quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Efeito de antibiótico dura 2 anos no corpo

São Paulo, segunda-feira, 08 de novembro de 2010


JULIANA VINES
DE SÃO PAULO
 
Tomar antibiótico por uma semana pode prejudicar as defesas do organismo por até dois anos, segundo estudo feito pelo Instituto Sueco para Controle de Doenças Infecciosas e publicado na revista "Microbiology".
Flora intestinal é o nome dado às bactérias que vivem na parede do intestino. Lá existem centenas de espécies de micro-organismos, protetores ou nocivos à saúde, que convivem em equilíbrio.
As bactérias "boas" têm funções metabólicas, como ajudar no funcionamento do intestino, na absorção de gordura e vitamina B12 e na produção de ácido fólico.
"A função mais importante é controlar bactérias desfavoráveis. Sem elas, nós viveríamos constantemente com infecções", diz Ricardo Barbuti, médico endocrinologista da Federação Brasileira de Gastroenterologia.
Segundo o especialista, há muito se sabe que os antibióticos têm efeito na flora intestinal. O que o estudo recém-publicado mostra é que essas alterações duram muito mais tempo do que se pensava.
"Além de causar um desequilíbrio passageiro, o remédio também seleciona bactérias resistentes. Agora sabemos que essa resistência pode durar mais tempo", explica André Zonetti de Arruda Leite, médico endocrinologista do Hospital das Clínicas de São Paulo.

CONSEQUÊNCIAS
Diarreias, disfunção intestinal e inflamações (colites) são as consequências mais comuns do desequilíbrio da flora intestinal. Tanto faz se o uso do antibiótico é feito de forma correta ou incorreta -por mais ou menos tempo do que o necessário.
"O medicamento deve ser usado só quando o benefício compensa o risco e não há outra alternativa", diz Barbuti. Gripes, resfriados ou dores de cabeça não devem ser tratados com antibiótico.

 
Uso dos remédios em ração é ligado a superbactérias
 
DENISE MENCHEN
DO RIO
 
Controlar o uso de antibióticos em pessoas não é suficiente para conter superbactérias, alerta a pesquisadora alemã Kornelia Smalla. Ela defende a redução do uso dessas drogas em animais.
Para Smalla, que falou com a Folha na sexta, após palestra no Instituto Oswaldo Cruz, o problema é misturar antibióticos à ração, para estimular o crescimento de porcos, bois e frangos.
A prática, proibida na Europa desde a década de 90, ainda é permitida no Brasil. No ano passado, o senador Tião Viana (PT/AC) apresentou projeto de lei para aboli-la, mas o texto está parado na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado.
Smalla, que é do instituto Julius Kühn, diz que até o uso restrito ao tratamento de doenças traz riscos. Como os animais ficam confinados aos milhares, a ocorrência de uma doença em alguns resulta na distribuição de antibióticos para todos, o que favorece a disseminação das superbactérias.
"Algumas têm genes que as protegem dos antibióticos. Quando usamos esses medicamentos, elas são as únicas que sobrevivem", diz. Com o ambiente livre dos outros micróbios, elas passam a se multiplicar de forma rápida, o que eleva o risco de que, um dia, entrem em contato com pessoas com baixas defesas. O resultado são infecções que podem matar.
A situação fica mais grave porque as bactérias trocam informações genéticas: um organismo inofensivo ao homem que se prolifere pela capacidade de resistir a antibióticos contribui para que outro, patogênico, também ganhe essa característica.
"O antibiótico não age só sobre os causadores de doenças, mas sobre todas as bactérias." Para enfrentar o problema, ela defende mudanças na criação dos animais, com o fim do confinamento.

Nenhum comentário:

Postar um comentário