Atuação desastrada de Andressa Mendonça eleva prejuízo de Cachoeira e da revista Veja
31/7/2012 13:28, Por Redação - de Brasília e São Paulo
Depois da tentativa de suborno feita por Andressa Mendonça, o jornalista
Policarpo Júnior deverá ser convocado a depor na CPMI do Cachoeira
A incursão da socialite Andressa Mendonça ao gabinete do juiz da 11ª Vara Federal de Goiânia, Alderico Rocha Santos, além dos R$ 100 mil em dinheiro que precisará depositar nas próximas horas, custou também o pedido de demissão do advogado e ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos. O escritório de Thomaz Bastos anunciou, nesta terça-feira, que ele deixa oficialmente a defesa do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. A saída foi protocolada junto ao processo, no início desta tarde.
Para Thomaz Bastos, a detenção de Andressa Mendonça, ex-mulher do senador Wilder Morais (DEM-GO) e atual mulher de Cachoeira – após a tentativa de chantagem ao juiz Rocha Santos – foi a “gota d’água” em uma situação crítica que durava algumas semanas. Em uma das visitas ao réu, uma advogada do escritório de Thomaz Bastos, Dora Cavalcanti, foi agredida verbalmente por Cachoeira. Segundo advogados da equipe, não há previsão de ressarcimento ao cliente de parte dos R$ 15 milhões cobrados pelo patrocínio à causa do contraventor. Se houvesse, este seria um problema a menos para Andressa Mendonça que, além de encontrar dificuldades para reunir os recursos necessários ao pagamento da fiança, em juízo, poderá ser presa e sofrer um processo que resultaria na perda da guarda dos dois filhos, de 4 e 6 anos, que teve no casamento com o empreiteiro Wilder Morais, substituto do ex-senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO) no cargo.
Veja no prejuízo
Mas o maior prejuízo na tentativa de corrupção ao magistrado goiano ficou mesmo com a Editora Abril, que publica a revista semanal de ultradireita Veja. Em nota oficial, o juiz Rocha Santos afirma que a mulher de Cachoeira teria lhe oferecido a chance de não ver seu nome exposto em uma matéria na publicação, que estaria de posse de uma espécie de dossiê contra ele e outras pessoas de seu convívio.
– Ela (Andressa) me procurou, no meu gabinete, e disse ter em seu poder um dossiê, preparado por jornalista de uma publicação de repercussão nacional. Ela disse, ainda, que se decidisse pela liberdade do Carlinhos Cachoeira, esse dossiê não seria publicado – disse o juiz a assessores de seu gabinete. Esta série de “informações desfavoráveis” ao juiz Rocha Santos seria publicado pelo repórter Policarpo Júnior, na revista Veja, segundo teria afirmado o juiz. “Foi com essa informação que ela pediu a audiência e entrou na sala do juiz, na semana passada. Outro juiz federal, Wilson Dias, também foi apontado por ela como alvo do dossiê”, afirma nota da PF.
Para evitar a publicação da matéria, Andressa Mendonça teria garantido ao magistrado que poderia segurar a publicação, mas para isso ele precisaria conceder “liberdade ao réu Carlos Augusto de Almeida Ramos” e o absolver “das acusações ofertadas pelo Ministério Público Federal (MPF)”, diz o texto da representação do MPF. Esse tipo de chantagem, segundo denúncia na Justiça, é uma prática corriqueira do contraventor, em conluio com a revista. Cachoeira responde a processo criminal na Justiça Federal, acusado de comandar um esquema de jogos ilegais e de corrupção de agentes públicos que envolveria a participação do jornalista Policarpo Júnior. Em nota distribuída na manhã desta terça-feira, a Editora Abril afirma que a “direção da Veja afirmou que seu Departamento Jurídico está tomando providências para processar o autor da calúnia que tenta envolver de maneira criminosa a revista e seu jornalista com uma acusação absurda, falsa e agressivamente contrária aos nossos padrões éticos.”
Na CPMI
A resposta da organização jornalística controlada por Roberto Civita, no entanto, foi insuficiente para evitar o pedido de convocação do diretor da sucursal da revista Veja em Brasília, o jornalista Policarpo Junior. Uma vez aprovada em plenário da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os crimes cometidos pela organização criminosa chefiada pelo contraventor Carlinhos Cachoeira.
– Com os acontecimentos de hoje, está colocada a relação do jornalista com a organização criminosa. A convocação constará na pauta da primeira reunião da CPMI – afirmou o vice-presidente da Comissão, deputado Paulo Teixeira (PT-SP).
O parlamentar também ampara seu pedido de convocação do jornalista Policarpo Júnior para depor na CPMI nos grampos legais produzidos pela Operação Monte Carlo. Em um deles, o bicheiro se vangloria de ter produzido todos os furos de reportagem publicados pelo jornalista. Isso inclui, por exemplo, o vídeo em que Maurício Marinho aparece recebendo uma propina de R$ 3 mil nos Correios – na origem do processo conhecido como ‘mensalão’. Em outra conversa gravada, Cachoeira e Policarpo falam diretamente sobre como uma reportagem de Veja poderia levar à queda do então ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento. Em um terceiro grampo, a PF também identifica a presença de Veja em uma perseguição do ex-ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, em um hotel de Brasília.
Na CPMI, o relator Odair Cunha já havia recebido uma demanda para que Júnior fosse convocado a depor, mas não colocou em votação os requerimentos. Segundo parlamentares, há uma pressão muito grande por parte dos grupos Abril, Folha e Globo para que a CPMI do caso Cachoeira não se transforme em uma investigação mais ampla, sobre a atuação da mídia conservadora no emaranhado de crimes cometidos pela organização de Cachoeira e afins, agora com a participação até da mulher, Andressa Mendonça.
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