19/07/2012
O GOVERNO FHC, O SANTANDER E O HSBC
Por Mauro Santayana
(HD) - Entre outros legados de Fernando Henrique Cardoso, se encontra a desnacionalização de alguns bancos, estatais e privados. Os casos mais emblemáticos são o do Banco do Estado de São Paulo, o Banespa, e o do Bamerindus, então controlado pelo Sr. José Eduardo de Andrade Vieira. O banco estatal paulista foi vendido ao espanhol Santander por 7 bilhões de dólares. A importância era muito inferior aos seus ativos reais.
A venda do Bamerindus,
na calada da noite, ao HSBC, ainda parece mais grave. O seu controlador fora
ministro do governo Itamar Franco e um dos principais financiadores da campanha
de Fernando Henrique à Presidência, de cujo governo também participou. Segundo
se informou, na época, o HSBC pagou um dólar pelos ativos bons do Bamerindus, e
o Banco Central assumiu os ativos duvidosos, ou seja, suas dívidas e seus
créditos junto ao mercado.
O Santander se
transformou hoje no instrumento de transferência de recursos brasileiros para a
matriz espanhola. Associado, ali, aos interesses do governo, hoje acossado pela
mais grave crise econômica e social do país das últimas décadas, o Santander
sobrevive com a forte participação da sucursal brasileira, responsável por um
quarto dos lucros obtidos em suas operações mundiais.
O HSBC foi denunciado,
por um comitê do Senado norte-americano, de associação criminosa com os
narcotraficantes do México e com fontes financiadoras dos militantes muçulmanos
no Oriente Médio. De acordo com a denúncia, que os controladores do banco
atribuem à negligência de seus executivos, o HSBC realiza a lavagem de
dinheiro dos cartéis mexicanos da droga, e serve de apoio a um banco da Arábia
Saudita ligado à Al Qaeda. É possível que esse mesmo envolvimento seja
descoberto na Colômbia, com os traficantes de cocaína, e no Afeganistão, o maior
produtor mundial da papoula, de onde se extrai o ópio que, refinado, produz a
heroína.
O HSBC ( Hong-Kong
and Shangai Banking Corporation) apesar do nome, é uma instituição
britânica, fundada em 1865, em Londres, que continua a ser sede. De todos os
negócios feitos pelo governo Fernando Henrique com bancos estrangeiros, este
permanece o mais misterioso. Segundo se sabe, ele foi concluído pelo então
Ministro Pedro Malan em viagem sigilosa a Londres, e fechado ali durante a
noite. Só então, depois de concluída, a negociação foi divulgada no
Brasil.
O novo escândalo se
soma aos demais, e a cada dia cresce a pressão da opinião pública mundial a fim
de que os governos façam uma devassa nos grandes bancos internacionais e
imponham regras rigorosas para o seu funcionamento. Um apelo neste sentido está
sendo divulgado pela internethttp://www.avaaz.org/ po/bankers_behind_bars_f/? tfGaodb),
e se espera que, nas próximas horas, ele atinja um milhão de assinaturas.
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Estadão.com,18 de julho de 2012
Diretor deixa o cargo após denúncia de lavagem de dinheiro do tráfico no HSBC
MARCY GORDON, ASSOCIATED PRESS / WASHINGTON - O Estado de S.Paulo
O chefe do departamento de Governança Corporativa e Risco do banco britânico HSBC, David Bagley, anunciou ontem a uma subcomissão do Senado americano, que entregará o cargo após a divulgação de que a entidade contribuiu nos Estados Unidos em operações de lavagem de dinheiro do tráfico de drogas e financiamento do terrorismo.
Bagley e outros atuais e antigos executivos da
instituição pediram desculpa pelas falhas, mas declararam que não
estavam totalmente a par das transações ilícitas que ocorriam pelo
banco. Os senadores mostraram-se céticos quanto à possibilidade de os
executivos desconhecerem problemas que existiam havia sete anos na instituição.Um relatório apresentado pela Subcomissão Permanente do Senado para Investigações também constatou que os órgãos reguladores americanos sabiam que o banco não dispunha de um sistema adequado para detectar problemas, mas não tomaram nenhuma providência.
Bagley é diretor de Compliance (Conformidade) desde 2002, o período durante o qual - descobriu a investigação do Senado - a falta de controles adequados do HSBC permitiu que o banco fosse usado por narcotraficantes e possíveis financiadores de grupos terroristas, e para outros fins ilícitos em todo o globo.
O executivo disse que não tinha autoridade total sobre as afiliadas do banco, cada uma das quais tinha seu próprio diretor de Compliance. O HSBC, que em 2011 obteve rendimento líquido de US$ 16,8 bilhões, opera em cerca de 80 países. "O HSBC não atendeu às nossas expectativas e às expectativas dos nossos órgãos reguladores", afirmou Bagley em seu depoimento.
E acrescentou que disse à direção do HSBC: "Este é o momento oportuno - para mim e para o banco - para colocar uma pessoa nova no cargo de diretor de Compliance".
O executivo, que dirigiu a afiliada mexicana da instituição em 2007 e 2008 disse que tentou eliminar as deficiências que encontrou na operação.
"Acredito que fizemos progressos concretos no HSBC México durante meu breve mandato", afirmou Paul Thurston. Entretanto, acrescentou: "Sabemos que deveríamos ter feito muito mais, bem mais cedo".
Os executivos declararam que o banco empreendeu profundas modificações em sua política e na cultura corporativa para impedir a utilização ilícita do banco. O HSBC, o maior banco europeu, sediado em Londres, mudou os quadros superiores da administração no ano passado.
O senador Carl Levin, democrata de Michigan e presidente da subcomissão, desafiou Thurston. "As pessoas sabiam que isso estava acontecendo nesse banco", disse Levin. "Por que permitiram que a coisa continuasse?" Thurston disse que o banco mexicano, adquirido pelo HSBC em 2002, foi um banco de "rápido crescimento" que não dispunha de controles contra lavagem de dinheiro.
O senador Tom Coburn de Oklahoma, representante da bancada republicana na comissão, afirmou que achava difícil acreditar que os executivos do HSBC desconhecessem o que estava acontecendo.
A CEO da divisão americana do HSBC, Irene Dorner, também pediu desculpas pela supervisão falha. "Lamentamos profundamente e pedimos desculpas" pelas falhas do HSBC. A divisão americana está entre os dez maiores bancos que operam nos Estados Unidos. E tem ativos por um total de cerca de US$ 210 bilhões em suas operações americanas.
As mudanças introduzidas pelo banco "serão incorporadas e ininterruptas", disse Dorner. "Estamos queimando as pontes para ter a certeza de que ninguém poderá voltar da maneira como era antes."
Stuart Levey, ex-funcionário de alto escalão do Departamento do Tesouro que ingressou no HSBC em janeiro como diretor do departamento jurídico, disse que em abril o banco adotou normas de supervisão mais rigorosas em todas as afiliadas.
Segundo Levin, as novas políticas adotadas pelo banco britânico "são excelentes medidas". Entretanto, afirmou, embora os pedidos de desculpas sejam aceitos, "a necessidade de responder pelas próprias ações é essencial como elemento dissuasor e ela faltava".
Ele citou exemplos, em anos passados, em que o HSBC - depois de sofrer sanções dos reguladores - prometera eliminar as deficiências, mas não o fez.
Segundo Levin, o HSBC precisa identificar qual de suas afiliadas representa grave risco de problemas e colocá-las sob controle rigoroso. O banco deveria pensar na possibilidade de fechar a conta de sua afiliada mexicana, acrescentou. O HSBC deveria fechar também suas contas com bancos suspeitos de fornecer recursos para grupos terroristas, na sua opinião.
O relatório da subcomissão mostra que algumas afiliadas driblaram as proibições do governo americano contra transações financeiras com o Irã e outros países. E a divisão americana forneceu dinheiro e serviços bancários a bancos na Arábia Saudita e em Bangladesh que teriam ajudado a financiar a Al-Qaeda e outros grupos terroristas.
O Departamento de Justiça dos EUA informou que está realizando uma investigação criminal nas operações do HSBC, mas não confirmou se o banco está em conversações para chegar a um acordo. A lavagem de dinheiro repassa os lucros com o tráfico de drogas, de armas e com outras atividades ilícitas para contas bancárias para disfarçar a atividade criminosa.
Levin também criticou a agência federal que supervisiona as operações americanas do banco, o Escritório do Controlador da Moeda. Segundo ele, a agência "tolerou" durante anos os controles negligentes do HSBC sobre a lavagem de dinheiro. Thomas Curry, chefe do Escritório do Controlador, também deveria depor na audiência de ontem.
A conformidade da política de negócios com as leis contra a lavagem de dinheiro "é crucial para os esforços da nossa nação no combate à atividade criminosa e ao terrorismo", disse Curry em um documento. A agência, afirmou, confia que os bancos tenham programas adequados para poderem cumprir as leis.
TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA
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