Para a Globo só criança branca Cresce
Não, a Globo não é racista !
O amigo navegante Walter Ferreira recomendou um importante questionamento da blogueira Ericka Guimarães: por que a revista Crescer, da Editora Globo, não coloca crianças negras na capa?
A Crescer e suas crianças brancas
Mãe não é só quem põe no mundo, é quem
cria, quem brinca, quem canta, quem paga pelo Netflix e vê mais a
Galinha Pintadinha e a Dora do que os próprios filmes e seriados, que
tira onda com as descobertas do filhote e também quem entende nada do
assunto e tenta aprender um pouquinho sobre esse universo nas revistas.
E foi assim que eu abri a revista Crescer pela primeira vez. Com curiosidade de mãe, de jornalista e de revisteira. Eis que lá pelo 3º mês de acompanhamento eu me perguntei: isso é revista de europeu? cadê as crianças negras? Achei que era implicância minha, então fui atrás das capas. Separei as de junho de 2011 até junho de 2012 (estão fora de ordem cronológica, o que não vai afetar a análise). Acompanhem-me:
E foi assim que eu abri a revista Crescer pela primeira vez. Com curiosidade de mãe, de jornalista e de revisteira. Eis que lá pelo 3º mês de acompanhamento eu me perguntei: isso é revista de europeu? cadê as crianças negras? Achei que era implicância minha, então fui atrás das capas. Separei as de junho de 2011 até junho de 2012 (estão fora de ordem cronológica, o que não vai afetar a análise). Acompanhem-me:
E aí que eu me senti bastante incomodada com isso de só ter crianças brancas na capa de revista em um ano inteiro. Mandei um email bem civilizado pra eles no início junho, assim que comprei a revista do mês.
Olá, bom dia!
Acompanho a revista Crescer há um ano e desde a edição de julho do ano passado percebi que vocês não colocaram nenhuma criança negra, parda ou com traços asiáticos, ou mesmo crianças brancas com cabelos crespos na capa. Entrando no site percebi, ainda, que pelo menos, desde outubro de 2010 só há crianças brancas (e a maioria de olhos claros!). Talvez seja uma situação que acontece há muito mais tempo, mas o site dá erro nas páginas anteriores a essa data. Há alguma restrição editorial sobre isso? Como mãe e jornalista fico bastante incomodada com essa situação. Gostaria de deixar bem claro que não tenho preconceitos com crianças brancas e/ou dos olhos azuis, mas creio que uma revista deve reproduzir características e comportamentos do país em que ela circula. As crianças mostradas nas capas são maioria na publicação, mas não no Brasil. Numa época em que a gente ensina os nossos filhos que eles não devem julgar pessoas pela cor da pele, vocês simplesmente ignoram que no Brasil existem crianças de várias “cores” e que todas elas são igualmente lindas para ser capa da Crescer. Cadê a diversidade?
Aguardo resposta.
Atenciosamente,
Ericka Guimarães
Olá, bom dia!
Acompanho a revista Crescer há um ano e desde a edição de julho do ano passado percebi que vocês não colocaram nenhuma criança negra, parda ou com traços asiáticos, ou mesmo crianças brancas com cabelos crespos na capa. Entrando no site percebi, ainda, que pelo menos, desde outubro de 2010 só há crianças brancas (e a maioria de olhos claros!). Talvez seja uma situação que acontece há muito mais tempo, mas o site dá erro nas páginas anteriores a essa data. Há alguma restrição editorial sobre isso? Como mãe e jornalista fico bastante incomodada com essa situação. Gostaria de deixar bem claro que não tenho preconceitos com crianças brancas e/ou dos olhos azuis, mas creio que uma revista deve reproduzir características e comportamentos do país em que ela circula. As crianças mostradas nas capas são maioria na publicação, mas não no Brasil. Numa época em que a gente ensina os nossos filhos que eles não devem julgar pessoas pela cor da pele, vocês simplesmente ignoram que no Brasil existem crianças de várias “cores” e que todas elas são igualmente lindas para ser capa da Crescer. Cadê a diversidade?
Aguardo resposta.
Atenciosamente,
Ericka Guimarães
A resposta da revista está abaixo:
A Crescer e suas crianças brancas – parte II
Primeiramente, gostaria de agradecer tooodo mundo que leu o post anterior, que curtiu, que comentou, que compartilhou e que deu aquele RT maroto para os seus coleguinhas. Fico muito feliz em saber que muita gente se incomodou com a postura de Crescer em só colocar crianças brancas nas capas de suas publicações. Quem pegou o bonde andando pode ler o primeiro post.
Pois bem, eis que a Crescer me (nos) ouviu e respondeu o meu email:
Ericka,
tudo bem? Vimos seu post no seu blog, que acompanhamos.
Primeiro gostaríamos de pedir desculpas por tê-la deixado sem resposta, ainda não conseguimos localizar seu e-mail aqui para saber o que aconteceu, já que costumamos sempre falar com nossos leitores.
De fato, faz algum tempo que não temos capas com crianças negras, mas costumamos fazer muitas fotos com crianças de todas as raças em nossas reportagens, como você pode ver em todas as edições da Crescer.
Esperamos continuar tendo você como leitora.
Obrigada,
Daniela
Essa foi a minha resposta:
Olá, Daniela.
Infelizmente a sua resposta foi muito pequena e vaga diante do meu questionamento. Em quase dois anos vocês não colocaram crianças negras na capa da publicação de vocês. Isso não é normal! E já que você falou que vocês colocam crianças de todas as raças nas imagens das reportagens, eu resolvi conferir e contar. Peguei como exemplo a edição de julho de 2012 e olha só (não entraram na contagem as fotos de depoimentos pessoais dos leitores e publicidade):
Crescer – Julho 2012
1 criança negra (acompanhada de 1 adulto negro)
35 crianças brancas
(exceção: reportagem sobre o novo programa do Marcelo Tas, com 11 crianças, sendo 2 negras e talvez uma crianças com traços asiáticos)
Total: 3 crianças negras e 43 crianças brancas e um possível descendente de asiáticos.
(talvez em tenha contado alguma crianças mais de uma vez, mas deu pra ter uma idéia do que eu quis dizer)
Daniela, esse texto tomou uma proporção que nem eu imaginava.
De acordo com a contagem do Blogger, foram, até agora, 344 visualizações, além das várias curtidas e compartilhadas via Facebook. Sugiro que você dê uma olhada nos comentários do post. Você vai ver que a sua resposta nada esclarece. (atualização da madrugada: passou das 1600!)
A Crescer é um veículo de comunicação respeitado entre as mães e não pode fingir que essa ausência é mera obra do acaso. Vocês estão moldando as leitoras, inconscientemente, a pensar que os filhos delas só serão bonitos o suficiente para aparecer na capa da publicação se forem brancos de olho claro. E eu já vi esse tipo de comentário no próprio site da revista, uma mãe estava questionando o que ela deveria fazer para que a filha dela fosse capa da revista e ela escreve: Como faço para minha filha ser capa da Crescer? Ela tem pele clara… (e o resto eu não me lembro). Esse é o critério de seleção? Não deveria!
O que já aconteceu, ou o que já foi publicado, não pode ser mudado. Mas é sempre tempo de se mudar de postura. E quanto a mim, vão precisar se esforçar um pouco mais para me fazer comprar a revista novamente.
É isso, gente. Pode parecer pouca coisa, mas eu realmente quero viver num mundo em que as pessoas (e crianças!) não sejam julgadas como superiores ou inferiores, como bonitas ou feias, baseadas na cor da pele. Na verdade esse julgamento não deveria existir, já que ninguém é melhor que ninguém e beleza é questão de gosto. Enfim, eu quero que a diversidade seja respeitada.
Em tempo: este post é uma singela homenagem a Ali Kmamel: não, a Globo não é racista !
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