sábado, 10 de março de 2012

Como o Goldman Sachs ajudou a quebrar a Grécia



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Sexta-Feira, 9 de Março de 2012

Como o Goldman Sachs ajudou a quebrar a Grécia


Eduardo Febbro - De Paris


Paris - Há empresas que roubam para o império para o qual trabalham. A Goldman Sachs é uma delas. O banco de negócios norteamericano encheu seus cofres com um botim de 600 milhões de euros (800 milhões de dólares) quando ajudou a Grécia a maquiar suas contas a fim de que este país preenchesse os requisitos para ingressar na zona do euro, a moeda única europeia.

A informação não é nova mas até agora se desconheciam os detalhes mais profundos do mecanismo pelo qual o Goldman Sachs enganou todos os governos europeus que participavam da criação da moeda única. O porta estandarte da oligarquia financeira operou protegido por sólidas cumplicidades no seio das instituições bancárias europeias e dentro do poder político, que fez tudo o que esteve ao seu alcance para impedir as investigações.

Dois dos protagonistas desta mega fraude falaram pela primeira vez sobre as transações encobertas mediante as quais Atenas escondeu o tamanho de sua dívida. Trata-se de Christoforos Sardelis, chefe do escritório de gestão da dívida grega entre 1999 e 2004, e de Spyros Papanicolaou, o homem que o substituiu-o até 2012.

O resultado da operação foi uma gigantesca fraude que fez do suposto salvador, no caso o Goldman Sachs, o operador da derrocada da Grécia e de boa parte da Europa. Levando-se em conta somente os bancos franceses, a aventura grega custou 7 bilhões de euros : o BNP Paribas perdeu 3,2 bilhões, o Crédit Agricole, 1,3 bilhões, a Société Générale, 892 milhões, o BPCE, 921 milhões e o Crédit Mutuel, 359 milhões. Esse foi o custo só para o sistema bancário francês : os povos pagaram e pagarão em sacrifícios e privações muito mais do que isso.

A operação financeira foi astuta. O Tratado de Maastricht, da União Europeia, fixava requisitos rígidos para integrar o euro : nenhum membro da zona euro podia ter uma dívida superior a 60% do PIB e os déficitis públicos não podiam superar os 3%. Em junho de 2000, para ocultar o peso gigantesco da dívida grega, que era de 103% de seu PIB e obter assim a qualificação da Grécia para entrar no euro, Goldman Sachs bolou um plano : transportou a dívida grega de uma moeda a outra.

A transação consistiu em mudar a dívida que estava cotizada em dólares e em yens para euros, mas com base em uma taxa de câmbio fictícia. Assim se reduziu o endividamento grego e, com isso, a Grécia respeitou os critérios fixados pelo Tratado de Maastricht para ingressar no euro. Um detalhe complicou a maquiagem: o Goldman Sachs estabeleceu um contrato com a Grécia mediante o qual dissimulou o acerto sob a forma do que se conhece como um SWAP, um contrato de câmbio para os fluxos financeiros que equivale a uma espécie de crédito.

Esse esquema fraudulento fez com que, na base dos chamados « produtos derivativos » implicados na operação, em apenas quatro anos a dívida que a Grécia contraiu com o Goldman Sachs passasse de 2,8 bilhões de euros para 5,1 bilhões. Dois jornalistas da agência Bloomberg, Nick Dunbar e Elisa Martinuzii, realizaram uma paciente investigação ao término da qual desnudaram este obscuro mecanismo.

Segundo explicou aos jornalistras o chefe do escritório de gestão da dívida grega entre 1999 e 2004, Christoforos Sardelis, neste momento a arquitetura da proposta do Goldman Sachs escapou de suas mãos. Logo em seguida, disse Sardelis, os atentados de 11 de setembro e uma má decisão dos bancos plantaram a semente do desastre atual. A conclusão da investigação é contundente : Grécia e Goldman Sachs hipotecaram o futuro do povo grego e acionaram uma bomba relógio que, 10 anos mais tarde, explodiria nas mãos da sociedade.

Em matéria de grandes fraudes organizados por bancos de investimento a impunidade é a regra. Ninguém foi nem será condenado. Christoforos Sardelis afirmou que « o acordo com o Goldman Sachs é uma história muito sexy dentre dois pecadores. O Goldman Sachs obteve apetitosos lucros nesta operação truculenta. No entanto, o banco de negócios norteamericano afirma em sua defesa que não fez nada de ilegal, que tudo o que foi realizado respeitava ao pé da letra as diretrizes do Eurostat, o organismo europeu de estatísticas.

O Eurostat, por sua vez, alega que só tomou conhecimento em 2010 dos níveis de endividamento grego. A defesa parece pobre porque as primeiras denúncias sobre a maquiagem das contas gregas e o papel desempenhado pelo Goldman Sachs datam de 2003.

Em um informe de 2004, o Eurostat escreveu : « falsificação generalizada dos dados sobre o déficit e a dívida por parte das autoridades gregas ». Graças à cumplicidade do organismo financeiro norteamericano e de várias instâncias e personalidades europeias, a Grécia pôde dissimular durante vários anos o « pacote » escondido de sua dívida. Em 2010, Jean Claude Trichet, então presidente do Banco Central Europeu (BCE), se negou a entregar os documentos requeridos para dar a conhecer a amplitude da verdade.

No meio a esta grande mentira, há um personagem que hoje é central : trata-se de Mario Draghi, o atual presidente do Banco Central Europeu e grande partidário de terminar de uma vez por todas com o modelo social europeu. Draghi é um homem do Goldman Sachs. Entre 2002 e 2005 foi vice-presidente do Goldman Sachs para a Europa e, por conseguinte, estava a par da falsificação de dados sobre as finanças públicas da Grécia. Foi o seu próprio banco que estruturou a falsificação.

O liberalismo premia muito bem seus soldados. Durante dois anos, o Banco Central Europeu e os lobbys políticos usaram todos os truques possíveis para proteger Draghi e não permitir que fossem realizadas auditorias em torno das irregularidades cometidas na Grécia. As comissões do Parlamento europeu designadas para investigar esta mega fraude se chocaram sistematicamente contra as redes que protegiam o segredo.

O desenlace final desta cumplicidade entre as oligarquias financeiras é conhecido por todos : quase um continente submerso na crise da dívida, a Grécia, estropiada e de joelhos, recessão, demissões massivas, perda de poder aquisitivo para os trabalhadores, reestruturações, sacrifícios dos benefícios sociais, planos de ajuste e miséria. Enquanto isso, os 600 milhões que o Goldman Sachs ganhou com esta fraude seguiram dando frutos na aposta suicida que o capital faz em benefício próprio contra a humanidade.
Tradução: Katarina Peixoto



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Sábado, 10 de Março de 2012


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Islândia inicia o julgamento do neoliberalismo

Esquerda.net


Durante o governo de coligação direitista e social democrata de Geir Haarde, os bancos faliram, a economia entrou em colapso. Mais do que julgar o homem que à frente do governo não conseguiu evitar a dramática situação no pequeno país, os juízes tentam apurar o que se passou e as circunstâncias que provocaram a crise. O tribunal considera que não é possível responsabilizar unicamente o ex-primeiro ministro pelo que se passou.
Da sua acusação constam o fato de não ter feito nada para evitar a debandada dos estabelecimentos financeiros, de não ter feito com que o banco online Icesave tivesse o estatuto de filial britânica, o que teria permitido transferir o problema da falência para Londres e evitado ao país a realização de dois referendos e a decisão dos islandeses de se recusarem a pagar por dívidas que não são suas. Este problema está atualmente no Tribunal Europeu de Justiça.

Juízes e cerca de 60 testemunhas têm refletido durante o julgamento – que não é transmitido ao vivo pela TV mas que está sendo seguido por milhares de islandeses através da internet – sobre as causas de uma situação que não surgiu em 2008 por geração espontânea mas sim pela deriva neoliberal a que o governo sujeitou o país.

Em causa estão, principalmente, a privatização das quotas de pesca que proporcionou aos armadores fortunas incalculáveis, um investimento em cascata no estrangeiro, quase sempre com maus resultados, uma privatização desastrosa dos bancos feita frequentemente segundo métodos corruptos e de clientelismo. A este processo seguiu-se uma onda de concessão de créditos bancários sem critérios nem garantias proporcionando, à escala do país, problemas semelhantes aos que se registaram nos Estados Unidos com a bolha imobiliária e o subprime.

Nesta fase, os bancos concederam um volume global de crédito que superou em 11 vezes o PIB islandês; quando o primeiro ministro decretou a sua falência era impossível salvá-los. Além disso, os islandeses não o permitiram e recusaram-se a assumir as dívidas alheias.

A resposta dos islandeses à crise não alinhou pelos caminhos impostos pela União Europeia aos Estados membros, pelo que hoje a Islândia, apesar de sofrer os efeitos de uma forte austeridade econômica e de uma acentuada quebra no consumo, conseguiu salvaguardar o Estado social, o desemprego está em sete por cento e as entidades patronais não foram além de limitar o trabalho extraordinário para conseguirem evitar os despedimentos.

Geir Haarde, político direitista e considerado um fundamentalista neoliberal, tem 64 anos e abandonou a carreira política. Incorre numa pena de dois anos de prisão. Mais do que um chefe de governo incapaz de dirigir o país – é a acusação a que corresponderá a pena que vier a ser aplicada – no banco dos réus está a política neoliberal.

(*) Artigo publicado no portal do Bloco de Esquerda no Parlamento Europeu


Sete princípios para libertar a sociedade do domínio dos mercados financeiros


Rede Europeia da Attac


O Banco Central Europeu (BCE) e o Euro são os símbolos dessas políticas que estão entregando o controle da economia aos bancos privados e aos mercados financeiros, a pretexto de uma suposta crise das dívidas públicas.

Ao mesmo tempo, a Troika (BCE, Comissão Europeia e FMI) e os Governos da UE estão a destruir o bem-estar social e a impor medidas de austeridade destrutivas, obrigando as pessoas a pagar dívidas pelas quais não são responsáveis.

O modelo neoliberal da integração europeia agravou as diferenças entre os países periféricos e os do centro, e aumentou as desigualdades dentro e fora da Europa ao encorajar o dumping social, ambiental e fiscal.
Os Governos da UE deram mais um passo no sentido de destruir a democracia, ao impor aos seus Povos e Parlamentos processos tecnocráticos, chegando mesmo a instalar os seus próprios representantes (Grécia e Itália), de modo a colocar em prática processos destrutivos de redução de dívida. O funcionamento democrático da UE está também colocado em causa pela criação do ‘Grupo de Frankfurt’ – constituída pela chanceler da Alemanha, o presidente de França, o governador do BCE, o presidente do Eurogrupo, a directora-geral do FMI e os dois presidentes da UE -, que definem as linhas políticas estratégicas em nome da urgência da crise. Assim, a já frágil legitimidade da UE e os seus processos de decisão ficam cada vez mais debilitados.

A Rede Europeia da ATTAC opõe-se fortemente a este método de integração europeia e aos moldes como o Euro existe, pois subordinam os interesses e necessidades dos Povos aos interesses dos mercados financeiros.

A dicotomia entre sair do Euro ou aprofundar a presente forma de integração europeia não abarca os principais elementos da crise global. É urgente libertar a Europa e os povos da domínio dos mercados financeiros e promover, de forma coordenada, um conjunto de políticas econômicas, sociais, monetárias e ecológicas progressivas. Para isso, os cidadãos e os movimentos sociais devem esforçar-se em nível local e europeu para alterar as regras do sistema econômico e institucional vigente – e tornar outra Europa possível.

Para libertar as nossas sociedades do domínio dos mercados financeiros e coordenar políticas econômicas, monetárias, sociais e ecológicas progressivas, devemos defender os seguintes sete princípios:
Retirar as finanças públicas dos mercados financeiros: permitir financiamentos públicos democráticos, através de um Banco Central controlado democraticamente, que financie diretamente os Estados;

Sair da armadilha da dívida: acabar com as políticas de austeridade e avançar com processos de auditoria que levem a cancelamentos da dívida. Os bancos e os agentes financeiros privados devem também assumir perdas;

Dar às finanças públicas uma base sustentável: aumentar os impostos sobre os ricos e os lucros das grandes empresas e harmonizar os impostos a nível a nível europeu para erradicar o dumping fiscal;

Desarmar os mercados financeiros e colocar os bancos sob controle público: proibir movimentos especulativos prejudiciais (por exemplo, vendas de curto prazo, especulação nos produtos derivados, movimentos over-the-counter, trocas de alta frequência), e impor uma taxa de pelo menos 0,1% a todas as transações financeiras. Regular de forma sólida os bancos (separar a banca comercial da banca de investimento, desmantelar os bancos ‘demasiado grandes para quebrarem’);

Permitir o financiamento público e democrático da economia: criar um setor bancário cooperativo e público que esteja sob o controlo democrático, para garantir o financiamento das necessidades sociais e econômicas, garantir os direitos sociais e financiar um transição ecológica. As políticas de comércio internacional devem ser revistas para cumprirem estes objetivos, em cooperação com os países em vias de desenvolvimento.

Uma Europa para os Povos, não para os lucros: promover políticas econômicas e sociais a nível europeu e recuperar e expandir os serviços públicos, para reduzir desequilíbrios, promover a transição ecológica das economias, garantir altas taxas de emprego, promover a igualdade de género e expandir os direitos económicos e sociais básicos (saúde, educação, habitação, informação, cultura, bem-estar social, etc) e garantir que sejam assegurados por uma rede 100% pública.

Democracia Já: Iniciar um processo constituinte de modo a democratizar os processos de decisão a todos os níveis; elaborar democraticamente um novo Tratado europeu ratificado em referendos realizados em todos os países e apoiar e promover um debate público e transparante sobre caminhos para a Europa e políticas alternativas para a UE.

(*) Artigo retirado do site da ATTAC Portugal.

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