sexta-feira, 23 de março de 2012

O novo Eldorado da mineração

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23/03/2012 


O novo Eldorado da mineração


Hugo Cilo



Avenida das Américas, Barra da Tijuca, zona sul do Rio de Janeiro. Entre os cariocas, o endereço é tão conhecido quanto a praia de Copacabana, o Pão de Açúcar, o Maracanã ou o Corcovado. Muito em breve, o local pode também se tornar o centro de operações da maior transformação da história do setor mineral brasileiro. É lá, no número 3.443, sede da mineradora britânica Anglo American no Brasil, que o presidente da divisão de minério de ferro da companhia, o ítalo-brasileiro Paulo Castellari-Porchia, comanda o projeto Minas-Rio, o maior investimento da empresa no mundo, com orçamento de R$ 5,8 bilhões até o segundo semestre de 2013. Os planos de Castellari não apenas impulsionarão os negócios da Anglo American, como forçarão suas principais rivais a rever suas operações no País.

Por uma simples razão. Está em curso uma autêntica corrida do ouro na mineração brasileira, disputada também por empresas como a Vale, comandada por Murilo Ferreira, a MMX, do bilionário Eike Batista, a CSN, do empresário Benjamin Steinbruch, e uma legião de mineradoras estrangeiras. A Anglo American promete dar trabalho aos concorrentes. “Teremos o melhor minério de ferro, com o melhor preço” diz Castellari. A corrida determinará quem é quem na mineração mundial nos próximos anos, e promete ser acirrada. Está em jogo um mercado gigantesco. Segundo o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), o setor receberá investimentos de US$ 68,5 bilhões nos próximos cinco anos – a maior cifra já vista na história da mineração no País. "Com toda essa disputa e movimentação o Brasil só  ganha 2% de royalties e mais nada. Vale a Pena? Temos que mudar essa farra de enriquecer grupos  estrangeiros com as riquezas que são nossasO nosso País tem que acordar para guardar as suas riquezas naturais, porque as novas gerações de brasileiros tem ter como herança um desenvolvimento equilibrado e mais bem distribuído. Não podemos dilapidar o nosso patrimônio natural em troca de pouco dinheiro, mas sim investir em nossa população."; Esta é a opinião do presidente da AEPET, Fernando Siqueira sobre este meganegócio.

Atualmente, o setor representa 5% do PIB nacional, responde por 30% da balança comercial brasileira e fatura aproximadamente US$ 50 bilhões ao ano. E tudo que envolve a mineração brasileira é superlativa. A MMX tem R$ 5 bilhões para investir em exploração de minérios em Serra Azul, região produtora de ferro em Minas Gerais, e outros R$ 2,5 bilhões na construção do Porto Sudeste, em Itaguaí, no litoral fluminense. Já a CSN, que fatura mais com mineração do que com siderurgia, sua atividade principal, prevê investimentos de R$ 11 bilhões para os próximos cinco anos. Na semana passada, a Cabral Mineração, uma  subsidiária da empresa australiana Cabral Resources, anunciou que vai desembolsar US$ 2,2 bilhões para a construção de uma unidade em Livramento de Nossa Senhora, na Bahia, para produzir concentrado de ferro com capacidade de 15 milhões de toneladas ao ano.

No caso da Anglo American – um grupo que no ano passado faturou US$ 13,3 bilhões em todo o mundo, um aumento de 23% em comparação a 2010 –, está sendo planejado um ataque certeiro na disputa pelo mercado de minério de ferro, sob a batuta de Castellari. Um faraônico mineroduto de 524 quilômetros cruzará 32 municípios da região Sudeste e ligará o município de Conceição do Mato Dentro, no norte de Minas Gerais, ao Porto do Açu, em São João da Barra, no terminal logístico de Eike Batista, em construção no Rio de Janeiro. Por seus dutos passarão, logo no primeiro ano, 26,5 milhões de toneladas de polpa de minério – uma lama acinzentada que, depois de uma viagem de quase três dias, será filtrada e ficará pronta para se transformar em metal.

O projeto incluirá, além da mina de minério de ferro em Minas Gerais, uma estação de beneficiamento em Alvorada de Minas e o terminal próprio para o embarque de minério no porto de Eike, que será sócio por meio da LLX, com 51% de participação. Graças a essa gigantesca estrutura, haverá uma drástica economia com o transporte do minério de ferro, que representa 75% do preço final do produto e, no Brasil, por enquanto,  é feito apenas por meio de rodovias e ferrovias. Na ponta do lápis, isso significa que uma tonelada da matéria-prima produzida pela Anglo American chegará à China, que consome 47% de todo o ferro produzido pelo País, a um preço entre 15% e 25% abaixo do que hoje é cobrado pelas concorrentes Vale, CSN e MMX.

É nesse ponto que a empresa comandada por Castellari tende a incomodar suas rivais e, por consequência, inaugurar uma nova corrida pela conquista de posições na indústria mineral brasileira. A briga promete. Ao olhar para o horizonte, todos os atuais indicadores do setor mineral se tornarão pequenos. Os investimentos surgem de todas as partes, especialmente por gigantes como CSN, MMX, Votorantim, Samarco e Vale. A maior mineradora brasileira, por exemplo, tem nada menos do que US$ 21,4 bilhões em investimentos planejados para este ano, o maior volume de recursos de uma empresa privada no País e de uma companhia do setor no mundo. Para o Ibram, a mineração brasileira está pronta para dobrar de tamanho em pouco anos – duplicando sua produção dos atuais 370 milhões para 787 milhões de toneladas em 2015.

Viveremos nos próximos anos a maior rodada de investimentos minerais já vista no País”, diz Rinaldo Mancini, diretor do Ibram. No entanto, uma pergunta se impõe: será que o aumento da produção e a redução de custos compensarão o arrefecimento da economia mundial, em particular a partir da desaceleração da China, que prevê crescimento de 7,5% para este ano, abaixo dos 9,2%, em 2011, e dos 10,4%, de 2010? Ao que tudo indica, o grande desafio do setor mineral não está apenas em garantir os grandes investimentos, mas como combiná-los com as estratégias para aumentar a competitividade. É nesse campo que Castellari quer atacar. O executivo, nascido em Santo André, na Grande São Paulo, garante que seu plano, em operação, fará com que a Anglo American chegue ao topo no ranking das melhores mineradoras do País – hoje a companhia é a segunda em volume potencial de produção de minério de ferro, atrás da Vale.

“Não trabalhamos apenas para sermos líderes, mas isso será uma consequência”, afirma Castellari, um discreto e sorridente são-paulino de 41 anos, viciado em esquiar na neve e que se diz apaixonado por duas mulheres – sua esposa, Cristiana, e sua filha, Isabella, de 15 anos. A gigantesca tubulação que está em construção no eixo Minas-Rio se destina a saciar, principalmente, o apetite pela matéria-prima da indústria siderúrgica chinesa. Para ilustrar a importância da China para a mineração nacional, que no ano passado comprou quase a metade do minério brasileiro, o Japão, o segundo colocado, comprou apenas 9,8% da produção brasileira do metal. “Quando o mundo voltar a crescer, quem estiver pronto para dar suporte à indústria chinesa sairá na frente”, afirma o executivo. “A China desacelerou, é verdade, mas está muito longe de ser uma economia fria, e por isso estamos enxergando uma economia mundial extremamente aquecida nas próximas décadas.”

Para reforçar seu ponto de vista, Castellari  esgrime o balanço das exportações brasileiras de minério de ferro em janeiro, que cresceram 16%, para 15,4 milhões de toneladas, na comparação a dezembro do ano passado, num claro sinal de que a China, mesmo crescendo menos, é a grande aposta das mineradoras brasileiras. A estratégia bilionária de Castellari com o mineroduto recebeu carta branca dos executivos da matriz da Anglo American em Londres. Essa autonomia, segundo ele, se explica pelo fato de que a redução nas despesas com transporte possibilitará também que a empresa tenha uma margem de lucro maior e, por consequência, mais espaço nas negociações com os clientes. Enquanto o gasto com extração de minério de ferro na Anglo American é de US$ 6 a tonelada, o transporte até a China custa entre US$ 25 e US$ 30.

“Quem não reduzir custos agora ficará de fora do jogo do minério de ferro nos próximos anos”, diz Castellari. “A falta de infraestrutura criou uma oportunidade para sairmos na frente.” Nesse contexto, o mineroduto brasileiro será um instrumento importante em favor da companhia. Castellari não revela, em detalhes, as estratégias de preços da Anglo American, mas garante que a redução de custos e o aumento da competitividade serão seu grande trunfo. O custo de transporte da tonelada de minério de ferro de Conceição do Mato Dentro até o Porto do Açu é estimado por especialistas em cerca de R$ 1,50, enquanto a Vale desembolsa, em média, R$ 25 para transportar por ferrovias o minério extraído em Carajás, no Sul do Pará, até o porto maranhense de Itaqui. “Para a mineração brasileira, o transporte por dutos é uma solução genial”, afirma Mancin, do Ibram.

“Se já somos uma potência no setor atualmente, daremos um salto ainda maior com os projetos que estão no horizonte.” A aposta da Anglo American, além da pujança da economia chinesa e das perspectivas de redução de custos, se ancora na constatação de que o Brasil detém as maiores reservas de minério de ferro do mundo e o insumo de melhor qualidade. A mina da Carajás, operada pela Vale, contabiliza reservas para 500 anos de produção. Já a mina de Conceição de Mato Dentro, da Anglo American, tem longevidade já comprovada de 30 anos, com potencial de expansão, graças às novas descobertas naquela área. “O Brasil tem uma estrutura de pesquisa geológica ainda muito precária, distante de nossos principais concorrentes, a Austrália e o Canadá”, diz Mancin. Mesmo assim, a desvantagem do País tem sido vista pelas empresas como um gigantesco potencial, em vez de um problema.

Apesar de apenas 20% do território brasileiro ter sido geologicamente mapeado até hoje, o País perde em volume de produção de ferro apenas para a Austrália, país em que 92% do subsolo já  está estudado. O Brasil é dono da quinta maior reserva, o equivalente a 8,3% do total mundial, o que representa quase 30 bilhões de toneladas de  minério medido e indicado. No quesito pureza, o produto brasileiro é imbatível. O índice de concentração nas jazidas brasileiras – ou seja, o percentual de minério de ferro misturado ao barro retirado do subsolo – é de 68%, enquanto a média mundial varia entre 55% e 62%. “As características geológicas do Brasil ajudarão a nos transformar nos melhores em minério de ferro no mundo”, afirma Castellari. O minério de ferro, de fato, é o novo ouro da mineração brasileira. Por conta disso, executivos como  Castellari e Murilo Ferreira, da Vale, sabem que não estão sozinhos na corrida pelo minério.

Recentemente, a Votorantim – por meio da Sul América Metais (SAM) – anunciou um investimento de US$ 3 bilhões no Norte de Minas Gerais, para também construir, a exemplo da Anglo American, um mineroduto que ligará sua jazida em Grão Mogol ao Porto de Ilhéus, na Bahia. Com a decisão, a mineradora da família do empresário Antônio Ermírio de Moraes reduzirá o custo do transporte de R$ 26 para R$ 1,40. Já a Vale, a segunda maior mineradora do mundo, desembolsou mais de US$ 9 bilhões nos últimos seis anos em projetos de redução de custo logístico. No mesmo caminho, a Bahia Mineração, controlada pela Eurasian Natural Resources, do Cazaquistão, está recebendo licenças ambientais para a construção da mina de Caetité e para um porto em Ilhéus. A mineradora planeja investir US$ 2,5 bilhões no projeto.

Essa frenética corrida das mineradoras está expressa nos estudos do governo. Segundo levantamento do Ministério de Minas e Energia, o Plano Mineral 2030, a produção de minério de ferro no Brasil deverá mais que dobrar nos próximos 20 anos, superando um bilhão de toneladas. “Isso está associado à demanda da China e depende de como a economia chinesa vai andar”, diz o diretor da Secretaria de Geologia, Mineração e Transformação Mineral do Ministério de Minas e Energia, Fernando Freitas Lins. Segundo o estudo, as projeções levam em conta um crescimento mundial de 3,8% e do Brasil de 5,1% na média da próxima década. “A previsão é de que nos próximos anos a maior parte da produção seja vendida para a China com proporções semelhantes às de hoje”, afirma  “Por isso, há tantos players disputando o mercado brasileiro de minérios.” Que vença o melhor.

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