quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Itália e Espanha voltam a balançar Europa

Vejam abaixo que, tal qual o Brasil, a Suíça também teve seu mercado inundado de moeda.

Só que, ao contrário de nós, tratou de abaixar a sua taxa de juros. Que é o que cansam de recomendar os artigos dos economistas que eu divulgo.

Por que será que as "inteligências econômicas" que ocupam o COPOM insistem em fazer diferente?



Berlusconi & Italian Economy
 

São Paulo, quinta-feira, 04 de agosto de 2011

Itália e Espanha voltam a balançar Europa


VAGUINALDO MARINHEIRO
DE LONDRES

Os líderes europeus e os responsáveis pelas economias da zona do euro estão tendo que trabalhar muito neste agosto, em vez de curtir as férias de verão. É que a crise não dá trégua e continua a derrubar as Bolsas e obrigar Itália e Espanha a pagar muito para obter dinheiro no mercado.
A crise centrada na Europa e nos Estados Unidos é motivada por vários fatores interligados. Os principais são o temor de que a economia global não irá conseguir crescer e que a crise da dívida na Europa provoque quebra de bancos.
Para complicar, os investidores acham que tanto os EUA quanto a Europa são lentos na busca de soluções para os problemas.
Ontem, as principais Bolsas europeias tiveram quedas na casa dos 2%. Antes, as asiáticas também haviam caído.
No Japão, a perda foi de 2,1%, a maior desde o terremoto e o tsunami de março. A Bovespa perdeu 2,26%.
Os títulos de dez anos de Itália e Espanha foram negociados com juros acima de 6% ao ano, índice considerado insustentável a longo prazo.
Para se ter uma ideia, Portugal, Espanha e Irlanda pagavam cerca de 7% quando precisaram de socorro financeiro externo.
O primeiro-ministro Silvio Berlusconi fez pronunciamento no Parlamento para tentar acalmar os mercados.
Disse que o país está sólido e que os problemas não são da Itália, mas causados pela ação de especuladores, pelo fraco desempenho econômico mundial e de toda a zona do euro.
O pronunciamento do premiê italiano foi feito após o fechamento das Bolsas europeias. Muitos analistas, no entanto, acreditam que não terá muito efeito hoje, uma vez que Berlusconi não anunciou novas medidas para conter a dívida do país, que alcança 120% do PIB.
Na Espanha, o premiê, José Luis Zapatero, adiou suas férias e convocou reuniões de emergência. Hoje, o país fará um leilão de títulos.

REAÇÃO SUÍÇA
Já o Banco Nacional da Suíça decidiu reduzir sua taxa de juros para tentar conter a alta de sua moeda.
A taxa irá variar de 0% a 0,25%, quando antes ia de 0,25% a 0,75%.
O franco suíço atingiu quase a paridade com o euro, o que parecia impensável.
Quando da criação do euro, em 2002, a cotação era de 1,5 franco para um euro.
A Suíça, que não faz parte da zona do euro, tem sido inundada de dinheiro por ser considerada um porto seguro em meio à crise.
O ouro, também considerado seguro, voltou a bate recorde de alta a US$ 1.663,40 a onça em Nova York.

Risco-país aumenta a "dor-país"


CLÓVIS ROSSI

NO AUGE da crise argentina do início do século, a socióloga Susana Torrado cunhou a expressão "dor-país", como contraponto a risco-país, essa invenção dos mercados para medir o perigo de um dado país aplicar o calote. Dor-país, sugeria Torrado, deveria medir, por exemplo, a pobreza, o desemprego, a recessão e por aí vai.
Naqueles tempos horríveis, risco-país saíra do jargão do cassino financeiro e ganhara as conversas de botequim.
Agora que a expressão cruzou o "charco", como os espanhóis brincam de designar o Atlântico, e ancorou na Europa, há quem se anime a medir concretamente a dor-país, não como contraponto, mas como consequência do risco-país, na veia.
"Para cada ponto percentual que sobe a taxa de risco-país, impede-se a criação de 160 mil postos de trabalho na Espanha, com custo de € 12,4 bilhões em juros anualmente. Essa quantidade poderia financiar, com sobras, o plano de infraestruturas [espécie de PAC espanhol], que é de € 8,4 bilhões."
A frase é de um importante agente de mercado, Francisco González, presidente do BBVA, o segundo maior banco espanhol.
Como
os mercados não se importam com a dor, só com o lucro, caberia aos governos agir para estancar a sangria. Pena que se tenham tornado impotentes (ou incompetentes ou inapetentes, você escolhe).
Constata, por exemplo, Enrique Gil Calvo, catedrático de sociologia da Universidade Complutense: "A democracia é governada em resposta não às demandas dos cidadãos e sim às demandas dos mercados, expressadas pelo prêmio de risco [o tal risco-país] da dívida externa".
Nesse ambiente, não adianta nada Herman van Rompuy, o presidente da União Europeia, Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia, e Silvio Berlusconi, o premiê italiano, repetirem, como o fizeram ontem, que não há razões objetivas para o ataque à Itália e à Espanha.
Por incrível que pareça, o alucinado Berlusconi tem razão quando diz que seu país tem "sólidos fundamentos macroeconômicos", citando um sistema bancário saudável (como se comprovou nos testes de estresse recentes), baixos níveis de dívida privada e um déficit orçamentário relativamente modesto e declinante, que o governo pretende eliminar até 2014.
É verdade que a dívida italiana é elevada, na altura de 120% do PIB, mas está estacionada nesse patamar há algum tempo. Não obstante, o risco-país saltou subitamente para níveis recordes.
O que explica essa contradição aparente? Especulação, numa ponta, e a preocupação, aí sim justificada, com o baixo crescimento do mundo rico. Crescimento, com perdão pela obviedade, é condição indispensável para pagar a dívida, em qualquer lugar do mundo.
O problema é que a pressão dos mercados cria um círculo de ferro irrompível: a austeridade brutal que se exige dos países periféricos, mas também dos Estados Unidos, emperra o crescimento, o que só não admitem os "fanáticos da dor", como Paul Krugman chama os que passam a vida gritando aos governos "corta, corta, corta".
Estão cortando, mas a dor-país só faz aumentar, junto com o risco-país.

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