticiado e muito menos analisado. A conexão do "sistema" Banco Central + mercado financeiro (uma coisa só) é exclusivo com Wall Street e não com os polos de economia produtiva dos grandes países.

O "investimento direto no Pais" IDP, tratado com tapete vermelho, quem é ele?

Quase todo IDP que chega é para COMPRA de empresas no Brasil, não é para novas fábricas, usinas ou shoppings. A razão? Como a economia está em recessão, causada pela política monetária recessiva do BC, o preço dos ativos no Brasil caiu muito, os empresários nacionais estão vendendo suas empresas e negócios,  além de venda de concessões, privatizações e demais ativos, muitas vezes para pagar dívidas, como os das empreiteiras alvos da Lava Jato, que estão vendendo bens acumulados ao longo de décadas. O BC e seus porta vozes na mídia comemoram essas entradas que têm um efeito econômico perverso, esses IDP serão base futura de remessas de dividendos e lucros, o chamado PASSIVO EXTERNO do País, soma dos IDP mais dívida externa pública e privada mais contratos de leasing que são outra forma de passivo. O estoque registrado no BC já chega perto de  UM TRILHÃO DE DÓLARES, um valor tão grande como o da dívida pública interna, todo esse passivo exige serviço de juros, dividendos, lucros ou parcelas de leasing, uma hipoteca sobre o País que exige cada vez divisas para remessas.

A conta de "serviços" está ficando perigosamente alta e nela estão as remessas de juros, dividendos, leasing e royallties. Em 2016, todo o saldo da balança comercial, US$ 45 bilhões, não foi suficiente para pagar as remessas, ainda faltaram US$ 24 bilhões, que foram cobertos pelas entradas do  investimento direto, mas isso significa vender a casa para pagar o almoço. O IDP entra e forma base de novas remessas futuras e o valor dele é gasto para sempre, estamos trocando ativos do País por despesas que nunca mais voltam, quando entra o IDP tudo é festa mas depois ele serve de motor para novas remessas eternas.

Ao contrário do período pré-Plano Real, o BC não informa ao público, embora sejam números disponíveis para especialistas, qual é o passivo externo, qual é a dívida pública externa e a dívida privada externa do País. NINGUÉM COMENTA esses dados cruciais, muito mais importantes do que quanto gasta turista no exterior no mês, dado de escassa relevância a não ser para mostrar que o dólar está barato demais e está sendo esbanjado nos outlets de Miami.

O que importa são DADOS MACRO do passivo externo, que ninguém comenta e são esses o dados importantes e não números pontuais mensais disto ou daquilo.

A dívida externa pública, que inclui Petrobras, BNDES e Banco do Brasil e as demais estatais, mesmo sem garantia formal, a dívida externa de estatal implica em responsabilidade implícita da União, a dívida pública privada também afeta o risco país pois se um grande banco ou corporação privada deixa de pagar um compromisso de imediato acende luz vermelha sobre todo o risco País, hoje a DÍVIDA EXTERNA PRIVADA é considerável, são esses os dados cruciais da economia MACRO e não o que os brazucas gastam em Miami em Janeiro ou o que os estrangeiros gastam aqui no Carnaval, temas muito comentados em toda a mídia como se isso fosse de enorme importância.

E o exemplo dos dólares da China para pagar a compra da CPFL e da ENEL italiana para pagar a compra da CELG,  entradas recentes, não geram um único emprego no Brasil, ao contrário, quem compra geralmente faz um enxugamento no quadro do pessoal. Mais ainda, essas compras exigirão remessas já em 2018, um ativo que até então não gerava gasto externo de divisas, agora passa a ser fonte de remessa.

Tampouco se informa o RETORNO de capital investido, só o que entra, pode até haver déficit na conta de investimentos do exterior, o que não se explicíta para chamar a atenção apenas para a entrada e não para a saída de capital com o intuito de demonstrar a "confiança na política econômica", operação que conta com toda a colaboração da mídia apoiadora da máxima  "o que é bom a gente mostra, o que é ruim a gente esconde". Sem essa visão global não vale nada dizer o que entrou em Janeiro.

Para mostrar a montanha de equívocos que se informa a população, a agência Fitch, uma das três agencias globais de rating, já anunciou que pode rebaixar a nota do Brasil, que já está dois graus abaixo do nível de investimento, "porque a economia não cresce". Isso é revelador! E não adianta desqualificar as agências, quando deram grau de investimento se soltaram rojões na Av.Faria Lima em SP e na Rua Dias Ferreira no Leblon, catedrais dos "economistas de mercado" e suas gestoras de fortunas, a "turma da bolsa".

A Standard & Poor´s tambem mantém o viés negativo, não se impressionam com resultados mensais. Com todas as vitórias cantadas em prosa e verso pela mídia mistificadora como porta voz da equipe econômica, as agências não se deixam enganar, "onde está o crescimento?" As agências têm um olhar de longo prazo sobre a estabilidade do País, uma mega recessão com enorme desemprego mostra instabilidade política e social futura ou o BC acha que só tratar da inflação é suficiente?

Todo esse foco no "investidor estrangeiro" quase 100% de fundos e não de empresas da produção é um vício inacreditável da mídia brasileira. Porque não se interessam no crescimento ou fechamento das milhares de médias empresas do interior, são essas que realmente empregam gente, que geram riqueza sólida, que dão lastro à economia e que podem tirar o pais da recessão, não é o fundo BlackRock e nem o fundo Templeton, esses compram ações velhas que acham baratas visando vendê-las daqui a seis meses e levar o lucro de volta, não criam um mísero emprego e nem tem essa vocação.

Boa parte do investimento que entra é especulativo, a economia não cresce, o PIB de 2016 vai registrar queda de, 4,3%, em cima de 3,8% de 2015, não adianta as vanglórias do BC, podem enganar os daqui mas não engana os de fora. O Brasil não cresce por causa da política recessiva do BC, para as agências de rating não adianta nada "a inflação no centro da meta", se outros fatores centrais da economia indicam problemas de maior dificuldade de solução com a retração do PIB e o altíssimo desemprego, maior entre todos os países BRIC.

O que vale é crescimento com ou sem inflação, esse é o valor real do mundo real, fora das planilhas, é o crescimento que atrai capital ótimo e dinamizador, aliado do País a longo prazo.

O investidor que secularmente fez o crescimento brasileiro não é o estrangeiro. O Brasil se desenvolveu realmente de 1930 até 1980, 50 anos, quando o crescimento médio  foi o maior do mundo entre todos os países. O Brasil cresceu pelo seus empreendedores que construíram fábricas, mesmo com inflação e déficits enormes do orçamento federal, nasceram linhas de ônibus interestaduais, fazendas de café, cana, soja, gado, armazéns beneficiadores de grãos, empresas engarrafadoras de gás de cozinha, fábricas de doces, de bebidas, de massas, retíficas de motores, indústrias mecânicas, de material elétrico, fiação e tecelagem de algodão, de seda, cerâmicas, olarias, fábricas de enxadas e arados,  sem falar do imenso parque automotivo,  que inclui tratores, do parque de bens de capital, foi daí que surgiu o crescimento e os empregos do Brasil, de suas grandes empreiteiras que fizeram o maior parque hidroelétrico do mundo, da Petrobras em expansão permanente de 1955 a 1990.

O capital estrangeiro foi sempre subsidiário, importante mas nunca o eixo da economia brasileira, me referindo ao capital de produção, o capital financeiro, esse que a mídia gosta, jamais foi bom para o Brasil, aliás foi um aspirador de dinheiro para fora do Brasil.

Hoje a mídia econômica se esfrega nesse "investidor estrangeiro", roupa dentro da qual se disfarçam também muitos brasileiros que usam pessoas jurídicas de paraísos fiscais para ter maior proteção para seu capital aqui, portanto parte desse "investidor estrangeiro" é brasileiro disfarçado, um fato perfeitamente conhecido do mercado mas que a mídia tradicional jamais menciona, talvez porque alguns de seus personagens se enquadram no modelo.

A coluna econômica da grande imprensa só terá algum valor quando seus comentaristas começarem a falar de tijolos e azulejos, de produção de leite, de venda de pneus e de sapatos, esquecendo a miséria intelectual de "câmbio e bolsa" que vale tanto como palpite de jogo de futebol de 3ª divisão e principalmente quando deixarem de ser meras correias de transmissão de mensagens do boletim Focus e de suas "bocas de varal", os "economistas de mercado" sempre à disposição para entrevistas, do meio dia à meia noite, repetindo os mesmos bordões acríticos e dentro de uma cartilha ensaiada.

Uma nova cruzada do Ministro da Fazenda para se viabilizar como candidato à Presidência em 2018 espalha a noção de que "a recessão acabou" (entrevista de 22/02/2017 na Globonews) o que é um delírio, uma recessão de três anos não acaba em um mês, faltou avisar as 12 milhões de famílias dos desempregados que já podem ir correndo fazer compras de novas TVs. Uma recessão acaba quando o desemprego cai de 12% para 5% e não há sinal algum de que isso esteja ocorrendo, MERCADO FINANCEIRO não é balizador de começo ou fim de recessão e é esse o único que o Ministro da Fazenda conhece, mas parece que parece que o Ministro está conseguindo convencer alguns jornalistas de que sua fantasia é real, mesmo com os índices de popularidade do Governo em níveis baixíssimos.

O debate de economia no Brasil precisa sair dos blogs corajosos e entrar na mídia tradicional, economia é hoje o fenômeno mais importante da vida da população que tem o direito de ser melhor informada sobre a realidade e não ouvir  narrativas montadas sobre o nada.

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