Há 'descompasso' entre influência e defesa do Brasil, diz Amorim
André Barrocal
BRASÍLIA – O novo ministro da Defesa, Celso Amorim, assumiu nesta segunda-feira (08/08) dizendo que vai trabalhar para fortalecer a capacidade brasileira de proteger riquezas e fronteiras, o que requer melhorar o orçamento militar. Para ele, o país não tem poder dissuasório suficiente para defender a Amazônia ou o pré-sal, por exemplo. “Há um descompasso entre a crescente influência internacional brasileira e nossa capacidade de respaldá-la no plano da defesa. Uma não será sustentável sem a outra”, afirmou.
Além do apelo ao nacionalismo, no discurso, Amorim destacou que considera importantes algumas características valorizadas pelas forças armadas agora subordinadas a ele. Falou em "patriotismo", "abnegação", "hierarquia" e "disciplina". Disse ver “aspirações legítimas” no desejo da caserna de melhorar as condições de vida nos quartéis. E que vai buscar, também, “autonomia tecnológica” para as forças.
Mas o ministro não deixou também de transmitir, de forma sutil, algumas mensagens. Afirmou que os militares estão “plenamente conscientes da subordinação ao poder democrático civil”. Que terá “espírito crítico” ao implementar a Estratégia Nacional de Defesa e o Plano de Articulação e Equipamento de Defesa. E que as forçar armadas precisam refletir “de forma crescente” a diversidade da sociedade. “Devemos valorizar a discussão de temas como direitos humanos, desenvolvimento sustentável e igualdade de raça, gênero e crença”, afirmou. Foi, no entanto, a única menção a “direitos humanos” no discurso, tema que sempre causa alguma inquietação nos militares, por causa da ditadura de 1964.
Depois de Amorim, a presidenta Dilma Rousseff também falou na cerimônia de posse e justificou a escolha do novo ministro ressaltando aspectos que, para ela, produziriam identificação entre Amorim e os militares. Disse que, como eles, o ministro tem “elegância”, “moderação pública”, “cultura e peparo técnico” e "profissionalismo”.
A presidenta procurou destacar ainda o peso da “carreira de Estado” na biografia de Amorim, ao lembrar que ele esteve em governos diferentes. Foi chanceler de Itamar Franco e Luiz Inácio Lula da Silva. E representante nas Nações Unidas e em outros organismos internacionais com Fernando Henrique Cardoso. “A experiência de Celso Amorim em política externa será valiosa para o ministério da Defesa”, disse a presidenta, explicando que o Brasil negocia hoje acordos bilaterais e compra de armamento e aquisição de tecnologia bélica e que o currículo do ex-chanceler será útil. A presidenta disse ainda que o novo ministro terá de continuar com mais velocidade projetos que já estavam em curso na Defesa.
Dilma encerrou o discurso com uma tentativa de neutralizar eventual intranquilidade que possa ter havido entre militares com a Amorim, que é do PT. “A ideologia do Ministério da Defesa é o respeito à Constituição e a subordinação aos interesses nacionais. O partido do Ministério da Defesa é a pátria. Os senhores sabem disso, o novo ministro sabe disso”, declarou.
Fotos: A presidenta Dilma Rousseff cumprimenta o novo ministro da Defesa, Celso Amorim, durante cerimônia de posse no Palácio do Planalto (Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr)
UOL, 08/08/2011 - 16h10 / Atualizada 08/08/2011 - 16h43
Na posse de Amorim, Dilma diz que trocas "fazem parte da rotina"
Do UOL Notícias
Em São Paulo
Sem entrar no mérito das diferenças que teve com o antecessor, Dilma disse apenas que as mudanças "sempre provocam tensão e requerem cuidado". De toda forma, ela disse estar confiante e, à plateia repleta de altas patentes das Forças Armadas, lembrou de citar as qualidades comuns entre os militares e Amorim. Na análise da presidente, tanto os homens do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, assim como o ex-ministro de Relações Exteriores, valorizam o "preparo técnico", o "coleguismo", a "moderação nas manifestações", o "profissionalismo" e o "respeito à hierarquia", no que pode ser entendido como um recado a Jobim, que deixou o comando das Forças Armadas após ter criticado o próprio governo.
Dilma reafirmou a importância dos projetos "estratégicos" da Defesa. "Não podem sofrer rupturas ou adiamentos", disse. A presidente lembrou passagens de destaque do ex-chanceler. Segundo ela, Amorim teve papel determinante na organização da política externa do governo Lula, "quando o Brasil foi elevado ao posto de protagonista".
Ela também mostrou respeitar as posições diplomáticas arriscadas defendidas por Amorim nos últimos anos [ele vem sendo acusado pela oposição de ter aberto diálogo com ditadores africanos, com autoridades radicais da América Latina, do Oriente Médio e até com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia]. " Ele é um sujeito de seu próprio estilo", disse. "Ele ajudará muito o ministério a vencer seus maiores desafios."
Ela também mostrou respeitar as posições diplomáticas arriscadas defendidas por Amorim nos últimos anos [ele vem sendo acusado pela oposição de ter aberto diálogo com ditadores africanos, com autoridades radicais da América Latina, do Oriente Médio e até com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia]. " Ele é um sujeito de seu próprio estilo", disse. "Ele ajudará muito o ministério a vencer seus maiores desafios."
"Grato pela confiança"
Antes de Dilma, Amorim discursou e afirmou que era "grato pela confiança". O novo ministro disse que está no cargo "mais para ouvir do que para falar". Amorim elogiou os militares e ressaltou valores como respeito à hierarquia e nacionalismo.
Amorim disse ainda que apesar de ser um país pacífico, o Brasil não pode ser confundido como 'desarmado'. O ministro ressaltou que é necessário cuidar das riquezas naturais –citando inclusive o petróleo da camada pré-sal– e preservar as fronteiras terrestres e marítimas. Amorim afirmou que a crescente influência do Brasil no plano político deve ser acompanhado de perto por um plano de defesa. O novo ministro disse ainda que o país deve continuar dando respaldo às ações da ONU.
Amorim foi indicado para a vaga na quinta-feira (4) para substituir Nelson Jobim. O diplomata filiou-se recentemente ao PT e serviu como chanceler nos dois mandatos (2003-2010) de Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Planalto. Defensor de uma política externa mais ideológica, ele colecionou conquistas e adversários que não chegaram a comover a presidente Dilma Rousseff a mantê-lo no cargo no início deste ano.
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