O Globo.com, 12/07/2012
Demóstenes Torres reassume cargo de procurador no MP-GO
Evandro Éboli / Fernanda Krakovics / Paulo Celso Pereira
BRASÍLIA - Apenas um dia após ser cassado e afastado da vida política até 2027, o ex-senador Demóstenes Torres reassumiu nesta quinta-feira seu cargo de procurador no Ministério Público de Goiás.
Com direito a sala exclusiva, dois assessores e até plaquinha com o
nome na porta, instalada no mesmo dia. Mas, trabalho mesmo, só daqui a
uma semana. Ele solicitou um abono funcional, um direito dele, para
fazer a mudança para Goiânia e, com isso, recomeça no emprego semana
que vem. Seu salário será de cerca de R$ 24 mil.
Demóstenes esteve pessoalmente nesta quinta-feira à tarde no prédio do Ministério Público de Goiás, onde protocolou o “comunicado de exercício”, voltando formalmente à instituição, da qual estava licenciado há 13 anos. O ex-senador volta a ocupar as funções de procurador na área criminal da 27ª Procuradoria daquele MP, na mesma área em que atuou no passado. O cargo estava vago há algumas semanas. Seu substituto fora promovido. Os processos que ficarão sobre sua responsabilidade ainda serão distribuídos, para que ele comece a trabalhar.
Os dias que terá para realizar sua mudança são assegurados pela Lei Orgânica do Ministério Público. No MP de Goiás, Demóstenes responderá a procedimento disciplinar para apurar “eventual falta funcional”. A Corregedoria-Geral do MP divulga hoje como se dará esse processo. Em nota de anteontem, a Corregedoria informou que esperaria a publicação da cassação no Senado e a confirmação do retorno de Demóstenes para adotar, de ofício, as providências para instaurar o procedimento.
Demóstenes foi cassado na quarta-feira com 56 votos a favor da perda do mandato, 19 contrários e cinco abstenções. O clima de constrangimento do Senado, após a cassação, deu lugar à ironia de alguns senadores ao comentar a intenção do goiano de recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar recuperar o mandato. Chance zero, diziam os senadores. O ex-senador foi abandonado até por seu advogado, Antonio Carlos de Almeida Castro, que descartou o recurso ao STF logo após a sessão de cassação.
— Não há o que fazer, o plenário (do Senado) é soberano. O julgamento foi político, mas é um direito do Senado fazê-lo — disse o advogado.
— A esta altura do campeonato, água-benta e presunção, cada um toma na quantidade que quiser — reagiu o líder do PT, senador Walter Pinheiro (BA).
Na quarta-feira à noite, Demóstenes escreveu no Twitter: “Vou recuperar no STF o mandato que o povo de Goiás me concedeu. Os motivos são suficientes: fui cassado sem provas, sem direito a ampla defesa e sem ter quebra de decoro.”
Os argumentos de Demóstenes são refutados pelos senadores e pelo advogado-geral do Senado, Alberto Cascais, para quem essa é uma questão interna da Casa. O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) disse que, se o STF tomar decisão favorável ao ex-senador, será uma interferência de um Poder em outro. O que ele não acha que acontecerá.
— Esse é o jus esperneandi (direito de espernear) — disse o líder do PSDB, senador Álvaro Dias (PR).
— Que bom que ele tem esperança — ironizou Gim Argello (PTB-DF).
Presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, o senador Eunício Oliveira (PMDB-CE) afirmou que o processo por quebra de decoro obedeceu ao regimento e à Constituição, mas que Demóstenes tem direito de tentar anulá-lo.
Para o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), Demóstenes não tem a menor chance de recuperar o mandato:
— Como já dizia Tancredo Neves, a política ilude mais que o amor.
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UOL, 12/07/2012
Para OAB, Demóstenes não deveria reassumir como procurador até fim de investigação
Fernanda Calgaro
Do UOL, em Brasília
A
OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) defende que o ex-senador Demóstenes
Torres (sem partido-GO) deveria aguardar o fim das investigações que
apuram seu envolvimento com Carlinhos Cachoeira para só então reassumir
as suas funções como procurador de Justiça de Goiás. Na tarde desta
quinta-feira (12), um assessor do Ministério Público de Goiás confirmou
que Demóstenes já havia retirado um processo.
“Sobretudo um cargo que faz parte de um órgão de defesa da sociedade, de fiscalização da lei e exige uma postura para além da espartana, rigorosa do ponto de vista ético.”
Demóstenes teve o seu mandato de senador cassado na quinta-feira em uma sessão histórica no Senado: foram 56 votos a 19 por quebra de decoro parlamentar. Ele só poderá voltar a disputar eleições em 2027.
O ex-senador responde a uma ação proposta pela Procuradoria-Geral da República sobre o seu suposto envolvimento com o esquema de Cachoeira. Com a perda do mandato, ele perde também o foro privilegiado e não será mais julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O processo deve passar para o Tribunal de Justiça de Goiás. Já se ele for desligado do ministério antes do julgamento, poderá ser julgado pela Justiça Federal em Goiás.
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