quarta-feira, 14 de março de 2012

Diretor do Goldman Sachs sai atirando no sistema



Diretor do Goldman Sachs sai atirando no sistema e critica a ganância dos grandes banqueiros

 

14/3/2012 23:25,  Por Redação, com agências internacionais - de Londres e Nova York, EUA

Goldman Smith, vice-presidente do Goldman Sachs, pediu demissão

Um dos diretores do Goldman Sachs, gestor dos maiores fundos internacionais, pediu demissão do cargo não sem antes revelar o carrocel de egoísmo e ganância que gira naquela instituição bancária. Um artigo publicado no diário inglês The Independent, nesta quarta-feira, revela as razões que levaram Greg Smith a deixar o emprego: o ambiente no banco nunca esteve tão tóxico e destrutivo como agora. Após 12 anos na direção executiva do Goldman Sachs, Smith acredita que a empresa já não pratica mais os valores que, segundo ele, sempre foram vitais para o sucesso da empresa. No texto, o ex-diretor denuncia práticas moralmente questionáveis, que alavancam o lucro da empresa, mas podem prejudicar os clientes. A firma admitiu, em um comunicado liberado nesta quarta-feira, que seus diretores estão “longe de ser perfeitos”.
Valores como o trabalho em equipe, integridade, espírito de humildade e o sentimento de fazer o melhor por seus clientes foram substituídos, segundo Smith, pela procura incessante do lucro a qualquer custo.
“Não consigo ver mais nenhum resquício dessa cultura que me fez amar o trabalho nessa instituição por tantos anos (…). Não posso mais olhar os estudantes nos olhos e dizer a eles que este é um grande lugar para se trabalhar”, afirmou o economista em artigo publicado, na véspera, no diário norte-americano The New York Times. O Goldman Sachs auxilia empresários e mesmo governos a escolher os melhores investimentos. Em seu texto, Smith afirma que sempre foi orientado a fazer o melhor por seus clientes, mesmo que isso significasse menos dinheiro para a firma. Essa atitude, diz ele, está se tornando cada vez mais impopular na empresa e os novos executivos acreditam que as práticas predatórias são as mais corretas.
Embora garanta nunca haver presenciado qualquer prática ilegal, vê todo dia os funcionários indicarem investimentos duvidosos aos que procuram os serviços da empresa e lidam com os clientes como se eles fossem marionetes. Vários diretores, colegas dele, referem-se aos seus clientes como “muppets” (boneco de seriado infantil norte-americano). Até o conceito de liderança mudou, diz Smith. Ser um um líder era valorizar a capacidade de articular ideias e “dar o exemplo”, hoje os critérios para uma promoção são a capacidade de vender produtos encalhados.
“Eu não gosto de vender aos meus clientes produtos que são ruins para eles. Goldman Sachs se tornou um lugar que valoriza caminhos curtos. Simplesmente, não me parece correto mais”, diz. E pede que a carta sirva como um alerta: “Se os clientes não confiarem mais em você, ele simplesmente para de fazer negócios. Não importa o quanto você foi esperto, ou quanto dinheiro você tirou dele”. Por fim, apela para que a instituição demita os funcionários moralmente falidos e resgate seus valores, para que as pessoas voltem a trabalhar pelos motivos certos. “Pessoas que ligam apenas para dinheiro não vão sustentar a firma – ou a confiança dos clientes – por muito tempo”.
Depois da crise de 2008, o banco perdeu 13,5 bilhões de dólares em prejuízos com investimentos e empréstimos de seu próprio fundo. Até então, a sua alta lucratividade, consequência muitas vezes de estratégias arriscadas, era invejada pelas demais instituições financeiras e valeu uma posição de destaque entre os seus concorrentes.
Resposta lacônica
“Estamos longe de ser perfeitos”, admitiu o Goldman Sachs num comunicado interno, em resposta aos adjetivos “tóxico” e “destrutivo” utilizados Smith. Mas é certo que o interesse dos clientes a longo prazo faz parte da cultura do banco, escrevem os administradores. “É lamentável que todos vocês que trabalharam tanto num ambiente difícil, ao longo dos últimos anos, tenham de reagir agora a isto”. Assim o Goldman Sachs respondeu à carta de demissão de Greg Smith
O Goldman Sachs argumenta que, numa empresa com 30 mil trabalhadores, é normal haver quem esteja descontente. Contudo, responde com uma sondagem feita aos funcionários. No estudo, 89% de todos os funcionários do banco dizem que os serviços por si fornecidos são “excepcionais”. Entre o grupo de 12 mil vice-presidentes – do que fazia parte Greg Smith – , “o número é igualmente elevado”, salienta o banco sem, contudo, avançar valores.
“A nossa empresa teve a sua quota de desafios durante e depois da crise financeira, mas o vosso orgulho no Goldman é óbvio. Vocês não o disseram a nós, disseram em estudos externos”, indica o comunicado interno.
“Mas a nossa resposta é melhor demonstrada na forma como realmente trabalhamos e como ajudamos os nossos clientes, através do nosso compromisso para com os seus interesses a longo prazo”, asseveram os responsáveis do Goldman Sachs, no comunicado.
“Essa prioridade distinguiu-nos no passado, durante a crise financeira e hoje”, concluem Blankfein e Cohn, antes de dirigirem um “obrigado” aos funcionários receptores da sua carta.

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