sábado, 31 de março de 2012

A cúpula dos BRICS e o boicote da mídia ocidental

http://www.maurosantayana.com/2012_03_01_archive.html

30/03/2012


A CÚPULA DOS BRICS E O BOICOTE DA MÍDIA OCIDENTAL .


Por Mauro Santayana


A cada ano, quando chega a época da Cúpula Presidencial dos BRICS – a quarta edição desse encontro acaba de terminar em Nova Delhi, a capital indiana – torna-se cada vez mais evidente, para o observador atento, o patético esforço da mídia “ocidental” (entre ela boa parte da nossa própria imprensa) de desconstruir a imagem de uma aliança geopólítica que reúne quatro das cinco maiores nações do planeta em território, recursos naturais e população e que está destinada a modificar a o equilíbrio de poder no mundo, no século XXI.

Essa estratégia – com a relativa exceção dos meios especializados em economia - vai de simplesmente ignorar o encontro, à tentativa de diminuir sua importância, ou semear dúvidas sobre a unidade dos principais países emergentes, tentando ressaltar suas diferenças, no lugar do reconhecer o que realmente importa: a política comum dos BRICS de oposição à postura neocolonial de uma Europa e de um EUA cada vez mais instáveis, que se debatem com um franco processo de decadência econômica, diplomática e social.

Para isso, a mídia ocidental – incluindo a “nossa” - ignora os despachos das agências oficiais dos BRICS, principalmente as russas e as chinesas, que ressaltam a importância do Grupo e de suas iniciativas para suas próprias nações – o Brasil inexplicavelmente ainda não possui serviços noticiosos em outros idiomas, coisa que até mesmo Angola utiliza, e muito bem – e se concentra em procurar e entrevistar observadores “ocidentais” ou pró-ocidentais situados em esses países, que se dedicam a repetir a cantilena da “impossibilidade” do estabelecimento de uma aliança geopolítica de fato entre o Brasil, a Rússia, a Índia, a China e a África do Sul, baseados nos seguintes argumentos:
- A “distância” entre o Brasil, a África do Sul, e a Rússia, a índia e a China, como se em um mundo em que a informação é instantânea e um míssil atinge qualquer ponto do globo em menos de quatro horas, isso tivesse a menor importância.
- O fato de a África do Sul, o Brasil e a Índia serem democracias, e a China e a Rússia não serem democracias “plenas ” segundo o elástico conceito ocidental, que não considera a Venezuela uma democracia “plena”, mas o Kuwait ou a Arábia Saudita – autocracias herdadas e governadas pelo direito de sangue - sim.
- A concorrência da Índia, da China e da índia no espaço asiático, como se esses três países não cooperassem, até mesmo no campo militar, e não mantivessem reuniões, há muitos anos, para resolução de problemas eventuais.
- A rotulagem desses países em “exportadores de commodities” como a Rússia e o Brasil, “provedores de serviços”, como a India, e “fábricas do mundo”, como a China, como se essa situação, caso fosse verdadeira, não pudesse ser usada a favor de uma aliança intercomplementar, ou como se Rússia, Brasil e índia também não produzissem manufaturados, e entre eles produtos industriais avançados, como aviões, por exemplo.

É óbvio que uma aliança como os BRICS, que reúne um terço do território mundial, 25% do PIB, e praticamente a metade da população humana não se consolidará, política e militarmente, de uma hora para a outra. Mas também é igualmente claro, que não se trata de um grupo heterogêneo de nações que não tenham nada a ver uma com a outra. Se assim fosse, o Brasil não estaria fornecendo aviões-radares para a índia, não estaríamos desenvolvendo mísseis ar-ar e terra-ar com a DENEL sul-africana, ou comprando helicópteros russos de combate, ou não teríamos, há anos, um programa de satélites de sensoriamento remoto com a China.

O primeiro traço comum entre os grandes “brics” como a Rússia, a China, a índia e o Brasil, e, em menor grau, a África do Sul, é, como demonstra a sua oposição à política ocidental para com a Libia e a Siria, o respeito ao princípio de não intervenção. Porque o Brasil, a Rússia, a índia, a China, não aceitam que se intervenha em terceiros países, em função de questões relacionadas aos “direitos humanos”, por exemplo, ou devido à questão nuclear ? Porque, como são países que prezam a sua soberania, não aceitam que, amanhã, o mesmo “ocidente” que hoje ataca a Libia, a Siria, ou o Irã, venha se unir contra um deles, qualquer deles, por causa de outras questões, como poderia acontecer conosco, eventualmente, no caso dos “ direitos” indígenas, ou da defesa da Amazônia, o “pulmão do mundo”.

Quem tem telhado de vidro não joga pedra nos outros. Que atire a primeira quem nunca pisou na bola. Qual é o país, hoje, que pode acordar pela manhã, olhar-se, enquanto sociedade, no espelho, e dizer que não tem nenhum problema de direitos humanos? E mais, quem arvorou à Europa e aos norte-americanos a missão de julgar o mundo? Pode um país como os Estados Unidos, que invadiu e destruiu o Iraque, por causa de outro mito intervencionista, o da existência – comprovadamente falsa - de armas de destruição em massa naquele país, falar em direitos humanos ? Pode uma Nação que inventou e usou, no Vietnam, centenas de toneladas de um veneno químico chamado agente laranja, contaminando para sempre o solo e as águas de milhares de hectares de selva, falar em defesa da natureza e das florestas tropicais? Ou pode um país que jogou duas bombas atômicas sobre dezenas de milhares de velhos, mulheres e crianças desarmadas, queimando-as até os ossos - quando poderia – se quisesse – tê-las testado sobre soldados do exército ou da marinha japonesa, falar, em sã consciência, de controle de armamento atômico e da não proliferação nuclear?

A realidade por trás do discurso de defesa dos direitos humanos e da natureza é muito mais complexa do que Hollywood mostra às nossas incautas multidões em filmes como Avatar. Por mais que muitos espíritos de "vira-lata" queiram - mesmo dentro do nosso país - que Deus tivesse dado à Europa e aos Estados Unidos o direito de governar o mundo, para defender seu artificial e efêmero “american way of life”, ele não o fez.

Pequenos países, como a Espanha ou a Itália, na ilusão de se sentirem maiores, podem – assim o decidiram suas elites - abdicar de sua soberania política e econômica e bombardear a população civil na Líbia, no Iraque, no Afeganistão, em defesa de uma impossibilidade quimérica como a Europa do euro, e do mandato da “Pax Americana”. Nações como o Brasil, a Índia, a China e a Rússia, se aferram ao direito à soberania, ao recurso à diplomacia, à primazia da negociação. Não se pode salvar vidas distribuindo armas para um bando descontrolado de açougueiros que espanca e mata prisioneiros indefesos, desarmados e ensanguentados – mesmo que eles se chamem Khadaffi – e obriga jovens muçulmanos a desfilarem em fila, de joelhos, repetidas e infinitas vezes, sob a lente da câmera e a ameaça de armas e chicotes, para mastigar e engolir nacos de cadáveres de cães putrefatos.

O futuro da humanidade no século XXI e nos próximos, depende cada vez mais da emergência de um mundo multipolar que se oponha à pretensa hegemonia “ocidental”. E é isso – queiram ou não os jornais e comentaristas europeus e norte-americanos – que está em jogo a cada nova Cúpula dos BRICS, como a de Nova Delhi.

sexta-feira, 30 de março de 2012

É necessário não só exercer a vigilância, mas agir

EMÍLIO GARRASTAZÚ MÉDICI
O MAIS BRUTAL DITADOR DA HISTÓRIA BRASILEIRA.


Sua permanência à frente do Regime Militar foi marcada pela tortura, assassinatos políticos, censura, repressão generalizada, nacionalismo doentio e equivocado (“Brasil, ame-o ou deixe-o…”) e uma herança gigantesca de dívida por conta do alardeado “Milagre Brasileiro” que beneficiou sobremaneira a classe média e afundou de vez na pobreza e na miséria o restante da população.



http://www.redebrasilatual.com.br/temas/cidadania/2012/03/memorias-de-abril-e-o-golpe-da-informacao


30/03/2012

Memórias de abril e o golpe da informação


Por Mauro Santayana


Há 48 anos, quando o Brasil vislumbrava reformas constitucionais necessárias a seu desenvolvimento, os Estados Unidos financiaram e orientaram o golpe militar. E interromperam uma vez mais um projeto nacional proposto em 1930 por Vargas. Os acadêmicos podem construir teses sofisticadas sobre a superioridade dos países nórdicos para explicar o desenvolvimento cultural e econômico da Europa e dos norte-americanos e as dificuldades dos demais povos em acompanhá-los, mas a razão é outra. Com superioridade bélica, desde sempre, impuseram-se como conquistadores do espaço e saqueadores dos bens alheios, os quais lhes permitiram o grande desenvolvimento científico e militar nos séculos 19 e 20 e sua supremacia sobre o resto do mundo.
O golpe de 1964 não se iniciou com a renúncia de Jânio, três anos antes. Podemos ver sua origem mais próxima em 1953. Naquele ano, diante da resistência de Getúlio Vargas, que quis limitar as remessas de lucros e criou a Petrobras e a Eletrobrás para nos dar autonomia energética, a ação “diplomática” dos Estados Unidos cercou o governo. Com o aliciamento de alguns jornalistas e dinheiro vivo distribuído aos grandes barões da imprensa da época, construiu a crise política interna. Entre a lei que criou a Petrobras e a morte de Getúlio, em 24 de agosto, dez meses depois, o Brasil viveu período conturbado igual ao de agosto de 1961 a abril de 1964.
A propósito do projeto de Getúlio, seria importante a tradução e publicação, no Brasil, de um livro no qual essa operação é narrada em detalhes: "The Americanization of Brazil – A Study of US Cold War Diplomacy in The Third World, 1945-1954". Enfim um estudo sobre a diplomacia americana para o Terceiro Mundo em tempos de Guerra Fria. O autor, Gerald K. Haines, é identificado pela editora SR Books como historiador sênior a serviço da CIA, o que lhe confere toda a credibilidade.
Haines mostra como os donos dos grandes jornais da época foram “convencidos” a combater o monopólio estatal, até mesmo com textos produzidos na própria embaixada, no Rio. E lembra a visita ao Brasil do secretário de Estado Edward Miller, com a missão de pressionar o governo brasileiro a abrir a exploração do petróleo às empresas norte-americanas. O presidente da Standard Oil nos Estados Unidos, Eugene Holman, orientou Miller a nos vender a ideia de que, só assim, o Brasil se desenvolveria. O povo brasileiro foi às ruas e obrigou o Congresso a impor o monopólio.
A domesticação dos meios de informação do Brasil começara ainda no governo Dutra. Os americanos usaram as excelentes relações entre os intelectuais e jornalistas e o embaixador Jefferson Caffery, nos meses em que o Brasil decidira por aliar-se aos Estados Unidos na luta contra o nazifascismo, em benefício de sua expansão neocolonialista. A criação da Petrobras levou os ianques ao paroxismo contra Vargas, e os meios de comunicação acompanhavam a histeria americana. A estatal era vista como empresa feita com o amadorismo irresponsável dos ignorantes. A revista Fortune, citada por Haines, disse que a Petrobras “apenas dança um samba com os problemas básicos do petróleo”.
A morte de Vargas não esmoreceu os grupos que tentaram, em 11 de novembro do ano seguinte, impedir a posse de Juscelino, eleito em 3 de outubro. O golpe de Estado foi frustrado pela ação rápida do general Teixeira Lott. Em 1964, a desorganização das forças populares favoreceu a vitória dos norte-americanos, que voltaram a domesticar a imprensa e o Parlamento e manipularam os chefes militares brasileiros.
Os êxitos do governo atual e a nova arregimentação antinacional contra a Petrobras – agora com o pré-sal – devem mobilizar os trabalhadores que não estão dispostos a viver o que já conhecemos. Sabem que a situação internacional tende para a direita, e não podemos repetir apenas que o povo esmagará os golpistas. É necessário não só exercer a vigilância, mas agir, de forma organizada e já, para promover a unidade nacional em defesa do desenvolvimento de nosso país.

1º de abril: Cordão da Mentira vai escrachar apoiadores da ditadura

Viomundo, 30 de março de 2012


1º de abril: Cordão da Mentira vai escrachar apoiadores da ditadura

 






Depois dos assassinos e torturadores, agora é a vez dos apoiadores do golpe civil-militar de 1964 serem alvos de protestos.
Passando por jornais, empresas e lugares simbólicos do apoio civil à ditadura, o Cordão da Mentira irá desfilar pelo centro da cidade de São Paulo para apontar quais foram os atores civis que se uniram aos militares durante os anos de chumbo.
Os organizadores – coletivos políticos, grupos de teatro e sambistas da capital – afirmam ter escolhido o 1º de abril, Dia da Mentira e aniversário de 48 anos do golpe, para discutir a questão “de modo bem-humorado e radical”.
Ao longo do trajeto, os manifestantes cantarão sambas e marchinhas de autoria própria e realizarão intervenções artísticas que, segundo eles, pretendem colocar a pergunta: “Quando vai acabar a ditadura civil-militar?”.
O desfile do Cordão da Mentira acontecerá, portanto,  neste domingo, 1º de abril, dia da mentira e do Golpe Militar de 1964. A concentração será às 11h30, na frente do Cemitério da Consolação.
Venham todos e todas fantasiados para o Cordão da Mentira!
Sugestões de fantasia: médico legista, advogado, político, padre, bispo, policial militar…e não esqueçam, nossas cores são o vermelho e o preto!
O último ensaio será neste sábado, 31 de março, às 15h30, no Bar do Raí: Rua  Dr. Vila Nova  com  Gen Jardim, na Vila Buarque.

TRAJETO
A concentração acontecerá às 11h30, em frente ao cemitério da Consolação.
Em seguida, o cordão passará pela rua Maria Antônia, onde estudantes da Universidade Mackenzie, dentre eles integrantes do CCC (Comando de Caça aos Comunistas), entraram em confronto com alunos da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP. Um estudante secundarista morreu.
Dali, os foliões-manifestantes seguem para a sede da TFP (Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade), uma das organizadoras da “Marcha da Família com Deus, pela Liberdade”, que 13 dias antes do golpe convocava o exército para se levantar “contra a desordem, a subversão, a anarquia e o comunismo”.
Depois de passar pelo Elevado Costa e Silva –que leva o nome do presidente em cujo governo foi editado o AI-5, o mais duro dos Atos Institucionais da ditadura– o bloco seguirá pela alameda Barão de Limeira, onde está a sede do jornal Folha de S.Paulo. Segundo Beatriz Kushnir, doutora em história social pela Unicamp, a Folha ficou conhecida nos anos 70 como o jornal de “maior tiragem” do Brasil, por contar em sua redação com o maior número de “tiras”, agentes da repressão.
A ação da polícia na Cracolândia, símbolo da continuidade das políticas repressivas no período pós-ditadura, bem como o Projeto Nova Luz, realizado pela Prefeitura de São Paulo, serão alvos dos protestos durante a passagem do cordão pela rua Helvétia.
Finalmente, será na antiga sede do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), na rua General Osório, que o Cordão da Mentira morrerá.

TRAJETO
R. Maria Antônia – Guerra da Maria Antônia
Av. Higienópolis – sede da TFP
R. Martim Francisco
R. Jaguaribe
R. Fortunato
R. Frederico Abranches
Parada no Largo da Santa Cecília
R. Ana Cintra – Elevado Costa e Silva
R. Barão de Campinas
R. Glete
R. Barão de Limeira – jornal Folha de S.Paulo
R. Duque de Caxias – Cracolândia/Projeto Nova Luz
R. Mauá
Dispersão: R. Mauá com a R. General Osório – antigo prédio do DOPS

Parceiros:
- Bloco Carnavalesco João Capota Na Alves
- Brava Cia.
- Buraco d’Oráculo
- Cia. Antropofágica
- Cia. Estável de Teatro
- Cia. Estudo de Cena
- Cia. do Latão
- Cia. São Jorge de Variedades
- Coletivo Contra a Tortura
- Coletivo Dolores Boca Aberta
- Coletivo Desentorpecendo A Razão
- Coletivo Merlino
- Coletivo Político Quem
- Coletivo Zagaia
- Comboio
- Comitê Paulista de Verdade Memória e Justiça
- CSP – Conlutas
- Engenho Teatral
- Esquina da Vila
- Grupo Folias
- Grupo Milharal
- Grupo Tortura Nunca Mais/SP
- Kiwi Companhia de Teatro
- Luta Popular
- Mães de Maio
- Ocupa Sampa
- Os Aparecidos Políticos
- Projeto Nosso Samba de Osasco
- Rua do Samba Paulista
- Samba Autêntico
- Sarau do Binho
- Sarau da Vila Fundão
- Sindicato dos Advogados do Estado de São Paulo – SASP
- Sindicato dos Trabalhadores da Universidade de São Paulo – SINTUSP
- Tanq_ ROSA Choq_
- Tribunal Popular

O Cordão da Mentira conta com um grupo de sambistas, bateria e grupos de teatro que apresentarão músicas e encenações especialmente produzidas para o desfile da mentira.



Folha.com,
29/03/2012
Brasil é denunciado na OEA por caso Vladimir Herzog

LUCAS FERRAZ
DE BRASÍLIA

O Brasil foi denunciado na Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA (Organização dos Estados Americanos) por não apurar as circunstâncias da morte do jornalista Vladimir Herzog, assassinado nas dependências do Exército, em São Paulo, em 1975.
Segundo a denúncia, "o Estado brasileiro não cumpriu seu dever de investigar, processar" e punir os responsáveis pela morte de Herzog. 
O Itamaraty confirmou ter recebido a comunicação da OEA no dia 27 de março e está preparando uma resposta.
O caso foi levado ao organismo internacional, que já condenou o Brasil por omissões nos crimes da ditadura militar (1964-85), por entidades de direitos humanos, como Cejil (Centro pela Justiça e o Direito Internacional), FIDDH (Fundação Interamericana de Defesa dos Direitos Humanos), Grupo Tortura Nunca Mais e Instituto Vladimir Herzog.
O caso Herzog voltou a ser discutido no início de fevereiro, após a Folha revelar em reportagem a identidade de Silvaldo Leung, fotógrafo que foi usado pela ditadura para registrar a morte do jornalista.
Segundo depoimento de Leung, a cena do suicídio foi forjada. O fotógrafo, então aluno da Academia da Polícia Civil de São Paulo, disse que não teve liberdade para fotografar o cadáver do jornalista, como normalmente fazem os peritos fotográficos, e alega que foi perseguido.
Após a revelação da Folha, autoridades do governo envolvidos com o tema, como é o caso do ministro José Eduardo Cardozo (Justiça), defenderam que o assunto fosse novamente investigado.
Apresentado como suicida pelo Exército, a versão começou a ser contestada logo no dia da morte de Vlado, como o então diretor de jornalismo da TV Cultura era chamado.
Segundo testemunhas, após comparecer espontaneamente no DOI-Codi de São Paulo para prestar depoimento, Herzog morreu após ser barbaramente torturado. Depois, os agentes da repressão armaram a cena para tentar simular o suicídio.
Um inquérito militar instaurado ainda em 1975 confirmou que o jornalista se matou. Mas em 1978 a Justiça condenou a União pelo assassinato de Vladimir Herzog.
Nos últimos 20 anos, contudo, duas ações foram propostas para apurar as circunstâncias do assassinato, mas em ambos os casos a Justiça arquivou as investigações com base na Lei da Anistia e no argumento de que o crime prescreveu.
O argumento das organizações de direitos humanos para o caso ser investigado, baseado na própria jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos, diz que "são inadmissíveis as disposições de anistia, as disposição de prescrição e o estabelecimento de excludentes de responsabilidade, que pretendam impedir a investigação e punição" de quem cometeu graves violações aos direitos humanos, como torturas e assassinatos.
Após análise da comissão e da manifestação do Estado brasileiro, o caso provavelmente será levado à Corte Interamericana de Direitos Humanos da OEA, instância superior que poderá condenar o Brasil - como o fez em dezembro de 2010 por causa dos mortos e desaparecidos na guerrilha do Araguaia.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Greve geral contra o extremismo mercadista

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Quinta-Feira, 29 de Março de 2012

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Greve geral tem adesão massiva na Espanha

Esquerda.net

As principais centrais sindicais espanholas, CCOO e UGT, disseram na manhã desta quinta-feira (29) que a adesão à Greve Geral está sendo massiva e irá mesmo ultrapassar os números atingidos em setembro. Entre os 14 milhões de trabalhadores assalariados, a adesão deverá rondar os 85% a 90%, segundo avançam estas estruturas sindicais.

Segundo divulga a UGT e as CC OO em comunicado conjunto, as fábricas de automóveis estão praticamente paradas e o setor dos transportes só cumpre os serviços mínimos. 26 portos da rede de Portos do Estado estão totalmente parados. No setor da aviação, 2300 voos poderão ser afetados pela paralisação e a empresa Transmediterránea prevê o cancelamento de atividades em 22 dos seus trajetos marítimos. Nas fábricas da Renault, SEAT en Martorell, Volkswagen Navarra, Ford Almusafes e Bosch Madrid, e Airbus en Toledo a adesão à greve é total.

Os grandes centros de abastecimento da Andaluzia, especialmente o Mercasevilla, o Mercabarna e o Mercavalencia, na Catalunha, e a plataforma logística de Mercadona em Leon fecharam as portas e os setores da alimentação e o setor químico registam níveis de adesão que rondam os 80 a 90%. O turno da noite da fábrica da Repsol em Puertollano parou por completo.

No setor mineiro a adesão é de 100% e no setor têxtil atinge os 82%. A fáfrica da Inditex na Corunha fechou por completo. No recolhimento de lixo a adesão é de 95%, ascendendo a 100% em cidades como Madrid, Corunha, Zaragoza, Ceuta, Toledo, entre outras. No setor das limpezas a adesão foi, por sua vez, de 70%.

No que diz respeito à construção de infraestruturas, a greve chegou mesmo a parar por absoluto as obras da Adif e do prolongamento da linha 9 do metrô.

O setor postal regista uma adesão à greve de 74%, atingindo os 100% na Catalunha e os 98% na Andaluzia.

Também os meios de comunicação espanhóis optaram por aderir ao protesto. O Telemadrid, Canal Sur Televisión e o TV3 da Catalunha encerraram as emissões pelas zero hora do dia 29. A adesão na redação digital do diário Público é de 100%. Na imprensa escrita, regista-se uma adesão de 80% no El País e La Vanguardia e de 70% no resto da imprensa escrita da Catalunha.

Outro indicador que traduz o êxito desta Greve Geral diz respeito à diminuição do consumo de energia, que traduz a redução da atividade econômica. Por volta das sete da manhã, a procura já registava um decréscimo, face à semana anterior, de 23,37%, segundo a Rede Elétrica de Espanha.

Forte contingente policial
A greve tem sido acompanhada de perto por um enorme contingente policial que, inclusive, chegou a cortar os acessos em Madrid, junto ao Congresso.

Registaram-se alguns confrontos durante os piquetes da madrugada, que resultaram, segundo o Ministério do Interior, em dezenas de detenções e alguns feridos.

Os sindicatos denunciaram, entretanto, que os trabalhadores estão sendo alvo de pressões e chantagens por parte dos empresários e dos serviços públicos no sentido de não aderirem à greve.

Contra a reforma laboral e pelos serviços públicosA Greve Geral de 29 de março constitui uma protesto contra a reforma laboral promovida pelo governo de Rajoy, considerada pelos sindicatos como a mais regressiva da história da democracia”, e pela defesa dos serviços públicos.

Para os representantes da CC OO e da UGT, esta é uma mobilização “justa e necessária” perante a “regressão social” provocada pela política posta em marcha pelo atual governo.

Na Galiza também foi convocada pela Confederação Intersindical Galega uma greve geral para 29 de março. Para o País Basco e para Navarra, as centrais ELA, LAB, ESK, STEE-EILAS, EHNE e Hiru, também já teriam anunciado uma paralisação geral para este mesmo dia.

O protesto não merece o apoio do Partido Nacionalista Basco, sendo duramente condenado pelo Partido Popular.

O partido Esquerda Unida congratulou, por sua vez, a decisão das estruturais sindicais. Cayo Lara, citado pelo El Pais, defendeu que esta é uma “reforma duríssima, ante a qual o governo tem duas opções: ou negocia com os sindicatos e partidos dentro do trâmite parlamentar ou terá mais mobilizações”.


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Quarta-Feira, 28 de Março de 2012

Greve geral contra o extremismo mercadista


Por Saul Leblon


A greve geral convocada pelas centrais espanholas para esta quinta-feira, dia 29, acontece antes que o governo da direita, encabeçado pelo PP de Rajoy e Aznar, complete cem dias no poder. Trata-se de um recorde em termos de confronto sindical, que não se explica por um radicalismo há muito esmaecido nas organizações trabalhistas européias.

O extremismo que solapa qualquer convívio com a tolerância, no caso, é o das políticas de austeridade e supressão de direitos com as quais os mercados pretendem superar a crise da ordem neoliberal. Que se tenha chegado ao ponto de exigir o grau de expropriação em curso na zona do euro, diz muito sobre esse alicerce de fragilidade e predação a partir do qual o sistema busca se reinventar, depois de 2008.

O ataque coeso de agora, motivo da greve desta 5ª feira, visa eliminar, ou esmaecer, a rede protetora erguida no pós-guerra em torno do trabalho. O governo Rajoy não inova: segue a cartilha em implantação na Grécia,Portugal, Itália e alhures. Trata-se de desregular a peça-chave da engrenagem produtiva, que de certa forma lubrifica o conjunto das instituições democráticas. Extirpar a trincheira da proteção ao trabalho equivale de certo modo a suprimir a principal pilastra de resistência real e legal ao estado de exceção intrínseco à supremacia das finanças desreguladas.

Dois eixos da reforma laboral espanhola estendem o regime de exceção permanente ao núcleo duro de ordenação da economia e da sociedade européia herdado do século XX. Se as pretensões mercadistas não forem barradas, contratos precários e demissões sumárias, individuais e coletivas, serão barateados e agilizados; ao mesmo tempo, uma nova redação no artigo 41 do Estatuto dos Trabalhadores, espécie de lei trabalhista espanhola, permitirá às empresas modificar unilateralmente todas as esferas das relações entre capital e trabalho: desde a carga horária até a sua distribuição no dia, no mês e no ano; passando pela flexibilidade salarial, com ampliação da margem para ajustes discricionários no valor e no calendário de pagamento, até mudanças arbitrárias de função, turno, metas e produtividade.

Tudo isso, repita-se, tornar-se-á objeto de decisão estritamente privada, dispensado-se o capital das amarras civilizatórias tecidas pelas negociações coletivas e pelo poder coercitivo do Estado e da democracia, consolidados ao longo de décadas. Deve-se acompanhar com atenção os desdobramentos do braço-de-ferro entre a direita europeia e os sindicatos.

Muito do que será o novo rosto da democracia e da sociedade, após o colapso neoliberal, será decidido nesses enfrentamentos, em que o capital conta com a anomia, o desemprego e o desalento aguçados pela crise, para subtrair novos espaços à democracia.

Chevron mentiu o tempo todo sobre vazamentos

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http://www.aepet.org.br/site/noticias/pagina/8511/Fernando-Siqueira-fala-de-acidente-da-Chevron

Jornal Hora do Povo, 29/03/2012 

Fernando Siqueira fala de acidente da Chevron





















Chevron mentiu o tempo todo sobre vazamentos”, diz Fernando Siqueira

Negligenciou segurança para economizar

O vice-presidente da Aepet (Associação dos Engenheiros da Petrobrás) e do Clube de Engenharia do Rio de Janeiro, Fernando Siqueira, afirmou, no sábado (24), em entrevista à Hora do Povo, que a Chevron mentiu o tempo todo e não informou aos órgãos públicos que perfurou outro reservatório, localizado mais abaixo em relação ao que vinha sendo explorado antes. Ela fez isso sem saber qual era a pressão máxima que poderia utilizar. Esse fato causou os dois vazamentos da bacia de Campos. Siqueira disse que a Petrobrás, por ser uma empresa estatal, jamais se comportaria de forma tão irresponsável. Abaixo, a entrevista na íntegra.

HP - Qual a sua avaliação do processo aberto pelo Ministério Público Federal contra a empresa norte-americana Chevron?
FS - A Chevron negligenciou a segurança por motivo de economia. Resumidamente, o caso é o seguinte: a Chevron estava furando um poço. Havia um outro reservatório nas proximidades de onde ela já produzia. Ela conhecia a pressão deste reservatório vizinho. Então, ela furou esse reservatório. Só que havia um outro reservatório mais embaixo. Quando ela furou o primeiro, ela fez um teste mecânico de resistência do reservatório e chegou a uma pressão em torno de 11 libras por galão. Então, ela dimensionou uma lama tal que compensasse a pressão desse reservatório, que era 10,5 libras por galão, ou seja, uma pressão abaixo do limite de resistência do reservatório.E aí então, ela resolveu furar o reservatório mais embaixo. Mas, para furar esse reservatório mais embaixo, o correto teria sido revestir o poço nesse trecho, isolar o primeiro reservatório, que ela furou antes, e prosseguir a perfuração com toda a segurança, ou seja, a pressão que existisse no reservatório mais embaixo não iria repercutir no reservatório do primeiro nível, do nível mais acima. Isso seria o correto.
 
HP - Qual foi o motivo que levou a Chevron a negligenciar a segurança?
FS - Para economizar tempo e dinheiro. A Chevron correu o risco de continuar a perfuração e esperava encontrar, no segundo reservatório, a pressão do primeiro reservatório, porque, no outro, onde ela já produzia, a pressão era mais ou menos nesse nível. Isso é uma achologia. Um risco que não se pode correr na área do petróleo, principalmente no mar e a grandes profundidades. Então, a Chevron negligenciou a segurança para economizar. E prosseguiu na perfuração sem ter revestido o primeiro reservatório. Quando ela atingiu o segundo reservatório a pressão era mais alta do que ela esperava. Então houve um "quick" de pressão, uma ameaça de o poço jogar tudo para fora.

HP - Diante da constatação do problema, qual foi a atitude adotada pela Chevron?
FS - Os técnicos aumentaram e densidade da lama que estava sendo injetada e aumentaram a pressão em cima do reservatório para poder equilibrar a coluna. Ou seja, para poder equilibrar a pressão deste segundo reservatório. Só que, como o primeiro reservatório não estava isolado, essa lama, mais pesada do que ele suportava, migrou para ele e trincou a parte externa do reservatório. Trincou a casca do reservatório que é uma parte sólida da rocha que, impermeabilizada, não deixa o petróleo sair lá de dentro. Quando injetou uma pressão superior, a resistência dele cedeu e ele trincou. Não se sabe o tamanho dessa trinca, mas começou então a vazar petróleo do reservatório para o terreno.

HP - Há uma relação entre o desastre de novembro e o vazamento atual?
FS - Muito provavelmente há relação entre o desastre de novembro e o vazamento de agora. A gente supõe que esse segundo vazamento foi consequência da perfuração do segundo reservatório, porque como ele está a mais de mil metros abaixo da superfície do solo, a tendência do óleo é procurar veios no terreno para migrar até a superfície. Então, imagina-se que esse óleo migrou através do terreno e chegou a três quilômetros de distância do ponto original do acidente. Agora é complicado restabelecer a permeabilização do reservatório. A Chevron tinha suspenso todas as atividades de perfuração. Então, não teria sentido surgir outro acidente na área.

HP - A Chevron está escondendo informações das autoridades?
FS - A Chevron não está querendo abrir jogo. Ela não contou a verdade desde o começo. Mesmo a PF, interrogando alguns técnicos da área de perfuração, não conseguiu chegar à verdade. A Chevron, além de não dizer exatamente o que houve, mente desde o início. Primeiramente ela tentou atribuir o vazamento à Petrobrás, porque havia o campo de Roncador ali próximo. Teve-se que fazer um exame de DNA do petróleo para saber que era de Frade. Depois, no Congresso, falou que ela não tinha colocado a segunda sapata, ou seja, desviou para uma coisa menos grave. Em momento nenhum ela confessou que negligenciou a segurança quando deixou de fazer o procedimento correto, que seria revestir o poço para isolar o primeiro reservatório, uma vez que ela pretendia dirigir-se ao segundo reservatório. Sem saber a pressão que existia lá, ela tinha que tomar as providências seguras para não haver o acidente, e não tomou.


HP - Que diferença você vê entre essa atuação da Chevron e a atuação da Petrobrás?
FS - A Petrobrás é uma empresa estatal, portanto tem o controle da sociedade. O cartel não tem o controle de ninguém. Esse é um dos problemas de você ter empresas estrangeiras trabalhando aqui. Porque se fosse a Petrobrás, que é uma empresa estatal, que tem um controle do governo, ela teria que forçosamente contar a verdade, tomar as providências cabíveis e se responsabilizar completamente pela reparação do dano. A Chevron tentou enganar os órgãos públicos e isso é gravíssimo. É um desrespeito às leis do país, um desrespeito à soberania e, por isso, é que nós achamos que temos que acabar com os leilões, porque a Petrobrás tem as condições, as técnicas necessárias para explorar o petróleo.

HP - O Brasil precisa dessas empresas estrangeiras para explorar petróleo?
FS - A Petrobrás tem condições financeiras, porque financiamento para quem tem petróleo é a coisa mais viável do mundo. E ela tem a tecnologia necessária e o controle da sociedade. A Petrobrás contrata as mesmas empresas prestadoras de serviço que as outras petroleiras. Portanto, a tecnologia usada é a mesma. A Transocean, que é a empresa que perfurou Frade, trabalhou no golfo do México e houve lá o acidente da British Petroleum (BP). O acidente ocorreu porque a BP, também para economizar tempo e dinheiro, negligenciou a segurança e deixou de fazer uma cimentação mais segura. Fez uma cimentação muito aquém daquela recomendada. A Transocean aqui no Brasil trabalha para a Chevron. Ela também fez o que o cliente mandou, ou seja, negligenciou a segurança. A Transocean fura para a Petrobrás, só que a Petrobrás não exige dela esse tipo de atitude. Então tudo isso são argumentos fortíssimos para a gente não ter mais leilões de áreas petrolíferas no Brasil.

HP - Você acha possível controlar a atuação das empresas estrangeiras?
FS - Pelo contrário, até o governo americano é controlado pelo cartel. Só para dar um exemplo, eu propus ao Gabrielli, então presidente da Petrobrás, que o Lula fizesse um acordo com o Obama para a Petrobrás fornecer 4 milhões de barris por dia durante trinta anos, pelo preço de mercado, com a condição dele tirar os lobistas daqui do Congresso. E o Gabrielli disse que o Lula já tinha proposto isso, mas o Obama teria respondido que não tem controle sobre as empresas. Não existe um porta-voz das empresas. São as empresas que controlam o governo americano. Em lugar nenhum do mundo elas respeitam as leis. A Chevron está sendo processada no Equador. A Shell fez um desastre na Nigéria. Teve o desastre lá no Ártico, do petroleiro Exxon Valdez. Essas empresas não são controladas. A Chevron está mostrando isso aqui. Mentiu o tempo todo, não usou o procedimento correto e causou o acidente

Estado de SP aprova lei que legitima grilagem e sabota reforma agrária

SP deixou de se destacar em ser o membro da Federação com a economia mais pungente, para tornar-se o representante do que há de mais reacionário e retrógrado.

É hoje um poderoso freio contrário ao nosso desenvolvimento político e social.


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Quinta-Feira, 29 de Março de 2012

Lei entrega terras ao latifúndio em São Paulo


Isabel Harari



São Paulo - Sob pressão do governador Geraldo Alckmin (PSDB), a Assembléia Legislativa de São Paulo aprovou, na noite de ontem, o projeto de lei 687/2011, que regulariza propriedades de até 450 hectares no Pontal do Paranapanema. Isso representa a transferência oficial de 90% das terras do Pontal para particulares, em sua maioria usineiros e grandes empresários do agronegócio. A oficialização da posse ocorrerá mediante o pagamento de 10% do valor da terra nua. “É um valor irrisório, se o valor agregado à propriedade for levado em conta”, afirmou o deputado estadual Simão Pedro (PT), coordenador da frente pela reforma agrária no parlamento paulista.

A lei, segundo Delveck Matheus, da Direção Nacional do MST, é um retrocesso na política de reforma agrária em São Paulo. As terras públicas, no caso devolutas, deveriam ser destinadas à implantação de assentamentos que beneficiariam quase 2000 famílias na região. “A lei legitimará terras griladas, favorecendo os detentores do capital que tomaram posse dessas terras de forma ilegal. Agora,os proprietários terão mais controle sobre a terra e sobre a população que lá vive.”

A justificativa do governo para a aprovação da lei é que a legalização de parte das terras favoreceria os pequenos e médios agricultores, além de permitir o crescimento da segunda região mais pobre do estado de São Paulo, por meio do desenvolvimento do agronegócio da cana.

Ao todo, 900 propriedades correspondem a 80% das terras da região do Pontal do Paranapanema. Em sua maioria, elas têm dimensões de 300 a 500 hectares e pertencem a empresários com histórico de grilagem. A quantidade de pequenos e médios proprietários beneficiados pela regularização será mínima. A disseminação dos canaviais e o crescimento das empresas, promoverá a degradação do meio ambiente, diminuirá a quantidade de terras disponíveis para a implantação de assentamentos e a prática da agricultura familiar, aumentará os índices de desemprego, além de provocar um aumento ainda maior nos na fuga de capital para outras regiões do país e do mundo, segundo Simão Pedro e Matheus.

Simão Pedro afirmou que a lei tem como objetivo assegurar as terras dos grileiros e posseiros que, no passado, ocuparam o território, e hoje mantêm suas propriedade de forma irregular. Segundo o deputado, a bancada do PT tentou um acordo para diminuir a área das propriedades a serem regulamentadas, de até 500 hectares para até 200. Em um primeiro momento o governo se mostrou aberto a tais medidas mas, por pressão de empresários e deputados da região, recuou na última hora. O resultado final foi uma modificação cosmética: o projeto original previa a regulamentação de propriedades de até 500 hectares, correspondentes a 96% das terras da região. Na votação de ontem, a dimensão foi reduzida para 450 hectares.

Há outro projeto de lei, apresentado pelo pré-candidato a prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB), que propõe a regulamentação de todas as propriedades da região do Pontal do Paranapanema, inclusive as com dimensões superiores a 500 hectares. Ou seja, transmitir todas as terras para a iniciativa privada, acabando com a possibilidade da implantação da reforma agrária na região. O PL está parado porque provocou uma grande reação popular. O deputado Simão acredita que o projeto apoiado por Alckmin foi votado rapidamente para esvaziar a mobilização da sociedade civil contra o projeto – e, uma vez aprovado, evitar a pressão de setores sociais para que vete a lei. A pauta foi colocada de última hora e não constava na agenda da Alesp, confirmando a previsão do deputado.

“Em vez de promover o desenvolvimento do Pontal por meio da produção da pequena agricultura, como já acontece nos assentamentos da região, o que beneficiaria a maioria da população que lá vive, o governo pretende levar a cana e o agronegócio. Essea lei tenta transferir patrimônio público para pessoas privadas numa canetada só”, emenda Simão.

STJ é criticado por relativizar estupro de menores de 14 anos

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Quinta-Feira, 29 de Março de 2012

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STJ é criticado por relativizar estupro de menores de 14 anos

 

Vinicius Mansur



Brasília - Uma decisão tomada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) no início desta semana trouxe perplexidade para os defensores dos direitos humanos. Entre os ministros da 3ª Seção do STJ, prevaleceu o entendimento de que o fato de um adulto praticar relação sexual com uma adolescente com menos de 14 anos não pode ser considerado necessariamente um estupro.

No caso analisado, que ocorreu em São Paulo (SP), o réu era acusado de ter violentado sexualmente três meninas de 12 anos de idade. No entanto, tanto o STJ quanto o Tribunal de Justiça local (TJSP) o inocentaram, usando como argumento a justificativa de que as adolescentes “já se dedicavam à prática de atividades sexuais desde longa data”.

O acórdão do TJSP afirma que “a prova trazida aos autos demonstra, fartamente, que as vítimas, à época dos fatos, lamentavelmente, já estavam longe de serem inocentes, ingênuas, inconscientes e desinformadas a respeito do sexo”.

Críticas

Para o coordenador Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente do Distrito Federal (Cedeca-DF), Vítor Alencar, a decisão é preconceituosa. “Existe todo um arcabouço normativo que protege essas meninas, que estavam numa situação de exploração sexual. Mas ela [a relatora, ministra Maria Thereza de Assis Moura] diz de maneira preconceituosa que as meninas não merecem ter seus direitos reconhecidos porque estavam na prostituição”, critica.

Para Alencar, a decisão usa a prática de um crime para justificar a absolvição do réu. Ele explica que tanto o Estatuto da Criança e do Adolescente, como o Código Penal brasileiro estabelecem que a venda do corpo por menores de 18 anos não é considerada prostituição, mas exploração sexual. E ainda, a Lei 12.015, de 2009, cria, no Código Penal, a figura do estupro de vulnerável, que considera crime ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 anos.

A ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Maria do Rosário, em declarações à imprensa, considerou que a decisão do STJ implica em “construir um caminho para a impunidade” e disse acionará o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, e com o advogado-geral da União, Luiz Inácio Adams, para buscar "medidas jurídicas cabíveis"

Em nota pública, a Secretaria de Política para as Mulheres da Presidência da República classificou a decisão como um desrespeito, considerando irrelevante o consentimento de meninas menores de 14 anos para configurar o crime de estupro.

Para a Comissão Brasileira Justiça e Paz (CBJP), da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a decisão “pode abrir um perigoso precedente quando se sabe de casos de ‘turismo’ e exploração sexual, tristemente presentes no cotidiano de milhares de crianças e adolescentes brasileiras”, caminhando “na contramão de governos, organismos e agências internacionais, universidades e sociedade civil que desenvolvem e aplicam políticas públicas com vistas à superação desta violência”.

Boitempo e Carta Maior lançam "Occupy - movimentos de protesto que tomaram as ruas" E


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Quinta-Feira, 29 de Março de 2012


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Boitempo e Carta Maior lançam "Occupy - movimentos de protesto que tomaram as ruas"

 

A Boitempo está lançando, em parceria com a Carta Maior, a coletânea "Occupy – movimentos de protesto que tomaram as ruas", reunindo artigos de pensadores críticos deste novo momento da política global em que a voz das ruas passa a ocupar o cenário. O debate de lançamento e a noite de autógrafos do livro acontecerá no dia 4 de abril, das 20 às 23 horas, no Espaço Revista Cult, em São Paulo. O livro será vendido a preço de custo, graças à colaboração dos autores e ilustradores, que cederam os direitos autorais para tornar a obra mais acessível.

 

Redação

A memória coletiva marcará 2011 como o ano em que as pessoas tomaram as ruas de diversos países em uma onda de mobilizações e protestos sociais: um fenômeno que começou no norte da África, derrubando ditaduras na Tunísia, no Egito, na Líbia e no Iêmen; estendeu-se à Europa, com ocupações e greves na Espanha e Grécia e revolta nos subúrbios de Londres; eclodiu no Chile e ocupou Wall Street, nos EUA, alcançando no final do ano até mesmo a Rússia. Das praças ocupadas por acampamentos às marchas de protesto nas avenidas das principais metrópoles, emergiu uma consciência de solidariedade mútua que resultou em toda sorte de material multimídia sobre o movimento na internet, amplamente compartilhado nas redes sociais.

Inspirada por essa campanha colaborativa, a Boitempo lança, em parceria com a Carta Maior, a coletânea Occupy – movimentos de protesto que tomaram as ruas, a qual reúne artigos de pensadores críticos deste novo momento da política global em que a voz das ruas passa a ocupar o cenário. O livro será vendido a preço de custo, graças à colaboração dos autores e ilustradores, que cederam os direitos autorais para tornar a obra mais acessível e condizente com a proposta do movimento.

Imbuídos não só da lucidez da crítica, mas também da esperança e da paixão pelo engajamento, os textos apresentam alguns consensos, como a certeza do declínio geral do capitalismo; a percepção de uma nova solidariedade social; e a análise da ausência, até o momento, de uma definição estratégica dos movimentos de ocupação.

Apesar de Tariq Ali dizer que saber contra quem se luta é um importante começo, Slavoj Žižek é bem categórico ao afirmar que não basta saber o que não se quer, é preciso saber o que se quer. O povo, de acordo com ele, sempre tem a resposta, o problema é não saber a pergunta.

A identificação da desigualdade social, da riqueza e do poder de 1% da população mundial contra os 99% já está clara de acordo com João Alexandre Peschanski. Giovanni Alves acredita que é essencial um programa coerente para a formação de um novo movimento de organização de classe que junte o proletariado e o precariado, mas a conclusão de Vladimir Safatle sobre o programa reformista e regulacionista do capitalismo é categórica e controversa: “a época em que nos mobilizávamos tendo em vista a estrutura partidária acabou”.

No hemisfério norte, Immanuel Wallerstein e Mike Davis comemoram 2011 como um bom ano para a esquerda, enquanto David Harvey defende a importância da união dos corpos no espaço público. Com foco no Oriente Médio, Emir Sader analisa a Primavera Árabe, em que a necessidade de organizações políticas é ainda maior dada a presença dos movimentos fundamentalistas e de uma interferência militar direta da OTAN e dos EUA.

O caso brasileiro, abordado no texto de Edson Teles, ainda não teve movimentos da mesma magnitude que os de outros países, mas possui a peculiaridade de mobilizar setores da juventude e de excluídos sociais. Tais grupos foram alvo, em 2011, de uma sistemática repressão policial, desde as marchas da maconha em São Paulo e a entrada de tropas de choque na USP até a expulsão dos moradores do Pinheirinho e os projetos higienistas no centro das capitais.

A extrema-direita, que revelou em 2011 a sua face mais explícita, no massacre na Noruega, também cresce. A troika (União Europeia, FMI e Banco Europeu) dita ordens de mais austeridade e todos os governos as seguem. Ao que tudo indica, o duro inverno do hemisfério norte será seguido por uma primavera politicamente quente em 2012, colocando na ordem do dia o debate sobre a natureza e a evolução dos novos movimentos políticos que floresceram em 2011. Poderá a indignação se tornar revolução?
[Baseado na apresentação de Henrique Soares Carneiro]

O debate de lançamento e a noite de autógrafos do livro acontecerá no Espaço Revista Cult, dia 4 de abril, quarta-feira, das 20h às 23h. O evento contará com a participação dos autores Edson Teles, Giovanni Alves, Henrique Carneiro, Leonardo Sakamoto (a confirmar) e Vladimir Safatle.

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quarta-feira, 21 de março de 2012

 

Nos Estados Unidos aprovam lei que proíbe alimentar sem-teto nas ruas

 

Filadélfia e Houston são duas das cidades que aprovaram essa lei. Segundo o prefeito da Filadélfia, Michael Nutter, dar de comer a quem tem fome nas ruas "viola as condições sanitárias".

Mas os opositores dizem que a verdade é outra: prefeitos querem expulsar dos centros e das ruas os homeless, atingidos em cheio pela crise que assola os EUA.

Pero los activistas están convencidos de que la verdadera causa del Gobierno de Filadelfia es limpiar la zona turística de los 'poco estéticos' sin hogar.
"Poco estéticos", ou seja, essa "gente diferenciada", os não-WASP, não-Higienópolis que teimam em comer e marcar presença nas ruas e lembrar da crise que lhes jogou ali.

Reportagem completa
aqui.

O desmonte de fato da TV Cultura

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Quinta-Feira, 29 de Março de 2012

“Agora eles começaram o desmonte de fato”, diz trabalhador da TV Cultura



Fábio Nassif



São Paulo - O processo de privatização da TV Cultura começou em 2004, no governo Geraldo Alckmin. Na gestão de Marcos Mendonça, a diretora Julieda Puig de Paz começou o desmonte com um “Planejamento Estratégico” que resultou em pouco mais de 300 demissões. Já era o projeto de transformar a TV em uma “grande prestadora de serviços”. No final da gestão passada, quando José Serra já havia deixado o governo para disputar a Presidência pelo PSDB, o seu vice, Alberto Goldman, então no cargo, indicou o nome de João Sayad para a presidência da Fundação Padre Anchieta. Sayad, de volta a um governo Alckmin, está completando o projeto.

Esta é a visão de Sérgio Ipoldo Guimarães, coordenador do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Radiodifusão e Televisão no Estado de São Paulo e funcionário da TV Cultura há 25 anos, que acompanhou de perto o desmonte da tevê educativa do Estado – um projeto tucano, uma vez que não sofreu solução de continuidade ao longo dos dois últimos governos do PSDB.

Em entrevista à Carta Maior, Guimarães aponta a pouca transparência na gestão da emissora, nos últimos governos, e para o uso eleitoreiro da “privatização” da Cultura para empresas de jornalismo. “Eu acho que nas campanhas os caras do PSDB serão beneficiados por meio desses veículos”, afirmou. Abaixo, a íntegra da entrevista:

CARTA MAIOR: Em sua opinião, quando começou o processo de privatização da TV Cultura?

GUIMARÃES: Se eu não me engano em 2004, na gestão do Marcos Mendonça, quando eles colocaram uma diretora chamada Julieda Puig de Paes. Ela tinha um cargo de superintendente, mas era uma espécie de interventora. Ela começou a fazer uma série de levantamentos sobre a emissora e instituiu um café da manhã com os funcionários que, na verdade, serviu para sugar informações dos próprios trabalhadores – por exemplo, se determinado setor tinha muita gente, se poderia funcionar com menos trabalhadores e esse tipo de coisa. Sabe como é, o peão quando tem oportunidade de conversar com alguém grande da empresa, se sente parte da empresa e acaba prejudicando a vida dele mesmo. Isso findou com 300 e poucas demissões e também com um documento que ela fez chamado “Planejamento estratégico”. E este documento previa tudo o que está acontecendo hoje.

CARTA MAIOR: O que dizia esse documento?

GUIMARÃES: A síntese era que a TV Cultura viraria uma grande prestadora de serviços, que é o que está acontecendo. Haviam contratos com a TV Justiça, Tribunal Superior Eleitoral e mais uns seis ou sete nesta esfera do Legislativo e do Judiciário. Não sei se houve algum problema político que impediu João Sayad de mantê-los, mas de resto o projeto foi mantido: a Univesp – que virou um canal – e várias parcerias com a Secretaria de Cultura. Ou seja, você tem um plantel mínimo, faz a rescisão de alguns contratos de trabalhadores provisórios que geralmente não incluem alguns direitos trabalhistas e não podem gerar processos judiciais contra a emissora. Assim, reduziram drasticamente a folha de pagamento.

CARTA MAIOR: E as demissões?

GUIMARÃES: O que o Paulo Markun e Marcos Mendonça não concretizaram desse planejamento estratégico da Julieda, o João Sayad está fazendo. Mas tem um diferencial nas demissões. Desta vez eles estão eliminando postos de trabalho. Segue esta lógica, da diminuição das equipes e a compra desses enlatados, como é com a Folha de S. Paulo. Eu acho que agora eles começaram o desmonte de fato. Até então eles demitiam, mas depois contratavam e mantinham mais o menos o mesmo número de funcionários. Agora não, eles estão peitando inclusive algumas estabilidades. Na última leva foram demitidas quatro ou cinco pessoas que são ditas estáveis lá por aquela coisa chamada Constituição de 88. Acharam uma brecha jurídica pelo fato de estarem aposentados.

CARTA MAIOR: Falta transparência nesta gestão?

GUIMARÃES: Nós já fizemos há algum tempo atrás denúncias com indícios de rolo pra Procuradoria das Fundações. Recebemos um retorno de um procurador solicitando mais subsídios para tal denúncia, sendo que cabe ao Ministério Público esse papel. Vamos ver se agora com mais entidades e mais força conseguimos recolocar estas denúncias. Teve o episódio da TV Assembleia, por exemplo, quando foi afastado o diretor de comunicação Antonio Rudnei Denardi e o ex-diretor da Cultura Alberto Lucchetti. Nós já havíamos denunciado, mas a Procuradoria das Fundações ignorou. Tem rolo pra todo lado. Eu acho que só se tiver muita pressão da sociedade esses promotores fazem alguma coisa.

CARTA MAIOR: Outros direitos trabalhistas foram retirados?

GUIMARÃES: Já tiveram processos de trabalhadores aposentados demitidos que foram reintegrados. Para nossa surpresa, mandaram embora esses quatro ou cinco que estão nesta situação e existem outros que mais cedo ou mais tarde podem sofrer o mesmo ataque. No dia 10 haverá uma reunião do Conselho da Fundação Padre Anchieta. Precisamos fazer uma mobilização lá na frente.

CARTA MAIOR: Qual sua opinião, especificamente sobre o contrato com a Folha, Estadão, Veja etc?

GUIMARÃES: A informação que a gente tem é que a Folha não está pagando absolutamente nada. O que é pior. Deve estar pagando de alguma outra forma.

CARTA MAIOR: Passou pelo Conselho esse contrato?

GUIMARÃES: Segundo o deputado Simão Pedro (PT), passou em um dia em que ele não estava e houveram várias ausências. Eles nem enviam as pautas antes das reuniões do Conselho ou mandam muito em cima. As pessoas vão pra lá sem saber o que vão discutir.

CARTA MAIOR: É preciso democratizar o Conselho?

GUIMARÃES: Com certeza precisa democratizar. Em primeiro lugar, o Conselho dificilmente tem quórum. Só quando tem eleição seus integrantes se mobilizam. De resto, não tem representatividade da sociedade. Nem pegar boletim dos trabalhadores da TV Cultura eles pegam. Qual o compromisso que eles tem com a TV? Outra questão que ilustra o problema do Conselho: os dois sindicatos que representam as categorias, dos radialistas e dos jornalistas, não têm assento. Tem uns poucos que podemos contar e mesmo assim falham. Por exemplo, um cara da União Nacional dos Estudantes (UNE) faz discursos na reunião da Frente Paulista pela Democratização da Comunicação mas não aparece nas reuniões do Conselho. Nós recebemos a ata, pelo e-mail interno da TV, um mês depois das reuniões, então sabemos quem comparece. Os deputados também: dependendo do ano de eleição, podemos contar ou não com eles. E são sempre poucos. Além deles, tem os reitores de universidades, secretários municipais e estaduais e essas personalidades indicadas pelos conselheiros que não ajudam.

CARTA MAIOR: De quem é a responsabilidade por esse processo de privatização?

GUIMARÃES: Do governo do Estado de São Paulo.

CARTA MAIOR: Acha que existe corrupção e mal uso da verba pública?

GUIMARÃES: Com certeza, pois qual a transparência que temos? Só como exemplo, os trabalhadores que são chamados para gravar as reuniões do Conselho, são orientados a ligar o equipamento e sair da sala. Qual o problema de um funcionário que está trabalhando ouvir o que está acontecendo, se é um órgão público? Nós não sabemos porque eles gravam as reuniões, pois só recebemos o que dizem ser a íntegra da ata. As propagandas, parcerias, balanços financeiros não são divulgados em lugar nenhum.

CARTA MAIOR: Por que escolheram especificamente esses veículos para usarem espaço na TV Cultura?

GUIMARÃES: Isso tem fim eleitoreiro. Eu acho que nas campanhas os caras do PSDB serão beneficiados por meio desses veículos.

CARTA MAIOR: Posso publicar tudo isso ou você corre algum risco?

GUIMARÃES: Pode. Já estou mais riscado do que tudo

Dois gênios

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Jornal do Brasil, 29/03/2012

Dois gênios da filosofia política


Por Mauro Santayana


A morte de Millor Fernandes e de Chico Anísio é mais do que a perda de dois grandes humoristas. Chico e Millor, cada um em seu espaço, foram importantes filósofos políticos, distanciados dos grilhões acadêmicos, e argutos observadores da realidade brasileira.

Millor não dispunha dos atributos do ator de Maranguape, capaz de usar duzentas máscaras diferentes, para expor os sentimentos e o ridículo da condição humana. Nele havia  a profundidade de reflexão, ancorada em uma erudição tanto mais ampla quanto menos pomposa. Ambos fustigaram a mediocridade e fizeram o povo pensar.

E me permitam defender uma categoria de pessoas a que também pertenço: aquelas que encontraram o seu caminho fora das escolas formais. Millor e Chico foram dispensados da moldagem do ensino tradicional, mas compensaram essa aparente dificuldade na formação dialética – e ética – do trabalho. Millor um pouco antes, no início da adolescência, ao entrar para a equipe de O Cruzeiro, e Chico, poucos anos depois, ao se tornar locutor de uma emissora de rádio.

Sendo um homem do espetáculo, e vivendo tantos e tão diferentes personagens, Chico Anísio teve a vida exposta, como um eterno caçador de experiências amorosas e pai  incansável. Uma psicanálise de botequim poderia explicar a sua afetuosidade insaciável, que o fez marido de tantas e tão belas mulheres, como resultado do mundo de ficção em que vivia. Os atores sempre adicionam à alma, ainda que não desejem, parcelas de seus personagens, como transplantes da emoção dos autores. Millor não era ator, mas, sim, um excepcional pensador. Essa foi a essencial diferença  entre os dois.

Ambos foram ácidos críticos da sociedade e aplicados defensores da verdadeira razão política. Chico exercia a sua cáustica vigilância no aparente desprezo pelas personalidades públicas. Ninguém soube caricaturar com tanta acuidade o parlamentar corrupto, do que ele, ao encarnar o deputado Justo Veríssimo. Já na fase final do regime militar, os telefonemas de Salomé, de Passo Fundo, ao Presidente João Batista Figueiredo, serviram, ao mesmo tempo, de crítica ao governo e de estímulo ao movimento de redemocratização em marcha. Millor ia muito mais fundo. Sua crítica não se limitava à política em senso estrito, aos governos e às instituições do Estado, mas atingia, em seu âmago, a sociedade contemporânea, com seus desavisos e submissão ao efêmero. Para isso, ele sempre se abasteceu dos clássicos gregos aos autores contemporâneos, passando, naturalmente, por Shakespeare, Goethe, Schiller, Molière, Racine e tantos outros. Ele era capaz de ir adiante das reflexões desses grandes autores, ao trabalhá-las em sua fulgurante inteligência. Ele usava a  erudição para resumir a sua visão do mundo em frases curtas, certeiras, surpreendentes, definitivas.

Não conheci pessoalmente Chico Anísio. Meu universo era outro. Não morando no Rio, fui privado de  convívio maior com Millor. Fazíamos parte, como tantos outros de nossos contemporâneos, do Círculo de Conceição de Mato Dentro que se reunia eventualmente no apartamento de José Aparecido, em Copacabana. Ambos fomos agraciados com o título de cidadãos de Conceição o que, para os que não conheceram Aparecido, nem a cidade na Serra do Espinhaço, pode não ter qualquer importância. A cidade de Aparecido, tão forte na história e no caráter de Minas, hoje, mais do que a Itabira de Drummond, não passa de uma foto esmaecida: mineradores estrangeiros a conspurcaram, ao dilacerar as  serras que a cercam e esvaziar a cidade de sua identidade e de seu caráter ancestral.

Entre as minhas memórias de Millor, há a de um encontro na terra de Aparecido, em que ele, Gerardo de Mello Mourão, Newton Rodrigues e eu mesmo – não me lembro se houve outros colaboradores – redigimos longo poema sobre o aniversário de José, naquele mesmo dia, e que se iniciava com a evocação da morte de Giordano Bruno na fogueira, em 17 de fevereiro de 1600. Os versos de Millor foram os mais fortes, mais limpos e mais significativos, naquele  “abc” em louvor do aniversariante.

As sucessivas  gerações  de homens brilhantes, que atravessaram o século 19 e fizeram a primeira metade do século 20, de Machado e Bilac, de Lima Barreto, de Belmonte e de J. Carlos; de Graciliano, José Lins, de Getúlio Vargas e de tantos homens de gênio foi sucedida por personalidades fortes da segunda metade do século passado, algumas das quais cruzaram o milênio. Chico e Millor, gênios vindos do povo,  em sua forma de ver o mundo e nele se integrar, foram figuras emblemáticas dessa geração singular na história do país.

Uma frase de Millor, inscrita na escultura que adorna a porta do apartamento de José Aparecido no Rio, pode resumir a sua atitude diante da vida: Se alguém achar o vento a favor contrário, entra com o que tem.

 



O Globo.com, 28/03/2012

Um autorretrato inédito de Chico Anysio
O GLOBO


Chico Anysio na Primeira Comunhão
Foto: Reprodução
Chico Anysio na Primeira Comunhão Reprodução


RIO - Num Natal, já faz alguns anos, Chico Anysio escreveu um texto e pensou em usá-lo na TV Globo. Acabou não fazendo isso. O texto permaneceu inédito e agora é publicado com exclusividade pelo O GLOBO. Trata-se de um texto autobiográfico, em que o humorista — que morreu na sexta-feira passada, aos 80 anos — relembra o menino que um dia foi.
Apesar do tom melancólico e triste, há uma passagem bem-humorada, quando ele diz que o mundo pode ser um inferno ou uma badalação, dependendo se ele é visto pelo escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues ou pelo novelista Gilberto Braga.
O texto mostra o Chico Anysio já adulto procurando pelo Chico Anysio ainda criança, um menino de 11 anos, comum, tímido, com grandes olhos, "desproporcionais ao tamanho do rosto".
Nessa busca, ele relembra um amor não correspondido, os brinquedos de infância, as roupas de época, os sentimentos de então. Um autorretrato revelador e inédito de um grande gênio do humor nacional. Leia abaixo o texto:

O menino, de Chico Anysio

Vou fazer um apelo. É o caso de um menino desaparecido.
Ele tem 11 anos, mas parece menos; pesa 30 quilos, mas parece menos; é brasileiro, mas parece menos.
É um menino normal, ou seja: subnutrido, desses milhares de meninos que não pediram pra nascer; ao contrário: nasceram pra pedir.
Calado demais pra sua idade, sofrido demais pra sua idade, com idade demais pra sua idade. É, como a maioria, um desses meninos de 11 anos que ainda não tiveram infância.
Parece ser menor carente, mas, se é, não sabe disso. Nunca esteve na Febem, portanto, não teve tempo de aprender a ser criança-problema. Anda descalço por amor à bola.
Suas roupas são de segunda mão, seus livros são de segunda mão e tem a desconfiança de que a sua própria história alguém já viveu antes.
Do amor não correspondido pela professora, descobriu que viver dói. Viveu cada verso de "Romeu e Julieta", sem nunca ter lido a história.
Foi Dom Quixote sem precisar de Cervantes e sabe, por intuição, que o mundo pode ser um inferno ou uma badalação, dependendo se ele é visto pelo Nelson Rodrigues ou pelo Gilberto Braga.
De seu, tinha uma árvore, um estilingue zero quilômetro e um pássaro preto que cantava no dedo e dormia em seu quarto.
Tímido até a ousadia, seus silêncios grita-nos cantos da casa e seus prantos eram goteiras no telhado de sua alma.
Trajava, na ocasião em que desapareceu, uns olhos pretos muito assustados e eu não digo isso pra ser original: é que a primeira coisa que chama a atenção no menino são os grandes olhos, desproporcionais ao tamanho do rosto.
Mas usava calças curtas de caroá, suspensórios de elástico, camisa branca e um estranho boné que, embora seguro pelas orelhas, teimava em tombar pro nariz.
Foi visto pela última vez com uma pipa na mão, mas é de todo improvável que a pipa o tenha empinado. Se bem que, sonhador de jeito que ele é, não duvido nada.
Sequestrado, não foi, porque é um menino que nasceu sem resgate.
Como vocês veem, é um menino comum, desses que desaparecem às dezenas todas os dias.
Mas se alguém souber de alguma notícia, me procure, por favor, porque... ou eu encontro de novo esse menino que um dia eu fui, ou eu não sei o que vai ser de mim.