terça-feira, 16 de novembro de 2010

Energia "do nada" pode destruir estrelas

São Paulo, segunda-feira, 15 de novembro de 2010


SALVADOR NOGUEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Físicos brasileiros descobriram que, em certas circunstâncias, a energia do vácuo pode crescer de forma descontrolada, levando até à destruição quase instantânea de estrelas inteiras.
À primeira vista, parece uma contradição em termos. Pela física clássica, o vácuo- que é definido como a ausência de qualquer coisa- deveria ter conteúdo zero.
Ocorre que, no misterioso reino da mecânica quântica, que rege o comportamento das menores coisas do Universo, o espaço vazio está sempre sendo preenchido pela existência das chamadas partículas virtuais.
Elas podem ser prótons, elétrons, fótons ou quaisquer outras. Seu diferencial com relação à matéria e energia tradicionais é que elas surgem e desaparecem em uma fração de segundo.
A energia para essa efêmera vida sai do vácuo.
Como essas partículas não duram muito, sempre se imaginou que esses efeitos de flutuação seriam irrelevantes num contexto macroscópico.
Daí veio a surpresa do estudo conduzido por Daniel Vanzella, físico da USP em São Carlos, e William Lima, seu estudante de doutorado.
Ao efetuar uma combinação desses efeitos quânticos com a ação da gravidade (como descrita pela teoria da relatividade), eles descobriram que, em certas circunstâncias, o crescimento da energia do vácuo poderia, em tese, acontecer de maneira exponencial e descontrolada.

MISTÉRIO ANTIGO
"Na época do meu doutorado, apareceu um resultado que a gente não entendeu. Não era essencial para nós, então deixamos na gaveta", afirma Vanzella.
Quando foi fazer seu pós-doutorado nos EUA, Vanzella teve a ideia para o trabalho atual: o resultado estranho poderia ser a energia do vácuo atuando no sistema.
Foi o que ele e Lima concluíram, em estudo publicado em abril no periódico "Physical Review Letters", descrevendo o que chamaram de "despertar do vácuo".
Em outro trabalho, agora com seu antigo orientador do doutorado, George Matsas, da Unesp (Universidade Estadual Paulista), Vanzella investigou especificamente o efeito do "despertar do vácuo" em sistemas conhecidos, como estrelas de nêutrons -os objetos mais densos do Universo que podem ser observados diretamente.
Ao calcular o efeito que a gravidade nas imediações de uma estrela de nêutrons teria sobre o vácuo, eles descobriram que certas configurações (dependendo da massa e do raio do astro) poderiam, em tese, "despertar o vácuo".
"Em um milésimo de segundo, a energia do vácuo dispara e passa a ser maior que a energia da própria estrela", conta Matsas.
Os físicos não sabem o que aconteceria a seguir. De toda forma, seria um catastrófico e violento para o astro.

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