sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Fome mata 29 mil crianças na Somália

<b>FOME:</b> Menino desnutrido em hospital de Mogadício, na Somália
 Menino desnutrido em hospital de Mogadício, na Somália


São Paulo, sexta-feira, 05 de agosto de 2011

Fome mata 29 mil crianças na Somália

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS


Aproximadamente 29 mil crianças menores de cinco anos morreram de fome nos últimos três meses na Somália, segundo estimativa divulgada pelo governo dos EUA.
A projeção foi feita a partir de pesquisas sobre nutrição e mortalidade analisadas pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA.
Esse número pode se elevar ainda mais, pois segundo levantamento da ONU ao menos 640 mil crianças somalis estão desnutridas.
O surto de fome é resultado da pior seca dos últimos 60 anos, que se abateu sobre a Somália e já se espalha pelo Chifre da África.
Segundo a ONU, aproximadamente 10 milhões de pessoas já foram atingidas na Somália, no Quênia, no Djibuti e na Etiópia.
A ONU declarou situação de fome na capital somali, Mogadício, e em outras cinco regiões próximas, no centro e no sul do país.
Além da seca, a fome somali é fruto de um país devastado pela guerra civil -que não tem um governo central desde 1991. Apesar da existência de um governo provisório, quem exerce o poder de fato são milícias e "senhores da guerra".
Segundo estimativas das Nações Unidas, todo o sul da Somália enfrenta uma situação de insegurança alimentar que também pode se transformar em fome em seis semanas, caso o país não receba ajuda internacional.

Mãe retirante perdeu quatro dos cinco filhos em menos de 24 horas

DA ASSOCIATED PRESS, EM MOGADÍCIO

Kaltum Mohamed está sentada ao lado de um montículo de terra. O montinho é o túmulo de seu filho. E há três outros iguais.
Três semanas atrás, ela era mãe de cinco crianças pequenas. Mas a fome generalizada que devasta a Somália matou quatro de seus filhos. Sobrou apenas uma filha.
Os outros morreram de fome diante dos olhos de Kaltum e seu marido, enquanto eles caminhavam até a capital somali, Mogadício, em busca de ajuda.
Milhares de pais na Somália e nos campos de refugiados de países vizinhos estão chorando seus filhos mortos.
Kaltum Mohamed e seu marido tentaram levar seus filhos do sul esturricado do país para Mogadício, em tempo para receber ajuda emergencial das poucas organizações humanitárias que estão operando ali.
Eles iniciaram sua jornada na região de Baixa Shabelle, onde a ONU declarou situação de fome generalizada no dia 20 de julho.
A equipe da AP Television News encontrou Kaltum depois daquele dia aninhando seus filhos gravemente desnutridos em seus braços.
A família de Kaltum pertence a uma tribo de nômades pastoris, mas todo o gado da tribo morreu na seca.
Quando seus filhos adoeceram, ela os levou a um hospital de Baixa Shabelle, mas não teve como pagar o tratamento de que precisavam.
A viagem da família Mohamed até Mogadício, a mesma que vem sendo feita por milhares de outros somalis, aconteceu tarde demais.
Os filhos de Kaltum morreram no caminho, de desnutrição aguda e problemas relacionados.
"A morte é inevitável", disse Kaltum à AP Television News ontem em um acampamento improvisado de Mogadício, onde estão centenas de outras pessoas deslocadas.
"Mas a surpresa foi como eu de repente perdi quatro de meus filhos em menos de 24 horas, por causa da fome."
Kaltum se agachou perto de um dos túmulos dos filhos e alisou com ternura a terra que o cobria. A mãe chorou e depois enxugou as lágrimas. Ela ainda tem uma filha que precisa tentar alimentar.
O mês sagrado muçulmano do Ramadã já começou, e a família está jejuando todos os dias. Sem comida, porém, Kaltum não sabe como eles poderão quebrar o jejum quando o sol se põe.
"A comunidade internacional precisa fazer mais para ajudar", disse ela.

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