domingo, 23 de janeiro de 2011

O BBB e a imbecilização midiática



Por Isidoro Gomes

Certa feita uma pedagoga, colega de trabalho no SESI, saiu-se com essa diante dos comentários de um grupo de educadores (do qual eu fazia parte): "às vezes chegamos em casa tão cansados e pesados pelo dia árduo de trabalho que um pouco de futilidade na TV até que faz bem".


Reagia ela a nossos comentários críticos em relação ao programa humorístico (se é que pode ser chamado assim) "Pânico na TV", da Rede TV, que espalha um humor de baixo nível regado a preconceitos e humilhações contra pessoas simples, nas noites de domingo. Olha que não estávamos debatendo com nenhuma pessoa ignorante. Tratava-se, e trata-se ainda, de uma pessoa culta e bem informada, que a época exercia a função de coordenadora educacional na instituição citada.


Pois bem, se fossemos ficar só nas futilidades do Pânico até que eu não me importaria muito. Mas a verdade é que a grade de programação da TV aberta no Brasil está mesmo um lixo. De modo que para quem não tem como pagar por uma assinatura de TV a cabo ou não tem como desfrutar de outras alternativas de informação e entretenimento (como leitura, teatro, espetáculos musicais, etc.), que são caras no Brasil.
O jeito é recorrer mesmo a um bom papo entre amigos, seja na calçada de casa ou na mesa de um bar, o que certamente é mais saudável e ajuda a reforçar os laços familiares e os laços afetivos com os amigos.


Afinal, quando ligamos a TV, salvo raríssimas exceções, nos deparamos com um verdadeiro lixo cultural a inundar nossas casas. São os Ratinhos e Pânicos da vida, novelas com roteiros cada vez mais medíocres e enredos maçantes, piegas e previsíveis - não raro com apelação a uma sexualidade deformante, que em geral vulgariza a figura da mulher e o papel de cafajeste dos homens.


São "jornalísticos" de botequim ou de quinta categoria que mais se assemelham a delegacias de polícia, exibindo brigas banais entre vizinhos ou entre casais em crise de relacionamento. Em geral envolvendo pessoas simples - e muitas vezes parecendo até combinados para o modelito das câmeras. Isso quando não se apela para um sentimentalismo barato e para uma falsa caridade, explorando os problemas sociais e a precariedade de vida das pessoas.

Nesse rol de lixo televisivo tem se incluído, nos últimos onze anos, o BBB da Rede Globo, que a bem da verdade, e justiça seja feita, não tem audiência só aqui, faz sucesso em vários países (muitos dos quais com populações de alta escolaridade e medianamente bem informadas). O que indica que embora seja um besteirol dos grandes não afeta apenas os brasileiros, que na média ainda tem baixos índices de escolaridade e processam as informações de forma precária dentro daquilo que se qualifica hoje – infelizmente - como "analfabetismo funcional".


A Globo exporta o “Big Brother” no formato traçado pela empresa holandesa Endemol, de comunicação. Nesse ponto é bom lembrar que a Holanda é um país de alto padrão de vida e sem analfabetismo, e que a nossa colega citada no início deste texto, não se enquadra nessa categoria de desinformados, não escolarizados ou analfabetos funcionais, mas nem por isso deixou de fazer sua apologiazinha a futilidade e a vulgaridade. Que para ela é inofensiva nos momentos de relaxamento

Mas por que esses programas de baixa qualidade têm feito tanto sucesso, considerando-se que não apenas pessoas de baixa escolaridade os têm assistido com frequência? As explicações podem ser várias: o nosso nível de formação escolar está ruim, precário (e isto, lamentavelmente, ainda é fato). Não há muitas alternativas na grade de programação dos canais abertos de TV (e não há mesmo). Ou simplesmente vale a explicação da colega pedagoga do SESI: com o cansaço do dia a dia qualquer coisa serve, e um pouco de futilidade não faz mal a ninguém.

Talvez os Meios de Comunicação Social estejam pegando as pessoas pelo cansaço mesmo, mas o certo é que isso não justifica essa indigência cultural que eles ajudam a espalhar. Nada justifica a imbecilização coletiva imposta as massas por quem deveria informá-las e ajudá-las no crescimento de seu nível médio de formação e informação. Enfim é para isso que esses “meios de informação” em tese recebem concessão pública.


O problema é que às vezes a imbecilização é necessária obedecendo a uma certa “lógica” ideológica. Afinal a imbecilização de uns serve para que outros se mantenham no topo do poder (seja ele econômico ou político). Sobretudo porque o "admirável gado novo" sobre o qual cantava e decantava o poeta cantador Zé Ramalho ainda é necessário para que os "mais espertos" continuem a se perpetuar nesse poder e a promover impunemente – ainda sabe-se lá por quanto tempo – suas negociatas.


Nada contra os que acham que um pouco de futilidade não faz mal. Mas tudo contra aqueles que colocam isso como única opção para a choldra ou "massa ignara".
A propósito, antes de terminar esse pequeno artigo: quem foi o primeiro eliminado desse reality show global?
 
Isidoro Guedes é sociólogo graduado pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE, educador (com especialização pela Universidade Federal Rural de Pernambuco - UFRPE e extensão pela Universidade de Brasília - UnB) e ex-secretário de Saúde do município de Goiana – PE.





2 comentários:

  1. É o admirável mundo novo, revolução dos bichos combinado.

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  2. É o admirável mundo novo, revolução dos bichos combinado.

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