São Paulo, segunda-feira, 15 de novembro de 2010
Por MICHAEL CIEPLY
LOS ANGELES - Às vésperas da entrega de um Oscar honorário, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas ainda se via às voltas com o mais intrigante cineasta europeu, Jean-Luc Godard.
Ninguém havia se oferecido para entregar o Oscar a Godard, que já disse que não participaria do banquete de premiação em 13 de novembro, em Hollywood. E também era preciso lidar com as acusações de que Godard, um mestre do cinema moderno, comunga de opiniões antijudaicas que ameaçam distanciá-lo ainda mais de Hollywood, embora a principal instituição da indústria cinematográfica esteja tentando reduzir tal distância.
Ao longo do último mês, artigos na imprensa judaica -inclusive uma reportagem de capa intitulada "Será Jean-Luc Godard um antissemita?", no "The Jewish Journal"- reabriu o debate sobre se Godard, antissionista declarado e defensor dos direitos dos palestinos, seria contrário aos judeus em geral. E isso lançou uma sombra sobre a homenagem que a Academia planejara lhe fazer.
A Academia está se empenhando ao máximo para se esquivar da questão. Não aborda, por exemplo, os aspectos mais espinhosos da obra de Godard no filme-tributo de cinco minutos que está sendo montado em torno de obras-primas da Nouvelle Vague dirigidas por ele, como "Acossado" e "Bande à Part".
Provavelmente, ficará de fora a tão discutida sequência do documentário "Aqui e Lá", de 1976, em que se alternam imagens de Golda Meir e Adolf Hitler, levando alguns a sugerirem que Godard, narrador e diretor, os colocava como equivalentes.
Godard, 79, já inspirou diretores tão diversos quanto Martin Scorsese, Woody Allen e Quentin Tarantino. Sua obra, no entanto, nunca havia sido reconhecida pela Academia, até que neste ano foi incluído entre os homenageados na segunda edição do Governors Awards, cerimônia em que são entregues os prêmios honorários da Academia, em separado do Oscar principal, em fevereiro.
A Academia tem recebido questionamentos de seus membros sobre a conveniência de um prêmio que está chamando a atenção não só para o conhecido desprezo de Godard por Hollywood mas também para posições e declarações em que mistura a desconfiança a respeito do mundo do cinema "mainstream" com uma cautela em relação a características que ele associa aos judeus.
Numa das mais incisivas dessas declarações, em entrevista ao "Le Matin" em 1985, citada na biografia escrita por Richard Brody em 2008, Godard falou da indústria cinematográfica como sendo profundamente vinculada à usura judaica.
"O que acho interessante no cinema é que, desde o começo, existe a ideia de dívida", afirma na entrevista. "O verdadeiro produtor -são todos iguais- é a imagem do judeu centro-europeu."
Nem Godard nem seus representantes puderam ser contatados para que comentassem.
"Se Hollywood quer homenagear sua obra, ótimo, por mim tudo bem", disse Mike Medavoy, produtor e membro da Academia, nascido em Xangai depois de seus pais fugirem do Holocausto.
Mas Medavoy acrescentou não ter atração pelo que descreveu como "mentalidade estreita" de Godard quando se trata dos judeus e da indústria cinematográfica.
Por alguma razão, a distância entre Godard e a Academia parece ser mais profunda do que na ocasional esnobada a um diretor como, digamos, Alfred Hitchcock, que nunca recebeu um Oscar de direção, mas acabou finalmente ganhando como produtor um prêmio Irving G. Thalberg, também da Academia, pelo conjunto da obra, em 1968.
A Biblioteca Margaret Herrick, ligada à Academia, informou que não há registro de que algum filme de Godard tenha sido indicado a um Oscar de qualquer categoria, apesar dos prêmios e do reconhecimento em festivais fora dos EUA.
A homenagem foi proposta por Phil Alden Robinson, vice-presidente da Academia. "Godard fala a uma geração que só agora está ganhando peso entre os eleitores na Academia", disse Robinson. "A geração mais antiga não tinha o mesmo respeito por ele."
Daniel Mariaschin, vice-presidente-executivo da B'nai B'rith Internacional, criticou a Academia pela homenagem. "Eles estabeleceram os padrões da arte, mas se omitiram no que diz respeito aos padrões de decência e aos padrões de moralidade", disse Mariaschin. "Como é possível obter desfrute ou prazer com isso, sabendo que o indivíduo tem tais opiniões?"
Para Robinson, a arte e o artista são separados. "D.?W. Griffith recebeu um Oscar honorário em 1936, e o homem era horrivelmente racista."
Ninguém havia se oferecido para entregar o Oscar a Godard, que já disse que não participaria do banquete de premiação em 13 de novembro, em Hollywood. E também era preciso lidar com as acusações de que Godard, um mestre do cinema moderno, comunga de opiniões antijudaicas que ameaçam distanciá-lo ainda mais de Hollywood, embora a principal instituição da indústria cinematográfica esteja tentando reduzir tal distância.
Ao longo do último mês, artigos na imprensa judaica -inclusive uma reportagem de capa intitulada "Será Jean-Luc Godard um antissemita?", no "The Jewish Journal"- reabriu o debate sobre se Godard, antissionista declarado e defensor dos direitos dos palestinos, seria contrário aos judeus em geral. E isso lançou uma sombra sobre a homenagem que a Academia planejara lhe fazer.
A Academia está se empenhando ao máximo para se esquivar da questão. Não aborda, por exemplo, os aspectos mais espinhosos da obra de Godard no filme-tributo de cinco minutos que está sendo montado em torno de obras-primas da Nouvelle Vague dirigidas por ele, como "Acossado" e "Bande à Part".
Provavelmente, ficará de fora a tão discutida sequência do documentário "Aqui e Lá", de 1976, em que se alternam imagens de Golda Meir e Adolf Hitler, levando alguns a sugerirem que Godard, narrador e diretor, os colocava como equivalentes.
Godard, 79, já inspirou diretores tão diversos quanto Martin Scorsese, Woody Allen e Quentin Tarantino. Sua obra, no entanto, nunca havia sido reconhecida pela Academia, até que neste ano foi incluído entre os homenageados na segunda edição do Governors Awards, cerimônia em que são entregues os prêmios honorários da Academia, em separado do Oscar principal, em fevereiro.
A Academia tem recebido questionamentos de seus membros sobre a conveniência de um prêmio que está chamando a atenção não só para o conhecido desprezo de Godard por Hollywood mas também para posições e declarações em que mistura a desconfiança a respeito do mundo do cinema "mainstream" com uma cautela em relação a características que ele associa aos judeus.
Numa das mais incisivas dessas declarações, em entrevista ao "Le Matin" em 1985, citada na biografia escrita por Richard Brody em 2008, Godard falou da indústria cinematográfica como sendo profundamente vinculada à usura judaica.
"O que acho interessante no cinema é que, desde o começo, existe a ideia de dívida", afirma na entrevista. "O verdadeiro produtor -são todos iguais- é a imagem do judeu centro-europeu."
Nem Godard nem seus representantes puderam ser contatados para que comentassem.
"Se Hollywood quer homenagear sua obra, ótimo, por mim tudo bem", disse Mike Medavoy, produtor e membro da Academia, nascido em Xangai depois de seus pais fugirem do Holocausto.
Mas Medavoy acrescentou não ter atração pelo que descreveu como "mentalidade estreita" de Godard quando se trata dos judeus e da indústria cinematográfica.
Por alguma razão, a distância entre Godard e a Academia parece ser mais profunda do que na ocasional esnobada a um diretor como, digamos, Alfred Hitchcock, que nunca recebeu um Oscar de direção, mas acabou finalmente ganhando como produtor um prêmio Irving G. Thalberg, também da Academia, pelo conjunto da obra, em 1968.
A Biblioteca Margaret Herrick, ligada à Academia, informou que não há registro de que algum filme de Godard tenha sido indicado a um Oscar de qualquer categoria, apesar dos prêmios e do reconhecimento em festivais fora dos EUA.
A homenagem foi proposta por Phil Alden Robinson, vice-presidente da Academia. "Godard fala a uma geração que só agora está ganhando peso entre os eleitores na Academia", disse Robinson. "A geração mais antiga não tinha o mesmo respeito por ele."
Daniel Mariaschin, vice-presidente-executivo da B'nai B'rith Internacional, criticou a Academia pela homenagem. "Eles estabeleceram os padrões da arte, mas se omitiram no que diz respeito aos padrões de decência e aos padrões de moralidade", disse Mariaschin. "Como é possível obter desfrute ou prazer com isso, sabendo que o indivíduo tem tais opiniões?"
Para Robinson, a arte e o artista são separados. "D.?W. Griffith recebeu um Oscar honorário em 1936, e o homem era horrivelmente racista."
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